Curitiba Outubro, 2003
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos
Ciência, Tecnologia e Inovação
Mapeamento de Sistemas Regionais de CT&I
Relatório Final
Curitiba Outubro, 2003
Mapeamento de sistemas regionais de CT&I
Relatório Final
O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – CGEE e o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade – IBQP estabeleceram contrato para a realização da pesquisa “Mapeamento de Sistemas Regionais de Ciência, Tecnologia e Inovação”. O presente documento constitui o seu Relatório Final, o qual incorpora alguns ensaios de aplicação dessa metodologia em sistema locais de inovação situados no Estado do Paraná. Inclui observações efetuadas em workshop no CGEE bem como as considerações da equipe de pesquisadores. Esta pesquisa foi realizada com a participação de profissionais do IBQP-PR e do Instituto PROINTER. Curitiba, novembro 2003.
Apresentação
Este Relatório Final da pesquisa “Mapeamento de Sistemas Regionais de Ciência, Tecnologia e Inovação” é resultante de um contrato assinado entre o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – CGEE e o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade – IBQP. Esta pesquisa de caráter metodológico foi realizada com a participação de profissionais do IBQP-PR, o Dr. Xxxxxxx xx Xxxxx Xxxxxx, como supervisor, e o Dr. Xxxxxx Xxxxx Xxxxxx Xxxxxx, bem como, pelo Instituto PROINTER, os pesquisadores Xxxxxx Xxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxx e Xxxxxxx Xxxxxxxxxx xx Xxxxxx.
Este documento, que constitui o Relatório Final da pesquisa, está disposto em duas partes. Conforme previsto no acima citado contrato, numa primeira etapa efetuou-se o desenvolvimento da metodologia de mapeamento, apresentada em maio de 2003 sob a designação de “Relatório I”, e que constitui agora a Parte I do presente documento. A metodologia desenvolvida, objetiva fornecer um instrumento analítico com o qual, através de procedimentos simples e relativamente rápidos, seja possível extrair um mapeamento da situação de Sistemas Locais de Inovação (SLI).
Conforme era previsível, ao longo da aplicação dos ensaios, foram surgindo algumas alterações à metodologia apresentada no Relatório I. Para os leitores que tiveram acesso à metodologia inicialmente proposta, e desejarem conhecer as modificações sugeridas, estas estão apresentadas no Apêndice 3. Assim, na Parte I deste Relatório Final, está apresentado o Relatório I em sua integralidade, porém já contendo as modificações efetuadas pela equipe de pesquisa.
Na Parte II deste Relatório Final estão contidos os resultados da utilização da metodologia de mapeamento desenvolvida, feita através de alguns ensaios de aplicação em algumas localidades do Estado do Paraná com diferentes perfis econômicos, bem como algumas observações sobre os resultados obtidos. O objetivo da Parte II é descortinar em que medida esta metodologia poderá cumprir, com maior ou menor eficácia, as promessas analíticas de que se supôs portadora e que mereceu, por isso, a hipótese desta pesquisa. Por último, o Capítulo 4 da Parte II deste Relatório Final, inclui os resultados do Workshop organizado pelo CGEE para discussão da metodologia proposta, bem as considerações da equipe de pesquisadores.
Sumário
PARTE I. 6
1 INTRODUÇÃO. 8
1.1 O PROBLEMA EM ANÁLISE. 8
1.2 OBJETIVOS. 10
1.3 JUSTIFICATIVAS. 11
2 PREMISSAS CONCEITUAIS ADOTADAS. 19
2.1 SOBRE O CONCEITO DE INOVAÇÃO. 19
2.2 SOBRE O CONCEITO DE SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO. 30
3 METODOLOGIA DE MAPEAMENTO. 38
3.1 ANTECEDENTES. 38
3.2 O MÉTODO PROPOSTO. 40
3.2.1 Identificação e Avaliação dos Fatores Indutores. 41
3.2.2 Análise das Inter-relações Existentes. 49
3.2.2 Perfis Institucionais 52
3.2.4 Indicadores Tradicionais de Desempenho 54
4 CONCLUSÕES. 56
PARTE II. 58
1 SOBRE A METODOLOGIA DESENVOLVIDA. 60
1.1 BREVE RESUMO DA METODOLOGIA DESENVOLVIDA. 60
1.2 O ENSAIO E AS FUTURAS APLICAÇÕES COMPLETAS. 63
2 ENSAIOS DE APLICAÇÃO 64
2.1 SISTEMA LOCAL DE INOVAÇÃO (SLI) – LONDRINA. 64
2.1.1 Atores 65
2.1.2 Fatores Indutores. 65
2.1.3 Matriz de Impactos Cruzados. 71
2.1.4 Perfil Visual Institucional 76
2.1.5 Notas Sobre os Resultados Obtidos. 78
2.2 SISTEMA LOCAL DE INOVAÇÃO (SLI) – CURITIBA. 78
2.2.1 Atores do SLI – Curitiba. 79
2.2.2 Fatores Indutores. 82
2.2.3 Matriz de Impactos Cruzados. 84
2.2.4 Perfil Visual Institucional 87
2.2.5 Notas Sobre os Resultados Obtidos. 89
2.3 SISTEMA LOCAL DE INOVAÇÃO (SLI) - PATO BRANCO 90
2.3.1 Atores do SLI - Pato Branco. 90
2.3.2 Fatores Indutores. 92
2.3.4 Matriz de Impactos Cruzados. 95
2.3.5 Perfil visual Institucional 98
2.3.6 Notas Sobre os Resultados Obtidos. 99
2.4 ANÁLISE COMPARATIVA DOS ENSAIOS DE APLICAÇÃO. 100
3 ANÁLISE DA METODOLOGIA APLICADA. 103
3.1 A METODOLOGIA ENQUANTO FORMA DE CONHECIMENTO DA REALIDADE 103
3.2 A METODOLOGIA ENQUANTO FORMA DE CONHECIMENTO DAS PRÓPRIAS QUESTÕES SISTÊMICAS DE C,T&I. 106
3.2.1 Fatores e Atores do SLI. 107
3.2.2 Empresas como Atores do SLI. 107
3.2.3 Sistemas, Arranjos, "Clusters" 108
3.2.4 As Inter Relações entre os Agentes do SLI. 108
3.2.5 O Financiamento das Atividades de CT&I nos SLI. 109
3.3 A METODOLOGIA ENQUANTO INSTRUMENTO DE MOBILIZAÇÃO DAS COMUNIDADES LOCAIS. 110
3.4 A METODOLOGIA ENQUANTO APLICAÇÃO CONCRETA AOS DIVERSOS SLI BRASILEIROS 112
3.4.1 As Diferentes Escalas das Localidades 112
3.4.2 Recursos Necessários para o Mapeamento dos SLI. 113
4 DISCUSSÃO DA METODOLOGIA. 115
4.1 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES DO WORKSHOP DO CGEE. 115
4.2 CONSIDERAÇÕES DA EQUIPE DE PESQUISADORES. 126
APÊNDICES. 147
APENDICE I -OBSERVAÇÕES E PROCEDIMENTOS PARA APLICAÇÃO. 148
1.1 Descritivo Sumário. 148
1.2 Equipes de Profissionais para o Mapeamento do SLI. 149
1.3 Mobilização das Lideranças Locais 150
1.4 Etapas de Mapeamento. 150
APÊNDICE II - CONEXÕES EXISTENTES ENTRE OS SUB - FATORES INDUTORES E OS INDICADORES TRADICIONAIS DE C,T&I. 159
APENDICE III - MODIFICAÇÕES EFETUADAS NA METODOLOGIA DEPOIS DE APRESENTADO O RELATÓRIO I (MAIO DE 2003). 163
APÊNDICE IV - PERFIL INSTITUCIONAIS E O FINANCIAMENTO DA CT&I. 166
LISTA DE QUADROS, FIGURAS, TABELAS E GRÁFICOS. 170
BIBLIOGRAFIA. 172
MAPEAMENTO DE SISTEMAS REGIONAIS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
RELATÓRIO FINAL PARTE I
Parte referente à metodologia, elaborada até maio 2003.
Mapeamento de sistemas regionais de ciência, tecnologia e inovação
Relatório I
Contrato estabelecido entre o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – CGEE, do Ministério da Ciência e Tecnologia, e o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade – IBQP para realização da pesquisa “Mapeamento de Sistemas Regionais de Ciência, Tecnologia e Inovação”. O presente documento constitui o seu primeiro Relatório, referente à Metodologia de análise. Na etapa subseqüente elaborar-se-á um segundo relatório, referente a um ensaio de aplicação dessa metodologia ao caso do Estado do Paraná. Certamente a partir deste ensaio de aplicação, novos elementos conceituais e práticos deverão se incorporar e enriquecer esta metodologia de análise, pelo que, consideramos que este documento tem caráter exploratório. Esta pesquisa foi realizada com a participação de profissionais do IBQP- PR e do Instituto PROINTER.
Curitiba Maio, 2003
Mapeamento de sistemas regionais de Ciência, Tecnologia e Inovação
Relatório I
1 Introdução
Os itens desta Introdução incorporam em linhas gerais, as considerações contidas no Termo de Referência apresentado em workshop ao CGEE pelo Dr. Xxxxxxx xx Xxxxx Xxxxxx, em sua versão para discussão, datado de 20/11/2002, do qual originou-se a presente pesquisa.
1.1 O problema em análise
São notórios os avanços recentes na sistematização de indicadores de CT&I na sociedade brasileira. Merecem destaque especial os esforços do Ministério da Ciência e Tecnologia na organização criteriosa de diversos indicadores, a exemplo dos recursos aplicados, recursos humanos, bolsas de formação e pesquisa, produção científica, patentes e balanço tecnológico. Também é muito relevante o conjunto de indicadores analisados no âmbito do relatório "Política de CT&I para o Desenvolvimento Regional: um novo marco referencial”, objeto de discussão no workshop realizado pelo CGEE, no dia 10/10/2002.
No entanto, os indicadores de CT&I, como quaisquer outros indicadores, são relativos a variáveis de um “sistema”. Dado o sistema, os indicadores tendem a refletir o seu comportamento. No entanto, se o “sistema” apresenta mudanças expressivas ou estruturais, nem sempre os seus indicadores vão ser suficientes para captar todos os aspectos mais relevantes de seu desempenho.
No Brasil e em várias de suas regiões, os sistemas de CT&I - plenamente estruturados ou não - estão passando por uma intensa transformação, de forma que os seus indicadores tradicionais de desempenho tendem a não refletir totalmente o que de fato vem acontecendo na área.
Um dos aspectos mais marcantes dessa transformação se refere ao intenso processo de diversificação e diferenciação institucional que vem ocorrendo recentemente na área de CT&I, particularmente a partir do início da década de 90. Várias instituições estão sendo criadas e, mesmo as já existentes, vêm se diversificando através da criação de núcleos internos dedicados a temáticas específicas, vários com dinâmicas técnicas, financeiras e operacionais relativamente independentes da instituição “mater”.
Esta sendo acompanhado mais de perto o que vem acontecendo no processo em curso de re-estruturação e desenvolvimento de um “sistema nacional de CT&I”: o fortalecimento do MCT e da FINEP, a criação do CGEE e de alguns institutos, a estruturação dos fundos setoriais, os editais de chamada de propostas, etc.
No entanto, não se tem o mesmo conhecimento do que vem acontecendo nas regiões brasileiras. Em várias dessas regiões, é possível identificar avanços expressivos na tentativa de consolidar ou estruturar minimamente o que pode ser denominado de “sistemas regionais de CT&I”.
O caso do Estado do Paraná é um exemplo. Na década de 90, somente na Região Metropolitana de Curitiba, foram criadas ou fortalecidas, as seguintes
1
instituições/núcleos vinculados a CT&I: Fundação Araucária; Paraná Tecnologia ; o
2
Parque de Software , Centro Internacional de Tecnologia de Software-CITS;
Incubadora Internacional de Software (IIES); Centro de Novas Tecnologias de Software (CNTS/CITS); Projeto Paraná Classe Mundial em Software em Tecnologia da Informação e Comunicação; Incubadora Tecnológica de Curitiba-INTEC; Sistema Meteorológico do Paraná-SIMEPAR; Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade - IBQP-PR; Universidade Eletrônica; Centro de Design do Paraná (TECPAR); Instituto de Biologia Molecular (IBMP/TECPAR); Rede de Inovação em Materiais (RIMAT/TECPAR); Programa Sensores Cerâmicos para Monitoramento do
1
Essa instituição é responsável pela administração do Fundo Estadual de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, cuja fonte corresponde
a 2% da receita tributária estadual.
2
Em 1998, a Lei Complementarnº 22 (municipal) estabeleceu “incentivos fiscais para as empresas que desenvolvem programa de software
instaladas no setor Especial do Parque de Software da Cidade de Curitiba” (redução temporal e progressiva do ISS; isenção do ITBI e de ITBU, em condições específicas).
Lençol Freático (TECPAR); Parque Tecnológico (TecnoParque)3; TecnoCentro4; Programa Paraná AutoTech (TECPAR, UFPR, UNICENP, CEFET e Universidade Tuiuti); Universidade Livre do Meio Ambiente; Centro Integrado dos Empresários e dos Trabalhadores da Indústria do Estado do Paraná (CIETEP), além de diferentes centros para qualificação de técnicos (Centro de Treinamento da Indústria Automotiva, SENAI) e executivos (ISAD/FGV, IBMEC, etc.). Complementam a área de C&T&I na RMC, instituições de importância histórica, que, no geral, também foram fortalecidas e passaram por um intenso processo de diferenciação interna nos anos 90, como a UFPR, o Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento-LACTEC (UFPR), o Centro de Hidráulica e Hidrologia Prof. Parigot de Souza-CEHPAR (UFPR), o Centro de Estudos do Mar (UFPR), o Serviço de Transplante de Medula Óssea-SETMO/Hospital das Clínicas, o Centro Nacional de Pesquisa Florestal (CNPF/EMBRAPA), a PUC-PR, o Centro Federal de Educação Tecnológica-CEFET, o Instituto de Tecnologia do Paraná-TECPAR; Paraná Imunobiológicos e o Centro de Tecnologia da Madeira e Mobiliário-CETMAM (São José dos Pinhais). Além do que vem acontecendo na Região Metropolitana de Curitiba, merecem também destaques na área de CT&I, as regiões de Londrina (ADETEC, Programa Londrina Tecnópolis, etc) e, em menor grau, Maringá e Pato Branco.
