RAFAEL MARQUES DE BEM
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XXXXXX XXXXXXX DE BEM
ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS MIDIÁTICAS: UM ESTUDO DO CONTRATO DE COMUNICAÇÃO DO PROGRAMA “PÂNICO NO RÁDIO”, DA RÁDIO JOVEM PAN
Santa Maria, RS 2017
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NÃO ENTRE EM PÂNICO: UM ESTUDO DOS CONTRATOS DE COMUNICAÇÃO DO PROGRAMA “PÂNICO NO RÁDIO”, DA RÁDIO JOVEM PAN
Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Jornalismo, área de Ciências Sociais do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial obtenção do grau de Jornalista – Bacharel em Jornalismo.
Orientador: Prof. Dr. Maicon Kroth
Santa Maria, RS 2017
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NÃO ENTRE EM PÂNICO: UM ESTUDO DOS CONTRATOS DE COMUNICAÇÃO DO PROGRAMA “PÂNICO NO RÁDIO”, DA RÁDIO JOVEM PAN
Trabalho final de graduação apresentado ao Curso de Jornalismo, área de Ciências Sociais, do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para obtenção do grau de Jornalista.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Xxxxxx Xxxxx Xxxxx (Orientador)
Prof.ª Xxxxx Xxxxxxx Xxxxxxx (UNIFRA)
Prof. Ms. Xxxxxx Xxxxx (UNIFRA)
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“Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar, mas que sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria... Cada um tem sua hora e a sua vez: você há de ter a sua.”
Xxxxxxxxx Xxxx
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AGRADECIMENTOS
Nunca imaginei na minha vida que um dia eu cursaria faculdade de Jornalismo. Na infância queria ser médico. Não fui pra Medicina. Queria ter feito Radialismo. Porém, o curso não tinha aqui em Santa Maria. Engavetei esta ideia e fui para o curso de Tecnologia em Sistemas para Internet. Dois anos depois desisto dos computadores e entro para a faculdade de Jornalismo da Unifra. Sempre gostei de entrar em contato com diferentes realidades, conhecer novos lugares, novas histórias e de me relacionar com todo tipo de gente. O jornalismo me proporciona isso.
Quero começar agradecendo, primeiramente, aos meus pais por terem me concebido a vida e pela oportunidade de vir ao mundo para fazer algo nele que possa vir a contribuir e agregar valores para as pessoas.
Agradecer a Deus por ter me dado pais tão maravilhosos. Exemplos de integridade e honestidade que levo como referência para o resto da minha vida. Sempre me apoiaram em todas as minhas decisões. Sempre me deram liberdade para eu fazer minhas escolhas. Foram os pilares fundamentais para que este dia chegasse. Eu amo vocês.
Agradecer a minha família de modo geral, irmãos, primos, avós e tios. Vocês foram de extrema importância para que eu chegasse até aqui. Amo vocês.
Um agradecimento especial a duas pessoas que eu perdi durante esta jornada, mas que tenho certeza que, onde quer que estejam, olham orgulhosos seu neto. Vô Xxxxx e Vó Xxx, saudades eternas de vocês. Se isso que chamam de eternidade existir, ainda vou dar muita volta a bordo de um cara chata contigo, baixinho.
Quero agradecer aos amigos que fiz dentro das quadras do Avenida Tênis Clube. Especialmente ao amigo, irmão que a vida e o jogo de tênis me deram, Xxxxxxxx Xxxxxxx. Graças a ti aprendi a perseguir os meus sonhos. Saudades dos nossos treinos naquelas tardes escaldantes de verão surrando a amarelinha de segunda a sexta. Ao teu companherismo e amizade meu muito obrigado.
Agradecer as pessoas que abriram portas e me deram as primeiras oportunidades dentro da área e, além disso, me passaram um grande conhecimento. Meu muito obrigado ao Xxxxxx Xxxxxxxx e toda a equipe da Cesma. Agradeço a todos os profissionais da rádio Guarathan, especialmente a Xxxxxx Xxxxxxxx. Tu és um exemplo de força e superação. A toda equipe da rádio Medianeira, especialmente ao Xxxxx Xxxxxxx, Xxxxxx Xxxxxxxxx e Xxxxxx Xxxxxxxxx. Vocês me passaram um vasto conhecimento sobre o rádio. Meu muito obrigado ao Xxxxx Xxxxxxx Xxxxxx, responsável pela Rádio Comunitária Caraí FM onde tive uma rica
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experiência. Agradeço ao amigo e diretor da Rádio Armazém, Xxxxx Xxx, onde aprendo muito com ele todas as quintas-feiras. Obrigado pela amizade e companheirismo de todos vocês.
Um agradecimento especial aos colegas que estiveram comigo em projetos de rádio e televisão. Xxxxx, Xxxxxx, Xxxxxxx e Xxxxxxxx. Sem o companheirismo e coleguismo de vocês, esses trabalhos não teriam sidos realizados. Xxxxxx Xxxxxxxx, amigo que a Unifra me deu e parceiro das nossas empreitadas radiofônicas. Meu muito obrigado pela amizade dos demais colegas que fiz durante estes cinco anos de graduação.
Aos meus professores, da Unifra, onde me receberam muito bem e onde agora encerro este ciclo. Xxxxxx, Xxxxxxx, Xxxxxx, Xxxxxx, Xxxxx, Xxxxx, Xxxx, Xxxxxx, Xxxxxx, Xxxx, Xxxxx, Xxxxxxx, Xxxxxxxx, Xxxxx, Xxxxxxxxx, Xxxxxxx, muito obrigado pelos ensinamentos.
Professor Xxxxxx, meu orientador da monografia, agradeço-te por tudo, principalmente pela tua amizade e compreensão. Sem a tua dedicação e companheirismo, a criação deste trabalho não seria possível.Muito obrigado por tudo. Serás eternamente lembrado.
Para vocês, meu muito obrigado de coração. Por fazerem parte da minha vida. Por terem feito eu evoluir como profissional e ser humano.
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RESUMO
Nesta monografia, tiveram-se como objeto de pesquisa os contratos de comunicação e o programa radiofônico Pânico no Rádio, da Rádio Jovem Pan São Paulo - Capital, que vai ao ar de segunda a sexta, das 12h às 14h. Com o objeto definido, analisou-se como funcionam os contratos de comunicação propostos pelo programa a partir da performance do apresentador Xxxxxx Xxxxxx. Dentro da análise, com os objetivos traçados, compreendeu-se que as estratégias midiáticas utilizadas pelo programa são práticas capazes de captar a audiência. Para a análise, foram escolhidos dois programas durante os anos de 2016 e 2015. O aporte teórico baseou-se em pesquisas sobre contratos de comunicação propostos pelo autor francês Xxxxxxx Xxxxxxxxxx, rádio na atualidade e estratégias discursivas midiáticas. Constata-se que tais estratégias instauram-se como ações do campo de produção radiofônica capazes de desenvolver a construção de vínculos com o meio receptor, assim estruturando um contrato de comunicação com a audiência do programa.
Palavras-chave: Rádio; Contratos de Comunicação; Estratégias Discursivas Midiáticas.
ABSTRACT
Keywords:
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
1 – O RÁDIO E SUA EVOLUÇÃO 11
1.1O RÁDIO NO BRASIL 11
1.2O RÁDIO CONTEMPORÂNEO 14
2 - CONTRATOS DE COMUNICAÇÃO 18
2.1 DADOS EXTERNOS 19
2.2 DADOS INTERNOS DO CONTRATO DE COMUNICAÇÃO 21
3 - A RÁDIO JOVEM PAN 31
3.1 A RÁDIO JOVEN PAN 31
3.2 PROGRAMA PÂNICO NO RÁDIO 33
3.3 XXXXXX XXXXXX (PERFIL) 35
4- PERCURSO METODOLÓGICO 36
5- O CONTRATO DE COMUNICAÇÃO DO PROGRAMA PÂNICO NO RÁDIO 38
5.1 PÂNICO NO RÁDIO – PROGRAMA 9 DE SETEMBRO DE 2016. 38
5.2 PÂNICO NO RÁDIO – PROGRAMA 15 DE ABRIL DE 2015. 51
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS 61
7- REFERÊNCIAS 65
INTRODUÇÃO
Informação e entretenimento sempre estiveram presentes na história do rádio. Entre os veículos de comunicação, o rádio é aquele que possui uma programação bastante variada. Indo do programa informativo àquele com um caráter mais informal, de entretenimento. Neste estudo, analisou-se um programa que se tornou referencial no espaço radiofônico do país. Em 1993, na cidade de São Paulo, na emissora de rádio Jovem Pan 2, Xxxxxxx Xxxxxxx xx Xxxxxx Xxxxxxxx xxxxx, conhecido também por “Tutinha” junto do locutor da Jovem Pan, Xxxxxx Xxxxxx, criaram o programa radiofônico “Pânico no Rádio”.
O programa é caracterizado pela ironia e o sarcasmo junto da informalidade na condução das entrevistas. Transmitido de segunda à sexta-feira das 12h às 14h pela Jovem Pan 100.9, o Pânico no Rádio conta com a participação de ouvintes por telefone e redes sociais.
Nesse sentido, a proposta deste trabalho é analisar como o programa Pânico no Rádio, da Rádio Jovem Pan 100.9 FM, de São Paulo, através de suas estratégias discursivas midiáticas, captura e busca fidelizar a audiência construindo assim um contrato de comunicação.
Para verificar como é construída a captura e fidelização da audiência, fundamentou-se teoricamente a monografia a partir da obra Discurso das Mídias (2006), escrita pelo autor francês Xxxxxxx Xxxxxxxxxx. No livro, o estudioso discute as estratégias que a mídia usa com fins de construir vínculos com o público receptor. A partir de tal leitura, aliada a outros autores alinhados com a mesma teorização, mas especialmente voltados à formação de conceituações sobre os modos de produção da mídia radiofônica, lançou-se como objetivos específicos identificar as estratégicas discursivas midiáticas utilizadas pelo programa radiofônico, descrevê-las e analisar como as mesmas se constituem como ações do campo de produção radiofônica capazes de desencadear a construção de vínculos com o campo receptor, assim estruturando um contrato de comunicação com a audiência.
Na sequência do texto, apresentam-se os capítulos que compõem o processo de investigação. O primeiro capítulo trata do rádio e sua evolução, a história do rádio ganha foco com a descrição das modificações pelas quais ele passou e como é seu funcionamento nos dias atuais.
No segundo capítulo, apresentamos os Contratos de Comunicação, trazendo conceitos teóricos sobre o tema a partir do autor francês Xxxxxxx Xxxxxxxxxx. Ainda neste capítulo,
tratamos sobre os dados externos e internos de que constituem os contratos de comunicação com seus devidos conceitos. Tais conceitos são importantes para a análise.
No terceiro capítulo, é apresentado o objeto de pesquisa, por meio da descrição da história e do contexto contemporâneo da Rádio Jovem Pan, do Programa Pânico no Rádio, os quadros que compõem o programa e o perfil do apresentador Xxxxxx Xxxxxx.
No quarto capítulo, os percursos metodológicos utilizados ao longo da pesquisa são evidenciados, salientando a Análise Discursiva proposta a partir de Xxxxxxxxxx (2006). O quinto capítulo é constituído da análise de dois programas. Nas análises, é retomado o aporte teórico estudado durante a pesquisa, junto do objeto analisado, relacionando-os e analisando-o de forma descritiva.
O sexto capítulo é formado pelas considerações finais acerca da pesquisa desenvolvida ao longo do semestre.
1. O RÁDIO: HISTÓRIA E SUAS CARACTERÍSTICAS
Para iniciar o desenvolvimento do processo de produção do presente estudo, entendeu- se que era necessário apresentar um breve cenário a respeito da evolução do meio radiofônico ao longo da história, com o objetivo de caracterizá-lo até os dias atuais. É fundamental compreender esse gradativo processo de evolução do rádio, que continua se modificando. Essas características evolutivas apontam que o rádio não se extinguiu e sim ficou cada vez mais fortalecido e adaptado às condições da contemporaneidade.
1.1 O RÁDIO NO BRASIL
Com a chegada da radiotelefonia, novos modos de comunicação começaram a surgir. A transmissão de som, sem precisar fazer uso de fios e outros aparatos tecnológicos, permitia a comunicação quase que instantânea entre os ouvintes. O rádio poderia ter recebido o nome de “caixa mágica”, pela sua simplicidade de funcionamento comparado ao seu poder de alcance. No princípio o rádio foi criado com o intuito de entreter os seus ouvintes, como um simples aparelho que, sem precisar do uso de fios, levaria música e diversão aos lares da audiência.
Para Xxxxx Xxxxxxxx Xxxx Xxx (1994), a primeira transformação que o rádio sofreu foi da sua função como meio de comunicação de massa.
No princípio, [o rádio] nasceu como um meio de comunicação bidirecional. Sua função era servir como elo de ligação entre dois sujeitos fisicamente afastados que precisavam estar em constante comunicação. A transmissão e a recepção atuavam entre os dois, havendo comunicação propriamente dita entre ambos. Em 1916, Xxxxx Xxxxxxx intuiu a possibilidade de transformar o rádio em um meio de comunicação massiva. Os avanços técnicos tornaram possível que o rádio perdesse sua bidirecionalidade constituindo-se em um meio de comunicação massiva unidirecional (FERRARETTO apud GIL, 1994, p. 35).
Segundo Ferraretto (2001), nas primeiras décadas do século 20, começou a se disseminar no mundo a divisão entre os ramos da comunicação e dessa divisão se consolidou o ramo da Radiodifusão que é caracterizado pelos programas informativos e de entretenimento por um canal determinado o qual seria a emissora de rádio para outros pontos indeterminados que seriam os ouvintes. Assim, aquela primeira ideia inicial do surgimento do rádio de que ele seria um meio de entretenimento doméstico, apenas na sala divertindo a família, desfaz-se quando surgem outros tipos de programas radiofônicos como, por exemplo, os programas informativos.
Em 7 de setembro de 1922, foi feita a primeira transmissão radiofônica oficial brasileira. A transmissão fazia parte das comemorações do Centenário da Independência do país. Em 1923, foi fundada no país a primeira emissora de rádio brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de janeiro.
A partir da década de 30, o rádio brasileiro começa a se estruturar, não mais como uma novidade tecnológica no país, mas sim se consolidando como um veículo de comunicação, que se volta para obtenção de anunciantes e público. Durante o mandato do novo presidente da República, Xxxxxxx Xxxxxx, é criado em 1935 o programa Hora do Brasil. O objetivo do programa era a divulgação das realizações do governo Xxxxxx. Com a implantação radiofônica já consolidada no país, surge em 1936 a Rádio Nacional do Rio de Janeiro. A primeira grande emissora brasileira.
Entre a década de 40 e 50, o rádio viveria aquela que é considerada a sua época de ouro no país. Segundo Xxxxxxxxxx (2001), a programação era voltada ao entretenimento, predominando programas de auditório, radionovelas e humorísticos. Não era somente diversão que caracterizava o rádio brasileiro na década de 40. Segundo o autor, o radiojornalismo ganhava força à medida que o país se envolvia na Segunda Guerra Mundial.
As radionovelas eram os programas destaques da década de 40. Conforme Ferraretto (2001), as histórias já eram dramatizadas em frente ao microfone na década de 30, nos radioteatros. Em 1941, no dia 1º de junho, estreava no Brasil a primeira radionovela, “Em busca da felicidade”, transmitida pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Os programas de auditório também ganharam a sua evidência na era de ouro do rádio. Segundo Xxxxxxxxxx, “os programas de auditório criaram ídolos, cuja imagem era reforçada pela presença nas chanchadas, principal produto do cinema brasileiro da época, e por apresentações nas grandes casas de espetáculos, a maioria cassinos” (FERRARETTO 2001, p. 121). O humor radiofônico se popularizou na década de 40 a partir de programas como o PRK 30. Conforme Ferraretto (2001), o programa era uma espécie de sátira a tudo que se fazia no rádio na época.
As décadas de 1950, 1960 e 1970, segundo Ferraretto (2001), ficaram conhecidas pela decadência do rádio espetáculo no país por causa do surgimento da televisão. Porém, o rádio espetáculo consegue sobreviver graças ao pequeno número de emissoras de televisão e ao alto custo dos receptores.
A televisão conseguiu, consoante Ferraretto (2001), levar grande parte das verbas publicitárias, os profissionais e a audiência. O espetáculo também migrou para o novo artefato comunicacional que dava mais destaque ao mesmo, graças a imagem. O rádio encontra na tecnologia uma nova saída para cativar novos públicos e conseguir maior audiência. Ele passa
a usar o transístor. Para Ferraretto (2001), entre os anos de 1969 e 1974, os anos de chumbo da ditadura militar, quando o general Xxxxxx Xxxxxxxxxx Xxxxxx governava o país, o rádio voltou a se reestruturar para voltar a ser um forte veículo de comunicação.
Na década de 80, a política chama a atenção do público, e ganha espaço como uma temática a ser abordada nas emissoras. Ferraretto (2001) destaca que a partir dos anos 80 o rádio se consolidou nos grandes centros urbanos, à medida que a população se interessava pela política. A partir de então, o rádio reestrutura-se a cada dia, reposicionando-se no mercado até os dias atuais.
O rádio não sofreu alterações somente na sua função como meio comunicador, mas sim, também, em outras características como, por exemplo no seu formato. Gigantescos aparelhos que cabiam somente em salas, hoje cabem dentro dos painéis dos automóveis, na mesa da cozinha e o mais utilizado, nos bolsos das roupas. Para compreender essa mudança, Xxxxxxxx e Xxxx (2003, p. 45) afirmam que “[...] é preciso separar a ideia de rádio como aquele aparelhinho quadrado, com botões, e que retransmite emissoras de áudio. O rádio, comunicação auditiva, eletrônica a distância, pode se materializar no computador, basta que este tenha instalado um programa de áudio”, caracterizando assim o “novo” rádio.
Essa grande diversidade de formatos “físicos” do aparelho ocorre devido a sua característica principal que é se moldar e se adaptar a qualquer nova tecnologia que apareça.
Desde seu surgimento, o rádio figura como um dos importantes meios em levar informação para as pessoas. O rádio consegue chegar onde a própria televisão não alcança. Todo esse poder de alcance acontece aos diferentes tipos de transmissão, AM e FM. Essas duas radiofrequências se referem ao alcance de propagação da onda e a qualidade de som captada por ela. Ferraretto (2001) explica que a partir da década de 70, houve uma divisão no rádio.
As emissoras AM se dedicaram a programas jornalísticos, ao mesmo tempo, que as emissoras FM se concentraram em programas de entretenimento e culturais, como, por exemplo os musicais. Desde a década de 50 existe a frequência modulada, caracterizada pela sua potência e o ganho de qualidade no som. Porém, muitas rádios ainda hoje fazem transmissões em amplitude modulada (AM).
Neuberger (2012) acredita que a transmissão em amplitude modulada ainda possui uma enorme credibilidade dentro do país.
