NOTA INFORMATIVA 001/2022
NOTA INFORMATIVA 001/2022
Departamento de Saúde Coletiva/Secretaria de Saúde de Angra dos Reis mar/2022
Síndrome do Corrimento Uretral em Homem
Assunto | Notificação e tratamento correto da Síndrome do Corrimento Uretral em Homens, quinto agravo mais notificado no município em 2021. |
Objetivo | Orientar os profissionais de Saúde de Angra dos Reis sobre tal agravo, reforçar o protocolo assistencial e compulsoriedade da notificação dos casos. |
1 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS NO MUNICÍPIO
No ano de 2021 a Síndrome do Corrimento Uretral em Homem foi o quinto agravo mais notificado no município de Angra dos Reis, de acordo com o SINAN NET, com o total de 99 casos. Solicitamos aos profissionais que realizem, além do tratamento (página 5) e notificação dos caso (Anexo 1), a orientação quanto à comunicação, diagnóstico e tratamento de parcerias sexuais (mesmo que assintomáticas), conforme orientação do Ministério da Saúde.
2 CARACTERÍSTICAS GERAIS
2.1 DESCRIÇÃO
A síndrome do corrimento uretral (mucoide, mucopurulento ou purulento) masculino define o diagnóstico de uretrite. A uretrite é uma inflamação da uretra, podendo ser dividida em dois grupos: uretrites gonocócicas e não gonocócicas, infecciosas ou não. Vários agentes podem causar uretrite infecciosa devido às práticas sexuais sem preservativos (UNEMO et al., 2017; BRASIL, 2020a).
2.2 AGENTE ETIOLÓGICO
As uretrites infecciosas podem ser classificadas de acordo com o agente etiológico (BUDER el al.; 2019; XXXXX et al., 2019; BRASIL, 2020):
• Uretrite gonocócica, causada por Neisseria gonorrhoeae.
• Uretrites não gonocócicas, causadas majoritariamente por Chlamydia trachomatis e Mycoplasma genitalium. Outros patógenos menos
frequentes são: Trichomonas vaginalis, enterobactérias (nas relações anais insertivas), vírus do herpes simples (herpes simplex vírus – HSV), adenovírus e Candida sp. A vigilância da susceptibilidade aos antimicrobianos é crucial para os patógenos com elevada capacidade de desenvolvimento de resistência, como é o caso de Neisseria gonorrhoeae, que já apresenta, em algumas regiões do mundo, resistência à última linha terapêutica disponível para seu tratamento, as cefalosporinas de terceira geração, e de Mycoplasma genitalium, que é uma preocupação mundial emergente devido à sua resistência aos macrolídeos e moxifloxacina (XXXXXX et al;. 2001; WI et al., 2017; XXXXX et al., 2018; XXXXX et al., 2019; BRASIL, 2020b).
2.3 RESERVATÓRIO
O ser humano é o único hospedeiro (BRASIL, 2020a).
2.4 MODO DE TRANSMISSÃO
A principal forma de transmissão dos agentes infecciosos que causam uretrite, com consequente indução de corrimento uretral, é a relação sexual desprotegida com indivíduo infectado, seja essa relação oral, vaginal ou anal (BRASIL, 2020a).
2.5 PERÍODO DE INCUBAÇÃO
O período de incubação da gonorreia urogenital varia de dois a cinco dias, variando de um a dez dias (UNEMO et al., 2019; BRASIL, 2020a). Para a clamídia, esse período é maior, de 14 a 21 dias (BRASIL, 2020a).
2.6 PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE
Durante o sexo vaginal, as taxas de transmissão de homens para mulheres são maiores do que de mulheres para homens. A ejaculação do homem infectado contém milhões de cepas da gonorreia, que serão injetadas efetivamente no local anatômico receptor (mucosa vaginal, anal ou oral). Além disso, as mulheres infectadas por N. gonorrhoeae podem transmitir ao concepto durante o parto vaginal, mas não durante a gravidez. A oftalmia neonatal decorre da exposição da conjuntiva do recém-nascido durante sua passagem pelo canal de parto (XXXXXXX; XXXXXXXX, 0000; BRASIL, 2020a). No que diz respeito aos demais agentes etiológicos, a probabilidade de o homem se infectar em contato com parceira portadora de C. trachomatis é de
20% a 50% por ato sexual. Já a transmissão desse patógeno do homem para a mulher por coito vaginal varia de 10% a 39,5% (ALTHAUS; HEIJNE; LOW, 2012). Para o M. genitalium, ainda não se sabe ao certo a taxa de transmissibilidade, porém estima-se que seja diretamente dependente da carga do patógeno. Sendo assim, cargas mais altas de M. genitalium podem ser mais infecciosos do que homens com infecção assintomática (XXXXXXX et al., 2010; XXXXXX et al., 2011; XXXXXXX; HEIJNE; LOW, 2012; XXXXXXXX;
WHITE, 2016). Com relação a X. xxxxxxxxx, o risco de os homens se infectarem com parceiras infectadas varia de 22% a 72% (XXXXXXX et al., 2008).