Pode-se afirmar que em vários outros estados está ocorrendo, com maior ou menor intensidade, um movimento de diversificação e diferenciação institucional na área de CT&I semelhante ao do Paraná. Esses exemplos indicam a importância da elaboração de um “mapeamento” das redes ou sistemas regionais de CT&I (plenamente estruturados ou não). O uso de uma metodologia comum para esse tipo de mapeamento é de extrema importância dado que permite análises comparativas dos pontos fortes e fracos de cada um desses sistemas, o que constitui um painel de referência de fundamental importância para orientar e monitorar a regionalização das políticas de CT&I.
3Incentivos estão sendo criados para incentivar empresas de base tecnológica a se instalarem nesse Parque.
4Tanto o CITS quanto essa instituição contam com importante apoio financeiro e parceria tecnológica com a SIEMENS.
1.2 Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é desenhar uma metodologia de mapeamento dos sistemas regionais de inovação (SRI), como instrumento que possibilite a geração de subsídios para a definição de políticas de C,T&I nos âmbitos nacional e estadual.
Os seus objetivos específicos são gerar ferramentas de análise que permitam explicar o movimento de diversificação e diferenciação dos SRI, objeto deste Relatório I, e realizar estudo de caso no estado do Paraná, a modo de ilustração da metodologia e ferramentas propostas, a ser apresentado através do Relatório Final.
1.3 Justificativas
Estudos sobre o perfil ou a trajetória de instituições que atuam na área de CT&I vêm sendo cada vez mais realizados no Brasil. Exemplos recentes desse tipo de estudos são os seguintes: “Institutos Tecnológicos Industriais no Brasil: desafios e oportunidades contemporâneas (um estudo em oito institutos de pesquisas tecnológicas industriais governamentais)” (Xxxxx e Sbragia, 2002) e “Ciência, Tecnologia e Inovação: a reorganização da pesquisa pública no Brasil” (Xxxxxx-Xxxxx, 2000).
O primeiro estudo está voltado para análise das transformações em curso nos seguintes institutos: Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CEPED/BA); Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC/MG); Fundação de Ciência e Tecnologia (CIENTEC/RS); Instituto Nacional de Tecnologia (INT/RJ); Instituto de Pesquisa Tecnologia do Estado de São Paulo (IPT/SP); Instituto de Tecnologia e Pesquisas de Sergipe (ITPS/SE); Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (NUTEC/CE); e Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR). O segundo estudo analisa a EMBRAPA, a Fundação Xxxxxxx Xxxx (FIOCRUZ/RJ), o IPT/SP e o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS/SP-Campinas).
Cada um desses estudos desenvolve uma metodologia que define um padrão comum de análise das instituições. Os principais tópicos metodológicos do estudo realizado por Xxxxx e Sbragia são os seguintes: relação com a demanda,
dependência de recursos governamentais; matriz de clientes e serviços; padrões de governança; políticas e diretrizes de ação; relações com a indústria; recursos humanos e estrutura organizacional. Já o estudo organizado por Xxxxxx-Xxxxx parte de um breve histórico das instituições e centra a análise nos seguintes temas: situação financeira e orçamentária; organização interna; composição e política de recursos humanos; cooperação institucional e relação com os usuários; e organização das atividades fins.
Ambos estudos têm qualidades inegáveis e constituem referências de fundamental importância para orientar a política de CT&I no Brasil.
No entanto, esses estudos se limitam à análise de instituições específicas, a partir de cortes tipológicos como “institutos de pesquisas tecnológicas industriais governamentais” ou “instituições públicas de pesquisa em áreas temáticas selecionadas (agropecuária, saúde, tecnologias industriais e pesquisa básica)”.
Na medida que assim o fazem, esses estudos não privilegiam duas outras dimensões que vêm assumindo cada vez mais importância para a compreensão dos processos de transformação em cursos na área de CT&I: a dimensão sistêmica e a espacial.
Os processos na área de CT&I, particularmente os de inovação, têm “características sistêmicas e é condicionado por políticas, por um conjunto de instituições, públicas e privadas e pela qualidade e intensidade de suas inter- relações. Dentre elas, sobressaem as políticas nacional [e regionais] de CT&I, empresas com suas competências internas e articulações externas, organizações de pesquisa e desenvolvimento, infra-estrutura de C&T, sistema educacional e de treinamento”5 e a qualidade do ambiente macro-institucional.
Além disso, os processos de transformações na área de CT&I não são de natureza estritamente técnica, mas são também processos sociais, “profundamente associados à história, à cultura, à educação, às organizações institucionais e políticas e à base econômica da sociedade”6 ou região. Segundo XXXXXXXXX (2000), “na atualidade, identificada como era do conhecimento e da crescente integração em redes [sistemas], a região ressurge como locus da organização
5 Livro Branco de Ciência, Tecnologia e Inovação, p. 27.
produtiva e da inovação, onde o esforço e o sucesso da pesquisa, da ação institucional, do aprendizado se dão de forma coletiva”. A aglomeração regional de instituições da área de CT&I, “ao reduzir distâncias, facilitar a acessibilidade, permitindo o contato direto, face a face, e a presença de externalidades em termos de instituições de pesquisa, relações inter-firmas e trabalho qualificado facilita o fluxo de conhecimentos, o aprendizado e a inovação”.
XXXXXXXXX & XXXXXX (2002) apresentam a seguinte conclusão: “`It (the success of Silicon Valley) needs to be understood not at the level of the individual participants, but at the level of their joint interaction. In effect the Valley is not a collection of isolated organisms, but an interdependent ecology built around a particularly responsive kind of knowledge. As in all robust ecologies, there is a base that provides widespread nourishment for established organisms and niches for new ones…visitors should realize that this is not a an entirely self-organized ecology of microorganisms running wild. Some parts are. Others parts are more purposely farmed. In particular the valley has benefit from the visible hands of government and economic organization as well as from invisible hand of the market. (…) Most other successful regions have found the helping hand of government important for getting under way’. Going on to conclude that ‘like all ecologies’ the Valley has a history (‘the path is some 90 years long’) and that ‘innovation still has a geography even for the heartland of the digital era”7.
Ainda uma outra ordem de considerações que apontam para a necessidade de aprofundar os estudos sobre os sistemas de C,T&I repousa sobre a questão dos seus indicadores de performance.
Como os processos inovativos constituem o modo real e concreto da apropriação econômica dos conhecimentos, e, portanto da passagem progressiva para o que vem sendo denominada de sociedade do conhecimento, organismos internacionais como a UNESCO e a OECD, entre tantas outras instituições além das próprias universidades, vem estruturando e sistematizando formas de medir aquelas
6 Livro Branco de Ciência, Tecnologia e Inovação, p. 27.
7 XXXXXXXXX, Xxxxx; XXXXXX, Xxxxxxxxx. Towards a different regional policy: eight years of European experience through the European Regional Development Fund innovative actions. Texto ainda em versão preliminar apresentado em workshop organizado pelo CGEE em novembro de 2002.
atividades, de modo a capturar suas dinâmicas através de indicadores qualitativos e quantitativos.
Estes, ao passarem a ser aceitos e aplicados segundo as normas dos chamados manuais, - por exemplo, o de Frascati para medir as atividades científicas e tecnológicas, e o de Oslo para guiar a coleta de dados em inovações tecnológicas, ambos da OECD – progressivamente permitiram a comparabilidade, e portanto análises cientificamente aceitas, de fenômenos inter-institucionais intra-países e as internacionais, contribuindo com isto para a adoção de táticas e estratégias empresariais, bem como de programas públicos de fomento destas atividades inovativas, como integrantes das estratégias nacionais de desenvolvimento e de melhoria do padrão de vida de suas populações.
Na medida em que as inovações vão sendo consideradas como elemento estratégico para as empresas e para o desempenho macro das economias, foram sendo agregados mais indicadores, cada vez mais precisos e pontuais, buscando-se desvelar a intrincada malha de causa e efeito de variáveis que afetam as inovações.
Vários são os autores que discutem esta problemática para o caso de países menos industrializados, como o Brasil. VELHO (2001), VIOTTI (2001) e XXXXXXX & XXXXX (2001) entre outros autores no Brasil, tem se dedicado à tarefa de reflexão exigida para a estruturação de indicadores e de sistemas de indicadores adequados a dar conta das especificidades e das condições de operação característicos da economia brasileira, a qual obviamente inova, quando o faz e quando deixa de fazê- lo, pelos mesmos assemelhados motivos e razões vigentes em outros países.
Entretanto, além da reconhecida insuficiência de sistemáticos esforços de levantamento, registro e manipulação competente de dados e informações sobre os fenômenos de C,T&I e além da baixa prioridade que os indicadores das atividades de C,T&I possuem para uma sociedade de enormes outras carências sociais e econômicas, a própria estrutura e sistematização destes indicadores não tem sido capaz de dar respostas suficientes ou adequadas aos formuladores de políticas públicas nesta área.
VELHO (op.cit.), por exemplo, ao discorrer sobre as estratégias para um sistema de indicadores de C&T no Brasil, depois de historiar alguns dos antecedentes dos atuais esforços, aponta para três caminhos que concretamente vem sendo buscados por diversos países, e o Brasil como um deles, visando
estabelecer a relação entre os indicadores e os indicandos, i.é., o objeto que se pretende medir. São eles:
a) o caminho em que se “ ... tenta definir as dimensões do empreendimento científico e desenvolver as medidas apropriadas para tais dimensões;”
b) o segundo caminho “ ... procura medidas já disponíveis, como subprodutos do processo administrativo, que prometem uma conexão com o empreendimento científico. Inferências de senso comum sobre a relação entre indicador e objeto são facilmente desenvolvidas, mas a necessidade de validação permanece, só podendo ser preenchida pela realização de estudos e investigações mais detalhadas.”
c) “o terceiro caminho . resulta exatamente do questionamento das premissas teórico-conceituais, subjacentes aos indicadores tradicionais, que tem tomado lugar em praticamente todas as disciplinas que compõem os chamados estudos sociais da ciência e da tecnologia.
A autora afirma ainda que “... a tarefa de planejar, acompanhar e avaliar as atividades de C&T no país não pode parar até que o sistema “ideal” de indicadores seja produzido com base em estudos” e por esta razão e por ainda outras que descreve, é que “ ... propõe uma estratégia composta pelos três caminhos, como complementares ... ” , reconhecendo“ ... que se sabe muito pouco sobre a natureza, o caráter, o funcionamento e a organização do sistema nacional de inovação em países cientificamente periféricos”.
Destacam-se, da mesma autora ainda, duas outras observações importantes para este trabalho, segundo a qual, “No contexto atual, a ciência deixou de ser valorizada simplesmente por avançar o conhecimento e passou a ter sentido por seus resultados em termos de impacto na sociedade e na produção. Isto implica uma teoria sobre a maneira como os resultados da pesquisa são incorporados ao processo de inovação, o que é ainda largamente desconhecido desde que a teoria linear de inovação foi abandonada. Estimular estudos nesta direção, à semelhança do que têm feito os países desenvolvidos, é fundamental se quisermos decidir com maior chance de acerto como alocar os recursos nacionais para P&D” e seqüencialmente acrescenta, “A importância de nos juntarmos aos esforços de estudos sobre o funcionamento dos sistemas de inovação torna-se ainda mais evidente quando se aceita, conforme argumentam vários autores atuais, que a
inovação tem uma dimensão local e contingente. Portanto, enquanto não entendermos como se dá o processo de inovação no nosso contexto e que papel a ciência desempenha nesse processo, vamos ficar patinando e usando indicadores baseados em premissas altamente questionáveis e que sabemos não serem verdadeiras”.
Um dos indicadores de extrema relevância para que se possa aquilatar os sistemas nacionais de inovação diz respeito à mensuração da capacidade inovativa das unidades produtivas.
No documento que trata da Gestão dos Sistemas Nacionais de Inovação –SNI (OECD, 1999) encontra-se uma sugestão de caracterização da capacidade de inovação das empresas em quatro níveis, a saber:
• Nível 0 – a firma estática, que raramente inova ou nunca o faz, mas pode dispor de uma posição estável no mercado sob as condições existentes;
• Nível 1 – a firma inovativa, a qual tem capacidade de gerenciar processos contínuos de inovação em um ambiente tecnológico e competitivo estável;
• Nível 2 – a firma aprendente que possui, adicionalmente, a capacidade de se adaptar a um ambiente (tecnológico e competitivo) cambiante;
• Nível 3 – a firma auto-regeneradora, a qual é capaz de usar suas capacidades tecnológicas centrais para reposicionar-se em diferentes mercados e/ou criar (seus) novos mercados.
VIOTTI (2003), utilizando critérios que julga mais adequados aos países em desenvolvimento, estabelece uma outra tipologia de empresas quanto à suas capacidades de efetuarem inovações, tipologia esta que pode ser visualizada através do quadro produzido pelo autor, transcrito a seguir
QUADRO 1: CAPACIDADES TECNOLÓGICAS BÁSICAS E FUNÇÕES TÉCNICAS TÍPICAS
Capacitações Tecnológicas Básicas | Funções Técnicas Típicas |
Produção (Conhecimento, habilidades e outras condições requeridas pelo processo de produção.). | Assimilação de tecnologia de processo/produto Inovações incrementais passivas • Pequenas adaptações às condições locais (de infraestrutura, oferta de bens e serviços, recursos humanos e demanda pelo produto). • Ajuste do processo/linha de produção. • Solução de pequenos problemas no processo e manutenção de rotina. • Controles de estoque. • Administração de compras de insumos e vendas da produção. • Controle de qualidade do produto final. • Treinamento esporádico. |
Aperfeiçoamento (Conhecimentos, habilidades e outras condições requeridas para o aperfeiçoamento contínuo e incremental do desenho e das características de produtos e/ou do processo de produção.). | Domínio da tecnologia de processo/produto Inovações incrementais ativas • Adaptações significativas às condições locais (de infraestrutura, oferta de bens e serviços, recursos humanos e demanda pelo produto). • Experimentação na linha/processo de produção. • Manutenção preventiva. • Vínculos com fornecedores e compradores. • Sistemas de controle de qualidade do tipo “Qualidade Total”. • Sistema permanente de treinamento. • Aperfeiçoamento do produto/processo. • Adaptação e ampliação da capacidade de produção da planta/equipamentos além de seus limites nominais. • Busca regular por fontes externas de conhecimento e habilidades, inclusive benchmarking, cópia, imitação e engenharia reversa. • Vínculos com instituições de C&T. • P&D interna ou externa. |
Inovação (Conhecimentos, habilidades e outras condições requeridas para a criação de novas tecnologias | Inovações na tecnologia de produto/processo • Inovação de produto/processo. • P&D interna. |
ou para a realização de mudanças significativas na concepção ou características básicas de produtos/processos.). | • Pesquisa básica. • P&D cooperativa. • Licenciamento de tecnologia própria para terceiros. |
Fonte: Viotti (2002, p. 661).