Muitos consideram o rádio AM com os dias contados pela introdução da nova tecnologia digital e pelo interesse cada vez menor dos jovens nesse formato que prioriza a fala ao invés da música. No entanto, quase duas mil estações no Brasil ainda usam transmissão AM. Esse tipo de emissora continua sendo das mais ouvidas
no país, pois atinge quase a totalidade do território nacional e, geralmente, contribui para que os ouvintes tenham acesso ao maior número de informações possível, internacionais, nacionais e, principalmente, locais. É pela proximidade do locutor de rádio AM com seu público que o rádio é tido como um dos veículos de maior credibilidade no país (NEUBERGER, 2012, p.85).
No dia 25 de fevereiro de 20161, segundo a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), teve início o processo de migração das rádios AM para a frequência FM. Segundo o Ministério das Comunicações, a migração está em processo e será feita em dois lotes. Esse processo de migração é realizado pela Anatel. Segundo a empresa, das 1.781 emissoras que atuam na faixa AM, 1.384 pediram a migração para o FM. As emissoras AM que ainda não quiseram migrar, poderão continuar no ar. Apenas a categoria de AM local, de baixa potência, será extinta.
Segundo Xxxxxxx Xxxxxxx Xxxxx0, diretor da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), a migração é o melhor caminho para o rádio AM, já que as emissoras que operam em ondas médias sofrem com níveis crescentes de interferências e ruídos que prejudicam a prestação do serviço. Com o surgimento da televisão, muitos acreditavam na extinção do rádio. Porém, o meio de comunicação mostrou que ainda era uma opção mais barata e com mais poder de alcance.
1.2 O RÁDIO CONTEMPORÂNEO
Após o advento da Internet, o rádio precisou novamente se adaptar para buscar uma nova evolução. Tal cenário, no qual o rádio se transforma, é caracterizado pela convergência midiática. Para Xxxxxxx (2008, p.41) a “convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento”, certificando assim as mudanças sofridas pelas mídias tradicionais com a chegada da cultura da convergência.
Nesse sentido, Xxxxx (2010) afirma que o novo contexto do rádio oferece ao meio e aos seus usuários novos formatos, contextos, estratégias, suportes e plataformas.
1 Disponível em <xxxx://xxx.xxxxx.xxx.xx/xxx/xxxxx.xxx/xxxxxxx/xxxx/00000-xxxxxx-xxxxxxx-x-xxxxxx-xxxx- fm>. Acesso em:08 de set. 2016.
2 Disponível em <xxxx://xxx.xxxxx.xxx.xx/xxx/xxxxx.xxx/0000-00-00-00-00-00/0000-00-00-00-00- 22/tecnicamenu/itemlist/tag/migra%C3%A7%C3%A3o?start=48> .Acesso em:08 de set. 2016.
A sua inserção no contexto da convergência reflete-se não somente no produto desenvolvido, como em suas rotinas e seus usos pela audiência. Observamos, no entanto, que muitas das mudanças reiteram o caráter circular dos eventos, levando à potencialização e/ou retomada de características e formatos predominantes em fases anteriores ao meio (XXXXX, FREIRE, 2010, p.166).
Para Xxxxx (2010 apud FERRARETTO, 2007), o rádio entrou nesse processo de convergência tecnológica na década de 1990, com o uso do telefone celular como estratégia de apuração e com a incorporação da Internet nas redações. A autora ainda afirma que o rádio dentro do contexto da convergência também vai se atualizando.
No rádio hipermidiático, por exemplo, uma característica é crucial: a espinha dorsal da narrativa é sonora e, portanto, seu perfil multiplataforma envolve uma narrativa que, embora importante, é complementar. Mantém-se, assim, a identificação com o rádio, um meio de comunicação próprio e que, aos poucos, atualiza-se (XXXXX, 2010, p. 25, p. 26).
Segundo Xxxxxxxx (2001) o rádio vai continuar existindo, convivendo com a internet e fortalecido pelas novas tecnologias.
Minha aposta é que o rádio assim definido – um meio de comunicação que transmite informação sonora, invisível, em tempo real – vai continuar existindo, na era da internet e até depois dela, e vai ser aperfeiçoado pelas novas tecnologias que estão por aí e ainda por vir, sem deixar de ser o que é (XXXXXXXXX; XXXXXX apud MEDITSCH, 2001, p.4).
O advento da Internet não representa o fim de meios de comunicação anteriores, mas sim um momento de ruptura. Para compreender a influência da Internet sobre o rádio,
Xxxxxxx x Xxxxxxx (2010) afirmam que
[...] a relação entre o rádio e a Internet pode suscitar duas vias de desenvolvimento: uma de ação complementar e outra de ação concorrente. Na primeira perspectiva, a internet é a protagonista de uma etapa de evolução do rádio. Ela se fundamenta na argumentação de que, em pouco mais de uma década, a Internet tornou-se a principal hospedeira e difusora de uma série de meios, mensagens e tecnologias desenvolvidas paralelamente e que se juntaram numa plataforma comum de comunicação multilateral e mundial (XXXXXXX; XXXXXXX, 0000, p.434).
Nessa fusão entre o rádio e a Internet, a difusão de notícias e informação ocorre de uma maneira acelerada. O ouvinte deixa de ser um mero espectador e passa a ser produtor de notícias e informação junto da emissora que ele está sintonizado.
Para os autores, Xxxxxxxx e Xxxx (2003), “[...] o rádio via Internet substituirá o velho esquema ‘eu falo e você me escuta’ pelo diálogo com o público-alvo, no qual a cumplicidade é a busca do interesse comum” (XXXXXXXX; LIMA, 2003, p. 47), afirmando
assim que o ouvinte é participante ativo na produção de informação. Xxxx(2004), sobre essa nova relação entre ouvinte e âncora, ressalta que o rádio sempre foi interativo com o seu público e que agora tem essa relação fortalecida.
O âncora apresenta o programa diante do correio eletrônico, aberto às mensagens e interferências dos ouvintes, quase que imediatas. A entrevista mal começa e já chega a primeira pergunta do ouvinte. O entrevistado escorrega, e vem a crítica. O apresentador se engana, e a correção aparece. E assim, internauta ou ouvinte, conectado à internet, transforma-se em protagonista (JUNG, 2004, p. 68).
Sobre a relação entre Internet e rádio, Jung (2004, p. 69) ressalta que a “internet abduziu os veículos impressos, tomou o rádio e começou a consumir a televisão. Na convergência as mídias não desaparecem, somam-se e impõem desafios ao jornalista”. Para Neuberger (2012),o rádio online afeta a forma de cultura de um povo já que as novas possibilidades proporcionam uma maior abrangência.
Se nas rádios tradicionais é comum encontrar filas na entrada ou salas de recepção abarrotadas de gente, além de telefones tocando em ritmo frenético, na Internet, esse potencial se amplia, uma vez que há muitas outras formas de comunicação (fóruns, enquetes, comentários, e-mails, além de redes sociais e microblogs). A participação por estes canais é facilitada pela tecnologia que, a cada dia, surge com novidades e amplia o acesso popular (NEUBERGER, 2012, p. 126).
A partir da presença do rádio na Internet, Prata (2008) nomeia dois modelos de radiofonia: rádios analógicas e rádios digitais que são emissoras com existência exclusiva na Internet ou webradios. Em 1998, foram criadas, no Brasil, emissoras de rádio com a existência apenas na Internet, que foram denominadas de webradios. A autora denomina webradios como “a emissora radiofônica que pode ser acessada por meio de um URL (Uniform Resource Locator), um endereço na Internet, não mais por uma frequência sintonizada no dial de um aparelho receptor de ondas hertzianas” (PRATA, 2008, p. 2).
A webradio se define como um novo modelo se rádio, sem precisar do “velho” dial para sintonizar e de alcance ilimitado. O rádio não é mais sintonizado por um aparelho de “rádio”, mas pelo computador ou smartphone. O dial não é utilizado, a sintonia é feita através de um endereço na internet. “[...]não mais explorado por uma concessão governamental, mas nascido a partir da livre iniciativa de seus proprietários; não mais de alcance geograficamente limitado, mas com abrangência universal” (PRATA, 2008, p. 3).
Já Neuberger (2012) acredita que as webradios se caracterizam como um novo formato de rádio, uma vez que não existe de forma física, apenas virtual. Nesse caso, a rádio também pode estar somente em streaming ou utilizando-se de todos os recursos disponíveis
na web, como componentes gráficos, tabelas, fotografias, textos escritos, imagens de vídeo e outros elementos que complementam a informação.
Segundo Ferraretto apud Cebrián-Herreros (2007), os usuários da Internet buscam conteúdo personalizado e se o rádio não personalizar seu serviço, não conseguirá atingir esse novo público. Os internautas possuem o poder que antes não possuíam, tanto para buscar como para incorporar a informação gerada ou do conhecimento deles. Possuem acesso à rede como uma forma de autos serviço. “Esta visão modifica plenamente o panorama dos meios de comunicação e em particular do rádio. Ou o rádio busca a personalização da informação, a interatividade, o auto-serviço[sic], ou perderá a capacidade de penetração na nova sociedade” (FERRARETTO apud HERREROS, 2007, p. 7).
Através de cartas, telefone ou fax, fazia o ouvinte entrava em contato com a sua emissora de rádio favorita. Agora, um dos principais meios de acesso às emissoras e de interação com os locutores e jornalistas é o uso das redes sociais. Xxxxx (2010) afirma que a utilização dessas novas ferramentas de comunicação através da Internet, potencializa o rádio e abre assim novos canais para a participação. Assim fica estabelecida uma nova rede de informações entre ouvinte, emissora e apresentador. Porém, Xxxxxxx e Xxxxx (2014), advertem que as redes sociais não podem ser pensadas pelas emissoras como um mero contato telefônico.
É importante, como uma busca pela integração nesta cultura da convergência, que as rádios se permitam mudar e evoluir, integrando em seu conteúdo o que as redes sociais lhe oferecem e pensando em suas práticas como inseridas nessa nova tecnologia comunicacional, mais complexa, descentralizada, multiplataforma, móvel (QUADROS; XXXXX, 2014, p. 180).
Hoje o rádio deixou de ser exclusividade de um aparelho que era específico para captação de ondas eletromagnéticas e se encontra em qualquer dispositivo, em especial os móveis. A inserção do rádio em tais dispositivos só é possível graças a convergências das mídias. As pessoas são ouvintes de rádio e telespectadoras de TV vinte e quatro horas por dia, através de aparelhos que integram todas as mídias num dispositivo só.
Tais dispositivos exercem diferentes funções como mobilidade e conexão. Xxxxx Xxxxx (2007) denomina esses dispositivos de novos media digitais, o que caracteriza uma nova relação entre o homem e a máquina.
A noção de “interatividade” está diretamente ligada aos novos media digitais. O que compreendemos hoje por interatividade, nada mais é que uma nova forma de interação técnica, de cunho “eletrônico-digital”, diferente da interação “analógica” que caracterizou os media tradicionais (LEMOS, 2007, p. 1).
O surgimento dos dispositivos móveis fez com que as mídias tradicionais tivessem que se adaptar ao novo modo de fazer informação e o jeito como às pessoas estão consumindo a mesma informação produzida pelas mídias tradicionais. Para Xxxxxxx e Magnoni (2009), os atuais aparelhos móveis, celulares e palmtops, reproduzem o antigo “radinho a pilha”.
Já para Monteiro (2015, p. 53-54), “os meios de comunicação modernos, circulam e se expandem, ou expandem o corpo, por intermédio das Mídias Digitais, armazenadas nos dispositivos móveis”, reforçando a ideia de conectividade a todo instante.
As tecnologias sempre estiveram presentes na história do rádio. Com tantos avanços, esse pode ser um dos meios de comunicação mais beneficiados através das plataformas digitais, aplicativos e dispositivos móveis. Tais tecnologias emergentes não extinguem o rádio, mas sim, o fortalecem e favorecem sua evolução.
A partir dessa síntese da história do rádio, desde seu surgimento ao contexto tecnológico no qual está inserido hoje, o conteúdo produzido por ele passou a ter diferentes formas de recepção. As emissoras e os apresentadores utilizam dessa nova forma de disseminar informações, para capturar e fidelizar seus ouvintes que hoje possuem maiores opções de contato com seu programa favorito. A fidelização entre ouvinte e emissora se dá por meio de estratégias as quais podem ser compreendidas como contratos de comunicação.
2 CONTRATOS DE COMUNICAÇÃO
Com a midiatização da sociedade, as mídias adotaram uma nova forma na construção do seu discurso. Todo meio de comunicação tem um tipo de contrato com o público que ele deseja atingir. As empresas de comunicação buscam cada vez mais um público aderente às suas mensagens e para isso colocam em marcha uma série de estratégias com o intuito de conquistar maior destaque na audiência. Esta prática se vê presente em todos os tipos de produções de programas midiáticos de todos os gêneros, formatos e tipos.
Qualquer tipo de discurso depende, para a construção daquilo que ele vai levar ao público, “das condições específicas de troca na qual ele surge” (XXXXXXXXXX, 2006, p.67). Como os indivíduos trocam palavras e são influenciados uns pelos outros? Como atribuem valores a seus atos de linguagem e constroem sentidos naquilo em que estão falando? Segundo Xxxxxxx Xxxxxxxxxx (2006), o cenário da comunicação é como um palco, com suas restrições de espaço, de tempo, de relações, de palavras, no qual se encenam as trocas sociais e aquilo que constitui o seu valor simbólico.
Tais restrições situadas pelos parceiros da troca linguageira são ligadas por uma espécie de acordo, que segundo Xxxxxxxxxx (2006), é denominado de contrato de comunicação. Ainda de acordo com o autor, “o necessário reconhecimento recíproco das restrições da situação pelos parceiros da troca linguageira nos leva a dizer que estes estão ligados por uma espécie de acordo prévio sobre os dados desse quadro de referência”(XXXXXXXXXX, 2006, p. 68). Para ele, o que ocorre é uma troca de dados externos que são as características próprias da situação de troca e os dados internos que são as características discursivas decorrentes que caracterizam cada situação de troca. Inicialmente, no caso estudado, é possível identificar características as quais podem ser compreendidas a partir do que o autor vislumbra como dados externos.
2.1 DADOS EXTERNOS
No contrato de comunicação, Xxxxxxxxxx (2006) categoriza os dados externos em: condição de identidade, condição de finalidade, condição de propósito e condição de dispositivo. Os dados externos podem ser vislumbrados no objeto em estudo. Segundo Xxxxxxxxxx (2006), os dados externos fazem parte do conceito do contrato de comunicação.
A condição de identidade se refere às pessoas envolvidas no discurso, “quem troca com quem?” ou “quem se dirige a quem?”, no âmbito social e psicológico. Os interlocutores a partir da oralidade instauram uma relação entre si, que pode ser de paixão (calor humano) ou razão (distância), de polêmica ou conivência, do tipo de relação que eles mantêm com o mundo que os cercam, segundo Xxxxxxxxxx (2006).
Outra condição proposta por Xxxxxxxxxx é a da finalidade. Esta ordena a condição da linguagem presente no discurso para que o sentido da mensagem seja cumprido. Xxxxxxxxxx divide a finalidade em quatro categorias chamadas de visadas. Na peça radiofônica analisada nesta pesquisa, enquadrasse três tipos de visadas, conforme a categorização proposta por Xxxxxxxxxx (2006): Prescritiva, levar o outro a fazer determinada ação. Informativa, transmitir um saber a alguém que se presume não possuir. Incitiva, consiste em “fazer crer”, ou seja, querer levar o outro a pensar que o que está sendo dito é verdadeiro. Por último, a visada do páthos, que consiste em “fazer sentir”, provocar no sujeito um estado emocional agradável ou desagradável.
No contrato de comunicação midiático, é a primeira visada que domina, a do fazer saber, segundo Xxxxxxxxxx (2006). A voz com suas características de entonação, timbre e
acentuação, revela aquilo que Xxxxxxxxxx (2006) denomina como “estado de espírito” de quem fala, ou seja, os movimentos que transmitem sua afetividade, sua interioridade oculta, a imagem que ele faz de si mesmo e dos outros e até sua posição social.
O propósito refere-se à condição de que todo ato de comunicação se construa em torno de uma temática. O propósito pode ser definido pela resposta à pergunta: “Do que se trata? ”Corresponde ao discurso dominante ao qual a troca deve atribuir um tema principal, o que não impede que se acrescentem em seguida outros temas e subtemas, o qual deve ser admitido pelos sujeitos envolvidos.
Informar sobre o que? O propósito é aquilo de que se fala, o que está sendo debatido num ato de comunicação. Porém, “aquilo de que se fala” pode incluir tudo, até mesmo o que diz a relação entre aqueles dois que estão se comunicando.
Xxxxxxxxxx (2006) define essa noção como “universo de discurso”, que, ao mesmo tempo que o movimento de linguagem está relacionado a um ato de troca, volta-se para o mundo recortando-o de uma maneira através das representações linguageiras. Esse fragmento recortado é ordenado por um ato de “tematização”. Desse modo, o propósito é objeto de compartilhação do ato de comunicação. O propósito separa o mundo em universos que possuem temas próprios e produzem possíveis efeitos de captação.
Já o dispositivo midiático é a condição que requer que o ato de comunicação se construa através de circunstâncias materiais nas quais ele se desenvolve. Define-se por meio das respostas às perguntas: “Em que ambiente se desenvolve o ato de comunicação, que lugares físicos é utilizado pelos sujeitos e por qual canal é feita a comunicação?”. Segundo Xxxxxxxxxx (2006), o dispositivo é o que determina as variantes no interior de um mesmo contrato de comunicação. Todo ato de comunicação depende de um dispositivo de encenação. O dispositivo é uma forma de pensar e articular os elementos que formam um conjunto estruturado que os ligam. Esses elementos são de uma classe material segundo uma rede conceitual.
O dispositivo constitui o ambiente, o suporte físico da mensagem. No que se refere ao dispositivo radiofônico, Xxxxxxxxxx (2006) defende que o veículo é caracterizado pela voz, sons, música e ruídos. Esse conjunto de características o inserem numa tradição oral, porque não é acompanhada de imagem e nenhuma representação dos locutores nem dos objetos que produzem sons ou ruídos.
Apresentados os dados externos a partir do autor francês, a pesquisa desmembra o contexto teórico relacionado aos dados internos do discurso que estão contidos dentro dos
dados externos. Os dados internos propostos por Xxxxxxxxxx (2006) auxiliam na compreensão dos dados externos apresentados até aqui.
2.2 DADOS INTERNOS DO CONTRATO DE COMUNICAÇÃO
Aqui se apresentam os dados internos que, conforme já se identificou anteriormente, constituem o conjunto de elementos do contrato de comunicação. Nas palavras de Xxxxxxxxxx (2006), os dados internos são aqueles que são próprios do discurso. São eles que respondem à pergunta “como dizer?”. Os dados internos constituem as restrições discursivas de todo ato de comunicação. Para Xxxxxxxxxx (2006), “os dados internos são o conjunto dos comportamentos linguageiros esperados quando os dados externos da situação de comunicação são percebidos, depreendidos, reconhecidos” (XXXXXXXXXX, 2006, p.70), caracterizando posteriormente os comportamentos linguageiros.
Os comportamentos linguageiros dividem-se em três espaços: espaço de locução, espaço de relação e espaço de tematização. No espaço de locução, o sujeito falante deve justificar em nome de que ele está falando. Momento que ele se impõe como aquele que está falando e, ao mesmo tempo identificar o interlocutor (destinatário), ao qual ele se dirige. Conforme Xxxxxxxxxx (2006), ele deve conquistar seu direito de poder comunicar.