2.7 SUSCETIBILIDADE, VULNERABILIDADE E IMUNIDADE
A suscetibilidade à infecção é universal e os anticorpos produzidos em infecções anteriores não são protetores. O indivíduo pode adquirir doenças infecciosas de transmissão sexual que causam corrimento uretral masculino sempre que se expuser aos patógenos (BRASIL, 2020a).
2.8 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O corrimento uretral é uma síndrome clínica com identificação de um grupo de sintomas e de sinais comuns a determinadas infecções (síndromes), caracterizada por corrimento de aspecto que varia de mucoide a purulento, com volume variável, podendo estar associado a dor uretral (independentemente da micção), disuria, estranguria (micção lenta e dolorosa), prurido uretral e eritema do meato uretral. O aspecto do corrimento uretral purulento corresponde a 75% das causadas por N. gonorrhoeae e 11% a 33% das uretrites não gonocócicas, e o aspecto mucoide corresponde a aproximadamente 25% dos casos de uretrite gonocócica e 50% dos casos das uretrites não gonocócicas. Para mais informações, consulte o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) (BRASIL, 2020a).
3 DIAGNÓSTICO
Além da anamnese e da história clínica utilizadas na abordagem sindrômica (cuja sensibilidade varia entre 84% e 95%), testes diagnósticos podem ser utilizados para rastreio de casos assintomáticos e para o diagnóstico etiológico de uretrites infecciosas que resultam em corrimento uretral (WHO, 2013; WORKOWSKI; BOLAN, 2015; BRASIL, 2020a).
3.1 TESTES DIAGNÓSTICOS
Os testes de biologia molecular são os métodos de escolha para rastreio dos casos assintomáticos com suspeita de infecção uretral, devido à elevada sensibilidade e à especificidade observadas nessas técnicas. Esses testes se baseiam na amplificação de ácidos nucleicos (nucleic acid amplification test – NAAT), que pode acontecer por meio da reação em cadeia da polimerase (polymerase chain reaction – PCR) ou da amplificação mediada por transcrição (transcription-mediated amplification – TMA). Essas técnicas permitem detectar simultanemanete e discriminar o(s) patógeno(s) presente(s) na amostra (WHO, 2013; WORKOWSKI; XXXXX, 2015). Assim como para os casos assintomáticos, os testes de biologia molecular também podem ser utilizados para detetcar o patógeno em amostras de corrimento uretral e/ou urina no diagnóstico de casos sintomáticos (WHO, 2013; WORKOWSKI; BOLAN, 2015). Outros testes previstos no Sistema Único de Saúde (SUS) também podem ser úteis para a identificação do agente causador da infeccção, como a bacterioscopia e a cultura (BRASIL, 2020b). Na bacterioscopia com coloração de Gram, que tem alta sensibilidade e especificidade em amostras de corrimento uretral masculino, é possível visualizar diplococos Gram-negativos intracelulares em leucócitos polimorfonucleares sugestivos de infecção por Neisseria gonorrhoerae (WHO, 2013; WORKOWSKI; XXXXX, 2015). Essa bactéria também pode ser identificada por meio de cultura em meio seletivo (Xxxxxx-Xxxxxx ou similar) que favoreça o crescimento de bactérias do gênero Neisseria sp. As colônias de bactérias Gram-negativas que crescerem nesse meio de cultura deverão ser submetidas aos testes de catálase e oxidase, que, quando positivos, são sugestivos de Neisseria gonorrhoeae. A identificação definitiva da espécie pode ser feita por meio da investigação das colônias em provas bioquímicas manuais ou automatizadas. O perfil de susceptibilidade de Neisseria gonorrhoeae aos antimicrobianos também pode ser investigado com as colônias obtidas no método de cultura (WHO, 2013; XXXXXXXXX; XXXXX, 2015; XXXXX et al., 2018; UNEMO et
al., 2019). Testes complementares não específicos podem ser utilizados para determinação de infecção uretral, como, por exemplo, esterase leucocitária positiva ou mais de dez leucócitos polimorfonucleares/ campo no exame microscópico de sedimento urinário, ambos em urina de primeiro jato (WHO, 2013; XXXXXXXXX; XXXXX, 2015).
3.2 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Trauma, irritação química ou inserção de corpos estranhos na uretra (WHO, 2013; XXXXXXXXX; XXXXX, 2015; BRASIL, 2020a).
4 TRATAMENTO
Os esquemas terapêuticos podem ser consultados na publicação do Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) (BRASIL, 2020a). No Quadro 1, pode ser visto o resumo dos esquemas terapêuticos para uretrite.