Nota: Exceto nos casos de empresas criadas para comercializar determinada inovação, as funções técnicas típicas da Capacidade de Inovação normalmente abrangem as de Aperfeiçoamento, assim, como essa última, as de Produção.
Pela descrição de ambas as classificações, julga-se razoavelmente aceitável efetuar uma correspondência entre ambas classificações, onde os níveis 3 e 2 da OECD equivaleriam ao nível 3 Inovação na classificação de VIOTTI, o nível 1 da OECD ao nível 2 Aperfeiçoamento em VIOTTI, e finalmente o nível das capacitações tecnológicas básicas para produção em VIOTTI, como correspondendo ao nível 0 na classificação da OECD.
Evidentemente que para o caso de análise aplicada à realidade brasileira o maior problema reside na escassa disponibilidade de indicadores estatísticos adequadas a estas classificações. Eventualmente os surveys anuais efetuados pela ANPEI podem fornecer informações suficientes para ensaiar este esforço classificatório, não fosse o diminuto universo das empresas que são sócias desta entidade, e menor ainda as que respondem a estes surveys com a regularidade requerida estatísticamente. Certamente o recente estudo do IBGE sobre o comportamento inovativo das empresas brasileiras, denominado PINTEC, deverá fornecer bases analíticas mais sólidas para conhecer-se o SNI brasileiro, bem como suas expressões regionais e locais.
Assim, é importante avançar no mapeamento e análise das “sistemas ou redes regionais de CT&I” de forma a captar as dimensões sistêmicas e espaciais que estão condicionando os novos rumos da área de CT&I no Brasil. No Brasil, conforme já observado, em geral e por diversas razões esses “sistemas” não estão plenamente estruturados. No entanto, o intenso processo de diversificação e diferenciação institucional que vem ocorrendo na área de CT&I em vários estados podem estar indicando um movimento nesse sentido.
2 Premissas conceituais adotadas
Como se trata de pesquisa sobre metodologia, torna-se inevitável explicitar e precisar algumas das fontes conceituais adotadas, bem como as razões de sua maior ou menor adaptabilidade à realidade brasileira do ponto de vista do tema tratado.
Sem pretender tornar-se um estudo acadêmico, a discussão destes elementos conceituais e de algumas premissas de abordagem e de formulação adotadas pelos autores, devem ajudar à compreensão de seu conteúdo, à elaboração de críticas e ao aperfeiçoamento desta metodologia de análise de Sistemas Regionais de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Esta metodologia de análise de XXX possui sua inteligibilidade, sua utilidade e a sua aplicabilidade repousando nos atributos da lógica formal, do substrato teórico implícito nos indicadores utilizados, na disponibilidade efetiva ou potencial das informações sobre CT&I e na sua maior ou menor aderência à realidade brasileira. Certamente em diversos pontos durante o desenvolvimento do modelo, alguns destes atributos foram julgados insuficientes pela equipe de trabalho, sem que pudessem ser superados ou substituídos. De certa forma estas características de aspecto incompleto já eram esperadas, e são inerentes à pesquisa aplicada de caráter exploratório, como é o caso presente.
2.1 Sobre o conceito de inovação
Os autores fundadores da teoria econômica sobre as economias capitalistas modernas, Xxxxx, Xxxxxxx e Xxxx, expuseram de modo percuciente, embora não necessariamente utilizando este nome, as formas de mudança das unidades produtivas em um sistema econômico que só subsiste e tem sua dinâmica repousando sobre a contínua transformação das suas formas de produzir e reproduzir seus elementos constitutivos.
Mas é Xxxxxxxxxx na primeira metade do século XX, já na fase do capitalismo oligopólico após a 2ª revolução industrial que estrutura conceitualmente o conceito de inovação, apontando desde logo o seu locus fundamental, as unidades produtivas subordinadas ao risco do mercado, bem como suas ainda hoje principais
faces, as inovações de produto, de processos, de gestão empresarial e de modelo de negócio.
Além de colocar as inovações como o fulcro das formas modernas de competitividade interempresariais, este autor integra as especifidades científicas e tecnológicas com as de caráter econômico e financeiro, em um processo de destruição criativa, onde as formas de produzir novas, resultantes de processos inovativos de sucesso, portanto aquelas chanceladas pelo mercado substituem, graças a sua maior produtividade e performance, as antigas unidades e formas anteriores de produzir.
As considerações postas pela “escola schumpeteriana” destacaram que os novos conhecimentos gerados pela ciência e tecnologia constituíam e iriam se constituir cada vez mais nos elementos explicativos centrais da performance econômica e do poder militar e político das nações que mais desenvolviam tais atividades. E a história dos países industrializados da América do Norte e Europa Ocidental corrobora esta percepção, ao menos em última instância. O único caso fora destas áreas que se transforma em potência econômica e política de primeira linha, o Japão, é o exemplo clássico de como a determinação política de absorção dos conhecimentos científicos e tecnológicos ocidentais, criando capacidade posterior de desenvolvê-los autonomamente, são fundamentais para qualquer estratégia de desenvolvimento de longo prazo, para qualquer nação, inclusive para o Brasil.
Isto posto, principalmente do ponto de vista econômico e sociológico, ao longo do tempo desenvolveram-se modelos explicativos sobre as relações dinâmicas entre o avanço do conhecimento científico, o desenvolvimento de aplicações tecnológicas, a implementação das inovações, a dinâmica competitiva das empresas e os padrôes de consumo que a cada tempo vão se estabelecendo.
XXXXXX (op.cit.) destaca que “Tais modelos influenciam, de maneira implícita ou explícita, não só as políticas de C T & I, como também a própria concepção, os conceitos, as metodologias e os usos dos indicadores”.
Em sua análise o autor expõe três modelos explicativos, os quais são reproduzidos abaixo de forma sintética:
“O primeiro modelo apresentado na Figura 1 é o chamado modelo linear de inovação, que foi e talvez ainda seja o mais influente de todos os modelos de
explicação do sentido e da lógica do processo de mudança técnica. A ênfase nos recursos e instituições dedicados à pesquisa e ao desenvolvimento experimental (P&D) é uma característica das políticas e dos indicadores associados a esse modelo.
Figura 1 - Modelo linear de inovação
Pesquis
► a ►
Aplicada
Desenvolvimen to Experimental
► Comerciali
zação
Produ ção
Pesquis a Básica
►
Instituições/Laboratórios de Pesquisa
Empresas
(Oferta de Tecnologias) ───► (Demanda de Tecnologias)
Fonte: Viotti (2001)
O segundo modelo, apresentado na Figura 2, é o modelo elo de cadeia, que surge de uma crítica ao modelo linear e à sua visão do processo de inovação como um fenômeno compartimentado e seqüencial, no qual a empresa desempenha basicamente o papel de uma simples usuária de tecnologias. O modelo elo de cadeia enfatiza a concepção de que a inovação é resultado de um processo de interação entre oportunidades de mercado e a base de conhecimentos e capacitações da firma. A pesquisa passa a não ser mais vista como a fonte das idéias inventivas. De acordo com o modelo elo de cadeia, a empresa recorre à pesquisa quando a base de conhecimentos, à qual tem acesso, é insuficiente para a solução dos problemas surgidos em qualquer uma das etapas do desenvolvimento da inovação. A capacidade de empresas gerarem inovações passa a ser o foco das políticas e dos indicadores associadas a esse modelo.
Figura 2 – modelo elo de cadeia
Um modelo interativo do processo de inoçãvoa
P
3
Pesquisa P
PESQUISA
3
P
3
Estoque de conhecimentos científicos e tecnológicos
D
I
C
4 C
4 C
4
1
2 1
2 1
2
E
Mercado
potencial
Invenção e/ou Projeto
E
E
concepção de detalhado e
E
Reprojeto e Distribuição
produção comercialização
projeto básico teste
f f f f
R
e
F
Firmas individuais e setores produtivos a um nível mais agregado
Símbolos usados nas setas das caixas de baixo: E = Cadeia central de inovação.
f = Elos de realimentação.
R = Realimentação particularmente importante.
Conexões verticais:
C-P: Conexão de conhecimento para pesquisa e via de retorno. Quando o problema é resolvido no nódulo C, a conexão 3 para P não é ativada. O retorno da pesquisa (conexão 4) é problemático, por isso ela é representada em linhas pontilhadas.
D: Conexão direta dos problemas na invenção e no projeto de e para a pesquisa.
I: Contribuição da indústria para a pesquisa científica via instrumentos, máquinas-ferramenta e métodos tecnológicos.
F: Apoio financeiro de firmas à pesquisa em ciências subjacentes à área de produtos para ganhar informações diretamente ou pelo monitoramento dos trabalhos de terceiros. As informações obtidas podem ser aplicadas em qualquer ponto ao longo da cadeia.
Fonte: Technology and the Economy - The Key Relationships (OECD 1992, fig. 1, p. 25). Adaptado, com pequenas modificações, de Kline e Xxxxxxxxx (1986, p. 289). Citado por Xxxxxx (2001).
O terceiro modelo, apresentado na Figura 3, é resultado de estudos mais recentes que têm buscado caracterizar uma determinação ainda mais complexa ampla e diversificada do processo de inovação. O modelo sistêmico chama a atenção para o fato de o processo de inovação ser condicionado por um grande conjunto de instituições, públicas ou privadas, que incluem, além das empresas e dos centros de pesquisa e ensino, instituições normativas, culturais e o ambiente econômico. As políticas associadas a esse modelo buscam corrigir deficiências (“falhas sistêmicas”) da rede de instituições e relações que dão suporte ao processo de inovação. Indicadores de fluxos de conhecimento, mapeamentos institucionais e a integração com os indicadores econômicos são característicos desse modelo. “
Figura 3 - modelo sistêmico de inovação
Contexto Macroeconômico e Regulatório
Sistema Educacional e de Treinamento
Infra-estrutura de Comunicações
Rede de Inovação Global
Geração, Difusão e Uso do Conhecimento
Sistema Nacional de Inovação
Condições do Mercado de Produtos
Condições do Mercado de Fatores
DESEMPENHO DO PAÍS
Crescimento, criação de emprego, competitividade
Capacidade Nacional de Inovação
Instituições de Apoio
Sistema Científico
Outros Grupos de Pesquisa
Empresas (competências internas e redes externas)
“Clusters” de Indústrias
Sist. Reg. de Inovação
Fonte: OECD (1999) Managing National Innovation Systems, Paris, OECD, Figure 4, p. 23.
Nota: O título original da figura é Actors and linkages in the innovation system.
Visando ainda melhor explicitar as características principais e os indicadores típicos destes três modelos de inovação acima descritos, VIOTTI (op.cit.) elaborou o quadro abaixo:
Quadro 2 - modelos de inovação – principais características e indicadores típicos
Modelo | Linear | Elo de Cadeia | Sistêmico | |
Agente Principal | Instituições de pesquisa ou laboratórios | Empresas | Empresas em interação com instituições do sistema de inovação | |
Natureza do Processo de Inovação | Inovação como um fenômeno ocasional | Inovação como um processo contínuo e interativo (inovação incremental) | Inovação como um processo social e sistêmico | |
Posição Relativa da Pesquisa | A pesquisa precede a inovação, gera as invenções e essas são transformadas em inovações. | A pesquisa não é vista como a fonte das idéias inventivas, mas sim como uma forma de resolver problemas surgidos em qualquer das etapas do desenvolviment o da inovação. | A pesquisa é apenas uma atividade em um conjunto maior de determinantes da inovação, no qual destacam-se as interações e interfaces entre vários atores e instituições, assim como o funcionamento do sistema como um todo, em vez do desempenho de seus componentes individuais | |
Invenção ▼ | Invenção | ▼ ▲ | ||
Relação entre os Elementos da Mudança Técnica | Inovação ▼ Difusão ▼ | Inovação Difusão | ▼ ▲ ▼ ▲ | |
Inovação – incremental | Inovação incremental | ▼ ▲ | ||
Natureza da Tecnologia | Codificável | Codificável e tácita |
Relação da Firma com a Tecnologia | Consumidora de tecnologia | Produtora e absorvedora de tecnologia | |
Indicadores de Inovação Típicos | Dispêndios em P&D Patentes | Surveys de inovação | Indicadores de fluxo de conhecimento. Mapeamentos institucionais A integração desses com vários tipos de indicadores, inclusive os de natureza sócio- econômica. |
Em que pese o autor destacar a importância deste terceiro modelo - o sistêmico – como um avanço conceitual porque, entre outros motivos, possui maior aderência explicativa aos fenômenos complexos da realidade econômica dos países industrializados, enfatiza suas observações críticas exatamente sobre o seu afastamento da capacidade explicativa das realidades vigentes nos países como o Brasil, nos seguintes termos:
“ ... , por esse modelo concentrar-se em um fenômeno – a inovação – que é raro em países de industrialização retardatária, como o Brasil. Por decorrência, o modelo sistêmico, assim como as políticas e os indicadores a ele associados, acabam deixando de considerar adequadamente fenômenos fundamentais para essas economias. Os processos de mudança técnica característicos das economias em desenvolvimento são essencialmente limitados à absorção de inovações geradas em outras economias e ao aperfeiçoamento dessas.”
Por isso mesmo o autor sugere um modelo de aprendizado que resulta da
“ ... adaptação do modelo sistêmico no sentido da concepção de um modelo que enfatiza o processo de aprendizado tecnológico em lugar da inovação. Associada ao modelo de aprendizado ...” o qual vem acompanhado de “ uma proposta preliminar de aperfeiçoamento e fortalecimento dos indicadores de absorção tecnológico.”
Este modelo é apresentado na Figura 4 a seguir.
Figura 4 - sistemas nacionais de mudança técnica
SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO
(Países Industrializados)
SISTEMAS NACIONAIS DE APRENDIZADO
(Países de Industrialização Retardatária)
Inovação Incremental
Inovação
Absorção
(Difusão)
Difusão
Inovação Incremental
Fonte: Viotti (2002).
Outra abordagem, que caminha no mesmo sentido geral das observações de Xxxxxx, acima citadas, encontra-se no “Human Development Report 2001” (UNDP, 2001), cuja temática central (“Making New Technologies Work for Human Development”) desenvolve o conceito de “Technology Achievement Index – TAI”.