Dentro do campo da comunicação, em geral, os temas podem ser definidos como os principais assuntos os quais são de interesse geral da população, denominados de pautas, que podem ser desenvolvidas pela entrevista. A pauta se encaixa dentro da instância de produção proposta por Xxxxxxxxxx (2006) porque ela necessita ser do interesse do público e ser consumida por ele.
Diante de tal caracterização, para dar andamento à construção do referencial teórico que balizará um posterior capítulo analítico sobre o contrato de comunicação do objeto analisado, verificou-se, na construção desse capítulo, a necessidade de buscar apoio em outros autores que viessem a corroborar com as ideias do autor Xxxxxxx Xxxxxxxxxx.
Esse apoio se fez necessário à medida que o pesquisador foi aprofundando sua visada sobre dados colhidos na pré-observação do objeto de pesquisa. Para dar explicação ao fenômeno comunicacional pesquisado, no caso apresentando especificidades do dispositivo radiofônico, tais autores se tornaram fundamentais.
Xxxxx, vinha-se abordando uma contextualização teórica sobre a pauta. Neste sentido, segundo Xxxxx Xxxxxxx (2004) o rádio, por ser ágil e rápido na transmissão da informação, deve gerar novos assuntos entre os veículos de comunicação. Para a autora, a pauta serve para
aumentar o número de diferentes reportagens sobre um assunto. Pauta é o ponto de partida. A pauta surge a todo momento, no contato com as pessoas, de um fato que ocorreu na rua, no discurso de uma figura pública, enfim, daquilo que o ouvinte estaria interessado em saber.
Para Xxxxx Xxxxxxx (2004), as reuniões de pauta são responsáveis pelo desempenho positivo do jornalista na escolha do tema a ser colocado em destaque. Uma das técnicas utilizadas no campo da comunicação para desenvolver a pauta é por meio da entrevista. Xxxxxxxxxx (2001) define a entrevista como um contato entre dois indivíduos, no caso do radiojornalismo, são representados pelo repórter ou apresentador e pela pessoa possuidora de informações ou opiniões relevantes para os ouvintes. Ainda, segundo o autor, pode ser acrescentada a possibilidade de terceiros acompanharem essa conversa. A entrevista radiofônica, segundo Xxxxxxxxxx (2001), é “um meio termo entre a investigação e conversa, possuindo elementos de ambas” (FERRARETTO, 2001, p.273).
Ainda de acordo com o autor, a entrevista no rádio resulta de uma interação entre três interlocutores: o entrevistador, o entrevistado e o ouvinte. Para o autor “quem conduz o diálogo representa o público” (FERRARETTO, 2001, p. 274). Dentro da entrevista há um fluxo de informação em que o comunicador e o entrevistado, de modo alternado, são emissor e receptor. O papel do entrevistador é instigar o entrevistado. Para Ferraretto (2001) as respostas que chegam aos ouvintes são dadas de forma espontânea ou provocadas pelo entrevistador. Para realizar a entrevista, o apresentador ou entrevistador segue um roteiro de perguntas que recebe uma dose de improvisos dependendo da interação entre entrevistador e entrevistado. O autor defende que uma entrevista “significa pesquisar em detalhes o assunto e/ou a pessoa enfocada, estabelecendo um raciocínio a respeito que orienta o questionamento” (FERRARETTO, 2001, p. 275).
De acordo com Xxxxx (1989), a entrevista jornalística se adapta de modo fácil no rádio. O autor assinala as características desse formato da seguinte forma:
[...] a entrevista é formalmente um diálogo que representa uma das fórmulas mais atraentes da comunicação humana. Produz-se uma interação mútua entre o entrevistado e o entrevistador, fruto do diálogo. Esta interação – natural na comunicação humana em nível oral – exerce um efeito de aproximação no ouvinte, que se sente incluído no clima coloquial, ainda que não possa participar (PRADO, 1989, p. 67).
O autor apresenta outra categoria na qual esse formato pode ser analisado em dois eixos principais: a entrevista de caráter, que possui como suporte a personalidade do entrevistado, e a entrevista noticiosa, a qual tem como suporte a informação. Esse formato
apresenta características flexíveis que se adaptam ao rádio, além da forte empatia desse com o público quando ligado ao entretenimento.
Xxxx Xxxxx Xxxxxxxx utilizando de Xxxxxxxxx Xxxxxxx (1974), diz que três fatores são determinantes na execução da entrevista: o assunto em si, a atmosfera e o caráter do entrevistado. O tema ou a pauta faz a condução da entrevista. Na relação entre o entrevistador e o entrevistado, fica estabelecida uma atmosfera, um clima, que aliada ao caráter do entrevistado vai determinar o tipo da entrevista, mais formal ou informal e seu ritmo que poderá ser lento ou acelerado. Para o autor o processo de entrevista não é estático, constitui-se através de um processo que envolve saber perguntar, ouvir a resposta e questionar novamente aquilo que foi dito.
Dando sequência à contextualização teórica sobre os comportamentos linguageiros desenvolvidos a partir dos dados internos apontados por Xxxxxxxxxx (2006), o espaço de relação é definido por aquele em que o sujeito falante constrói sua identidade de locutor e de seu destinatário, estabelecendo relações. Tais relações podem ser de força ou aliança, de inclusão ou exclusão, de agressão ou de conivência com o destinatário. O espaço de tematização é onde é tratado o domínio do saber, o tema da troca, sejam eles predeterminados por instruções comunicacionais ou introduzidos pelos próprios participantes da troca. Segundo Xxxxxxxxxxx (2006), o sujeito falante não deve só tomar posição em relação ao tema imposto pelo contrato (aceitando, rejeitando, descolando-o ou propondo outro tema), mas também escolher seu modo de organização discursivo (descritivo, narrativo ou argumentativo), para o tema que lhe foi imposto.
Nesse sentido, numa pré-observação do apresentador do objeto analisado, percebe-se a utilização dos dados externos (visadas), e da relação das mesmas com os dados internos, que se pode enxergar como ações que visam vincular um contrato de comunicação, no caso do rádio, locutor e ouvinte.
Para Xxxxxxxxxx, nenhum ato de comunicação está determinado. Cada contrato de comunicação possui uma margem de manobra, permitindo assim que o locutor escolha seus modos de expressão correspondentes ao seu próprio projeto de fala. Contrato de comunicação e os modos de dizer se completam num espaço de estratégias, designando assim o que Xxxxxxxxx (2006), chama de ato de liberdade.
Pesquisadores como Ferraretto, Xxx, Xxxxxxxx, Xxxxx, Xxxxx e Xxxxxxx, contextualizam o papel do comunicador pela sua fala e seus modos de comunicar utilizando a voz no rádio e os distintos efeitos que ela causa no público. As ideias dos autores vão ao encontro com as
propostas por Xxxxxxxxxx (2006) que são identificadas dentro da condição de finalidade e que podem ser percebidas no meio radiofônico através do discurso de quem está falando.
O rádio constitui-se de vários instrumentos para que se tenha comunicação entre emissor e público, ou seja, os participantes do contrato de comunicação. A fala pode ser considerada a principal ferramenta dentro da comunicação radiofônica. Segundo Xxxxxxxxxx (2001), a forma como o comunicador fala confere significado aquilo que foi dito. Ainda conforme o autor, “uma mesma frase pode expressar algo do ponto de vista do conteúdo das suas palavras em si ou, por exemplo, com um acento irônico, referir-se justamente ao contrário” (FERRARETTO, 2001, p. 307).
Ferraretto (2001) utilizada da professora mexicana Xxxxx Xxxxxxxx Xxxx Xxx, para explicar que a voz é o elemento primordial dentro do universo radiofônico. Todos os elementos presentes na mensagem transmitida pela emissora de rádio, quando utilizados juntos com a voz, ressaltam e valorizam aquilo que foi dito. Retomando Ferraretto (2001), não existe um padrão genérico no rádio ao qual o locutor precise se adaptar. O que é feito é uma adequação ao estilo e ao público que a emissora prende atingir. Uma rádio FM com segmento para o público jovem vai exigir um comunicador que transmita essa imagem desejada pela empresa no decorrer de sua programação. Esse estilo tende a ser diferente do adotado pela emissora que opera na frequência AM mais concentrada no jornalismo.
A palavra locutor vem do latim locutore, designa “aquele que fala”. Para Ferraretto (2001), mais importante do que falar é necessário transmitir algum significado sobre aquilo que está sendo dito. Conforme o autor, uma mesma frase pode adquirir significados diferentes quando é anunciada em contextos diferentes.
Mas a condução do programa pode ser orientada por um roteiro ou espelho elaborado antes da transmissão. Ferrareto (2014, apud, Klockner, 1997) define apresentador como o “profissional que comanda, no ar, o programa de rádio. O apresentador é quem dá unidade e personalidade à programação, é o elo entre a rádio e o ouvinte, criando o contexto para cada assunto, tornando a notícia mais acessível” (XXXXXXXX, 1997, p. 77).
Dentro do universo radiofônico, para aumentar o poder daquilo que se está sendo dito e consequentemente atrair a atenção do ouvinte, utiliza-se da inclusão de efeitos sonoros ou ruídos na mensagem radiofônica. De acordo com Xxxxx (2007), os ruídos, quando utilizados dentro de um projeto narrativo, representam sonoramente uma passagem de tempo de uma ação para outra. O ruído pode potencializar a ação da peça radiofônica com uma maior intensidade. Dentro da radiofonia, Xxxxx (2007) explica que o ruído:
Pode ser explorado na entonação vocal, emitindo sons em princípio não considerados como musicais e menos ainda pertencentes aos domínios da arte e da língua convencional, como é o caso dos gritos, bocejos, sibilos, tosse, entre outros que compõem o gesto articulatório e que fazem parte da importante contribuição criativa do locutor/intérprete (XXXXX, 2007, p. 85)
A mensagem dita aliada à imaginação criativa do locutor desperta nos ouvintes ideias e dessas ideias surgem as sensações provocadas pela mensagem radiofônica. Xxxxxxx Xxxxx (2007, p. 86), os ruídos “cuja causa não podemos ver, só podem despertar imagens”.
Não é somente o ruído como elemento não verbal que faz parte do processo de construção de uma peça radiofônica. A música e os efeitos sonoros sempre estiveram presentes no universo do rádio. De acordo com Xxxxx (2003, p.9), “a música representa para o discurso radiofônico um elemento não-verbal que introduz elementos na enunciação”.
Os efeitos sonoros são “ruídos” que não passam a ideia de musicalidade. Eles representam elementos, ações ou ambientes no enunciado radiofônico, segundo Moura (2003).
Os efeitos procuram se aproximar não da realidade sonora que representam, mas de um som que seja compreendido pelo interlocutor como representante de uma realidade sonora. Um tapa real soa menos que no rádio, e talvez não seja entendido como tal pelo ouvinte. O mesmo acontece com um tiro, passos, ou o urro terrível de um tiranossauro rex (MOURA, 2003, p.9).
O rádio, mídia sonora, busca a criatividade através do som. Dentro do universo criativo do meio radiofônico destaca-se o gênero radio arte, criado pelo autor Xxxxxxx Xxxxxxxx (2008). Para ele este modelo de criação é responsável por elaborar trilhas para as rádios. Este gênero coloca em dúvida se o meio radiofônico está diante de uma criatividade radiofônica ou de uma criatividade própria do campo musical. Para Meditsch (2008, p. 344), “a tendência da arte radiofônica, de maneira geral, é se manifestar como tratamento musical. Os ensaios de harmonias rítmicas também dão a idéia de que mais do que produtos radiofônicos se tratam de produtos musicais”. O autor afirma esta ideia baseado que grande parte dos profissionais vinculados ao campo do rádio são criadores musicais ou que possuem algum vínculo com a música.
É possível trabalhar dentro do meio radiofônico com os profissionais da música e com os que surgem através do rádio. Sobre os profissionais provenientes do rádio que trabalham com a criação de trilhas e fundos musicais, Meditsch (2008) coloca que estes profissionais trabalham com “palavras orais, com sons da realidade e os artificiais, com a música de todo o tipo e gênero e com algumas combinações que buscam a comunicação com a audiência”,
(MEDITSCH, 2008, p. 344). A união dos profissionais da música e do rádio possibilita para a rádio arte criar programas radiofônicos que possam ser emitidos e recepcionados como produto pelo rádio convencional.
Dentro do meio radiofônico, o locutor ou aquele que está falando poderá utilizar um roteiro elaborado para apresentar ao público suas ideias ou apenas comunicar através do improviso. De acordo com Xxxxxxx (2005), no rádio existem dois discursos diferentes: o natural e o elaborado. No discurso elaborado, utilizam-se da linguagem radiofônica para explorar de um jeito mais rico os recursos que enriquecerão o relato. Trata-se de reunir os elementos expressivos e comunicacionais que permeiam aquilo que está sendo comunicado.
No rádio, a versatilidade da voz ajuda a exteriorizar um sentimento. Dentro do universo radiofônico e suas linguagens, existem duas formas de comunicação, o monólogo e o diálogo. No monólogo a construção do discurso é feita somente com uma voz. No diálogo por mais de uma. Para Xxxxxxx (2005) o monólogo reflete muito bem as características de seus personagens, já que aparenta ser uma reação emocional a determinada ação realizada em sua intimidade. Já o monólogo possibilita falar em voz alta. Ele possui funções interrogativas, assertivas e imperativas, indo ao encontro das visadas, propostas por Xxxxxxxxxx (2006) quando o autor as caracteriza de levar o público a fazer crer, fazer sentir e fazer uma determinada ação. O comunicador conseguirá esses distintos efeitos através dos seus modos de comunicar por meio da sua voz. A voz proferida pelo locutor de rádio atua como um símbolo, sua marca pessoal. No meio radiofônico a voz além de estimular a audição, estimula outro sentido, o tátil, xxxxxxx Xxxxx (2007).
A autora explica que a totalidade é decorrente das: “[...]qualidades da voz como fenômeno sonoro, ou seja, a intensidade, a altura, o volume e o timbre que, juntamente com o ritmo e o gingado, tão presentes na cultura latino-americana, conferem gestualidade e coloridos às enunciações” (XXXXX, 2007, p. 40).
Todo ato de comunicação, principalmente a midiática, põe em relação duas instâncias: uma de produção e outra de recepção. A instância de produção teria duas finalidades: de fornecer as informações, pois, deve fazer saber, e de promover o desejo de consumir essas informações, pois deve capturar seu público. A instância de recepção deveria manifestar o desejo ou prazer em consumir essas informações. Xxxxxxxxxx (2006) explica que, na verdade, essa relação entre produção e recepção é muito complexa, por muitas vezes sendo difícil de acontecer o casamento entre essas duas instâncias.
[...] não se trata somente de transmitir saber, mas de se confrontar com os acontecimentos que se produzem no mundo ou inteirar-se de sua existência, e
desconstruir, a esse respeito, um certo saber – e isso, num tratamento que depende da maneira pela qual se constroem representações sobre o público; por outro lado, porque o público não coincide totalmente com tais representações, não se deixando atrair nem seduzir com facilidade, seguindo seus próprios movimentos de idéias[...], não sendo apreendido facilmente (XXXXXXXXXX, 2006, p. 72).
A instância de produção atua de duas formas diferentes, ora como organizadora do conjunto do sistema de produção, ora como organizadora da enunciação discursiva da informação. A instância de recepção também possui duas particularidades. De um ponto de vista interno, a instância midiática é designada como destinatário, do ponto de vista externo, como instância de recepção propriamente dita, aquilo que tem como objetivo ser consumida pelo público.
Segundo Xxxxxxxxxx (2006), no discurso é necessário levar em consideração que os atores envolvidos em um determinado contrato de comunicação agem a partir de seus atos e de suas palavras, construindo em paralelo representações de suas ações e de seus dizeres, às quais atribuem valores. Xxxxxxx (1985), nessas condições, explica que o desempenho de um dos participantes na interação pode ser definido como a atividade que em certa ocasião sirva para influenciar qualquer um dos demais. Quando pego como ponto de referência básico um participante particular e seu desempenho, o autor denomina de plateia, observadores ou coparticipantes aqueles que contribuem com os outros desempenhos. Na presença de diferentes observadores, Xxxxxxxx (1985) caracteriza como performance aquilo que gera efeitos nos outros indivíduos durante a interação.
Xxxxxxx (1985) diz que o veículo das performances seria a fachada, que é representada como “equipamento expressivo padronizado” dos atores, responsáveis pela formação de imagens entre os participantes que estão interagindo. A fachada seria composta por um cenário e pela fachada pessoal. O cenário inclui o pano de fundo, decoração, disposição física. A fachada pessoal engloba os elementos que são fixos de cada um: sexo, idade, altura e aparência.
Para Xxxxxxx (1985), ainda, o “ator social elabora suas estratégias de suscitar impressões e reações com base em determinados desempenhos, e tem como referência modelos pré-existentes, imagens socialmente instituídas” (XXXXXX apud GOFFMAN, 2011,
p. 5). O propósito do contrato de comunicação midiático se encontra nessa lógica de produção de sentidos. Dessa forma, para Xxxxxxxxxx, o contrato de comunicação é organizado a partir de duas visadas, que correspondem, cada uma delas, a uma lógica particular: uma visada de fazer saber, ou visada da informação, que tem como objetivo informar o sujeito. A outra visada é a do fazer sentir, ou visada de captação, que tem como
objetivo produzir o consumo da informação, ou seja, captar as massas para competir à concorrência.
A mídia tenta utilizar a visada de informação de duas formas: a descrição-narração, para descrever os fatos do mundo, e a explicação, para esclarecer ao destinatário da informação sobre as causas que esses mesmos fatos trazem para o público consumidor da informação. Nos dois casos citados ocorre um problema de relação com a verdade. Xxxxxxxxxx (2006), diz que dentro do domínio linguístico, encontram-se noções de significar o verdadeiro ou significar o falso através do discurso.
[...] o verdadeiro seria dizer o que é exato/o falso seria dizer o erro; o verdadeiro seria dizer o que aconteceu/o falso seria inventar o que não aconteceu; o verdadeiro seria dizer a intenção oculta/ o falso seria mascarar a intenção (mentira ou segredo); enfim, o verdadeiro seria fornecer a prova das explicações/o falso seria fornecer explicações sem prova (XXXXXXXXXX, 2006, p. 88).
Dizer o exato corresponde a dizer que há coincidência entre o que foi dito e os fatos que estão acontecendo. Dizer o erro significa dizer que o fato ocorrido não coincide com aquilo que foi dito. Autenticar é a atividade que consistem em fazer acreditar na coincidência, entre o que é dito e os fatos descritos. Segundo Xxxxxxxxxxx (2006), a “autenticação nas mídias é a prova pelo ‘visto-dito-ouvido’ que deve atestar sem disfarce ‘o que é’” [...] (XXXXXXXXXX, 2006, p.89), mostrando a autenticação que a mídia dá aos fatos.
Dizer o que aconteceu indica que não há coincidência de tempo entre aquilo que foi dito e o fato. O relato entre os dois só é possível através de uma reconstituição que dependendo do grau de coincidência entre ela e os fatos, poderá ser até algo inventado. Dizer a intenção corresponde a dizer que aquilo que foi dito, corresponde ao que foi pensado. Xxxxxxxxxx (2006), diz que se instaura uma relação de transparência entre aquilo que foi enunciado e o que pensa o sujeito que fala.