5 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
A Portaria n.º 1.553, de 17 de junho de 2020, instituiu a Vigilância Sentinela da Síndrome do Corrimento Uretral Masculino (VSCUM). Diário Oficial da União, 18 de junho de 2020.
É de notificação compulsória todo caso de síndrome do corrimento uretral masculino identificado nas unidades (Ficha de Notificação – anexo 1)
As notificações devem ser enviadas via e-mail para xxxxxxxxxxxxx@xxxxx.xxx
5.1 OBJETIVOS
• Monitorar perfil epidemiológico da síndrome do corrimento uretral masculino em unidades de saude selecionadas (unidades sentilelas).
• Identificar casos de síndrome do corrimento uretral masculino e desencadear a investigação das fontes de infecção e transmissão comuns.
• Produzir informações a respeito da síndrome do corrimento uretral masculino para subsidiar as ações de prevenção e controle.
6 DEFINIÇÃO DE CASO - SÍNDROME DO CORRIMENTO URETRAL MASCULINO
Indivíduo com presença de corrimento uretral (mucoide, mucopurulento ou purulento), verificado com o prepúcio retraído e/ou pela compressão da base do pênis em direção à glande, após contato sexual.
Observação: todos os casos de corrimento uretral identificados nas unidades sentinelas DEVEM SER NOTIFICADOS, independentemente da verificação do agente etiológico
7 INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
7.1 ROTEIRO DA INVESTIGAÇÃO
• Identificação do paciente - Para corrimento uretral, os casos são identificados nas unidades sentinelas por meio de evidência clínica, conforme preconizado na definição de caso.
• Coleta de dados clínicos e epidemiológicos - Para a investigação de corrimento uretral, é indispensável o preenchimento de todos os campos das fichas do Sinan. As informações a serem coletadas durante a investigação incluem dados gerais da pessoa e do local de notificação do caso. Os dados de testes diagnósticos e de tratamento, a fim de encerramento dos casos, devem ser monitorados e registrados nas unidades sentinelas.
• Análise de dados - Para conhecimento dos casos com corrimento
uretral, recomenda se que os dados gerados pelo Sinan sejam analisados pelo menos uma vez ao ano. Os dados referentes aos testes diagnósticos e de tratamento devem ser monitorados nas unidades sentinelas e nas esferas das unidades federativas.
8 MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE
8.1 OBJETIVOS
• Desenvolver ações para reduzir a morbimortalidade.
• Definir e indicar as medidas de controle da transmissão.
• Interromper a cadeia de transmissão.
8.2 ESTRATÉGIAS
• Realizar abordagem centrada na pessoa e em suas práticas sexuais.
• Contribuir para que a pessoa minimize o risco de infecção por uma IST.
• Anamnese, a identificação das diferentes vulnerabilidades e o exame físico são importantes elementos na abordagem das pessoas com IST.
• Informar a pessoa sobre a possibilidade de realizar prevenção combinada para IST/HIV/ hepatites virais.
• Oferecer testagem para investigação etiológica da síndrome do corrimento uretral masculino.
• Oferecer testagem (especialmente teste rápido) para HIV, sífilis e hepatites B e C.
• Oferecer vacinação para hepatite A e hepatite B, e para HPV, quando indicado. Consultar o calendário de vacinação do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde.
• Agendar o retorno da avaliação de persistência de sintomas pós- tratamento.
• Tratar, acompanhar e orientar todas as possíveis parcerias sexuais de pessoas com corrimento uretral durante as oito semanas anteriores.
• Oferecer preservativos (feminino/masculino) e orientar sobre o uso em todas as relações sexuais.
• Notificar e investigar o caso.
Anexo 1
Bibliografia
1 - BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde - 5. ed. – Brasília
: Ministério da Saúde, 2021.
2 - Protocolo Brasileiro para Infecções Sexualmente Transmissíveis 2020: infecções que causam corrimento uretral. Publicado no periódico Epidemiologia e Serviços de Saúde. Brasília, 30(Esp.1):e2020633, 2021.
3 - BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Sistema de Informação de Agravos de Notificação – XXXXX.
Elaboração:
Glauco F. Oliveira - Secretário de Saúde de Angra dos Reis Xxxxxxx Xxxx Xxxxxxxxx - Diretora de Saúde Coletiva
Xxxxx Xxxxxxx de Lima - Coordenadora de Programas Especiais do Adulto e Idoso Camila Lima Siqueira – Área Técnica de Saúde do Homem
Xxxxx Xxxxxxx Xxxx - Assistente de Xxxxx Xxxxxx
Revisão:
Xxxxxxx Xxxxxxx xx Xxxxxx – Infectologista
Xxxxxxx xx Xxxxx Furtado - Coordenadora de Vigilância Epidemiológica