Este Índice de Desempenho Tecnológico (TAI), referido ao comportamento agregado de países, aponta para uma classificação do Brasil em 43o lugar entre 72 países para os quais puderam ser estimados estes indices. Trata-se de um índice composto procurando refletir até onde os países estão se capacitando a participar do movimento geral de inovações tecnológicas.
São quatro as principais dimensões de fenômenos que este índice procura capturar:
a) a criação de tecnologia, medida por dois indicadores, um, as patentes
conferidas per capita, e outro, as receitas de royalties e de licenciamentos recebidos do exterior per capita;
b) a difusão de inovações recentes, medida, de um lado, pelo número de conexões à internet per capita, e de outro, pela proporção das exportações que incorporam média e alta tecnologia sobre o total das exportações do país;
c) a difusão de inovações antigas, medida, pelo número de linhas de telefonia fixa ou celular per capita, e pelo consumo de eletricidade per capita, ambas consideradas em uma escala logarítmica;
d) a capacitação humana, medida, pela média de anos de escolarização, e pela proporção das matriculas universitárias em ciências, matemáticas e engenharias sobre o total das matrículas universitárias.
Como se pode verificar, a despeito das dificuldades de disponibilidade de estatísticas para estas variáveis, centradas em poucas e grandes variáveis que pudessem garantir um mínimo de comparabilidade internacional, o TAI não constitui uma medida de desenvolvimento tecnológico e nem de estoque de tecnologias, mas sim, uma medida indicadora do desempenho de cada país na criação, absorção, capacitação humana, e uso de tecnologias.
Ainda neste citado documento, o UNDP estabeleceu um “ranking”, classificando-os em quatro blocos de países:
• líderes (01 a 18), com Finlândia, USA, Suécia e Japão nos primeiros postos;
• líderes potenciais (19 a 37), com altos escores em capacitação humana e difusão de tecnologias antigas, bons escores em difusão de recentes inovações, mas ainda pouca criação de tecnologias, incluiam 4 países latino americanos, México, Argentina, Costa Rica e Chile;
• adotadores dinâmicos (38 a 63), com um uso razoável das tecnologias antigas, mas deficiências no capital humano e insuficiências na difusão de recentes inovações, onde se situam aí o Brasil, India, África do Sul;
• marginalizados (64 a 72), sendo seis africanos, e o Nepal, Paquistão e Nicarágua.
O UNDP alerta ainda que o TAI, ao medir apenas desempenhos tecnológicos, embora com esta dimensão bastante ampla de fenômenos, não indica quão bem
estes desempenhos tenham sido utilizados ou expressados em desenvolvimento humano. Não obstante isso, o TAI mostra alta correlação com o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH.
Desta forma, a inovação, que constitui elemento fundamental para a competitividade, será aqui utilizada na sua mais ampla e alargada concepção. Não só as inovações radicais como as incrementais, como todos os procedimentos de difusão, e portanto de incorporação, nas unidades produtivas, privadas e públicas, de tecnologias recentes ou antigas. Também não se restringem apenas aos aspectos tecnológicos da inovação, mas abrange também inovações na gestão das unidades produtivas e até mesmo as inovações em modelos de negócios.
Sendo a inovação um fenômeno sistêmico, o seu mapeamento deverá auxiliar a percepção, se não de todos, pelo menos das principais instituições, recursos mobilizados, fatores indutores e características formais e informais que estimulam e obstaculizam o surgimento de inovações. Estar-se-á buscando métodos de mapeamento de sistemas de C,T&I que ajudem a perceber, capturar, medir algo como o “grau de efetividade inovativa” do país, região ou localidade em análise, em um conceito ex-post, ou seja, não apenas conhecer os esforços para ampliar a capacidade de inovar, mas sobretudo os esforços que se transformam em inovações.
2.2 Sobre o conceito de sistema nacional de inovação
A partir sobretudo da década de 1980, com a progressiva percepção dos analistas de que o sistema produtivo mundial encontrava-se vivendo uma nova revolução industrial, não restrita porém comandada por uma revolução técnico- científica conduzida pela microeletrônica e suas aplicações centrais nas tecnologias de informações, comunicações e de entretenimento, é que são ampliados e intensificados os esforços de análise e compreensão dos fenômenos abrangentes que interferem na geração dos processos inovativos, visando a adoção de políticas públicas e também políticas empresariais privadas, objetivando ampliar a eficiência e a eficácia de tais processos.
O conceito de Sistema Nacional de Inovações (SNI) tem como seus principais sistematizadores os seguintes autores citados por XXXXXXX e XXXXX (2002):
Xxxxxxx (1987, 1995), Lundval (1992), Xxxxxx (1993), Xxxxxx & Xxxxxxxxx (1993), Xxxxxxx (1997), entre outros tantos que contribuíram com esta visão abrangente e integrativa dos processos inovativos.
Como os processos inovativos constituem o processo real concreto da apropriação do conhecimento, e portanto da passagem progressiva para o que vem sendo denominada de sociedade do conhecimento, organismos internacionais como a UNESCO, o UNDP, a OECD, entre tantos outros, além das próprias universidades, vem estruturando e sistematizando formas de fenômenos, capazes de progressivamente qualificar e quantificar indicadores.
No documento “Managing National Innovation Systems” (OECD, op.cit.), é apresentado o conceito traduzido abaixo :
“ Sistemas nacionais de inovação são definidos como o “... conjunto de distintas instituições que conjuntamente e individualmente contribuem para o desenvolvimento e a difusão de novas tecnologias e que provê o arcabouço com o qual governos estruturam e implementam políticas para influenciar o processo de inovação. Assim como ele é um sistema de instituições interconectadas para criar, armazenar e transferir o conhecimento, capacitações e artefatos que definem novas tecnologias (METCALFE, 1995)”.
“Desta perspectiva, a performance inovativa de uma economia depende não somente sobre como as instituições individuais (p.ex., empresas, institutos de pesquisa, universidades) desempenham-se em termos isolados, mas sobre “como elas interagem com cada outra como elementos de um sistema coletivo de criação e uso de conhecimentos, e como elas interconectam com instituições sociais tais como valores, normas, arcabouço legal (XXXXX, 1996)”.
Outros autores ainda, como XXXXXXX & XXXXX (op.cit.)], preferem explicitar, já desde a sua denominação, a maior abrangência e complexidade deste conceito utilizando o termo Sistema Nacional de Ciência e Inovação Tecnológica” – SNCIT,
“por o considerarem mais abrangente, incorporando ao conceito a atividade de P&D como parte inseparável de um processo concomitante de acumulação e geração de conhecimentos. Essa posição se baseia em duas vertentes de reflexão; por um lado, reduzir à inovação ao âmbito do que tradicionalmente se insere no campo “ciência e tecnologia”, é assumir o risco de não se reconhecer o
desenvolvimento científico enquanto tal como um objetivo socialmente válido; por outro isolar a atividade científica da atividade de inovação, além de conceitualmente incorreto, tende a produzir uma separação perigosa e indesejável entre pesquisadores, tecnólogos, produtores e todos os demais atores dentro de um processo de inovação. Ou seja, o conhecimento científico tem seu campo específicos, ao mesmo tempo em que é fator imprescindível aos processos de inovação.”
De forma análoga, no Livro Branco da C, T & I (Brasil/MCT, 2002) é utilizado o conceito de Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia & Inovação – SNCT&I, definindo-se explicitamente não apenas a abrangência dos temas tratados mas também os nexos que os ligam entre si e lhe dão sentido teleológico econômico.
Entretanto, o sistema nacional de inovações constitui um conceito aberto, pois não fornece um “perímetro” de inclusão de instituições sociais específicas. Na medida em que todos os fenômenos sociais que interferem na produção de inovações nas empresas nele estão incluídos, é como se examinássemos a sociedade como um todo, vista preferencialmente sob a ótica de seus processos de inovação. Esta característica, como se verá nos capítulos subseqüentes, provocará uma extrema dificuldade classificatória quanto aos seus elementos constituintes. E mais ainda, como é o caso dos objetivos deste trabalho, quando se pretende que os sistemas regionais e os sistemas locais de inovação existentes no Brasil possam ser comparados entre si, em se tratando de tamanha disparidade e heterogeneidade de instituições no interior do espaço territorial brasileiro.
E neste sentido LOPES & XXXXXXX (1999) ao tratarem dos sistemas locais no cenário da globalização, também apontam que o conceito de SNI “ ... no tiene el status de “teorias” claramente establecidas, com mecanismos causales bien definidos y suficiente testeo empírico. Tampoco hay “modelos ideales”, que nos indiquen una o más tipologías de sistemas exitosos a los cuales, en la práctica, deberían ajustarse, tendencialmente, las regiones/naciones en processo de desarollo. Más bien, se trata, por el momento, de un “marco conceptual”, el cual permite, de todos modos, “sugerir algunas ideas y argumentos en torno a los problemas que nos ocupan y señalar las “diferencias” más relevantes entre los casos empíricos, pero que es necesario “refinar”, a lo cual contribuyen, sin duda, los estudios empíricos que intentan fundarse en dicho marco. A su vez, pese a sus
carencias, este enfoque, al presente, tiene más éxito relativo en el plano “explicativo” que en el “normativo” o “prescriptivo”, ya que las recomendaciones de política que podemos derivar de este enfoque están aún muy difusas.”
Por outro lado, esta característica “aberta” do conceito, irá permitir que no seu interior possam coexistir, sem que se perca o nexo analítico de entender o que causa, fomenta e implementa inovações, toda uma gama de instrumentos analíticos, de diferentes origens teóricas e empíricas. Assim, instrumentos conceituais tais como “arranjos xxxxxx xx xxxxxxxx”, “xxxxxxxxx xxxxxxxxxxx baseados em interdependências comerciais e/ou tecnológicas e de outras economias externas”, “abordagens dos ambientes inovadores (milieux innovateurs)”, “parques tecnológicos”, e ainda vários outros, são passíveis de serem utilizados em acoplamento e no âmbito conceitual dos Sistemas Nacionais de Inovação.
É por esta razão conceitual – a extrema abrangência dos elementos constitutivos e a adaptabilidade às condições históricas diferenciadas da formação do Sistema em cada país - que, mesmo considerando como válidas e pertinentes as observações quanto à necessária adequação conceitual para as condições brasileiras, optou-se por manter a utilização da designação já difundida mundialmente para o conceito, com referência portanto ao Sistema Nacional de Inovações – SNI, e aos seus correspondentes espaços territoriais, Sistemas Regionais de Inovação – SRI e os Sistemas Locais de Inovação – SLI.
Para os Sistemas Regionais de Inovação – SRI, que constituem um subsistema intermediário inserido e integrado no SNI, foi mantida a definição já apontada no termo de referência do estudo, segundo o qual, os estados brasileiros seriam tomados, por definição, como unidades regionais. Logo, SRI e sistemas estaduais de inovação passam a ser unidades analíticas equivalentes para este trabalho de pesquisa.
Isto além de obviamente facilitar a obtenção e o manuseio das estatísticas, as quais são estruturadas no nível das unidades federativas, também reconhece a unidade política dos estados, onde reside também a fonte institucional, financeira e de ação de políticas públicas de múltiplas entidades inscritas nos SRIs. Mas certamente não há razão conceitual ou teórica para não utilizar diferentemente o uso do termo região, seja para macro regiões, como para regiões sub-estaduais, interestaduais ou outras ainda, que entretanto neste trabalho não serão utilizadas.
Para o terceiro nível analítico, o dos sistemas locais de inovação – SLI, não se julgou adequado ater-se às unidades políticas municipais. Isto sobretudo devido ao fato de que estas unidades, isoladamente e em sua grande maioria, possuírem pouca efetividade de atuação sobre os principais atores do sistema de C,T&I.
Entretanto, considera-se como válidos os pontos de vista de diversos analistas que vem enfatizando a crescente importância das variáveis ditas locais para o próprio entendimento e para a inserção das localidades no movimento de globalização verificado e em processo.
Assim optou-se pela definição de Sistema Local de Inovação – SLI, como um sistema constituído na área territorial de um ou mais municípios, cuja conformação das unidades produtivas, empresariais e as públicas, caracterizam-se por uma certa unidade de influências mútuas e múltiplas entre sí, voltadas para os processos de absorção e geração de atividades em ciências, e/ou tecnologias, e/ou inovações. Nesse sentido a designação do termo “locais” corresponde muito mais a “áreas/programa” ou até mesmo “áreas para programas” de caráter público e/ou privado visando através de processos inovativos, alcançar uma elevação da renda e padrão de vida das populações destes “locais”.
Embora neste estudo tenha sido utilizado para referenciar estes “locais” o nome do município de maior importância, p.ex. o SLI de Londrina, isto não significa estar incluída nestas designações, nenhuma noção de polarização, centralidade ou dominância, constituindo-se antes em “areas de intervenção” para políticas públicas e de interação empresariais mais densas. Assim, apenas para exemplificar em termos hipotéticos, um programa ou ação que estivesse voltado para o fortalecimento da capacidade de inovação em empresas moveleiras no SLI de Londrina, quase certamente estaria direcionado para fenômenos ocorrendo majoritáriamente no município de Arapongas, dado que ali se concentra, atualmente, a maioria das empresas deste ramo neste SLI.
A modo de exemplo, no Estado do Paraná, tendo como referência recente trabalho abordando a espacialização regional da indústria e citando as entidades presentes em cada região na forma de sua vinculação com os sistemas locais de inovação (IPARDES 2003), podem-se destacar os seguintes espaços como Sistemas Locais de Inovação,
a) Metropolitana Norte-Paranaguá
b) Metropolitana Sul-Curitiba
c) Ponta Grossa-Castro
d) Irati-União da Vitória
e) Jacarezinho-Santo Antônio da Platina
f) Xxxxxxxx Xxxxxxxx-Bandeirantes
g) Londrina-Cambé
h) Apucarana-Ivaiporã
i) Maringá-Sarandi
j) Paranavaí-Loanda
k) Umuarama-Cianorte
l) Campo-Mourão-Goioerê
m) Cascavel-Foz do Iguaçu
n) Toledo-Mal.Rondon
o) Xxxxxxxxx Xxxxxxx-Xxxx Xxxxxx
p) Guarapuava-Pitanga-Palmas
Obviamente, cada um desses Sistemas possui características próprias. Para serem “mapeados” qualitativamente, devem ser desagregados conforme a metodologia que se pretende neste trabalho. Igualmente, a listagem acima é oriunda da dinâmica que os mesmos apresentam nos tempos presentes e não significa, necessariamente, que outros não possam ser considerados, embora inexpressivos.