De acordo com o autor, desvendar o oculto é tentar fazer crer que o que foi dito esconde aquilo que foi pensado, o que é dito agora, equivale a uma intenção verdadeira ou a um saber escondido. “Nas mídias, os procedimentos que permitem provocar revelações são as entrevistas, os bate-papos e os debates, acompanhados de investigações e de pesquisas” (XXXXXXXXXX, 2006, p. 90).
Fornecer a prova das explicações significa mostrar os motivos dos fatos ou sua possível consequência. Agora é a fase de extrair deles suas razões de existir. Xxxxxxxxxx (2006), diz que o problema aqui não é somente a força da prova, mas assegurar sua validade da maneira mais incontestável possível. Na mídia, são vários os procedimentos que permitem
validar essa forma de verdade: alguns se obtêm pela análise, outros através de uma investigação, outros ainda unicamente pelo poder demonstrativo da imagem e daquilo que não se vê. A mídia está em confronto permanente com a credibilidade, porque baseia sua legitimidade no “fazer crer”, o que é dito é verdadeiro.
Toda a captação está destinada para aquele que se troca a mensagem. Supõe-se que ele não é passivo (ele possui seus próprios modos de interpretação), e não ter sido atraído antecipadamente pelo interesse que a mensagem pudesse ter manifestado (é necessário persuadi-lo, seduzi-lo). Partindo desse princípio, a mídia precisa mostrar-se credível. Assim ela busca o maior número de cidadãos consumidores de informação. Segundo Xxxxxxxxxx (2006), a mídia está “condenada” a procurar emocionar seu público, a mobilizar sua credibilidade, a fim de despertar o interesse e o gosto pela informação que lhe é transmitida. Para atender esse princípio de emoção, a mídia deve agir de maneira sutil ao discurso de informação, baseando-se, ao mesmo tempo, nos apelos emocionais que prevalecem nas comunidades socioculturais e nas suas crenças. De acordo com Xxxxxxxxxx (2006), a regulação coletiva das trocas segue as representações que atribuem valores às condutas e às reações emocionais.
Assim, o autor diz que o contrato de comunicação midiático é marcado pela contradição: precisa fazer saber, não deve buscar a espetacularização da informação, para assim satisfazer o princípio da credibilidade, finalidade de fazer sentir, que deve escolher estratégias adequadas à encenação da informação para satisfazer o princípio de emoção ao produzir efeitos de dramatização.
Dentro da condição de dispositivo, proposta por Xxxxxxxxxx (2006) não é somente o rádio como veículo de comunicação que pode ser enquadrado nessa categoria. Os gêneros e formatos presentes no rádio também fazem parte do dispositivo midiático. Toda a emissora radiofônica pode ser caracterizada pelos seus gêneros e formatos existentes na sua programação. Ferraretto (2001) diz que o formato representa a forma de trabalho da emissora, caracterizando como ela está posicionada dentro do mercado. No país, os formatos adotados pelas rádios AMs e FMs são divididos em dois grupos. Os puros: informativo, musical, comunitário, educativo-cultural e místico-religioso. Os formatos híbridos são: de participação do ouvinte, música, esporte e notícia.
Já no entendimento de Xxxxxxx Xxxxx (2003), o formato radiofônico é o conjunto das ações integradas, inseridas em um ou mais gêneros radiofônicos. O formato é representado pelo programa de rádio ou pelo produto radiofônico. Ainda conforme Xxxxxxx Xxxxx (2003) o programa de rádio ou o produto radiofônico é a reprodução concreta do formato radiofônico.
O gênero radiofônico está relacionado com a função específica que ele possui em relação aquilo que o público alvo deseja. No caso do programa radiofônico Pânico no Rádio, veiculado pela rádio Jovem Pan FM 100.9, apresentado pelo Xxxxxx Xxxxxx, este pode ser considerado um programa de gênero entretenimento, mas com o formato jornalístico de entrevistas.
Considerado por algum tempo como de menor importância, em decorrência de seu caráter fictício, o gênero de entretenimento desperta, segundo Xxxxxxx Xxxxx (2003), um crescente interesse de profissionais. As características desse gênero estão diretamente ligadas ao imaginário dos ouvintes. De acordo com Xxxxxxx Xxxxx (2003), esse gênero tem a possibilidade de explorar de maneira mais ampla a riqueza de linguagem do som, se comparado aos outros gêneros. O autor ressalta que “o entretenimento é a própria essência da linguagem radiofônica, cuja contribuição vai do real à ficção” (XXXXXXX XXXXX, 2003, p. 114).
O gênero de entretenimento oferece aos personagens da comunicação um número infinito de possibilidades de produção e recepção que podem causar surpresa, afetividade, indignação e alegria. Os formatos de entretenimento possuem características e possibilidades que lhe são próprias, entre as quais, Xxxxxxx Xxxxx (2003, 115) destaca “[...] a de ter capacidade de se combinar com outros formatos de outros gêneros e de servir de ferramenta para informação, o anúncio, a prestação de serviços, para a educação e, até mesmo, para o entretenimento”.
O formato de entretenimento mostra-se assim uma forte ferramenta para capturar ouvintes para o gênero informativo, como, por exemplo, um programa de entrevistas.
Depois de apresentar o referencial teórico a respeito dos conceitos basilares sobre contratos de comunicação, os quais foram acionados, pois auxiliarão no processo de análise do programa radiofônico nessa pesquisa, vai-se estruturar, na sequência, o objeto analisado.
3.O OBJETO ANALISADO
Neste capítulo é apresentada a história da rádio Jovem Pan, como surgiu o programa Pânico no Rádio, a descrição dos seus quadros e o perfil do apresentador Xxxxxx Xxxxxx.
3.1 A RÁDIO JOVEM PAN
A Rádio Jovem Pan, de São Paulo – Capital, foi fundada em 6 de outubro de 1942, sob o nome de Rádio Panamericana, com o prefixo PRH-7. A emissora teve sua primeira sede no prédio 299 da Rua São Bento, até o início dos anos 50. Teve sua primeira transmissão oficial em 3 de maio de 1944. A proposta inicial da rádio era de veicular uma programação diferente das outras emissoras da época. Tornou-se uma emissora na qual os interesses artísticos e não os econômicos eram a base de seu funcionamento.
Com aparelhos pouco potentes comparados com os equipamentos que as rádios concorrentes possuíam na época, a situação financeira da Rádio Panamericana foi se complicando. Devido à crise econômica que atravessara na época, foi vendida em 1944 para o grupo das Emissoras Unidas de São Paulo ao qual pertenciam as rádios Record e São Paulo. Entre os anos de 1944 e 1946, a Rádio Panamericana manteve sua programação variada, com radionovelas, programas de humor, musicais e jornalísticos. A partir de 1947, dedicou sua programação às transmissões de eventos esportivos, o que a nomeou na época como a “emissora dos esportes” e alcançava a liderança no gênero.
No início da década de 1950, a rádio mudou-se para a sua segunda sede, localizada na xxx Xxxxxxxxx, 000, 00x xxxxx. No ano de 1967, a rádio dedicou-se a montar uma equipe de jornalismo o que fez com que a Panamericana mudasse sua imagem de emissora esportiva para uma emissora jornalística e prestadora de serviços. A informação passou a estar presente não mais na programação, em horários fixos, mas sim no momento do fato, a qualquer hora. A rádio já permanecia 24 horas no ar.
Em 1970, Xxxxxxx Xxxxxxx Xxxxxx xx Xxxxxxxx, o “Tuta”, diretor-geral da rádio, desligou-se comercialmente da família proprietária da TV Record e das Emissoras Unidas, assumindo assim o controle definitivo da emissora. Na década de 70, houve a mudança do nome da Rádio Panamericana. A rádio passou e se chama Jovem Pan pelo sucesso do programa musical da TV Record, a “Jovem Guarda”, que dominava a audiência da televisão nos domingos.
A partir de 1971, a Jovem Pan comandou o primeiro noticiário que interligava todo o país, o Jornal de Integração Nacional da Jovem Pan. O jornal contava com repórteres em várias cidades. Tal tendência iria se ampliar e consolidar a figura dos correspondentes em diferentes cidades do país. Em fevereiro de 1972, a rádio Jovem Pan realizou um dos trabalhos mais marcantes da sua história, que foi a cobertura ao vivo, durante 24 horas, do incêndio do edifício Andraus3. Como prestadora de serviços, na ocasião, a rádio contribui para a organização do trânsito, apoiou a doação de sangue e o atendimento aos parentes das vítimas do incêndio.
A partir de 1º de julho de 1976, o filho do então diretor-geral da Jovem Pan, Xxxxxxx Xxxxxxx Xxxxxx xx Xxxxxxxx Xxxxx, o “Tutinha”, funda Jovem Pan 2 que começou suas transmissões na faixa FM. Em 1977, o Ministério das Comunicações concedeu para a Jovem Pan um canal de televisão que acabou não entrando no ar imediatamente. A rádio Jovem Pan 2 passou a ocupar o endereço no qual está instalada até hoje na Xxxxxxx Xxxxxxxx, 000, 00x xxxxx.
Na década de 80, a rádio Jovem Pan criou um modelo de notícias que virou referência para o rádio até os dias de hoje. A radialista Xxxxx Xxxxx Xxxxxxx, produziu um Manual de Radiojornalismo que ensinava que as notícias deveriam ser redigidas de forma curta e sintética. Em julho de 1987, iniciaram as transmissões da TV Jovem Pan.
A Rádio Jovem Pan, em 1992, no ano de celebração dos seus 50 anos, desenvolveu o projeto da Rede Jovem Pan SAT, levando via satélite através das suas faixas AM e FM, sua programação para várias regiões do país. O projeto teve seu início em 1994. A Rede Jovem Pan SAT foi a primeira rede de rádios do país a operar por satélite com áudio digital e empregava uma tecnologia que garantia a cada emissora afiliada a fidelidade do áudio produzido nos estúdios de São Paulo, sem o risco de pirataria. A TV Jovem Pan, não conseguindo obter o sucesso da rádio, vende seus equipamentos e encerra suas atividades em 1995. Em 2007, Xxxxxxx Xxxxxxx Xxxxxx xx Xxxxxxxx, criou na Internet, a Jovem Pan Online. O novo empreendimento contava com uma programação variada que envolvia vários setores, como economia, esportes, política e cultura.
A partir da inauguração da Jovem Pan SAT, a Rádio Jovem Pan FM atinge grande parcela do país através das suas afiliadas, em especial o público jovem, com programação diversificada que envolve humor e música.
3Em 24 de fevereiro de 1972, o Edifício Andraus, localizado na Avenida São João região central da Cidade de São Paulo, foi atingido de um incêndio de grandes proporções. A tragédia ocorreu devido a uma sobrecarga no sistema elétrico no segundo pavimento, que fez com que o fogo rapidamente se alastrasse consumindo o prédio por completo.
3.2 O PROGRAMA PÂNICO NO RÁDIO
Em 1993, na cidade de São Paulo, na emissora de rádio Jovem Pan 2, Xxxxxxx Xxxxxxx xx Xxxxxx Xxxxxxxx xxxxx e Xxxxxx Xxxxxx criaram o programa radiofônico “Pânico no Rádio”. Segundo Xxxxxxxx x Xxxxx (2010), o programa foi inspirado nos talks Shows4 do radialista americano Xxxxxx Xxxxx.
A atração radiofônica comandada por Xxxxx incluía outros coapresentadores que interagiam com os ouvintes, faziam entrevistas e passavam trotes. O humor era a característica principal do programa. Dentre das figuras cômicas do programa, faziam parte um gago e uma pessoa com retardo mental.
O programa é caracterizado pelo humor ácido, a ironia e o sarcasmo junto da informalidade na condução das entrevistas. Transmitido de segunda a sexta-feira das 12h às 14h pela Jovem Pan 100.9, a atração conta com a participação de ouvintes por telefone e redes sociais. O Pânico surge como uma proposta de entretenimento para o público jovem que com o passar do tempo, consegue cair no gosto de todos os tipos de públicos.
O que diferenciou o programa “Pânico”, dos demais programas radiofônicos existentes na época, era a forma como os seus comunicadores tratavam seus ouvintes. Nas outras emissoras os ouvintes entravam no ar pedindo brindes, prêmios, querendo conversar com os comunicadores.
Já Xxxxxx e os demais integrantes da mesa do Pânico, destratavam os ouvintes. Ao contrário do que se imaginava, a postura do radialista Xxxxxx Xxxxxx e sua equipe em destratar os ouvintes, acarretaria numa perda de audiência, mas o que acontece é justamente o contrário, só fez crescer o número de ouvintes do programa. O apresentador ao dar entrevista para o jornal O Estado de S. Xxxxx, em 28 de setembro de 2003, diz que “a molecada começou a gostar disso porque falávamos igual aos amigos deles: vai te catar, não enche o saco” (Folha de S. Xxxxx, 2003, p.3).
Com o sucesso do Pânico, Xxxxxxxx x Xxxxx (2010) explicam que o programa passou a ser transmitido por via web, o que levou Xxxxxxx a desenvolver o projeto do programa para a televisão aberta.
Além do apresentador Xxxxxx Xxxxxx, o programa conta com mais integrantes no seu elenco que fazem entrevistas com seus convidados. Xxxxxx Xxxxxx, Xxxxxx Xxxxx, Xxxxxx Xxxxxxx, Xxxxxxx Xxxxx, Xxxxxx Xxxxxxx, Xxxxx Xxxxx, Xxxxxx Xxxxxxxx e Xxxxxxx Xxxxx
4Gênero de programa televiso ou radiofônico, em que um apresentador ou grupo de apresentadores se juntam e discutem com um entrevistado vários tópicos ou assuntos apresentados pelos participantes do programa.
são os integrantes que compõe a mesa junto de Xxxxxx Xxxxxx. O tema das entrevistas é bem diversificado, trata de assuntos como economia, música, cinema, religião, educação e política. Apresenta também uma alta variedade de entrevistados, indo do músico recém-descoberto ao candidato à prefeitura da cidade de São Paulo.
O programa Pânico no Rádio caracteriza-se também por possuir cinco quadros diferentes. Abaixo é mostrado o nome de cada quadro e uma breve descrição de cada um.
Xxxxxx por um dia: A partir de terça-feira, dia em que o programa começa a ser realizado ao vivo, um ouvinte, através de e-mail enviado para a produção, visita o programa no estúdio da Rádio Jovem Pan. Para participar, o ouvinte entra em contato com a produção do programa e tem sua visita agendada. Xxxxxx Xxxxxx faz uma breve entrevista com o ouvinte visitante no quadro “Xxxxxx por um dia”.
Fala que eu te chupo: Quadro que possui a finalidade de atender os ouvintes do programa. Tem duração de 30 minutos. Sempre na segunda-feira, dia em que o programa não é ao vivo, vai ao ar a compilação do quadro com todos os ouvintes que ligaram durante a semana anterior.
Palavras de otimismo: Quadro apresentado pelo integrante Xxxxxx Xxxxxx, o Bola. Após a abertura do programa, Xxxxxx Xxxxxx aciona a trilha “Palavras de otimismo do bebê gigante”, quando Xxxxxx Xxxxxx lê uma frase de otimismo, provérbio, incentivo ou dito popular.
Couve convida: Após Xxxxxx Xxxxxx fazer a leitura da mensagem do dia, Xxxxxx Xxxxxx coloca a trilha do quadro “Couve Convida”, onde o integrante do programa Xxxxxx Xxxxx, o Carioca, também conhecido pelo apelido de Xxxxx0 lê na pauta quem vai ser o entrevistado do dia e suas características como, por exemplo, se é uma figura pública, o que faz e sobre qual assunto será pautada a entrevista.
Senna News: Sempre no programa de sexta-feira, após a abertura do programa, Xxxxxx Xxxxxx aciona o integrante do programa, Xxxxxxx Xxxxx, caracterizado por ser gago, para ler as manchetes do dia no quadro “Senna News”. Xxxxxxx Xxxxx lê notícias chamadas
5Apelido que Xxxxxx Xxxxx ganhou por ter problemas de Hemorroidas
por Xxxxxx Xxxxxx que não deixa Xxxxx terminar de concluir a notícia que ele estava lendo. O integrante tem seu retorno da mesa de áudio do programa com delay6.
3.3 O APRESENTADOR XXXXXX XXXXXX
O apresentador da Rádio Jovem Pan FM 100.9, analisado no presente trabalho, se encaixa na categoria de locutor apresentador anunciador, proposto por Xxxxx (2005) que o caracteriza como comunicador que se “apresenta e anuncia programas de rádio e televisão, realiza entrevistas, promove jogos, brincadeira, competições, e formula perguntas peculiares para o estúdio e o auditório de rádio ou televisão” (CÉSAR, 2005, p. 38).
Xxxxxxx Xxxxxx Xxxxx Xxxxxx nasceu na cidade de São Manoel, em São Paulo, no ano de 1961. Fez a faculdade de Direito, mas jamais quis trabalhar como advogado. Formou-se em Rádio e Televisão pela Universidade Anhembi Morumbi. Trabalhou na Rede Globo, Rede Manchete, Record e Rede TV. Apresentou programas de esportes, atrações voltadas para o público jovem, programas de videoclipes e vendas como, por exemplo a extinta TV Mappim. Fazia cobertura nos bailes de carnaval como repórter. Está no comando do Pânico no Rádio desde o seu início em 1993. Em 2012, Xxxxxx Xxxxxx passou a apresentar o programa “Pânico na Band” na Rede Bandeirantes de Televisão.
6Termo técnico utilizado para designar o atraso do som via satélite nas transmissões de rádio. O atraso do som ocasiona eco, reverberação.
4 PERCURSO METODOLÓGICO
A análise proposta nesse estudo se efetiva a partir do aporte metodológico que será mostrado a seguir. Antes de ser apresentado o suporte metodológico é necessário ser explicado o motivo da escolha do tema deste trabalho. A ideia inicial de pesquisa era fazer uma análise somente da performance do apresentador Xxxxxx Xxxxxx. O trabalho foi submetido a Plataforma Brasil do Ministério da Educação para ser avaliado e ter o aval para que o pesquisador pudesse viajar a São Paulo e fazer uma entrevista com o Xxxxxx Xxxxxx junto do diretor geral da rádio Jovem Pan, Xxxxxxx Xxxxxxx Xxxxxx xx xxxxxxxx Xxxxx.
Na ocasião foram requeridos uma série de documentos. A rádio Jovem Pan autorizou através de um documento com carimbo e assinatura que o pesquisador poderia visitar sua sede em São Paulo. Outro documento necessário para que à visita pudesse acontecer não foi emitido pela rádio. O termo de consentimento onde Xxxxxx Xxxxxx e Xxxxxxx Xxxxxxx Xxxxxx xx xxxxxxxx Xxxxx ficariam a par da pesquisa que seria realizada com eles não foi assinado. O pesquisador não tendo êxito com a ideia inicial de pesquisa, mudou o foco do trabalho para às estratégias de captura do programa como um todo. Não apenas visando a performance do apresentador Xxxxxx Xxxxxx.