Outra tarefa analítica que resulta ser não muito simples, embora tenha aparentemente uma função descritiva, é explicitar os principais elementos constituintes dos sistemas de inovação em termos de seus atores, características específicas e diferenciais, bem como das inter-relações que entre os mesmos se estabelecem.
Como cada um destes elementos constituem pessoas jurídicas ao mesmo tempo que seres humanos físicos, mesmo duas entidades formalmente idênticas soem ter dinâmicas, atitudes, concepções e objetivos muito diferenciados. O mesmo é válido para inter-relações, tais como convênios, contratos, representações, acordos, hierarquias, etç. Daí a necessidade de utilizar todo um conjunto de métodos complementares entre si, visando ampliar o conhecimento e a capacidade de intervir no fenômeno complexo e sistêmico de inovações.
Inicialmente, a partir de um nível de agregação dos atores bastante elevado, efetuou-se uma primeira descrição dos elementos constituintes dos sistemas regionais de inovação:
i) Empresas privadas (EPR) que tenham atividades de P&D, assim como as empresas que não tem P&D “formal” mas que são naturalmente inovadoras, reunidas ou não sob a forma de clusters;
ii) Empresas públicas produtoras (EPU) de bens e serviços que, diretamente ou através das suas demandas estimulam processos de inovação, bem como promovem iniciativas de apoio ao desenvolvimento tecnológico (ex: ITAIPU, PETROBRAS, COPEL, etc);
iii) Unidades produtivas (ONM) de bens e serviços não orientadas para o mercado, tais como hospitais públicos, empresas coletoras de resíduos urbanos e outras que, direta ou indiretamente, apóiam iniciativas de desenvolvimento tecnológico;
iv) Instituições governamentais (IGO), outras que não as públicas acima referidas, voltadas para as atividades formuladoras, apoiadoras, financiadoras e/ou executoras de políticas públicas no tema (ex: MCT e suas agências, Secretarias de Estado de Ciência e Tecnologia e suas agências);
v) “Espaços de inovação” (EIN) entendidos como parques tecnológicos, incubadoras de empresas e outros, bem como entidades gestoras ou representativas de clusters e/ou arranjos produtivos locais;
vi) Organizações do Terceiro Setor (OTS), sejam sociedades civis, sejam fundações privadas envolvidas com o tema, podendo contar ou não com a participação do setor público (ex: ADETEC, FUNDETEC, ANPROTEC, ABIPTI, ANPEI, etc.);
vii) Instituições de ensino superior (IES), públicas ou privadas que possuem atividades de P&D incorporadas à sua estrutura e/ou que atuam na formação e capacitação de recursos humanos com foco no desenvolvimento tecnológico;
viii) Instituições de pesquisa científica (IPC) e/ou prestadoras de serviços tecnológicos, de capacitação profissional e de apoio à gestão, públicas ou privadas (ex: EMBRAPA, TECPAR, SEBRAE, SENAI, etc.);
ix) Associações profissionais (APR) ou entidades de classe, desde que também exerçam ações indutoras do desenvolvimento científico e tecnológico (ex: IEL, CREA);
x) Entidades ou organismos internacionais (EOI) de cooperação técnica e financeira, que realizam atividades de apoio ao desenvolvimento tecnológico e a processos de inovação e que atuam diretamente ou através de atores nacionais (ex: GTZ, PNUD, British Council, BID, etc.).
Nesta classificação acima apresentada, tal como acontece em todo esforço classificatório, poderão surgir atores que claramente exercem atividades ligadas a processos de inovação, mas persistem dúvidas e/ou inconveniências quanto à categoria em que devam se inscrever seja pelas características formais de sua constituição legal, seja porque atuam ou defendem múltiplos objetivos. Isto, entretanto não deve causar maiores dificuldades analíticas, se estiver claro o específico tipo de aporte aos processos de inovação com que este ator contribui.
Por outro lado, seria de todo desejável para os atores do tipo 1, 2 e 3, ou seja, as unidades produtivas de bens e serviços, onde ocorre a imensa maioria dos “testes econômicos” da transformação dos conhecimentos tecnológicos em inovações, adotar uma desagregação utilizando, seja os critérios de VIOTTI ou da OECD já citados, segundo os níveis de efetividade inovativa de cada empresa. Entretanto, como já vimos, as maiores dificuldades residem no fato de que as estatísticas existentes quase não permitem discernir a distribuição destes atores segundo tais critérios.
3 Metodologia de mapeamento
Para explicar o processo de diversificação e diferenciação institucional que vem ocorrendo nos SRI em vários estados, é importante entender em que consiste esse processo e quais são as dimensões sistêmicas e espaciais que o estão condicionando.
Alguns SRI têm estruturas diferentemente complexas em relação a outros, o que faz com que os seus resultados, em termos de processos de aprendizado tecnológico, sejam também diferentes. Essa complexidade diferente encontra a sua origem em processos de diversificação, ou diferenciação interna, os quais constituem uma das principais causas de diferenciação entre os SRI.
Aceitando então que XXX são diferentes uns de outros e que eles se diversificam de maneiras também diferentes, cabe se fazer duas perguntas:
• como se manifestam, em que consistem, essas diferenças?
• quais são os fatores que originam essas diferenças?
Levando em consideração as premissas conceituais expostas é importante destacar que as respostas a essas perguntas incorporam, necessariamente, as contribuições de trabalhos de diversas origens sobre os sistemas de ciência e tecnologia e sobre os sistemas de inovação, tanto focados sobre a sua composição estrutural, quanto sobre as relações entre os seus elementos.
3.1 Antecedentes
De acordo com estudos recentes realizados em países fortemente industrializados (OECD, op.cit.), “fontes de diversidade” dos Sistemas Nacionais de Inovação e, por extensão, neste trabalho, dos SRI, seriam o tamanho e grau de desenvolvimento do país (ou da região), os papéis respectivos dos atores do sistema e a interação entre esses atores (formas, qualidade e intensidade das relações entre eles). Ainda, sempre segundo a OECD, os SNI se diferenciam entre si através de três aspectos essenciais, que constituem seus “atributos distintivos”: os seus
padrões de especialização, a forma específica dos seus arranjos institucionais e as estruturas de interação entre os atores.
Nessa linha de raciocínio, atributos distintivos e fontes de diversidade seriam praticamente a mesma coisa, ou seja, as fontes de diversidade não seriam causas da diversidade e sim expressões dela, em outras palavras, aquilo que torna diferente um SRI de outro. Desta forma, o perfil específico de cada SRI, expresso através dos seus atributos distintivos ou aspectos essências, constituiria a resposta à primeira das perguntas formuladas: como se manifestam, em que consistem, as diferenças entre os diversos sistemas regionais de inovação.
A identificação dos elementos que constituem os SRI, cuja especial configuração os transforma nos seus atributos distintivos é, portanto, o primeiro passo para entender o perfil institucional específico de cada um desses sistemas. Para realizar essa identificação, a método aqui proposto sugere a utilização da técnica dos perfis visuais institucionais (item 3.2.3).
Entretanto, para captar não só a estrutura, características, atividades e recursos dos SRI, mas procurando entender as razões e a trajetória de seu movimento de diversificação e diferenciação institucional, é necessário explicar o por que da forma específica de combinação dos seus elementos constitutivos, ou seja, responder à segunda pergunta acima formulada: quais são os fatores que originam essas diferenças.
Ora, como já foi assinalado, os indicadores tradicionalmente usados nos estudos na área de CT&I não permitem um conhecimento mais aprofundado “sobre a natureza, o caráter, o funcionamento e a organização do sistema nacional de inovação em países cientificamente periféricos.” (VELHO,op.cit.). Avançar nesse entendimento nos níveis regional e local dos sistemas de inovação é particularmente importante vista a forte dimensão local desses processos.
Dois problemas metodológicos devem ser resolvidos para tanto:
• identificar quais são os fatores que afetam, direta ou indiretamente, os SRI, incidindo na sua diversificação e na sua diferenciação em relação a outros;
• identificar a importância que cada um desses fatores tem para cada SRI e a forma em que eles interagem, afetando o conjunto dos elementos constitutivos do sistema.
Diversos estudos fornecem pistas interessantes para responder a estas duas questões. Aqueles realizados pela OECD através do seu Grupo de Trabalho sobre Política de Tecnologia e Inovação (OECD, op. cit.), no contexto do projeto sobre Sistemas Nacionais de Inovação (SNI), onde duas linhas de trabalho foram desenvolvidas: uma de análise geral dos SNI e outra de análise de aspectos específicos, a cargo de grupos focalizados. No caso da análise geral, uma abordagem sistêmica contribui para dar resposta ao primeiro problema metodológico apontado, informando sobre as principais variáveis que afetam o desenvolvimento dos SNI. No caso da análise de aspectos específicos, o trabalho do grupo de Mapeamento Organizacional - utilizando técnicas qualitativas e quantitativas em estudos comparativos entre alguns SNI - mostra alguns caminhos de resposta para o estudo das relações entre esses fatores.
Da mesma forma, o referencial metodológico utilizado na análise da competitividade de cadeias produtivas (van DUREN et al., 1993; BATALHA et al., 1997), adaptado ao estudo comparativo de vantagens competitivas sistêmicas regionais (MACEDO, 2000), bem como os trabalhos voltados para a gestão estratégica da inovação, especificamente no tocante à utilização da análise estrutural na construção de cenários futuros aplicados a instituições de CT&I (DAGNINO, 2002), proporcionam interessantes ferramentas técnicas para o estudo da importância e das relações entre os fatores que afetam os sistemas regionais de inovação.
3.2 O método proposto
Em função dos antecedentes expostos e com base nas premissas conceituais adotadas neste trabalho, pode-se dizer que o método proposto consiste na utilização complementar de quatro instrumentos de abordagem dos sistemas regionais de inovação:
a) identificação e avaliação dos fatores indutores dos processos de inovação,
b) a análise das inter-relações entre os fatores indutores e os elementos constitutivos desses sistemas,
c) o desenho dos perfis institucionais que caracterizam cada sistema,
d) o conjunto de indicadores tradicionalmente usados para examinar o desempenho dos sistemas de inovação.
Visando a possibilitar análises comparativas, cujos resultados permitam subsidiar políticas públicas na área de CT&I, deve-se partir do princípio que o método a ser utilizado deve ter um caráter genérico e universal. Nesse sentido, foram considerados um conjunto de fatores indutores que pode ser aplicado a qualquer SRI ou SLI e, portanto, utilizado para compara-lo com outro. Da mesma forma, no tocante à análise das inter-relações entre os elementos constituintes e fatores indutores de cada sistema regional ou local de inovação, procurou-se identificar e utilizar técnicas que pudessem ser aplicadas em diferentes situações.
3.2.1 Identificação e Avaliação dos Fatores Indutores
As premissas conceituais adotadas neste trabalho permitem entender que os processos de inovação - que se manifestam no seio das unidades produtivas - são influenciados por duas ordens de fatores: aqueles que decorrem das inter-relações entre os elementos constituintes do sistema regional de inovação e aqueles fatores indutores que resultam de outras variáveis, que não fazem parte dos sistemas de inovação de maneira estrita, mas que agem de forma direta ou indireta sobre eles.
Nesse sentido, entende-se por fatores indutores da diversificação e diferenciação dos sistemas regionais de inovação, aqueles elementos ou variáveis econômicas, políticas e institucionais que, além das inter-relações entre os próprios elementos constituintes dos SRI, influenciam a forma e direção do desenvolvimento desses sistemas e afetam os processos de inovação nas unidades produtivas. Essa influência pode-se manifestar diretamente, através da ação de políticas públicas, ou indiretamente, através de ação de mecanismos de mercado sobre as unidades produtivas e sobre os demais elementos constituintes dos SRI.
Para os efeitos de mapeamento qualitativo de sistemas regionais de inovação objeto deste estudo e levando em consideração as referências apontadas, podem
ser assinalados, num primeiro momento, os seguintes fatores indutores que afetam os processos de inovação:
I) O contexto macro-econômico (CME): aqueles aspectos do comportamento dinâmico da economia nacional e das políticas governamentais gerais e setoriais que incidem direta ou indiretamente nas atividades de C,T&I. Assim, o próprio comportamento agregado da economia nacional em termos de taxas de crescimento e dos diferenciais de crescimento setoriais, podem produzir impactos diferenciados em cada localidade do país. Também as políticas governamentais gerais que afetam as variáveis parâmetros, tais como as políticas monetária, creditícia e cambial, bem como a política fiscal e política tributária. E ainda o conjunto de políticas setoriais tipo industrial, política de comércio exterior, agrícola, e outras.
II) O sistema produtivo local e regional (SPL): aquelas características específicas da organização e funcionamento da produção no espaço do SRI, tais como a amplitude da produção especialização/diversificação; a estrutura setorial e os padrões tecnológicos existentes e o volume e tipologia das exportações regionais;
III) Os marcos legais e regulatórios (MLR): o conjunto de normas e instrumentos de estímulo e apoio aos investimentos em T&I, tais como, incentivos à inovação tecnológica, mecanismos de apoio à criação de empresas inovadoras e mecanismos de proteção da propriedade intelectual;
IV) As infraestruturas de comunicações e transportes (CTR): estruturas físicas de suporte as comunicações entre os atores do SRI, no âmbito local, regional, nacional e internacional, tais como sistema regional de telecomunicações, capacidade e velocidade da rede regional de internet e densidade e qualidade da malha de conexões aéreas e terrestres;
V) A capacitação dos recursos humanos (CRH): seja em termos do nível médio de escolaridade geral, da oferta e/ou disponibilidade de educação e capacitações superiores específicas adequadas às principais demandas locais, bem como da oferta e/ou disponibilidade de educação e
capacitações profissionais e tecnológicas adequadas às principais demandas locais;
VI) As relações institucionais de trabalho (RIT): características da oferta e demanda no mercado de trabalho, tais como mobilidade inter empresas de força de trabalho qualificada, a disponibilidade/custo de oferta e demanda de pessoal de nível superior altamente qualificado para as atividades de Ciência, Tecnologia & Inovação, e finalmente a disponibilidade/custo de oferta e demanda de pessoal com nível e capacitações profissionais e tecnológicas qualificados para as atividades dos setores produtivos mais importantes do local;
VII) As práticas gerenciais para a inovação (PGI): estilos de gestão no setor público e privado, tais como estímulo a projetos cooperativos universidade
– empresa, estímulo à cultura da inovação e programas de difusão de tecnologia no médio empresarial;
VIII)As lideranças e iniciativas de animação (LIA): atividades de lideranças pessoais ou de grupos nas esferas política, econômica e cultural, que impulsionam alterações comportamentais e institucionais voltadas para os processos de inovação;
Uma vez identificados os fatores indutores da diversificação e diferenciação dos SRI e sempre tendo em conta o caráter sistêmico dos processos de inovação, cabe perguntar-se de que forma avaliar a importância desses fatores em relação aos elementos constituintes dos SRI e de que forma analisar a interação do conjunto, fatores indutores e elementos constituintes.
Três abordagens metodológicas - já mencionadas no item 3.1 Antecedentes - apresentam contribuições importantes nesse sentido: o método de análise gráfica de
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redes institucionais , utilizado pelo grupo de mapeamento organizacional da OCDE
no estudo de redes européias de colaboração em P&D; o método de avaliação de vantagens competitivas sistêmicas, adaptado para o estudo comparativo da competitividade de regiões metropolitanas, e o método de análise estrutural para a
8
The graph-theoretical technique of social network analysis, a partir de XXXXXXXXX, S.D. (1982) An Introduction to Structural Analysis,
Xxxxxxxxxxxx, Toronto e de XXXXX, x. (1991) Social Network Analysis, Sage, London. In: OCDE op. cit. p.97
gestão institucional, usado na construção de cenários para instituições de C,T&I. Em todos os casos, técnicas de construção de matrizes e de representação gráfica dos seus conteúdos são utilizadas para avaliar a importância de diversos componentes de um sistema e para estabelecer um modelo descritivo da interação entre eles.
Existe, entretanto, uma diferença importante no tocante ao tipo e fontes dos dados utilizados em cada um dos métodos mencionados. No primeiro caso, situado no contexto do projeto da OCDE sobre sistemas nacionais de inovação, a metodologia implementada pelo grupo focado na área de mapeamento organizacional usa três bases de dados com registros estatísticos sobre projetos cooperativos, constituídas a partir de 1997: CORDIS (projetos de colaboração pré competitiva em P&D do Programa Marco da UE), EUREKA (projetos de P&D vinculados ao mercado) e MERIT (projetos de transferência de tecnologia). Já no caso dos outros dois métodos citados, a análise dos impactos dos diversos fatores e das relações entre eles no tocante à diversificação e diferenciação dos sistemas de ciência, tecnologia e inovação, é feita não com base no registro de dados objetivos, mas a partir do julgamento estimativo de expertos na área.
Considerando a falta no Brasil de bases estruturadas de dados no tocante às relações entre os atores dos sistemas de inovação, a proposta metodológica a seguir apresentada está baseada nas abordagens que trabalham com dados
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construídos a partir do julgamento de expertos .
De acordo com os princípios gerais da metodologia de avaliação das vantagens competitivas sistêmicas, para estabelecer a relevância de cada um dos fatores indutores, o primeiro passo seria atribuir pesos relativos a cada um deles, considerando o seu grau de influência sobre o processo de diversificação e diferenciação do SRI. Para estabelecer esses pesos relativos, os fatores indutores apontados podem ser desagregados em fatores específicos, de acordo com a descrição da sua composição como assinalado no exemplo da Tabela 1.
Uma vez atribuídos os pesos relativos aos fatores indutores específicos, pode-se avaliar a intensidade do seu impacto sobre o SRI mediante a atribuição de
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Entretanto, a partir do teste desta proposta em estudos de caso, a começar por aquele objeto do Relatório 2, para o Estado do Paraná, pode-
se pensar numa ampliação da abordagem aqui desenvolvida, compatibilizando-a com aquelas de pesquisas efetuadas a partir de bases de dados existentes, tais como a s da AMPEI e Pintec/IBGE.
notas por parte dos avaliadores, utilizando uma escala de tipo “likert”, variando de “muito importante” (+2) a “não importante” (-2), com valores intermediários de “medianamente importante” (+1), “neutro” (0) e “pouco importante” (-1). Outra hipótese a ser considerada quando do ensaio de aplicação previsto para o Relatório II desta pesquisa, é a adoção de uma escala decimal pelos avaliadores para a atribuição das notas. Cada nota atribuída a um fator indutor específico deverá ser ponderada pelo peso relativo de importância previamente atribuído a esse fator. A somatória das notas atribuídas a cada um dos fatores indutores específicos, devidamente ponderadas pelo peso relativo do fator, resultará em notas relativas para cada fator indutor geral, como no exemplo apresentado na Tabela 2.
Os resultados podem ser e representados graficamente na forma de “glyphos”, cuja superposição permite comparação entre diversos SRI no tocante ao papel dos diversos fatores indutores na estruturação do seu perfil institucional específico, como no exemplo apresentado na Figura 5.
TABELA 1 - FATORES INDUTORES E RELEVÂNCIA
FATORES | PESOS |
CME | 100 |
Comportamento agregado da economia | 40 |
Política monetária, creditícia e cambial | 20 |
Política fiscal e tributária | 20 |
Política industrial, de comércio exterior, agrícola | 20 |
SPL | 100 |
Especialização/diversificação | 25 |
Estrutura setorial | 25 |
Padrões tecnológicos | 25 |
Volume e tipologia das exportações | 25 |
MLR | 100 |
Incentivos à inovação | 40 |
Apoio à criação de empresas | 30 |
Proteção da propriedade intelectual | 00 |
XXX | 000 |
Sistema de telecomunicações | 30 |
Rede regional de internet | 40 |
Malha de conexões aéreas e terrestres | 30 |
CRH | 100 |
Nível médio de escolaridade geral | 30 |
Oferta de educação e capacitações superiores específicas adequadas às | 30 |
principais demandas locais
Oferta de educação e capacitações 40
profissionais e tecnológicas adequadas às principais demandas locais
RIT 100
Deslocamentos inter-firmas de força de 20
trabalho qualificados
Aa disponibilidade/custo de oferta e 40
demanda de pessoal de nível superior altamente qualificado para as atividades de Ciência, Tecnologia & Inovação
Aa disponibilidade/custo de oferta e 40
demanda de pessoal com nível e capacitações profissionais e tecnológicas qualificados para as atividades dos setores produtivos mais importantes do local.
PGI | 100 |
Estímulo projetos cooperativos | 30 |
Estímulo à cultura da inovação | 30 |
Difusão de tecnologia | 40 |
LIA | 100 |
Lideranças pessoais | 50 |
Lideranças de grupos | 50 |
TABELA 2: RELEVÂNCIA DOS FATORES INDUTORES PARA UM SRI ESPECÍFICO - EXEMPLO HIPOTÉTICO
FATORES | PESOS | NOT. | VALORE S |
CME | 100 | 100 | |
Comportamento agregado da | 40 | 1 | 40 |
economia Política monetária, creditícia e | 20 | 2 | 40 |
cambial Política fiscal e tributária | 20 | 2 | 40 |
Política industrial, de comércio exterior, agrícola | 20 | -1 | -20 |
SPL | 100 | 0 | 75 |
Especialização/diversificação | 25 | 0 | 0 |
Estrutura setorial | 25 | 2 | 0 |
Padrões tecnológicos | 25 | 1 | 50 |
Volume e tipologia das exportações | 25 | 25 | |
MLR | 100 | 20 | |
Incentivos à inovação | 40 | -1 | -40 |
Apoio à criação de empresas | 30 | 1 | 30 |
Proteção da propriedade intelectual | 30 | 1 | 30 |
CTR | 100 | 40 | |
Sistema de telecomunicações | 30 | 1 | 30 |
Rede regional de internet | 40 | 1 | 40 |
Malha de conexões aéreas e terrestres | 30 | -1 | -30 |
CRH | 100 | 20 | |
Nível médio de escolaridade geral | 30 | 1 | 30 |
Oferta de educação e | 30 | 1 | 30 |
capacitações superiores específicas adequadas às principais demandas locais
Oferta capacitações tecnológicas | de | educação profissionais adequadas | e e às | 40 | -1 | -40 |
principais demandas locais | ||||||
RIT | 100 | 80 | ||||
Deslocamentos inter-firmas de força de trabalho qualificados Disponibilidade/custo de oferta e | 20 40 | 0 1 | 40 | |||
demanda de pessoal de nível superior altamente qualificado para as atividades de Ciência, Tecnologia & Inovação Disponibilidade/custo de oferta e | 40 | 1 | 40 | |||
demanda de pessoal com nível e capacitações profissionais e tecnológicas qualificados para as atividades dos setores produtivos mais importantes do local. | ||||||
PGI | 100 | 40 | ||||
Estímulo projetos cooperativos | 30 | -1 | -30 | |||
Estímulo à cultura da inovação | 30 | 1 | 30 | |||
Difusão de tecnologia | 40 | 1 | 40 | |||
LIA | 100 | 150 | ||||
lideranças pessoais | 50 | 2 | 100 | |||
lideranças de grupos | 50 | 1 | 50 |
Figura 5 - relevância dos fatores indutores para um sri específico - exemplo hipotético – representação gráfica
3.2.2 Análise das Inter-relações Existentes
Uma forma de avaliar como a interação entre os diversos fatores indutores e elementos constituintes dos SRI afeta à configuração dos próprios sistemas, pode ser encontrada no contexto do instrumento de análise estrutural para a gestão institucional, especificamente mediante o uso da técnica de matrizes de análise estrutural ou de impactos cruzados.
Neste caso, os fatores indutores e os elementos constituintes do SRI podem ser distribuídos numa matriz, em dois grupos seqüenciais, na mesma ordem em linhas e colunas. Os expertos avaliam e qualificam cada interação entre fatores indutores e elementos constituintes, numa leitura de esquerda para a direita e de baixo para cima, com julgamentos sobre a sua magnitude ou importância (3: alta, 2: média, 1: baixa, 0: nula) e sobre a sua direção (+ positiva, quando a interação favorece o fortalecimento de um fator indutor ou elementos constituinte e – negativa, quando a interação enfraquece esse fortalecimento). Outro caminho metodológico a ser considerado é a utilização de uma escala decimal de mais fácil explicação e entendimento, pois a escala decimal unifica, em um único vetor numérico, as dimensões “importância” e “direção”. Somente após uma aplicação prática efetiva (a ser efetivada no Relatório II), é que se terá condições de avaliar qual o critério metodológico mais adequado. Os resultados da qualificação ficarão assim distribuídos em quadro quadrantes: ação dos fatores indutores sobre si próprios; ação dos fatores indutores sobre os elementos constituintes; ação dos elementos constituintes sobre os fatores indutores e ação dos elementos constituintes sobre si próprios. A análise da matriz permite identificar as inter relações mais importantes entre os fatores e servir de base para a seleção de fatores críticos, conforme assinalado na Figura 6.
A somatória dos valores das linhas nos informa sobre a intensidade com que fatores indutores e elementos constituintes atuam sobre os demais (motricidade), enquanto a somatória dos valores das colunas nos informa sobre a intensidade com fatores indutores e elementos constituintes são afetados pelos demais (dependência). Os fatores e elementos motrizes são os que mais condicionam a
evolução do SRI, enquanto os fatores e elementos dependentes são os mais sensíveis às mudanças no sistema.
Figura 6 – matriz de inter-relações de um sri
Fonte: Dagnino (2001), Xxxxxx Xxxxx de (2001)
A distribuição dos resultados da avaliação das interações entre fatores indutores e elementos constituintes num plano estruturado por coordenadas cartesianas de motricidade e dependência permite, ainda, diferenciar quatro quadrantes, conforme apresentado na Figura 7: fatores e elementos autônomos (pouco dependentes, pouco motrizes), não determinantes na dinâmica do sistema; fatores e elementos resultantes (pouco motrizes, muito dependentes), cujo comportamento se explica pela influência de outros fatores; fatores e elementos integrativos (muito motrizes, muito dependentes), que afetam e são afetados por todos os outros fatores; e fatores e elementos explicativos (muito motrizes, pouco dependentes), que condicionam a dinâmica do sistema.
Figura 7 – plano de motricidade e dependência de um sri
Fonte: Dagnino (2001), Xxxxxx (2001)
O plano de motricidade e dependência informa também sobre a estabilidade de um sistema. A distribuição preferencial de pontos ao longo da diagonal dos quadrantes de fatores integrativos e autônomos, indica a existência de numerosos fatores ao mesmo tempo motrizes e dependentes (muito ou pouco); qualquer ação sobre um deles repercute sobre o conjunto dos outros, apontando para um comportamento instável. Pelo contrário, uma distribuição em forma de boomerang nos quadrantes de fatores explicativos e resultantes, (mesmo com uma concentração no quadrante de fatores autônomos), mostra um sistema relativamente estável, na medida em que há uma clara separação entre fatores motrizes e dependentes, conforme apresentado na Figura 8.
Figura 8 – estabilidade de um sri específico
Fonte: Dagnino (2001), Xxxxxx (2001)
3.2.2 Perfis institucionais
Trata-se de um auxílio visual/gráfico que permite identificar os elementos constituintes de um SNI/SRI através de sua distribuição por grandes grupos de atores e também por seu papel individual. Além disso, ao serem estabelecidas suas inter-relações em um desenho de fácil assimilação, amplia-se a compreensão de do diagnóstico comportamental desse Sistema que é dado pela análise da influência dos fatores indutores, conforme evidenciado anteriormente neste trabalho.
Como os arranjos institucionais são relativamente complexos e variam de sistema para sistema, nas dimensões país e estado notadamente, não existe um modelo de aplicação geral mas adaptações diversas daqueles mais conhecidos, e aqui podem ser referenciados como exemplo os diagramas de alguns países - membros da OECD como França e Noruega ( OECD, 1999, op.cit.). Nestes casos, além da identificação dos elementos constituintes do SNI/SRI e suas inter-relações, são incorporadas informações de dispêndios (França) e as principais funções de cada elemento ou grupos de elementos (Noruega). No primeiro, fica evidente a
necessidade de se distinguir o que é público e o que é privado na implementação e fontes de financiamento de tal SNI. Já no segundo, a atribuição de funções nas diferentes “camadas” da matriz institucional permite compreender os diferentes papéis desempenhados pelos atores, identificando-as nos seguintes níveis: a) formulação, coordenação, supervisão e acompanhamento de políticas; b) execução de pesquisa & desenvolvimento (básica, pré-competitiva e aplicada); c) financiamento de P&D; d) promoção do desenvolvimento e mobilidade de recursos humanos; e) difusão de tecnologia; f) promoção de empreendedorismo tecnológico.