Ao longo da pesquisa foram utilizadas diferentes técnicas e métodos para investigação. Esta pesquisa teve início pela escolha do objeto, como xxxxxxxx Xxxxxx Xxxxxxxxx (2006):
É importante optar por um tema relacionado com os interesses acadêmicos do pesquisador ou com sua experiência e/ou perspectivas de trabalho, área de atuação ou objeto de curiosidade acadêmica. Escolher o tema corretamente é crucial para o êxito do trabalho (XXXXXX; XXXXXXXXX, 2006, p. 39).
Dessa forma, a escolha se deu pela identificação e afinidade do pesquisador com o assunto desta pesquisa. Além de ser um tema que é pouco tratado, foi percebido durante a escolha do tema de pesquisa, o potencial do objeto a ser explorado, uma vez que os contratos de comunicação são uma grande forma de auxiliar o meio radiofônico com novas estratégias de captura e fidelização da audiência.
A partir desta escolha, iniciou-se o processo de pré-observação do objeto, com o propósito de encontrar características que seriam importantes para a pesquisa. Ao mesmo tempo em que a pré-observação ocorria foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o
referencial teórico que baliza essa pesquisa. A autora Xxx Xxxxxx (2006) denomina pesquisa bibliográfica como:
o planejamento global inicial de qualquer trabalho de pesquisa que vai desde a identificação, localização e obtenção da bibliografia pertinente sobre o assunto, até a apresentação de um texto sistematizado, onde é apresentada toda a literatura que o aluno examinou, de forma a evidenciar o entendimento do pensamento dos autores, acrescido de suas próprias idéias[sic] e opiniões (STUMPF, 2006, p.51).
A pesquisa bibliográfica oportunizou ao pesquisador a constituição do referencial teórico apresentado nos capítulos anteriores.
Durante a etapa da pré-observação foi realizada a audição de dois programas radiofônicos para identificar o que, inicialmente, foi-se observando serem as estratégias de captura da audiência. O programa do dia 9 de setembro de 2016, que teve como pauta os caminhos para encontrar a felicidade, foi escolhido para a realização da observação analítica. A temática era de interesse do pesquisador e este, por sua vez, compreendeu que esta edição do programa apresentou elementos capazes de exemplificar com clareza as estratégias utilizadas pelo programa e, assim, se pudesse identifica o contrato de comunicação proposto.
O segundo programa analisado, do dia 15 de abril de 2015, que teve como entrevistada a jornalista Xxxxxx Xxxxxxxxxxx, foi escolhido por ter como pauta assuntos polêmicos como redução da maioridade penal. O pesquisador deste trabalho optou por escolher um programa do ano de 2015 por ser ouvinte há anos do Pânico no Rádio e antes de escolher o tema da atual pesquisa já tinha vislumbrado nele um grande potencial de virar futuramente um objeto a ser estudado.
Para entender como acontece essa captura e fidelização de ouvintes, foi realizada um estudo das estratégias discursivas vislumbradas partir da escola francesa da Análise de Discurso, tendo como referência o autor Xxxxxxx Xxxxxxxxxx, em sua obra, Discurso da Xxxxxx (2006). O autor define essas estratégias como contrato de comunicação que seria uma espécie de acordo entre as pessoas envolvidas no discurso. A partir da investigação feita em nível pré- observacional, foi-se avançando ao longo da pesquisa e os elementos possíveis de se identificar foram analisados a partir do referencial teórico que baliza a investigação. Essa análise está descrita na sequência.
5. O CONTRATO DE COMUNICAÇÃO DO PROGRAMA PÂNICO NO RÁDIO
A partir deste momento, apresentado o referencial teórico, trazidas as informações sobre o objeto e demonstradas as técnicas e os processos metodológicos no capítulo anterior, será feita uma análise, buscando compreender e responder o problema que conduziu está pesquisa. Agora, vamos observar de forma analítica, tendo essa observação baseada no referencial teórico constituído no centro desta pesquisa buscando alcançar os objetivos planejados no início deste trabalho.
5.1 PÂNICO NO RÁDIO – PROGRAMA DE 9 DE SETEMBRO DE 2016
Conforme mostrado no capítulo de metodologia, foram escolhidos dois programas para serem analisados nesta pesquisa. O programa escolhido foi o do dia 9 de setembro de 2016, que teve como tema principal os caminhos para alcançar a felicidade e para falar sobre o assunto foi feita uma entrevista com o autor do livro, “Porque As Pessoas Não São Felizes”, Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx.
Mas antes de encaminhar a entrevista principal do programa, logo após a vinheta inicial de abertura, o apresentador Xxxxxx Xxxxxx começa a rir, não conseguindo dar
continuidade na apresentação. De acordo com Xxxxx (2007), dentro da radiofonia o ruído é importante e faz parte, contribuindo assim para a criatividade do locutor. Xxxxxx Xxxxxx dá sequência no programa e apresenta o ouvinte visitante do dia:
- Estamos de volta aqui na programação da Jovem Pan, nosso Robert7de hoje é Xxxx Xxxxxx Xxxxxx. Xxxx Xxxxxx tem 34 anos e é taxista. É isso?! (...).
Terminada a abertura do programa e a apresentação do ouvinte, Xxxxxx Xxxxxx faz uma pequena entrevista com o mesmo a respeito do táxi e o Uber.
- Xxxxxx Xxxxxx: Qual é a diferença do táxi normal do...o seu é 99, é o 99 que chama?
- Ouvinte: 99 é o aplicativo que existe pra facilita a nossa vida mas também já foi muito bacana, hoje já não tá sendo tão bacana com a gente.
- Xxxxxx Xxxxxx: Xxxxx, cês nunca tão feliz.
- Ouvinte: Não, não é assim...
- Xxxxxx Xxxxxx: Porque que taxista nunca tá feliz?
- Ouvinte: Não, não é que nunca tá feliz. Uma coisa é você mexe numa coisa que funciona a anos e vem alguém de fora e...
- Xxxxxx Xxxxxx: Uber.Você tá falando do Uber.
- Ouvinte: Também, também.
- Xxxxxx Xxxxxx: Uber não sabe anda. Uber não sabe anda, você fala pro Uber vamô ali e tal e ele fala não sei.
- Ouvinte: É o pessoal que tá brincando de se motorista né.
- Xxxxxx Xxxxxx: É...
- Ouvinte: O pessoal tá brincando de ser motorista (...).
Neste ínterim, a produtora do programa Pânico no Rádio, Xxxxx Xxxxxxxx, que estava dentro do estúdio, abre o microfone e lança sua opinião, mas logo é reprendida por Xxxxxx Xxxxxx em tom de voz exaltado:
- Peraí o... Eu tô falando com o taxista aqui filha. Tô falando aqui com o cara que tem o... Se sabe quanto custa pra se taxista?! É caro. Então fica na tua. Uber não sabe andar (...).
Após essa repreensão que o locutor Xxxxxx Xxxxxx faz para a produtora do programa, pode-se perceber a condição de finalidade proposta por Xxxxxxxxxx (2006) a partir do modo como o apresentador afirma sua ideia. Através do tom exaltado da sua voz, percebesse a visada incintiva, ou seja, fazer o ouvinte acreditar que o táxi convencional é melhor que o Uber. De acordo com Xxxxx (2007) o tom da voz confere mais credibilidade naquilo que está sendo dito do que no próprio conteúdo do discurso.
7Robert: Termo criado pelos integrantes do programa Pânico para se referir às pessoas que querem aparecer na mídia.
Dando continuidade na entrevista com o ouvinte do programa, o taxista Xxxx Xxxxxx Xxxxxx, o qual é o visitante do dia, no programa, Xxxxxx Xxxxxx confirma mais uma vez seu ponto de vista que os taxistas que fazem uso de aplicativos não são bons taxistas.
- Taxista que usa o Waze não é um bom taxista. Tem que sabe de cabeça, tem que sabe de cabeça pra onde vai levar. Esse é o taxista (...).
A produtora Xxxxx Xxxxxxxx mais uma vez tenta discutir com o apresentador sobre o taxista profissional do Uber e mais uma vez é repreendida por Xxxxxx Xxxxxx que fala em tom exaltado:
- Taxista tem que ser na cabeça! Guia de rua, no máximo um guia de rua. Aquele mapa. Você não vai defender nada, quem manda aqui sou eu. Quem manda aqui sou eu. Chega, chega, chega! (...).
Por meio dessa discussão entre o apresentador e a produtora do programa, fica visível a condição de identidade proposta por Xxxxxxxxxx (2006), quando o locutor se dirige à produtora. Com essa atitude tomada pelo locutor Xxxxxx Xxxxxx, de não deixar a produtora de o programa expor seus argumentos em defesa dos taxistas do Uber, o apresentador passa uma imagem de autoritarismo, ou seja, seria o “dono” do programa. Isso pode ser explicado a partir do que Xxxxxxxx (1985) define como “fachada”, como a imagem que o enunciador quer passar de si através de sua performance, tornando seu discurso verdadeiro e aceito. Para o autor Xxxxxxx Xxxxxxxxxx (2006), as pessoas envolvidas no discurso, através de sua oralidade, firmam uma relação que pode ser de compactuação com uma ideia ou de afastamento.
Após retornar do intervalo, o apresentador faz o anúncio do entrevistado do dia e da pauta do programa ao anunciar o título do livro:
- Então vamos lá, senhoras e senhores, aqui está ele que está lançando o livro “Porque às pessoas não são felizes?” Vamos conversar hoje aqui no Pânico com o Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx! (...).
Na apresentação do entrevistado e da obra composta por ele, fica explícita a condição de propósito apresentada por Xxxxxxxxxx (2006) como o tema no qual o ato de comunicação se desenvolverá. Dentro dos meios de comunicação o tema ou o assunto tratado pela mídia refere-se segundo a autora Xxxxx Xxxxxxx (2004), a pauta. No programa Pânico no Rádio do dia 9 de setembro de 2016, a pauta foi o livro “Por que as pessoas não são felizes”, que teve como assunto principal os caminhos para alcançar a felicidade.
Os demais participantes do programa Pânico no Rádio começam a fazer várias perguntas sobre o tema felicidade para Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx, Xxxxxx Xxxxx, mais conhecido como Carioca8, pergunta: “Xxxxxxxx, o que é felicidade para você?”, e o entrevistado responde:
- Pois, é, felicidade é o seguinte, a galera pergunta você tá feliz? E você fala: não, tô triste. Tô triste porque perdi um relacionamento, tô triste porque perdi um emprego, tô triste por causa de alguma coisa. E aí eu percebi que há diferença entre tristeza e alegria e a diferença entre felicidade e infelicidade. Então a gente tem que aceitar que às vezes tem momentos de tristeza, momento de dificuldade mesmo que a gente não queira, mas a felicidade tem que estar acima disso (...).
A seguir, a integrante da bancada do programa, Xxxxxx Xxxxxxx, pergunta:
- Você falou a diferença entre tristeza e felicidade. Eu queria que você explicasse melhor esse conceito porque eu achei muito rápido e eu queria entender (...).
O autor responde à pergunta de Xxxxxx Xxxxxxx da seguinte forma:
- Xxxx é, então, têm momentos em que você perde um relacionamento, cê termina um relacionamento, têm momento que você é traído. Você tem que ser feliz, você tem que tá bem. Então felicidade é quando você se olha no espelho e você fala: Pô eu sou foda, eu sou bom, eu me amo. É difícil. É você se amar (...).
Xxxxxx Xxxxxxx não consegue compreender o conceito de felicidade trazido pelo entrevistado e mais uma vez pergunta: “O que você falou, felicidade, tristeza, infelicidade, eu queria isso...”, Xxxxxxxx, responde:
- A diferença de felicidade e a infelicidade. Infelicidade é um negócio pesado. Quando você fala: pô eu sou infeliz. Ou quando você fala: aquele cara é um infeliz, né. Eu acho que uma das coisas mais pesadas que tem e que beira a depressão. (...)
Xxxxxx Xxxxxx chama a produtora do programa, Xxxxx Xxxxxxxx, para juntar-se a bancada e pergunta:
- Emílio: O que que é a felicidade, Xxxxxxxx?
- Xxxxx: Eu até tava discutindo isso com o Xxxxxxxx, antes do programa começar.
- Xxxxxx: Vocês tão falando um negócio que vocês não sabem.
- Xxxxx: Você sabe?
- Xxxxxx: Não, eu tenho a minha teoria. Você tem a sua e ele tem a dele. Ele lançou o livro.
- Xxxxx: Qual é a sua?
- Emílio: Não, eu tô perguntando a sua.
0Xxxxxx Xxxxx ganhou o apelido de carioca por ter nascido no município de São Gonçalo no Rio de Janeiro.
- Xxxxx: A minha. Eu acho que a felicidade não existe. Que a vida é feita de momentos felizes.
- Emílio: Não, isso todo mundo fala (...).
Nesse momento de interação entre o entrevistado, os integrantes do programa, a produtora e o apresentador Xxxxxx Xxxxxx, fica visível aquilo que o autor Xxxxxxx Xxxxxxxxxx (2006) define quando as pessoas envolvidas durante o discurso no contrato de comunicação agem de acordo com aquilo que elas dizem, constituindo assim valores aos seus dizeres. Xxxxxxxxxx Xxxxxxxx (1985), ao perceber que o entrevistado não conseguia responder de forma clara as perguntas dos participantes do programa, foi percebido aquilo que o autor diz, que na presença de outros observadores, a performance de um dos indivíduos, no caso analisado, o entrevistado do dia, Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx através de suas respostas, gera distintos efeitos nos outros participantes durante a interação. Gerando efeitos que para alguns foi de incompreensão, pois, não conseguem entender as explicações do entrevistado e, ainda, de descrença, pois não acreditam naquilo que ele estava falando, como no caso do apresentador Xxxxxx Xxxxxx.
Após o diálogo entre Xxxxxx Xxxxxx e a produtora, Xxxxx Xxxxxxxx, o autor do livro, Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx, tenta explicar mais uma vez o conceito de felicidade:
- Na verdade, tem muita coisa que fala sobre felicidade. Quando eu comecei a estudar sobre felicidade, a primeira coisa eu falei assim:
- A gente só vai ter conta de que é feliz no dia em que a gente morrer. Que é a única certeza que a gente tem. Pô será que eu tenho que chegar no final da vida pra me dar conta de que eu sou feliz? Por outro lado, você começa a pensar: será que a felicidade tá no dinheiro? O dinheiro sozinho não traz felicidade e a falta dele trás uma tristeza do cão. Então não adianta você pensa que só o dinheiro traz felicidade ou que você pode viver o dinheiro (...).
O apresentador Xxxxxx Xxxxxx demonstra, nesse momento, certo ceticismo em relação ao entrevistado que não conseguia dar repostas e definições convincentes sobre o que seria a pauta da entrevista.
- Então, mas você, você tá aí trazendo todas as dúvidas que todo mundo têm. E não tá trazendo nenhuma solução. E esse programa não é um programa de dúvidas, esse programa é um programa da verdade absoluta, a verdade absoluta (...).
O apresentador ao dizer que esse “é um programa da verdade absoluta”, leva o ouvinte a acreditar que tudo o que é informado ali, naquele momento, é credível, verdadeiro, indo ao encontro com a visada informativa encontrada dentro da condição de finalidade que segundo Xxxxxxxxxx (2006) informa alguém a respeito de um assunto que ele não saiba. Essa
visada informativa dentro do contrato de comunicação é a que domina o discurso empreendido naquele momento.
Outra vez, Xxxxxx Xxxxxx não aceita as definições do que seria a “felicidade” dadas pelo entrevistado e mostra seu ponto de vista em relação ao tema:
- Mas a nossa discussão tá ruim, tá ruim. Porque se você pensa bem, se você pensa bem, o que nós estamos falando, nós estamos falando de alegria. O que é alegria? Xxxxxxx é o momento mais legal que você tem na tua vida. Quando você tá alegre. Quando você tá alegre se sabe que tá alegre. É o momento que você fala: caraca, que legal! As pessoas confundem isso com felicidade. Só o que que acontece, o mundo sempre trás coisa ruim pra você não fica alegre. O mundo conspira contra você. Então o que acontece na tua vida quando você triunfa, chega um filha da mãe pra você e quer te ferrar e você consegue passar por cima daquilo é um pequeno triunfo que você teve na vida, certo? Então em momento algum você vai ficar alegre daquele jeito. Certo? O que vende felicidade é a propaganda. São os bens materiais. Você se ilude que aquilo vai trazer um momento alegre. É uma conquista. Você vai e compra um carro novo. Mas dura três dias. Aí você fala: pô, e agora o que eu quero? E você fica buscando a sua vida inteira a porra da felicidade que praticamente não existe (...).
O discurso acima, proferido pelo apresentador Xxxxxx Xxxxxx, encaixa-se naquilo que o autor Xxxxxxx Xxxxxxxxxx (2006) define quando argumenta que cada ato de comunicação possui uma margem que dá a liberdade para que o locutor escolha seus modos de se expressar. Os seus modos de dizer. O autor chama isso de ato de liberdade. Nesse sentido, Xxxx Xxxxxx Xxxxxxxxxx (2001) defende que além do comunicador de rádio falar, é necessário transmitir significado sobre aquilo que ele falou. O que se percebe é que o discurso do comunicador pode ser compreendido, neste caso, a partir da visada incitiva, de Xxxxxxx Xxxxxxxxxx (2006), ou seja, no caso aqui analisado, fazer o ouvinte crer que a felicidade não existe.
Após Xxxxxx Xxxxxx proferir sua teoria do que seria a felicidade, instaura-se um diálogo entre o entrevistado, Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx, Xxxxxx Xxxxxx e Xxxxxx Xxxxx sobre o que seria motivação. Essa dinâmica dialógica pode ser explicada por Xxxxxxx (2005), quando ele elucida como a construção do diálogo no rádio é feita.
- Xxxxxx Xxxxx: Xxxxxxxx, como é que você motivaria o Lula hoje?
- Xxxxxxxx: O Lula é difícil. O Lula é difícil motivar, cara. Tem que motivar o Lula
mesmo?
- Xxxxxx Xxxxxx: Motivar, depende do cara,Carioca.
- Xxxxxx Xxxxx: Não, não, não!
- Xxxxxx Xxxxxx: Eu não te motivo.
- Xxxxxxxx: Vamos falar de verdade, volta, volta.
- Xxxxxx Xxxxxx: Eu não te motivo, eu te estimulo.
- Xxxxxx Xxxxx: Estimula e eu me motivo, claro.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Ele falou uma coisa legal. Eu não motivaria o Lula, porque, enfim, eu não gosto dele.
- Xxxxxx Xxxxxx: Porque você não motiva ninguém (...).
A partir deste diálogo, fica percebida a relação entre entrevistado e entrevistador, que segundo Xxxxxxxxxx (2001) confere um caráter mais formal ou informal para a entrevista. No objeto em análise, percebe-se que a entrevista é desenvolvida em tom informal por estar atrelada ao gênero de entretenimento que de acordo com Xxxxxxx Xxxxx (2003) se combina com qualquer tipo de formato radiofônico, no caso do programa Pânico no Rádio, o de entrevistas, servindo de ferramenta para a disseminação de informação.
Após esse diálogo, Xxxxxx Xxxxxx expressa um monólogo em tom exaltado sobre felicidade vendida em campanhas publicitárias.