No caso brasileiro, a natural complexidade do SNI, dada principalmente pela instabilidade de políticas e estruturas e pelos contornos não muito bem definidos do sistema e seus elementos, induz a uma certa simplificação dessa representação, já demonstrada na literatura disponível, seja na dimensão país (Livro Branco da CTI, MCT,2001, op.cit; Xxxxxxx e Xxxxx, 2002 , op.cit.; entre outros), seja na dimensão estado (Indicadores de CTI em São Paulo, Fapesp, 2002).
Para os efeitos deste trabalho, buscou-se a visualização de um Sistema Regional através da adaptação dos exemplos acima descritos e com vistas, conforme dito anteriormente, a auxiliar o entendimento do diagnóstico resultante da aplicação da metodologia nele discutida.
Dessa forma, a Figura 9 anexa expressa um determinado SRI, exemplificado pelo do Estado do Paraná, onde os elementos constituintes foram distribuídos nos seguintes grupos:
a) Governo estadual e suas estruturas;
b) Organizações de ensino, pesquisa e prestação de serviços tecnológicos;
c) Industria e seus componentes;
d) Terceiro Setor e suas entidades;
e) Governos municipais e suas estruturas.
A cada um desses grupos se atribuiu as funções que tal situação enseja, da seguinte maneira: F1 - formuladores de políticas de CTI; F2 – financiadores; F3 – geradores e supridores de RH, informação científica e serviços tecnológicos; F4 – executores, receptores e performantes de inovação; F5 – instituições-“ponte” e animadores de CTI. Obviamente, tais funções estão genericamente descritas e
podem ser re-distribuídas ou superpostas nos níveis hierárquicos inferiores. Deu-se também na figura uma pequena amostra das interelações existentes nesse específico SRI.
Figura 9 – perfil institucional do sri - pr
3.2.4 Indicadores tradicionais de desempenho
O uso de indicadores, aqui denominados “tradicionais” para efeitos práticos, já foi abordado em capítulo inicial deste trabalho. Entretanto, convém reafirmar que a metodologia ora em discussão não prescinde dos mesmos, ao contrário, considera- os instrumentos de suporte às suas conclusões. Além disso, outros indicadores podem ser desenvolvidos no contexto de novos enfoques dos sistemas de inovação. Se a influência dos fatores indutores sobre os elementos constituintes de um
XXX explica sua diferenciação e diversificação, sua trajetória e comportamento, os
indicadores usuais, sejam de insumo (dispêndios nos e pelos atores), de resultados (produção científica, número de patentes, balanço tecnológico) ou de impacto (reflexos sócio-econômicos e ambientais), tendem a fornecer informações mais ou menos estáticas mas que podem ajudar a explicar determinados comportamentos de um sistema quanto ao se poderia denominar de “inovatividade potencial” em contraposição a “inovatividade real”. Exemplificando, pode-se tomar a presença em um determinado SRI de um indicador clássico como o número de grupos de pesquisa (na acepção padronizada pelo CNPq), que seria potencialmente um indutor de inovação, e compara-lo com seus equivalentes em outro espaço, cujo número é menor mas que se traduz em “inovatividade real” porque teve a influência dinâmica de algum fator indutor.
4 Conclusões
O objetivo geral deste trabalho é o de desenhar uma metodologia de mapeamento dos sistemas regionais de inovação (SRI), como instrumento que possibilite a geração de subsídios para a definição de políticas de C,T&I nos âmbitos nacional e estadual.
Neste Relatório I foram explicitados os desenvolvimentos metodológicos, e as suas bases conceituais de apoio, visando gerar ferramentas de análise que permitam explicar o movimento de diversificação e diferenciação dos SRI.
Três diferentes ferramentas analíticas foram estruturadas, ainda numa fase exploratória. Uma, a dos fatores indutores com sua quantificação de qualidades por experts no tema, parece não ter tido nenhuma aplicação anterior voltada para os objetivos desta pesquisa.
Outra, a da matriz de análise estrutural ou de impactos cruzados, tinha já uma aplicação prévia brasileira voltada ao tema, embora naquela ocasião estivesse circunscrita apenas aos aparatos de C&T sem incluir a visão sistêmica do SNI agora adotada, e também objetivava servir à construção de cenários para instituições de C&T.
A terceira ferramenta, a dos perfis institucionais, já vem sendo objeto de uso em diversos estudos, muito embora, tal como a aplicação neste trabalho, sua capacidade descritiva dependa do objeto analisado e da sua complementariedade com as outras ferramentas de análise.
Espera-se que o uso conjunto destas ferramentas, quatro incluindo-se os indicadores de desempenho em C,T &I já existentes, possam vir a melhor visualizar, entender e posteriormente intervir nos processos de inovação entendidos com o sentido lato aqui adotado.
Reiteramos aqui a noção anteriormente já citada, de que esta metodologia de mapeamento apresentada em caráter exploratório, deverá sofrer os acréscimos e melhorias decorrentes do ensaio de aplicação ao caso particular do Estado do Paraná, que corresponde à etapa subseqüente que agora se inicia.
Acaso este ensaio de aplicação venha a demonstrar alguma virtude analítica na compreensão e mapeamento dos sistemas regionais e locais de inovação, então, poder-se-á partir para experiências de terreno, aí sim mobilizando-se as equipes de
experts que a própria metodologia sugere, tanto nas atribuições de importâncias quantitativas para fenômenos qualitativos, típicos dos procedimentos delphi, como na aplicação das escalas “likert”.
Outro caminho que pode-se sugerir, também para o caso de que esta metodologia venha a apresentar, após o ensaio aplicativo da segunda etapa, algumas das virtudes analíticas que dela se espera que, antes de alguma aplicação concreta, fosse realizada uma rodada de experts em metodologias de pesquisa e em sistemas de inovação para um prévio aperfeiçoamento desta metodologia, para só então iniciar-se sua primeira aplicação concreta e integral.
Ainda que nesta conclusão seja muito prematura qualquer avaliação sobre os resultados a que se chegou nesta etapa do trabalho, pois nem mesmo é possível afirmar que o método seja aplicável e nem que forneça os aportes de compreensão da realidade que hoje imaginamos ser possível vir a obter, a hipótese de economicidade que suas premissas de análise apontam, estão a indicar que se mantém pertinentes e com acerto os “riscos da decisão do CGEE em apoiar esta pesquisa”, e logo, a continuação até o seu término.
Com isto quer se afirmar que, num país com atrasos relativos quanto à efetivação de inovações, as quais são crescentemente o motor da competitividade produtiva e daí, da própria expansão econômica, os custos e os tempos de estruturação de indicadores clássicos de desempenho das atividades de C,T&I – os quais reconhecemos serem entretanto necessários – bem como o tempo de obtenção de seus resultados para servir de orientação à tomada de decisões políticas na área, são muito longos. Quaisquer tentativas metodológicas como esta aqui apresentada, que eventualmente possam vir a abreviar a obtenção de conhecimentos para melhor alocar recursos e indicar políticas mais responsivas no campo da inovação, merecem ser desenvolvidas.
MAPEAMENTO DE SISTEMAS REGIONAIS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
RELATÓRIO FINAL PARTE II
Parte referente aos ensaios de aplicação, elaborada de maio a agosto 2003.
MAPEAMENTO DE SISTEMAS REGIONAIS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
RELATÓRIO FINAL
Parte II
O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos – CGEE e o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade – IBQP estabeleceram contrato para a realização da pesquisa “Mapeamento de Sistemas Regionais de Ciência, Tecnologia e Inovação”. O presente documento constitui a Parte II do Relatório Final, o qual incorpora alguns ensaios de aplicação dessa metodologia em sistema locais de inovação situados no Estado do Paraná. Esta pesquisa foi realizada com a participação de profissionais do IBQP-PR e do Instituto PROINTER.
Curitiba Agosto 2003
Mapeamento de sistemas regionais de ciência, tecnologia e inovação
Relatório II
1. Sobre a metodologia desenvolvida
Na Parte I deste Relatório Final foi apresentada uma metodologia desenvolvida para o mapeamento de sistemas regionais de ciência, tecnologia e inovação. Nesta Parte II deste Relatório Final estão contidos os resultados da utilização da metodologia de mapeamento desenvolvida, através de alguns ensaios de aplicação em algumas localidades do Estado do Paraná, bem como algumas observações a partir dos resultados.
Logo abaixo neste item, para facilitar a compreensão dos leitores, apresenta- se um breve resumo da metodologia desenvolvida, bem como explicitada a diferença entre estes ensaios iniciais de aplicação e as futuras aplicações completas desta metodologia de mapeamento de SLI, que se espera venham a ser realizadas no futuro.
1.1 Breve resumo da metodologia desenvolvida
Ao longo da aplicação dos ensaios, surgiram algumas poucas alterações à proposta metodológica apresentada no Relatório I. Para os leitores que tiveram acesso à metodologia inicialmente proposta, as modificações sugeridas estão apresentadas no Apêndice 3.
Além disso, avaliações de metodologias e de seus resultados exigem cuidados específicos quanto às condições e à formatação operacional dos trabalhos de mapeamento dos SLI. Por isso, estão descritos, no Apêndice 1 as observações e procedimentos a serem adotados nas futuras aplicações.
E como esta metodologia de mapeamento pretende se somar ao conhecimento previamente existente sobre os SLI, no Apêndice 2 estão explicitadas algumas das conexões conceituais aproximativas entre as categorias de “fatores” utilizados neste trabalho com as categorias de “indicadores” tradicionalmente utilizadas para mapeamentos de atividades de C,T&I.
Também visando facilitar a percepção desta metodologia de mapeamento dos SLI, apresenta-se abaixo um resumo de seus pontos essenciais para servir de ‘ajuda memória’ ao acompanhamento dos leitores.
Mapear os SLI significa ampliar a compreensão sobre como as localidades estão realizando os esforços para aprender e desenvolver as mudanças nos seus sistemas produtivos. O atraso em perspectiva histórica das nossas comunidades face às formas modernas da competição em um mundo globalizado, torna urgente focalizar os esforços locais em torno das atividades de C,T&I.
Para os efeitos deste trabalho, integram cada SLI um conjunto de fatores, um conjunto de atores e o conjunto das interrelações que esses atores e fatores estabelecem entre si. Cada um destes conjuntos varia ao longo do tempo e são genericamente designados como variáveis neste trabalho.
Os atores são aquelas instituições ou entidades de uma determinada localidade, públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos, cuja ação contribui, de forma direta, para o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação na produção, nos serviços ou na gestão.
Os fatores são constituídos por determinados ‘recortes’ da realidade econômica e social, sob a ótica de seus ‘aportes’ aos sistemas de inovação, sejam nacionais, regionais, e locais. Como já foi explicitado no Relatório I, o território de um SLI pode constituir-se de um único município, pode ser um agrupamento destes últimos ou ainda qualquer outra área territorial definida por critério específico.
Os fatores são determinadas características do sistema produtivo e da sociedade, cujo modo de ‘existência’ e de variação age, no sentido de produzir repercussões, sobre todas as demais variáveis do SLI. Neste sentido, tal como os atores, são agentes dos SLI.
Cada um dos oito fatores e dos dez atores que serão adiante descritos, i.é., os dezoito agentes selecionados para integrar o campo analítico dos SLI, tem como componentes, inúmeras outras entidades.
Assim, quando se indaga, p.ex., de que maneira e intensidade o fator SPL - Sistema Produtivo Local ‘age’ sobre as IES - Instituições de Ensino Superior e Profissionalizante, e pretende-se que uma equipe de especialistas atribua uma determinada pontuação em uma escala de possibilidades, se está sintetizando o fato de que um determinado formato do sistema produtivo local (tipos de atividades, de empresas e de produtos mais importantes, mercados a que atende, etc.), de alguma forma mais ou menos intensa, vem atuando (provocando, influenciando ou definindo a existência, os modos de operar, os objetivos, etc.) sobre as diversas instituições de ensino existentes no local, para que as mesmas cheguem a ter a conformação que apresentam atualmente.
Dessa forma, o trabalho de mapeamento proposto inicia-se pela descrição dos componentes de cada um dos atores que integram o SLI. Esta tarefa é realizável por um ou mais profissionais que dominem os objetivos deste método. Essas pessoas devem estar capacitadas, na seqüência, a conduzir uma sessão conjunta com os especialistas selecionados para atribuir pontuações às inter-relações entre os agentes inicialmente descritos como fazendo parte do SLI (atores e fatores indutores).
Nesta sessão com os especialistas selecionados pretende-se obter basicamente três tipos de conhecimentos: uma complementação e aperfeiçoamento da descrição dos componentes dos atores do SLI inicialmente apresentado; uma quantificação individual e posteriormente consensual entre os especialistas participantes quanto à intensidade com que cada fator vem atuando, em termos de favorecer ou desfavorecer a conformação atual do SLI, dando origem assim à tabela e gráfico dos fatores indutores, e uma quantificação individual e posteriormente consensual entre os especialistas participantes quanto à intensidade das interrelações estabelecidas entre os agentes (atores e fatores indutores), permitindo obter a matriz e o gráfico de impactos cruzados entre os agentes do sistema.
O mapeamento do SLI será posteriormente sistematizado pela equipe de aplicação e deverá incluir algumas das apreciações individuais e de conjunto emitidas pelos especialistas participantes, bem como as suas sugestões visando orientar os esforços da comunidade local no desenvolvimento do seu SLI.
O mapeamento do SLI deverá servir de base para que a comunidade local, e suas lideranças públicas e privadas, possam adotar políticas visando maximizar
seus interesses individuais, de grupo e sociais, através das atividades de C,T&I favoráveis ao desenvolvimento da economia local.
1.2 O ensaio e as futuras aplicações completas
A forma de aplicação preconizada sugere que, os resultados do mapeamento apropriem-se dos saberes de consultores especialistas (“experts”), com grande conhecimento vivencial da realidade em análise.
Em suma, o mapeamento deve expressar uma média consensual de um conjunto de pessoas com grande conhecimento fático da realidade local, tal como ela vem se conformando recentemente, e que, ademais, sejam ao menos conscientes do significado dinâmico das atividades de C,T&I para as atividades produtivas.
No caso destes ensaios adiante descritos, os próprios pesquisadores do desenvolvimento desta metodologia de mapeamento assumiram também as diferentes funções necessárias, tanto de equipe de aplicação do método (identificaram os agentes de cada SLI e prepararam os instrumentos de coleta de dados), bem como “transformaram-se” em equipe de especialistas locais (para efeitos de avaliação e pontuação), e em seguida elaboraram uma análise preliminar dos resultados do levantamento de dados nos três SLI. Finalmente retornaram à análise da questão metodológica, a partir da aplicação destes ensaios.