- (...) pega qualquer foto que venda apartamento na pranta. Tem que ser o apartamento na pranta. Veja como o apartamento na pranta é bonito. É bonito. Sabe o que é aquilo lá ?! É o que você tá falando aqui! Tá vendendo a felicidade pra você, tonto! Não tem felicidade no prédio, no apartamento! Mas você acha que tem! Porque os cara vende! Porque o palestrante fala! Ele inventa! Você acredita que se compra um apartamento caro pra cassete, que eles cobram juros, lá vai estar tua felicidade. Você compra lage! Pergunta pro Carioca! Só tinha lage! É conto do vigário! (...).
Pelo tom de sua voz e seu modo de expressar sua opinião sobre felicidade “vendida” em publicidade, Xxxxxx Xxxxxx com o seu monólogo, que segundo Xxxxxxx (2005) é dito por apenas uma pessoa, reflete aquilo que o apresentador pensa sobre felicidade. O autor diz que no monólogo o discurso é proferido em voz alta, possuindo funções assertivas, corroborando com a visada informativa de Xxxxxxxxxx (2006), quando o apresentador diz que felicidade não está na compra de um apartamento caro. Para Xxx (2008), a voz no rádio é o principal elemento desse meio. Os elementos presentes no discurso de Xxxxxx Xxxxxx, aliados ao tom exaltado de sua voz, ressaltam aquilo que ele pensa sobre felicidade, de que para ele, não existe.
O programa faz um rápido intervalo e ao retornar, Xxxxxx Xxxxxx anuncia mais uma vez quem era o entrevistado do dia e sobre qual tema eles estavam conversando.
- Muito bem, queridos, estamos de volta aqui na programação da Jovem Pan para todo Brasil, este é o Pânico. E hoje temos aqui o Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx. Ele tá aqui no Pânico hoje, lançou o livro, tá aqui a venda, que é “Por que as pessoas não são felizes? ”. Ele é mentor de felicidade, gestor, consultor, palestrante e autor. O livro tá a venda em todo Brasil e a gente tá batendo um papo aqui sobre esse assunto. E evidentemente quem compra esse livro não está feliz. Porque quando você compra um livro do que é a felicidade você não está feliz, está em busca dela (...).
Dentro dos dados internos do contrato de comunicação, relembra-se o que se apresentou no referencial teórico dessa pesquisa, ou seja, Xxxxxxx Xxxxxxxxxx (2006)
apresenta os comportamentos de linguagem e os classifica espaços. O primeiro é a própria locução, no caso o sujeito que está falando, o locutor Xxxxxx Xxxxxx, que fala em nome da Rádio Jovem Pan e do programa Pânico no rádio. O espaço de relação, com quem ele fala e dirige o seu discurso para os ouvintes do programa e para os participantes do programa. O espaço de tematização é a pauta do programa, ou seja, o livro do autor Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx. Este, por sua vez, volta a defender seu ponto de vista sobre a felicidade:
- Agora eu quero um minuto de defesa aqui, porque você falou assim, não, porque a felicidade não existe. É que a felicidade é o que o povo vende é uma ilusão. Na verdade, a gente tava até discutindo isso agora no intervalo, é a gente, se a gente se permitir a gente vai delegar a felicidade pro apartamento e não tem nada de mal em ter um apartamento top e não sei o que. Só que não é aquele mundo de Xxxxx, porque não adianta você ter um apartamento e você não ter uma boa família pra habitar aquele apartamento. Não adianta você ter um apartamento achando que você vai ter apartamento (...).
No meio da justificativa de Xxxxxxxx, Xxxxxx Xxxxx, pergunta, “o que seria uma boa família?”. Xxxxxxxx responde a definição de uma boa família da seguinte forma:
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Uma boa família depende do que é uma boa família pra você. Então, o que é uma boa família pra você.
- Xxxxxx Xxxxx: Essa noite eu não dormi veio, minha mulher passou mal a noite toda.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: E você cuidou dela?
- Xxxxxx Xxxxx: Claro que cuidei.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Ótimo, você cuidou dela, então você ama ela, ela é uma boa família pra você (...).
Após responder à pergunta de Xxxxxx Xxxxx, Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx tenta mais uma vez concluir o seu pensamento sobre felicidade.
- Se a gente permiti, a gente vai delegar a felicidade pra algo ou pra alguém. Tem um monte de gente que tá solteira e tá infeliz porque acha que a felicidade tá no amor perfeito, no casamento perfeito, busca qualquer porcaria, casa e continua infeliz. A felicidade tem que tá em você. Tem um estudo que saiu de felicidade agora no Brasil que ela até provou isso que dinheiro trás felicidade ou não. A falta do dinheiro trás uma tristeza do cão, mas o dinheiro sozinho não trás felicidade. Nem manda compra nem manda traze. Mas é muito bom você ter dinheiro pra você comprar aquilo que você que. Você ter liberdade. Aliás, um estudo da ONU que fala de felicidade e dos países mais felizes do mundo, ele fala que um dos pontos é você é ter liberdade e fazer tuas escolhas. E isso te ajuda a ser feliz (...).
O apresentador Xxxxxx Xxxxxx interrompe Xxxxxx Xxxxxxx, que iria fazer uma pergunta. Com base no que Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx falou, Surita justifica de quais maneiras uma pessoa pode ter a liberdade para fazer assuas escolhas.
- (...) Pra você chega nesse ponto, pra você fala eu faço... calma, pra você faze as suas escolhas você precisa ter uma estrutura por trás disso. Porque não é assim que você faz as escolhas. Um cara, por exemplo, um cara que mora em Carapicuíba, agora, e não tem condição, é de... sei lá, de viaja pra você fala, não, eu moro em Carapicuíba eu tenho que trabalha eu sou engraxate aqui em Carapicuíba, um abraço Carapicuíba, um salve, é noiz. Um cara que é engraxate em Carapicuíba ele tem o propósito de viajar o mundo, ele não tem estrutura prafaze isso (...).
Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx, indaga: “Naquele momento”, e Xxxxxx Xxxxxx rebate a sua resposta:
- Xxxxxx Xxxxxx: Naquele momento não. O filho do Xxxxxxx vai poder fazer isso porque o Carioca vai criar uma estrutura pra ele ter mais liberdade. Então isso aí é baléla.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Não é baléla.
- Xxxxxx Xxxxxx: Claro que é.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Sabe porque não é baléla? Sabe porque não é baléla?
- Xxxxxx Xxxxxx: Pra você, Pra você, pra você ter liberdade você precisa ter uma estrutura. Não é todo mundo que é livre.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: E porque você não busca essa estrutura?
- Xxxxxx Xxxxxx: O mundo não é igual.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Depende de você busca essa estrutura ou não. O meu pai, o meu pai, saiu da zona norte, morava numa condição super precária, perdeu a mãe com dezessete anos, não sei o que, não tinha estrutura. Meu avô tinha problema com álcool. Tinha um monte de problema. Sabe o que ele fez? Ele não se intrego. E ele trabalho de engraxate, serviu o exército, teve um monte de dificuldade. Ele levanto, foi lá estuda, fez escola estadual, foi faze o vestibular, entro na faculdade, trabalho pra caramba, ralo pra caramba e ele busco a estrutura pra realiza o sonho dele.
- Xxxxxx Xxxxxx: Então, mas você virou um plaboy. Graças ao seu pai.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Tá bom, graças a Deus.
- Xxxxxx Xxxxxx: Você tinha estrutura.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Eu tinha estrutura e busquei algo além (...).
Quando o entrevistado Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx explica o que é a felicidade ou as maneiras de se tornar uma pessoa feliz, ele descreve os métodos para alcançá-la e os explica. De acordo com Xxxxxxxxxx (2006) a mídia, utilizando a visada informativa, tenta esclarecer para os receptores da informação as causas que a mesma traz para esse público.
Dentro do propósito de finalidade, a mídia faz uma descrição dos fatos do mundo. Xxxxxx Xxxxxx descreve os fatos quando faz o contraponto na entrevista, discordando da ideia de Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx, de que qualquer pessoa teria condições de ter uma estrutura e buscar seus sonhos, o que coincide com a condição de finalidade, que segundo Xxxxxxxxxx (2006), encontra-se entre duas noções de significar o falso ou o verdadeiro através do discurso.
Utilizando como exemplo o discurso acima descrito, do apresentador Xxxxxx Xxxxxx, ele fornece o significado verdadeiro por trás de seu discurso, pois explica que o “cara de Carapicuíba” não teria estrutura para viajar o mundo, pois, trabalha de engraxate. Para
Xxxxxxxxxx (2006), a mídia está sempre buscando a sua credibilidade no “fazer crer” e que nada nem ninguém poderia se opor a aquilo que ela apresenta como verdadeiro.
Xxxxxx Xxxxxx dá significado a aquilo que ele considera falso quando para ele, não são todas as pessoas que possuem as mesmas condições para ter a liberdade de buscar seus objetivos, rebatendo aquilo que o entrevistado diz quando todo mundo tem liberdade para fazer as suas escolhas.
Terminado o diálogo entre Xxxxxx Xxxxxx e Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx, a produtora Xxxxx Xxxxxxxx opina sobre como uma pessoa pode ser feliz.
- Xxxxxx, por exemplo, isso que você falou do cara de Carapicuíba que tem o sonho de dar a volta ao mundo e não tem essa estrutura. O cara ele pode ser super feliz com o churrasco dele na lage. Por exemplo, eu, nas minhas férias eu gostaria de ir pra Disney. Eu tenho dinheiro? Não! Sabe o que que eu faço? Beto Carreiro! (...).
Após a produtora do programa dizer que por não possuir condições de ir para a Disney e que opta por visitar o parque do Xxxx Xxxxxxxx, os demais integrantes da bancada do programa começam a dar risada. Xxxxx Xxxxxxxx aperta uma campainha9, para conseguir concluir o seu raciocínio a cerca daquilo que estava falando. As risadas junto do som da campainha geram ruídos. De acordo com Xxxxx (2007), dentro da radiofonia o ruído é importante e faz parte dos elementos radiofônicos, contribuindo assim para a construção da imagem do programa.
Concluída a opinião de Xxxxx Xxxxxxxx, instaura-se no programa uma discussão entre a integrante da bancada, Xxxxxx Xxxxxxx e o entrevistado, Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Fala você, cêtá contra tudo, tá negativa. Diz aí, vai.
- Xxxxxx Xxxxxxx: Eu não sou nada negativa.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Você é realista.
- Xxxxxx Xxxxxxx: Você falou que sonhar deixa você mais feliz. Eu acho que não. Isso faz parte da sociedade do consumo. Toda felicidade que você tá falando...
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Não porque o teu sonho não precisa ser material.
- Xxxxxx Xxxxxxx: Deixa eu terminar de falar?
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Sim senhora.
- Xxxxxx Xxxxxxx: Você não precisa querer algo para estar feliz. Você pode aproveitar o momento, uma coisa Carpe diem10. Porque sei lá, você...
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: O tempo todo? Puta saco. Você acorda todos os dias e não tem algo...
- Xxxxxx Xxxxxxx: Mas esse é seu conceito de ser feliz cara! Eu tenho o meu. Porque eu tenho que ir pelo seu. A eu posso aproveitar o momento, eu sou assim. A eu não tenho um sonho, um objetivo final? Não! E daí!? (...).
9No estúdio do programa Pânico no Rádio, na Rádio Jovem Pan, tem uma campainha em cima da bancada que é apertada quando começa uma discussão ou em momentos onde o apresentador Xxxxxx Xxxxxx não consegue concluir suas ideias devido a interferência dos outros integrantes da bancada.
10 Palavra em latim que significa, aproveite o momento.
Esta breve discussão entre Xxxxxx Xxxxxxx e Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx pode ser entendida como a emissão de pontos de vistas diferentes, opiniões divergentes que geram assim o debate entre eles. A troca linguageira entre eles vai ao encontro com aquilo que Xxxxxxxxxx (2006) apresenta em relação ao rádio:
[...] com as características próprias à oralidade, à sonoridade e à transmissão direta, crias duas cenas de fala: uma de descrição e de explicação dos acontecimentos do mundo, outra de troca de intervenções, de opiniões, de pontos de vista. No que concerne à descrição dos acontecimentos, o ouvinte, que não dispõe de imagens, as reconstitui graças ao seu poder de sugestão, de evocação, favorecendo uma reconstrução imaginada livre, com o auxílio de associações pessoais [...] (XXXXXXXXXX, 2006, p. 108).
Xxxxxxx a discussão entre Xxxxxx Xxxxxxx e Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx, o entrevistado apresenta dados de um estudo sobre a felicidade.
- Agora fica estagnado na vida e tal, Carpe diem. Se não trabalha você não vai ter dinheiro para sobreviver. E aí você vai se ferrar. Porque a falta do dinheiro traz infelicidade, traz problemas. Tem um estudo de felicidade que ele provou o seguinte. Que fala muito sobre essa coisa do dinheiro e tal. O dinheiro contribui na felicidade até um determinado ponto. É um estudo do Brasil. Analisou em 27 estados, jovens, adultos, pessoas com mais idade e que fala o seguinte. Que até oito mil e oitocentos reais de renda média da família, o dinheiro contribui para a felicidade. Que você pode escolher a tua profissão, a renda, se tem menos dívidas, se pode estudar o que você quer, comprar o que você quer, fazer o que você quer. A cima disso o dinheiro já não impacta mais. São outras coisas, espiritualidade, relacionamento familiar, relacionamento social, projeto de vida, filantropia, contribui mais para a felicidade do que o aumento da renda (...).
Xxxxxx Xxxxxx, em tom de deboche, faz a seguinte declaração:
- Eu prefiro as meninas do escândalo. Você pode trocar tudo isso pelas meninas do escândalo, é ou não é taxista? (...).
Feita a sua colocação, Xxxxxx Xxxxxx pergunta o que é felicidade ao ouvinte visitante do dia, Xxxxxx Xxxxxx, que é taxista. Até aquele momento o ouvinte visitante do dia não tinha falado mais nada.
- Xxxxxx Xxxxxx: O que que é ser feliz?
- Xxxxxx Xxxxxx: Xxxxxxx as meninas do escândalo.
- Xxxxxx Xxxxxx: Xxxxxxx as meninas do escândalo...
- Xxxxxx Xxxxxx: Sensacional! (...).
Xxxxxx Xxxxx, caraterizado pelas suas imitações durante o programa, imitando a voz do narrador esportivo, Xxxxxx Xxxx00, pergunta para o taxista:
- Mas rola uma caridade de vez em quando com você gordinho? (...).
Tendo como principais características o entretenimento junto do humor, o programa Pânico no Rádio é caracterizado pelas imitações de personagens presentes na mídia, como foi o caso do narrador esportivo, Xxxxxx Xxxx. Para Xxxxxxx Xxxxx (2003), o entretenimento possibilita aos profissionais do rádio uma grande possibilidade de criação. Ainda para o autor, esse gênero auxilia na captura de ouvintes para um programa de formato informativo, como, por exemplo, o programa Pânico no Rádio que possui entrevistas. Ao incluir um ouvinte diferente em todos os programas, dentro do estúdio da rádio, através do quadro “Xxxxxx por um dia”, de acordo com Xxxxxxxx e Lima (2003), a participação do público nos programas é o modelo de se fazer rádio que ajuda na construção da informação.
Quando Xxxxxx Xxxxxx, de forma irônica, usa o termo garotas do escândalo, ele se refere as garotas de programa. Segundo Xxxxxxx Xxxxxxxxxx (2006), o rádio é a mídia por excelência da voz. É altamente eficaz quando produz: uma palavra factual imediata.
Uma palavra polêmica nas entrevistas e debates, uma palavra intimista em certas conversas, que se aproximam da confissão, uma palavra de análise espontânea feita de comparações e metáforas, enfim, uma palavra romanesca nas narrativas de belas histórias, mesmo que, aí, a magia do verbo não seja mais importante (XXXXXXXXXX, 2006, p. 109).
Xxxxxx Xxxxxx chama o intervalo. Na volta dos comerciais, o apresentador mais uma vez apresenta o convidado, diz o nome do programa e sobre o que eles estão conversando naquele dia.
- Muito bem, queridos, estamos de volta na programação da Jovem Pan para todo Brasil, este é o Pânico. Estamos recebendo, hoje, aqui, o Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx, que tá conversando com a gente. Lançou o livro “Por que as pessoas não são felizes?”, e nós estamos discutindo sobre felicidade e tal, tamo discutindo sobre esse assunto (...).
Após essa fala e reapresentado o entrevistado, Xxxxxx Xxxxxx fala sobre o palestrante norte-americano, Xxxx Xxxxxx00, que exibe palestras sobre felicidade.
11Radialista, apresentador de televisão e locutor esportivo. Foi árbitro de futebol e repórter esportivo. Ficou famoso pelos seus clássicos bordões como, por exemplo, o “olho no lance”, ao narrar uma jogada que poderia ter culminado em um gol.
- Eu vi outro dia um, eu não lembro quem eu estava assistindo e eu vi um cara, um palestrante também, acho que é Xxxx Xxxxxx, Xxxx Xxxxxx. É um cara americano, um picareta, um picareta. (...).
Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx interrompe Xxxxxx Xxxxxx, o que instaura um diálogo acerca do palestrante americano, antes referido, entre eles.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Xxxx Xxxxxx é foda. Não é picareta nada!
- Xxxxxx Xxxxxx: Se é da escola do Xxxx Xxxxxx?
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Não sou da escola dele mas admiro ele pra caramba.
- Xxxxxx Xxxxxx: Xxxxx!?
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Sabe porque? Você tá cético né. Você tá cético
- Xxxxxx Xxxxxx: Você é um guru da felicidade?
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Não sou guru nenhum.
- Xxxxxx Xxxxxx: Esse cara é um americano, ele ficou bilionário fazendo isso.
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Fico
- Xxxxxx Xxxxxx: Então ele leva as pessoas...
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: E ele mudou a vida de um monte de gente.
- Xxxxxx Xxxxxx: Ele faz uma balada, ela faz uma balada, ele vende a maior mentira do mundo...
- Xxxxxxxx Xxxxxxxxxx: Compra quem que. Assim como tem um monte de gente compra apartamento que você falou.
- Xxxxxx Xxxxxx: Peraí, calma. Aí as pessoas vão lá, pagam cinco mil dólares pra uma palestra e ele faz um negócio motivacional e não sei o que... É meio uma igreja. É como você ir na igreja universal do reino de Deus. Esse cara, ele é meio um pastor dos infelizes (...).
Fica percebido que o apresentador Xxxxxx Xxxxxx, na sua fala, de modo cético em relação ao tema e ao convidado, sempre procura enfatizar os argumentos que estão presentes nas suas explicações. Dentro do meio radiofônico, no que tange à explicação, Xxxxxxxxxx (2006), esclarece que o ouvinte:
[...] que não dispõe do suporte escrito que lhe permita fazer um vai-vem em sua leitura, deve pôr em funcionamento um tipo de compreensão particular que se baseia numa lógica “de justaposição” (bem diferente daquela de leitura) pelo fato de que o desenvolvimento explicativo do discurso não pode proceder, como na escrita, por subordinação e encaixe dos argumentos (XXXXXXXXXX, 2006, p. 108).
Para o autor, esse fato fica acentuado quando se trata de debates e entrevistas, porque “o que se tem é uma oralidade cheia de interrupções, hesitações, retomadas, redundâncias, em suma, todas as características próprias à interação verbal, mesmo que nas mídias elas sejam particularmente orquestradas” (XXXXXXXXXX, 2006, p. 108).
00Xxxxxxx Xxxxxxx, ou Xxxx Xxxxxxx é um estrategista, escritor e palestrante motivacional estadunidense. É um dos responsáveis pela popularização da Programação Neuro-Linguística (PNL). Ele também é um famoso coach. Realiza palestras sobre técnicas que permitem utilizar os recursos de comunicação interna e externa ao indivíduo de forma mais eficiente. Seus livros foram publicados nos idiomas mais falados.
Após a discussão entre Xxxxxx Xxxxxx e o entrevistado acerca do palestrante americano, o apresentador do programa explica porque é difícil conceituar felicidade para os ouvintes.
- O conceito de felicidade cada um pega o seu, é que nem discutir esquerda ou direita. Cada um tem o seu conceito. Cada um tem o seu pensamento e você é... muito difícil, talvez você convença alguma pessoa... sei lá ma sua palestra. Não to discutindo o valor da sua palestra. Deixo isso bem claro. Mas eu acho, eu penso assim, eu acho que o cara que ouve o programa, por isso que às vezes eu discuto eu levanto outro tema, eu acho que quem tem que achar isso é o cara que tá ouvindo... esse é o cara final e a gente não pode enganar quem tá nos ouvindo porque é sacanagem eu tenta que a minha opinião prevaleça a dele (...).
O autor Xxxxxxx Xxxxxxxxxx (2006) define entrevista como a palavra da interioridade. Para ele a voz no rádio instaura uma relação de intimidade que através da audição do ouvinte revela sentimentos favoráveis ou desfavoráveis, como, por exemplo, mentira ou sinceridade. Isso pode ser evidenciado quando se observa que Xxxxxx Xxxxxx, ao explicar que não poderia enganar seus ouvintes, demonstra aquilo que Xxxxxxxxxx (2006) afirma existir nas entrevistas radiofônicas, problemas de credibilidade. Para o autor, o problema está nas perguntas e nas respostas. “[...] perguntas provocadoras, mas pouco convenientes do entrevistador, com direito de resposta difícil de levar a bom termo, respostas de defesa, de esquiva ou de contra- ataque do entrevistado” (XXXXXXXXXX, 2006,p. 217).
Para fazer o encerramento da entrevista do dia, Xxxxxx Xxxxxx em tom de ironia profere um discurso de que querer é poder.
- Querer é poder. Então eu convido a todos no final desse horário, a gente vai ir lá no vigésimo quarto andar e nós vamos querer voar. Aí nós vamos dar as mãos, nós vamos colocar Xxxx Xxxxxx00xxxxxxxx Simply The Best14, aí nós daremos as mãos e nós vamos falar, querer é poder e vamos sair voando. Gente, às 14 horas na Xxxxxxx Xxxxxxxx, 000, com o nosso guru Xxxxxxxx, porque nós queremos voar! Nós vamos provar pro mundo que querer é poder!(...).
O que pôde ser percebido nesta primeira análise do programa é que o entrevistado não conseguiu dar respostas convincentes sobre o tema proposto, demonstrado pela performance de descrença do apresentador Xxxxxx Xxxxxx. Um dos motivos pela falta de credibilidade do entrevistado sobre o assunto tratado talvez foi a complexidade de explicar o que seria a felicidade. Para Xxxxxxxxxx (2006), quanto mais difícil o assunto a ser explicado,
13 Cantora norte-americana considerada "A Rainha do rock 'n roll", sendo a artista feminina mais bem-sucedida nesse gênero, tendo vencido oito vezes o Grammy Awards, e vendido mais de 200 milhões de cópias no mundo todo.
14 Música composta por Xxxx Xxxxxx. Era tocada nos finais das apresentações do palestrante Xxxx Xxxxxx.
o raciocínio é profundo e necessita de um tempo de fala maior. Porém, para o autor, quanto mais longo é o tempo de fala, a atenção e o interesse decrescem, ainda mais na informação midiática, que o público precisa ser captado o tempo todo.
5.2 PÂNICO NO RÁDIO – PROGRAMA DE 15 DE ABRIL DE 2015
O segundo programa analisado é do dia 15 de abril de 2015, quando a entrevista do programa foi feita com a jornalista Xxxxxx Xxxxxxxxxxx. Após o termino da trilha de abertura do programa, o locutor Xxxxxx Xxxxxx faz sua apresentação:
- Estamos de volta aqui na programação da Jovem Pan, hoje é quarta-feira dia quinze, dia quinze de abril. Nosso robert de hoje é Xxxxx Xxxxxxxxxxx Xxxxxxxx. O Lucas tem vinte seis anos é administrador de empresa e habita a região da Chácara Santo Antônio. É isso!?(...).
Feita a abertura e a apresentação do ouvinte visitante do dia, começa um diálogo entre Xxxxx Xxxxxxxxxxx e os integrantes do programa.
- Xxxxxx Xxxxxx: Se é administrador de empresas?
- Xxxxx Xxxxxxxxxxx: Administrador formado, mais trabalho com...
- Xxxxxx Xxxxxx: Mas empresa, empresa do pai ou não? Você tem cara de ser empresa do pai.
- Xxxxxx Xxxxxxx: PUTZ!
- Xxxxx Xxxxxxxxxxx: É mais ou menos. Empresa do primo.
- Xxxxxx Xxxxxx: Filhinho do papai. Coxinha! Coxinha! Coxinha!
- Xxxxx Xxxxxxxxxxx: Pode ser também. Pode ser.
- Xxxxxx Xxxxxx: Se é contra o PT também, não é?
- Xxxxx Xxxxxxxxxxx: Tenho cara né?
- Xxxxxx Xxxxxx: Tá explicado.
- Xxxxxxx Xxxx: Chega a hora que qué no trampo...
- Xxxxxx Xxxxxx: Trabalha o dia que qué...
- Xxxxx Xxxxxxxxxxx: Não, não é trabalha o dia que quer. Trabalha pra caramba.
- Xxxxxx Xxxxxxx: Hoje por exemplo você não tá trabalhando.
- Xxxxxx Xxxxxx: Segunda e terça emenda.
- Xxxxx xxxxxxxxxxx: Emenda também.
- Xxxxxx Xxxxxx: Hoje não foi trabalha...
- Xxxxx Xxxxxxxxxxx: Hoje não fui trabalha...
- Xxxxxxx Xxxx00: Os outros funcionários do seu pai tão tudo falando: o - vagabundo tá lá na rádio e a gente tá aqui se xxxxxxxx.
- Xxxxx Xxxxxxxxxxx: O pessoal agora tá me ouvindo lá e vai me zoa (...).
Ao permitir que um ouvinte visite o programa a cada dia da semana, o Pânico no Rádio deixa claro uma das suas estratégias de captura da audiência. No momento em que o ouvinte que estava visitando o programa diz “o pessoal agora tá me ouvindo lá e vai me zoa”, fica subentendido que quando Xxxxx Xxxxxxxxxxx falasse, todos os funcionários da empresa
15 Ex-integrante do Pânico no Rádio. Fez parte da equipe durante o ano de 2015.
em que ele trabalha, seus amigos ou familiares, iriam ficar sintonizados na Jovem Pan para escutar a participação dele, no programa. Com essa estratégia, o Pânico no Rádio propõe para seu ouvinte, a apresentação de uma pessoa anônima, que inicialmente é desconhecida do grande público, mas que ganha visibilidade e protagonismo diante de uma pequena divulgação de narrativas de sua vida cotidiana, seu trabalho ou ocupação que ela tenha. O programa se insere em diferentes grupos de ouvintes e classes através do robert que está visitando o estúdio da rádio Jovem Pan naquele dia.
Terminada a conversa com o ouvinte, Xxxxxx Xxxxxx solta a trilha do pensamento do dia, momento em que Xxxxxx Xxxxxx faz a leitura das “palavras de otimismo”.
- Boa tarde a todos vamos lá. Algumas vezes o melhor jeito de convencer alguém que está errado é deixá-lo seguir seu caminho (...).
As palavras de otimismo proferidas por Xxxxxx Xxxxxx podem ser categorizadas segundo as visadas de Xxxxxxxxxx (2006), porque ele informa o ouvinte sobre determinado provérbio ou pensamento e ao mesmo tempo levá-lo a fazer crer que palavras são verdadeiras.
Logo após Xxxxxx Xxxxxx ler o pensamento do dia, Xxxxxx Xxxxxx aciona a trilha para que Xxxxxx Xxxxx apresente quem é a entrevistada do dia.
-Xxxxxx Xxxxx: Xxxx Xxxxxx, beleza?
- Xxxxxx Xxxxxx: Estamos aí couve.
- Xxxxxx Xxxxx: Estamos aí sempre né parcero.
- Xxxxxx Xxxxxx: Estamo aí, estamos aí...
- Xxxxxx Xxxxx: Vambora... vivendo e aprendendo.
- Xxxxxx Xxxxxx: Tem que ir em frente sempre.
- Xxxxxx Xxxxx: Sempre seguir em frente. Para o alto e avante.
- Xxxxxx Xxxxxx: Às vezes não vai pro alto não... as vezes cai.
- Xxxxxx Xxxxx: Poisé mas tem que ser para o alto e avante sempre o pensamento.
- Xxxxxx Xxxxxx: É isso aí.
- Xxxxxx Xxxxx: Xxxxxx Xxxxxxxxxxx hoje. Incêndio aqui nesse estúdio.
- Xxxxxx Xxxxxx: Xxxxxx Xxxxxxxxxxx uma das maiores e mais lindas jornalistas do nosso país.
- Xxxxxx Xxxxx: Ela não tem medo de falar o que pensa.
- Xxxxxx Xxxxxx: Eu tenho muito medo de falar o que eu penso (...).
Uma característica do programa Pânico no Rádio é o uso de diferentes tipos de trilhas sonoras para a apresentação de seus quadros. Para cada um desses encontra-se um tema específico. O autor Xxxxxxx Xxxxxxxx (2008) define a criatividade no meio radiofônico como radioarte. Para ele existe dois tipos de profissionais que auxiliam na produção musical. Os criadores musicais e os criativos que surgem do rádio que podem ser definidos como:
São profissionais do meio que traçam suas obras desde as exigências e serviços do veículo. Sua matéria de trabalho é todo o som sem predomínio dos musicais sobre os outros. Trabalham com palavras orais, com sons da realidade e os artificiais, com a música de todo o tipo e gênero e com algumas combinações que buscam a comunicação com a audiência. Os resultados são inconfundíveis com os musicais (MEDITSCH, 2008, p. 344).
Já para Moura (2003) a “’trilha sonora’ ‘representa’ o personagem, seu estado de espírito momentâneo ou perfil psicológico. A ênfase da leitura em determinados verbos de ação ou adjetivos, exprime um valor à ação ou uma avaliação ao fato ou pessoa” (MOURA, 2003, p.23).
Após Xxxxxx Xxxxx informar quem seria a convidada do dia, o programa faz um intervalo e no seu retorno Xxxxxx Xxxxxx apresenta a entrevistada.
- Muito bem senhoras e senhores, aqui está ela, uma das maiores e mais belas jornalistas do Brasil. Aqui está Xxxxxx Xxxxxxxxxxx hoje no Pânico (...).
O apresentador inicia a entrevista relatando o encontro que ele e a jornalista tiveram durante o Troféu Imprensa16.
- Xxxxxx Xxxxxx: Nós estivemos juntos lá no Troféu Imprensa.
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: Isso.
- Xxxxxx Xxxxxx: No Troféu Imprensa estivemos lá, se levou um monte de prêmio pra casa também.
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: Não, só levei um. Vocês que levaram um monte de prêmio.
- Xxxxxx Xxxxxx: Você sabe que o Pânico, eu tenho tanto Troféu Imprensa na minha casa, mas tanto troféu, sabe pra que ele serve hoje em dia?
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: Pra que?
- Xxxxxx Xxxxxx: Calço da cama.
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: Nossa!
- Xxxxxx Xxxxxx: Quebro o pé da cama, eu calço (...).
Ao fazer o relato em tom de deboche, da quantidade de troféus imprensa que já ganhou Xxxxxx Xxxxxx passa aos seus ouvintes uma imagem de ser alguém convencido. Para Xxxxxxxx (1985), o ator social, neste caso Xxxxxx Xxxxxx, precisa ser sincero em seu desempenho quando crê no papel que representa e nas impressões que sua performance desperta na sua audiência. Ainda de acordo com Xxxxxxxx (1985), os atores podem passar sinceridade ou cinismo através do papel que eles estão representando. Sendo assim:
Sinceridade e cinismo não devem ser interpretados como posturas fixas totalizantes. Os agentes podem alterar suas intenções e sentimentos durante um desempenho,
16 O Troféu Imprensa foi criado em 1958 pelo jornalista Xxxxxxx Xxxxxx Xxxxx. Em 1970, Xxxxxxx Xxxxxx Xxxxx cedeu os direitos ao apresentador Xxxxxx Xxxxxx, que instituiu o troféu em forma de Oscar e deu novo formato à premiação. O evento premia os destaques da televisão brasileira.
sendo que também ocorre das atuações comportarem veracidade e fingimento deliberado, simultaneamente (GOFFMANN, 1985, p.302).
A partir de uma pergunta de Xxxxxx Xxxxxx, a jornalista Xxxxxx Xxxxxxxxxxx começa a relatar um pouco da história de sua carreira profissional. Quando que ela iniciou neste ramo. Durante a entrevista fica perceptível o uso de diferentes trilhas, de sons instrumentais ao fundo. Tais fundos musicais servem para quebrar o ritmo monótono da entrevista. Xxxxx a própria entrevista mais dinâmica. Para Moura (2003), a música de fundo é um elemento não verbal importante no mecanismo dentro do discurso radiofônico. Para o autor, a música background ou música de fundo introduz elementos na enunciação. “Basicamente confere sentimento ou clima à enunciação, no que diz respeito à utilização de músicas tristes, melancólicas, alegres, dinâmicas, exercendo uma função expressiva” (MOURA, 2003, P.26).
As trilhas musicais e fundos sonoros podem ser classificados como dados externos que constituem o dispositivo midiático proposto por Xxxxxxxxxx (2006). A partir do dispositivo midiático, neste caso o rádio, os elementos que compõem o programa como trilhas sonoras e fundos musicais são pensados e articulados segundo uma lógica do veículo midiático que os ligam.
Após contar sobre a sua trajetória profissional, Xxxxxx Xxxxxxxxxxx descreve seu polêmico comentário sobre o que disse na época de “adote um bandido”.
- Xxxxxx Xxxxxx: Achei você muito carinhosa com os bandidos.
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: Tem muita gente que nunca sofreu na pele, sabe, eu nunca sofri mas eu me costumo coloca sempre no lugar do mais frágil. Sempre me coloco no lugar da vítima. Eu nunca sofri uma violência, ninguém da minha família nunca sofreu violência, nunca foi assaltada, estuprada, nada. Mas eu sempre me coloco no lugar da vítima. Existem pessoas que nunca sofreram a dor da violência e também são incapazes de se coloca no lugar de quem sentiu, né!? Porque essas pessoas vão levar esse trauma pro resto da vida. E é uma tragédia que não é uma tragédia única, não é a vítima que morreu, a mulher que foi estuprada, mas é toda a família, os amigos, é toda a sociedade que também é atingida por aquele crime. Então o crime não atinge uma pessoa só. É devastador o crime. Então acho assim, as pessoas que tem piedade, que são tão bondosas, tão generosas né, tão compreensivas, porque que essas pessoas não pegam esses bandidinhos e esses bandidões, porque que não abraçam, porque não empregam né em seus negócios, porque que essas pessoas é
só da boca pra fora! ( ).
A partir do tom de voz da entrevistada, quando ela expõe sua colocação que pode ser entendida também como um desabafo, se encaixa naquilo que Xxxxxxx (2005) diz que, no rádio, a variação de tons presentes na voz ajuda a exteriorizar um sentimento. Neste caso, percebeu-se a indignação da jornalista em relação às pessoas que defendem os bandidos. Ainda pegando como exemplo o discurso de Xxxxxx Xxxxxxxxxxx, a mesma encaixa-se na
visada phátos, proposta por Xxxxxxxxxx (2006) que tem como finalidade produzir um estado emocional no sujeito que pode ser agradável ou desagradável. Alguns ouvintes podem ter concordado com a opinião da entrevistada e outros não.
Depois da colocação da entrevistada, inicia uma conversa entre Xxxxxx Xxxxxx e Xxxxxx Xxxxxxxxxxx sobre criminalidade.
- Xxxxxx Xxxxxx: Essa colocação que você fez, você acha que resolve o problema da criminalidade?
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: Eu acho que se cada pessoa que...
- Xxxxxx Xxxxxx: Porque isso é uma indignação.
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: É...
- Xxxxxx Xxxxxx: Um fato que aconteceu.
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: É...
- Xxxxxx Xxxxxx: Mas eu falo resolve realmente o problema da criminalidade, isso resolve ou não? Ou só fica no discurso?
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: O problema da criminalidade ele vem antes da violência acontece, né. É um problema social que tem que se cuidado desde o começo pra que ele seja evitado. Quando a criminalidade se instala ela tem que se combatida, ela tem que se, ela tem que ter uma resposta da sociedade, essa resposta é a prisão. Polícia na rua, é prisão, são penas mais duras.
- Xxxxxx Xxxxxx: Então, mas isso...
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: Pra servir de exemplo e tirar o bandido da rua, pra que enquanto ele estiver preso, ele são volte a cometer outros crimes.
- Xxxxxx Xxxxxx: Então, mas isso não ficaria muito caro pro Brasil, o Brasil que é um país que não tem dinheiro pra te...
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: Não! O Brasil tem muito dinheiro.
- Xxxxxx Xxxxxx: Se acha que, você acha que por exemplo...
- Xxxxxx Xxxxxx: Tem pra faze carnaval.
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: Tem pra banca campanha política né.
- Xxxxxx Xxxxxx: Mas aí a gente, se você coloca, a campanha política não tem nada a vê com a criminalidade. Criminalidade é uma coisa, campanha política é outra. Não tem nada a ver uma coisa com a outra.
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: Eu acho que a criminalidade tem muito a ver com a corrupção, né. Porque o dinheiro que poderia tá sendo investido na educação, em segurança pública, esse dinheiro tá sendo escoado para outros lugares. (...).
Na entrevista fica evidenciado que Xxxxxx Xxxxxx usa a indignação da entrevistada para que a mesma dê uma solução para o problema da criminalidade no país. Para Ferraretto (2001), a entrevista no rádio é uma mistura entre investigação e conversa. Para o autor papel do entrevistador é instigar ao máximo o entrevistado para que ele de respostas. Ainda de acordo com Xxxxxxxxxx (2001) as respostas que são dadas pelo entrevistado são espontâneas ou provocados pelo entrevistador. Para Xxxxx (1989) essa interação quase que natural entre entrevistador e entrevistado no rádio, causa um sentimento de aproximação no ouvinte que se sente incluído na conversa através do clima coloquial do diálogo.
Durante a entrevista fica perceptível o espaço de tematização do debate entre Xxxxxx Xxxxxx e Xxxxxx Xxxxxxxxxxx. A entrevistada é conhecida do grande público receptor por ser uma jornalista que possui opiniões fortes e contundentes. Na análise deste programa, ficou
evidenciado que a escolha de trazer Xxxxxx Xxxxxxxxxxx para participar do Pânico no Rádio, foi a expectativa dela causar polêmica durante o programa. Uma estratégia de deixar o ouvinte sintonizado no programa, de causar expectativa sobre a convidada na espera de que ela profira uma frase de efeito que posteriormente torna-se vídeo ou meme17 na Internet indo ao encontro da instância de recepção de Xxxxxxxxxx (2006) onde o autor diz que tal instância precisar dar ao púbico algo que ela deseja consumir.
A partir das respostas de Xxxxxx Xxxxxxxxxxx percebe-se que a mesma profere monólogos que visam levar o ouvinte do programa a acreditar que a redução da maioridade penal precisa existir porque seria mais eficiente no combate a criminalidade. O monólogo proposto por Xxxxxxx (2005) corrobora com as visadas de Xxxxxxxxxx (2006) por que levam o ouvinte a crer que tal medida na segurança pública seria bom.
Segundo Xxxxxxxxxx (2006), a tematização é responsável pelo “pano de fundo” do diálogo. O tema no qual se desenvolve o debate. Fica claro que Xxxxxx Xxxxxx não só toma posição pelo tema imposto pela entrevistada, por exemplo, redução da maioridade penal, mas também escolhe seus modos de organização discursivos quando narra fatos ou argumenta com a entrevistada baseando sua opinião em subtemas como a campanha política.
Na sequência, Xxxxxx Xxxxxx anuncia o intervalo do programa da seguinte forma:
- Daqui a pouquinho a gente volta, hoje presença ilustre, mande a sua pergunta, nós estamos aqui com ela, uma das maiores, mais importantes, mas assistidas e mais lindas jornalistas do Brasil, Xxxxxx Xxxxxxxxxxx. Daqui a pouquinho a gente volta (...).
Antes do programa ir para os comerciais, Xxxxxx Xxxxxx convida os ouvintes para participarem do programa através do envio de perguntas para as redes sociais do Pânico no Rádio. Sobre a nova forma de interatividade entre o rádio e o público, os autores Barbeiro e Xxxx (2003), afirmam que o ouvinte é participante ativo na produção do programa. No caso do Pânico no Rádio, participam na produção de perguntas para os entrevistados. Para Xxxx (2004), o âncora do programa, apresenta hoje um programa de rádio através das mensagens que chegam a ele pela internet. O internauta e o ouvinte são protagonistas.
Ao retornar do intervalo, Xxxxxx Xxxxxx anuncia mais uma vez quem é a entrevistada
do dia.
- Estamos de volta aqui na Jovem Pan, hoje estamos recebendo aqui uma das mais importantes jornalistas, ela que faz parte aqui da Jovem Pan também, do SBT lá toda
17Termo utilizado na internet para referir-se a uma imagem ou vídeo que expressa humor.
noite e uma das mais lindas jornalistas desse país, Xxxxxx Xxxxxxxxxxxxx aqui com a gente. Ela não tem medo de falar o que pensa. Eu tenho muito medo de falar o que eu penso. Eu me seguro muito pra falar o que eu penso. E se eu fala o que eu penso vocês vão ficar horrorizados (...).
A redundância radiofônica praticada por Xxxxxx Xxxxxx durante o programa onde o apresentador ao voltar dos intervalos retransmite quem é a entrevistada do dia e a pauta do programa, tal prática pode ser vista a luz da condição de propósito de Xxxxxxxxxx (2006), onde o autor diz que todo ato de comunicação deverá se desenrolar a partir de uma temática. Corresponde ao tema principal e ao discurso dominante, neste caso o do apresentador Xxxxxx Xxxxxx que conta com a participação dos demais integrantes do programa que vão inserindo subtemas ao fazer diferentes perguntas para a entrevista.
Depois apresentar mais uma vez quem era a entrevistada do dia, Xxxxxx Xxxxxx passa a palavra para Xxxxxx Xxxxxxx que faz o seguinte comentário a respeito de Xxxxxx Xxxxxxxxxxx:
- Eu estava com a palavra, não estava fundamentando meu argumento, o Twitter18me odeia. O Xxxxxxx Xxxx disse que eu preciso fundamentar o meu argumento de maneira mais embasada. É, então vamos lá. Eu não gosto dos comentários dela, porque acho um tanto quanto éééé, pesados. Assim como vocês estavam falando de Xxxxxxxxx, extremista também, eu acho ela uma grande extremista e sem querer eu acho que você propaga o ódio (...).
A integrante do programa ao dizer, “o Twitter me odeia”, demonstra em quais plataformas digitais e redes sociais a atração se encontra. Os ouvintes mandam perguntas e fazem comentários acerca do programa pelo Twitter. Nesse sentido, Xxxxx (2010) diz que a utilização das redes sociais nos programas de rádio abre novos canais para a participação dos ouvintes. Já Xxxxxxx e Xxxxx (2014) defendem que as rádios se permitam mudar e evoluir através do conteúdo recebido pelas redes sociais. Depois de ouvir a declaração de Xxxxxx Xxxxxxx, a entrevistada lhe faz a seguinte pergunta:
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: Me cita um exemplo de quando eu propaguei o ódio?
- Xxxxxx Xxxxxxx: As suas polêmicas, maioridade penal. Você sempre vai vim com um argumento pesado assim, porque eles têm que trabalha, porque eles são vagabundos. Daí o Xxxxxx vem e fala, não, mas a população carcerária que não sei o que, daí você não recua, sabe. Você tem o seu modo de pensar, mas eu acho ele, você inteligentíssima, mas ele um pouco primitivo.
- Xxxxxx Xxxxxxxxxxx: É o seguinte, eu acho o seguinte. A gente tem que te opinião. E opinião é sim ou não. Eu aprendi assim. Maioridade penal, sim ou não. Não é talvez ou quem sabe. Se você, se você tá numa situação em que alguém te pergunta,
18 Rede social que permite aos usuários enviar e receber atualizações em tempo real, pessoais ou de outros contatos. Trabalha como uma forma de blog.
você é contra ou a favor da maioridade penal, eu vou dizer o que é que eu acho. Eu sou a favor da redução da maioridade penal e vou dizer porque eu sou favor da redução da maioridade penal e eu trago meus argumentos, eu não trago ódio. E porque eu não trago ódio? Porque eu tô pensando na vítima. Eu trago amor. Porque eu tô me solidarizando com aquele lado mais fraco que tá sendo esquecido pela sociedade (...).
O diálogo entre Xxxxxx Xxxxxxx e Xxxxxx Xxxxxxxxxxx, carregado de informação e emoção, atua de forma direta no imaginário do ouvinte que permite a ele compreender aquilo que está sendo anunciado entre às duas. Por meio de pontos de vistas diferentes, cada uma das participantes tenta legitimar sua opinião, o que pode ser explicado por Xxxxxxxxx (2006), quando este defende que fornecer a prova das explicações, ou seja, apresentar os argumentos para mostrar os motivos dos fatos e suas consequências, assegura a veracidade do que é dito da maneira mais incontestável possível.
Xxxxxx Xxxxxxx diz que a entonação e o modo como se expressa a entrevistada dão a entender outro significado naquilo que está falando, ou seja, autoritarismo. No rádio o tipo de voz e suas frequências (grave ou agudo) variam de acordo com o contexto do discurso. Num momento no programa, Xxxxxx Xxxxxx, Xxxxxx Xxxxxxxxxxx e os demais integrantes da bancada, debatem sobre a redução da maioridade penal. Percebe-se que o locutor possui liberdade para escolher suas expressões, mas que está ligado ao fato ou tema que ele começou a descrever.
A entrevista é o formato que sustenta um diálogo que, por meio da fala espontânea entre os participantes no estúdio, estabelece uma relação com a audiência a qual é tratada como se fosse um outro participante na conversa.
O locutor pode se voltar para a audiência para colocá-la a par de informações relevantes para que possa ser trazida para o desenrolar da conversa, sabendo o suficiente para acompanhá-la, como ocorreria numa conversa face a face multiparticipantes (MEDITSCH, 2008, p. 305)
Dentro do estúdio da Jovem Pan, fica percebido que a convidada e os demais entrevistadores estão em posição de responder a uma asserção pela declaração de sua crença pessoal, ou seja, “a menção de seus sentimentos ou um relato de sua própria experiência [...]” (MEDITSCH, 2008, p. 305).
O programa faz mais um intervalo e na volta, em certo momento da entrevista, começa uma discussão entre Xxxxxx Xxxxxx e Xxxxxx Xxxxx.
- Xxxxxx Xxxxx: Não adianta você ter uma opinião e esconder atrás da opinião.
- Xxxxxx Xxxxxx: Eu não dou minha opinião aqui.
- Xxxxxx Xxxxx: Porque você tem medo!
- Xxxxxx Xxxxxx: Não tenho medo não. Você sabe porquê? Porque primeiro: Eu falo aqui pra petista, pra PSDB, pra todo mundo.
- Xxxxxx Xxxxx: Isso também não vai a lugar nenhum.
- Xxxxxx Xxxxxx: Não so guru, não sou dono da verdade, não sou guru! Neguinho aí gosta de guru! Gosta de seguir o cara que nem ovelha. Tem o pastor lá fica tudo ovelha. A esse é do caralho, o Bolsonaro é bom! O Xxxx Xxxxxx é legal. É isso que o nego que. Nego que um guru pra ficar guiando. Eu gosto que os caras pensem (...).
Em tom de voz exaltado, Xxxxxx Xxxxxx estimula outros sentidos além da audição. De acordo com Xxxxx (2007) a voz no rádio com suas variações de intensidade e volume, conferem gestualidade e significados diferentes a aquilo que foi dito através de seu enunciador. Também é possível perceber seu estado emocional de indignação ao dizer não sou guru, reprendendo Xxxxxx Xxxxx. Para Moura (2003) um gesto de repreensão necessita de um tom de voz mais áspero, porque transmite agressividade e incômodo. Xxxxxxxxxx (2006) observa que a voz mostra o estado de espírito daquele que está comunicando. A partir do tom de voz áspero de Xxxxxx Xxxxxx quando o mesmo diz “não so guru, não sou o dono da verdade, não sou guru!” fica identificada a imagem que o apresentador faz de si mesmo a partir do modo como ele se expressou. A condição de identidade colocada por Xxxxxxxxxx (2006) é bastante explorada por Xxxxxx Xxxxxx. Através da troca de opiniões entre o apresentador e Xxxxxx Xxxxx, ficou evidenciada a relação de distância entre eles durante a discussão porque Xxxxxx fez a colocação de que Xxxxxx tinha medo em dar sua opinião. Para Xxxxxxxxxx (2006), a condição de identidade propõe aos sujeitos envolvidos na troca do discurso uma relação que pode ser de proximidade ou de afastamento.
Por muitas vezes, a performance de Surita produz sentidos de autoritarismo, como se ele representasse ser o dono da verdade dentro do programa e no contexto em que é ouvido.
Xxxxxx Xxxxxx dá continuidade no programa, encerra a entrevista e agradece a participação de Xxxxxx Xxxxxxxxxxx no Pânico.
A partir da análise desse programa, ficou percebido que o rádio serve como ferramenta para estimular a reflexão sobre diferentes pontos de vistas e opiniões, à crítica, a promoção do debate e a democratização da informação.
6CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa, que teve como objetivo identificar as estratégias discursivas midiáticas para a captura e possível fidelização da audiência do programa “Pânico no Rádio”, da Rádio Joven Pan, de São Paulo, percebeu-se o conjunto de ações e modos de produção do programa que constituem o contrato de comunicação proposto ao público ouvinte.
Para construir o presente Trabalho Final de Graduação, ao longo dos últimos dez meses, estudou-se como se estrutura a lógica produtiva do programa radiofônico que completou 23 anos em 2017. Ao longo da pesquisa, foram ouvidas e analisadas duas edições do Pânico no Rádio. Nas observações, percebeu-se que um ouvinte é convidado para participar dentro do estúdio da Rádio Jovem Pan. Este modelo de interação entre ouvinte/rádio visa manter um contrato com sua audiência a partir do protagonismo do ouvinte visitante do dia, que o torna um agente ativo e produtor no programa, por meio de sua voz que é acionada a partir dos demais sujeitos que compõe a equipe de produção liderada pelo apresentador Xxxxxx Xxxxxx.
Na análise, foi possível encontrar estratégias discursivas midiáticas que são utilizadas pelo apresentador Xxxxxx Xxxxxx. Estas estratégias são identificadas quando se anunciam o entrevistado do dia e a pauta que norteará o programa além dos quadros apresentados pelos integrantes Xxxxxx Xxxxxx e Xxxxxx Xxxxx. A organização cronológica dos quadros do programa, bem como seus conteúdos, notou-se, são estruturados com a intenção de captar o ouvinte e mantê-lo sintonizado na atração radiofônica até o seu término.
O humor e a ironia, nessas condições, são características evidentes nas abordagens das temáticas escolhidas, por todos os componentes do programa, e que fazem parte do conjunto de estratégias com vistas a constituir vínculos com a audiência.
A multiplicidade de vozes foi percebida como uma forma de quebrar o ritmo monótono do rádio quando apenas uma pessoa fala. O mosaico de vozes dos integrantes do programa torna o mesmo mais atrativo, através dos diferentes modos de fala de cada um, possibilitando ao ouvinte o contato com opiniões e pontos de vistas diferentes.
Os modos de fala do apresentador Xxxxxx Xxxxxx são essências para o programa. Com suas colocações acerca do entrevistado e da pauta do dia, nos dois programas analisados, percebeu-se que seu encadeamento de ideias vai ao encontro das visadas propostas pelo autor francês Xxxxxxx Xxxxxxxxxx, ou seja, são peças fundamentais na construção do contrato de comunicação midiático.
Através dos discursos do apresentador, a audiência é levada a acreditar, revela uma verdade que ele não saiba. Pretende levar o ouvinte a fazer determinada ação ou provoca nele um estado emocional que pode ser agradável ou desagradável. Por exemplo, quando Xxxxxx Xxxxxx profere frases dizendo que taxistas bons são aqueles que utilizam apenas mapas ou que o programa Pânico no rádio tem como objetivo mostrar a verdade absoluta.
Foi identificado que a performance do apresentador Xxxxxx Xxxxxx na condução do programa serve para dar mais credibilidade e veracidade naquilo que ele está comunicando.
Ainda a partir das observações fundamentadas no referencial teórico deste trabalho acadêmico, pode-se afirmar que o gênero de entretenimento do programa proporciona às entrevistas um determinado tom de informalidade. Isso se identifica quando tal informalidade na condução das entrevistas ou na forma de debater a pauta do programa desencadeia uma aproximação com os modos de fala do cotidiano da audiência, o que se considera interessante, quando se pensa em possibilitar uma identificação entre o que se está discutindo no rádio e o dia-a-dia dos receptores. Surita ressalta no primeiro programa que seus modos de fala tem a intenção de se aproximar dos modos de fala dos sujeitos os quais podem estar na escuta. Tais modos de fala foram vislumbrados no programa do dia 9 de setembro de 2016 quando o apresentador diz: “Carapicuíba é noiz”, fazendo referência ao jargão utilizado por jovens de uma zona do estado de São Paulo, por exemplo.
Nota-se, também, a forma dinâmica como são feitas as entrevistas por meio dos vários integrantes do programa, cada um com pontos de vistas diferentes. O confrontamento de ideias oferece ao ouvinte a possibilidade de observar os diferentes ângulos e possibilidades de análise de uma temática e, assim, a partir de sua recepção pessoal, interpretar de forma crítica e fazer uso ou não da informação em sua vida.
Ainda sobre as entrevistas analisadas, percebeu-se que através do dispositivo radiofônico onde a voz produz uma interação mútua entre os integrantes do programa e o
entrevistado, a intenção é propor ao ouvinte do programa Pânico no Rádio a sensação de intimidade, incluído no debate dos integrantes do programa através do clima coloquial no qual foram desenvolvidas as entrevistas. Foi identificado durante as entrevistas, como o apresentador Xxxxxx Xxxxxx utiliza monólogos em voz alta para proferir seus discursos acerca de uma temática. A performance com tom de voz elevado do apresentador visa conferir maior veracidade às suas ideias.
Ficou claro a importância do uso dos efeitos sonoros nos programas analisados. A inserção de trilhas sonoras na abertura e fechamento do programa, dos quadros, de fundos musicais diferentes ao longo das entrevistas, auxilia no dinamismo do programa, quebrando a possibilidade do mesmo se tornar monótono aos ouvidos, apenas com as falas dos sujeitos no estúdio. Nessas condições, observou-se que as trilhas e os efeitos sonoros deixam mais agradável a escuta. Ficou identificado que o gênero de entretenimento do programa consegue explorar de maneira mais rica a linguagem sonora através de trilhas, fundos musicais e ruídos. No primeiro programa, destacou-se um efeito sonoro. Trata-se de um som de uma campainha. O dispositivo metálico produz um som estridente e que foi utilizado pelo apresentador Xxxxxx Xxxxxx para reorganizar o diálogo dos participantes na entrevista. Compreende-se que este ruído também pode ser uma ação de restabelecimento da atenção do ouvinte, na escuta, incluindo-se no conjunto de ações que estabelecem o contrato de
comunicação proposto.
Foi constatado que o uso das redes sociais e da Internet auxiliam na produção do rádio, quando no segundo programa analisado, Xxxxxx Xxxxxx avisa aos ouvintes que os mesmos poderiam mandar perguntas para o Twitter do Pânico no rádio. O ouvinte através do envio de perguntas passa a ser um produtor ativo do mesmo. Entretanto, percebe-se, nos programas analisados, que o dispositivo digital foi acionado apenas uma vez. Apesar das possibilidades de interatividade por meio das redes sociais, o Pânico no Rádio ainda pode potencializar o uso das mesmas.
Todas essas características do programa Pânico no Rádio vislumbradas durante a análise do objeto são estratégias e táticas de captura e fidelização da audiência. Constituem, assim, a proposta do contrato de comunicação do programa capaz de sugerir uma relação bem estabelecida com seus ouvintes.
Com as considerações sobre o processo de investigação aqui proposto, acredita-se que este trabalho venha a contribuir para as pesquisas sobre o rádio e, principalmente, o modo como uma emissora ou programa utiliza de estratégias e táticas para tornar chamativo determinado produto radiofônico e construir assim com o público um contrato de
comunicação. Tais vínculos alavancam a audiência e tornam o programa, para os anunciantes, um produto atrativo e que valha o investimento.
Espera-se, que, a partir desta pesquisa, outras possam surgir no curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria, pois ainda há muitos pontos a serem estudados nesta temática, inclusive sobre o mesmo objeto analisado.
Após dez meses de estudos, o pesquisador pode-se afirmar orgulhoso com o resultado alcançado. Foi uma oportunidade de estudar um assunto que potencializará o conhecimento e ajudará no desenvolvimento profissional e pessoal desse futuro jornalista, que possui grande empatia pelo rádio. Acredita-se que o objetivo final do trabalho foi alcançando, encerrando, assim, o ciclo acadêmico e dando início a uma nova fase.
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