É neste sentido que os resultados apresentados em cada um dos três SLI analisados, refletem antes “ensaios de aplicação” do que “exemplos concretos de aplicações completas”, tal como previstas na própria concepção da metodologia. Cabe antecipar, entretanto, que, certamente, as aplicações futuras, completas do ponto de vista metodológico, tenderão a apresentar resultados analíticos muito mais ricos e variados no que concerne ao conhecimento da realidade dos sistemas locais de inovação do que cada um dos ensaios descritos neste documento, os quais serviram, fundamentalmente, para testar a metodologia de mapeamento.
2 Ensaios de aplicação
Os SLI escolhidos para estes ensaios de levantamento foram Londrina, Curitiba e Pato Branco. Embora, como já foi anteriormente explicitado, o local a ser analisado pode ser definido simplesmente como um determinado território previamente escolhido, assim como pode constituir-se em um município singular, ou eventualmente de dois ou vários municípios.
Nos casos de Londrina e Curitiba, a escolha recaiu em locais centrais em termos de sistemas de inovação, pois ali, historicamente, vêm se concentrando sistemas produtivos de elevado dinamismo, embora com fortes diferenciações entre si, e no caso de Pato Branco, a escolha buscou mapear o caso singular de um esforço de alteração dos padrões tecnológicos em sistema produtivo local.
2.1 Sistema local de inovação (sli) – Londrina
Londrina vem já há cerca de três décadas efetuando uma progressiva substituição da base cafeeira original de sua economia, inicialmente lançando-se em atividades agropecuárias alternativas ao café, em seguida efetuando um esforço de industrialização e afirmando-se como centro comercial e de serviços especializados em escala regional, e a pouco mais de uma década lançando um movimento político, social e econômico visando transformá-la em município importante de uma área-eixo entre Apucarana e Cornélio Procópio com características de tecnópolis. Na
10
aplicação deste ensaio esta área constituiu-se no objeto de análise .
2.1.1 Atores
Conforme pode ser verificado na planilha de Atores do SLI – Londrina
11
(apresentada no Quadro 3) , numericamente, a maior parte dos atores identificados
10 A área-eixo analisada está assim configurada pelos municípios : Apucarana, Arapongas, Rolândia, Cambé, Londrina, Ibiporã, Jataizinho, Uraí e Xxxxxxxx Xxxxxxxx, embora os efeitos de alguns dos fenômenos analisados venham a abranger diversos outros municípios contíguos a esta área.
11 Os autores agradecem a gentileza e cooperação da Associação de Desenvolvimento Tecnológico de Londrina – ADETEC e do Instituto de Tecnologia do Paraná – TECPAR, pelo fornecimento de informações para a elaboração dessa planilha.
no SLI – Londrina são do tipo OTS, IES e IPC. Embora tenha sido também identificado um número significativo de empresas privadas (EPR) e de associações profissionais (APR), as análises qualitativas não confirmam essa importância numérica. Destaque, entretanto, deve ser dado para a existência de mais de 200 Grupos de Pesquisa cadastrados no CNPq e que neste trabalho foram agrupados dentro do tipo EIN.
Chama a atenção também a identificação de uma única empresa pública com atividades consideradas inovadoras bem como o fato que as organizações não voltadas para o mercado estarem concentradas na área da saúde, o que é condizente com a condição de Londrina como um pólo prestador de serviços de nessa área.
2.1.2 Fatores Indutores
A Tabela 3 (na pagina 69) e Gráfico 1 correspondente (na página 70), com os resultados da avaliação conforme os procedimentos do método dos fatores indutores, mostram que, do ponto de vista da sua contribuição e importância para a configuração atual do Sistema Local de Inovação de Londrina, os fatores indutores considerados podem ser classificados em duas grandes categorias:
• altamente favoráveis, com pontuação acima de 100, no caso, Comunicações e Transporte (CTR) e Lideranças e Iniciativas de Animação (LIA);
• medianamente favoráveis, com pontuação entre 100 e 0, onde as características do Sistema Produtivo Local (SPL) têm um destaque especial, com 100 pontos, seguidas do resto dos fatores indutores com pontuação variando entre 70 e 40.
De acordo com os fundamentos metodológicos adotados, os resultados acima indicam que o SLI de Londrina teve, em geral, uma influencia favorável por parte do conjunto dos fatores indutores. Em outras palavras, as condições que esses fatores representam têm sido positivas para o desenvolvimento do SLI de Londrina, não havendo, portanto, nenhum fator que tenha jogado um papel contraproducente. Essa
conjunção de fatores positivos estaria assim na base da rápida evolução de Londrina, nos últimos 10 anos, no desenvolvimento de um sistema local de inovação.
Uma análise dos resultados para cada fator indutor mostra que, em particular, os três componentes considerados na infraestrutura de Comunicações e Transportes (o sistema de telecomunicações, a rede regional de internet e a malha de conexões aéreas e terrestres) têm jogado um papel igualmente relevante.
Já no caso das Lideranças e Iniciativas de Animação, a ação das lideranças de grupo, composta pelas iniciativas de indivíduos representando instituições diversas, foi avaliada como sendo mais significativa que a das lideranças pessoais, entendidas como ações de líderes individuais, na esfera política ou de classe.
Por outro lado, no que diz respeito aos demais fatores indutores, considerados como medianamente favoráveis, cabe assinalar que, no tocante à Capacitação de Recursos Humanos, a oferta de capacitação profissional e tecnológica tem tido um papel pouco significativo (neutro) na evolução do SLI de Londrina, da mesma forma que o estímulo a projetos cooperativos, no caso das Práticas Gerenciais Inovadoras.
Por último, em relação aos fatores que obtiveram menor pontuação, vale a pena mencionar que, para os Xxxxxx Xxxxxx e Regulatórios, as iniciativas de proteção à propriedade intelectual foram avaliadas como sendo relativamente desfavoráveis, no sentido da não existência de mecanismos específicos ou da sua nenhuma força em relação do desenvolvimento do SLI. No referente às Relações Institucionais de Trabalho, o único subfator considerado como medianamente favorável foi o relativo ao pessoal de nível superior, sendo que no tocante ao pessoal de nível técnico e à mobilidade inter firmas de mão de obra qualificada, a avaliação foi de nenhuma influência significativa desses sub fatores no desenvolvimento do SLI de Londrina.
Quadro 3 - atores do sistema local de inovação de Londrina
EPR Empresas Privadas com atividades em P&D&E ou com comportamentos inovadores | CACIQUE, GAMA, MILÊNIA, INDREL, RONDOPAR,LAKTRON, EXACTUS, JABUR, K2 (entre outras) + núcleos interindustriais nos setores de móveis (Arapongas) e bonés (Apurcarana) |
EPU Empresas Públicas com atividades em P&D&E e funções normativas ou de difusão tecnológica | SERCOMTEL |
ONM Organizações Produtivas Públicas não orientadas para o mercado via formação de preços individualizados | HOSP. UNIVERSITÁRIO DA UEL HOSP.EVANGÉLICO |
IGO Instituições Governamentais voltadas para o fomento as atividades de C&T | PREFEIT.MUNICIPAL CODEL |
EIN “Espaços de Inovação” diretamente voltados para o desenvolvimento de atividades de C,T&I | PARQUE TECNOLÓGICO, INTUEL,GRUPOS DE PESQUISA/CNPq |
OTS Organizações do Terceiro Setor dedicadas ao estímulo, animação e fomento indiretos das atividades de C,T&I | ADETEC, FAPEAGRO, FUND.MERIDIONAL, ITEDES, SOFTEX, FAUEL |
IES Instituições de Ensino Superior e Tecnológico com atividades de formação e de P&D focadas no desenvolvimento tecnológico | UEL, UNOPAR, UNIFIL, PUC, FML, UNINORTE, FGV |
IPC Instituições de Pesquisa Científica, de serviços tecnológicos, de capacitação profissional, e de apoio à gestão empresarial ou pública | IAPAR, EMBRAPA, IAP, IBAMA, EMATER, VALCOOP, IPEM, |
APR Associações Profissionais ou de classe que exerçam atividades | CREA, SENGE, AOD, ASS.CRIAD., SINDIPROL, SCOCS.CIENT., ACIL |
indutoras de desenvolvimento científico e tecnológico | |
EOI Entidades ou Organismos Internacionais que exercem cooperação na área de desenvolvimento tecnológico | GTZ, FUND. KELLOG, UNIVERSIDADE DE LILLE |
FONTE: TECPAR, ADETEC, PROINTER
Tabela 3 - fatores indutores do sli - londrina
FATORES | PESOS | NOTAS | VALORES |
CME | 100 | 40 | |
Comportamento agregado da economia | 40 | 1 | 40 |
política monetária, creditícia e cambial | 20 | -1 | -20 |
política fiscal e tributária | 20 | 0 | 0 |
política industrial, de comércio exterior, de C&T, agrícola | 20 | 1 | 20 |
SPL | 100 | 100 | |
especialização/diversificação | 25 | 1 | 25 |
estrutura setorial | 25 | 1 | 25 |
padrões tecnológicos | 25 | 1 | 25 |
volume e tipologia das exportações | 25 | 1 | 25 |
MLR | 100 | 40 | |
incentivos à inovação | 40 | 1 | 40 |
Apoio à criação de empresas | 30 | 1 | 30 |
proteção da propriedade intelectual | 00 | -0 | -00 |
XXX | 000 | 000 | |
sistema de telecomunicações | 30 | 2 | 60 |
Rede regional de internet | 40 | 2 | 80 |
Malha de conexões aéreas e terrestres | 30 | 2 | 60 |
CRH | 100 | 60 |
nível médio de escolaridade geral | 30 | 1 | 30 |
Oferta de educação e capacitações superiores específicas | 30 | 1 | 30 |
Oferta de educação e capacitações profissionais e tecnológicas específicas | 40 | 0 | 0 |
RIT | 100 | 40 | |
deslocamentos inter-firmas de força de trabalho qualificados | 20 | 0 | 0 |
oferta e demanda de pessoal de nível superior altamente qualificado | 40 | 1 | 40 |
oferta e demanda de pessoal com capacitações profissionais e tecnológicas qualificadas | 40 | 0 | 0 |
PGI | 100 | 70 | |
estímulo projetos cooperativos | 30 | 0 | 0 |
estímulo à cultura da inovação | 30 | 1 | 30 |
difusão de tecnologia | 40 | 1 | 40 |
LIA | 100 | 150 | |
lideranças pessoais | 50 | 1 | 50 |
lideranças de grupo | 50 | 2 | 100 |
Gráfico 1 - Influência dos fatores indutores do Sistema Local de Inovação de Londrina
LIA
150
70
CME 200
150
100 40
50
0
-50
-100
-150
-200
SPL 100
PGI
40 MLR
LONDRINA
40
RIT
60
CTR
200
CRH
Em resumo, os resultados deste ensaio de aplicação do método dos fatores indutores mostram que os fatores que tiveram a maior influência na conformação atual do SLI de Londrina foram a infraestrutura de comunicações e transportes, com especial ênfase para a rede regional de internet e as lideranças e iniciativas de animação, com especial ênfase nas lideranças de grupo.
O sistema produtivo local, de maneira homogênea no tocante aos diversos subfatores considerados, tem sido também especialmente influente na conformação atual do SLI de Londrina.
Em menor grau, práticas gerenciais inovadoras e a oferta de recursos humanos qualificados, especialmente no tocante ao nível das capacitações técnicas e profissionais, também têm jogado um papel importante na configuração do SLI de Londrina.
2.1.3 Matriz de Impactos Cruzados
Os resultados da aplicação da matriz de impactos cruzados entre as variáveis determinantes do SLI de Londrina (fatores indutores e atores), apresentados na Tabela 4 (pág. 73), mostram que o fator Lideranças e Iniciativas de Animação (LIA) é o que apresenta um maior grau de influencia sobre o conjunto das variáveis, sendo que também se mostra como um dos menos influenciáveis, ou seja, uma das variáveis menos dependentes da ação de outras variáveis.
A Capacitação de Recursos Humanos (CRH) e as Práticas Gerenciais Inovadoras (PGI) aparecem também como fatores de grande influência sobre o conjunto das variáveis do SLI. Entretanto, diferentemente do fator lideranças, a capacitação de recursos humanos, além da sua capacidade de influência, aparece também como um dos fatores indutores mais influenciáveis, ou seja uma das variáveis mais dependentes da ação das outras variáveis do SLI.
Os fatores indutores com menos influência sobre as demais variáveis do sistema são os Xxxxxx Xxxxxx e Regulatórios e o Sistema Produtivo Local. No entanto, ambas variáveis diferem no tocante ao seu grau de dependência em relação às outras variáveis: enquanto os resultados apontam que o fator SPL é o mais influenciável pela ação das outras variáveis, os Xxxxxx Xxxxxx e Regulatórios são os que menos dependem da ação das demais variáveis do SLI.
Já entre os diversos atores do SLI, as Instituições de Ensino Superior (IES) ocupam o primeiro lugar em termos de influência sobre o conjunto das variáveis do sistema. Entretanto, de forma similar ao fator Capacitação dos Recursos Humanos, as instituições de ensino superior se apresentam entre os atores que mais dependem da ação das outras variáveis do sistema, atrás somente dos Espaços de Inovação (EIN).
É interessante destacar que, ao mesmo tempo em que o ator Instituições Governamentais (IGO) é um dos que mais influencia os outros atores (em segundo lugar depois das IES), ele é um dos que menos influência tem sobre os fatores indutores do sistema. Neste caso, os atores mais influentes são as Instituições de Pesquisa Científica (IPC) e as Empresas Privadas (EPR).
As Organizações do Terceiro Setor (OTS), também aparecem como um ator de influência significativa sobre os demais atores (em terceiro lugar) e com um grau médio de influência sobre os fatores indutores.
Quanto aos atores que menos sofrem a influência das outras variáveis do sistema, os resultados apontam para as Entidades e Organismos Internacionais (EOI), para as Organizações Não voltadas para o Mercado (ONM) e para as Associações Profissionais e de classe (APR). Vale a pena mencionar, entretanto, que, em varias oportunidades, a inter relação do ator EOI com as demais variáveis foi impossível de ser apreciada pela equipe de avaliadores.
Ao se considerar a influência dos atores sobre os fatores indutores, pode-se observar que as Empresas Privadas e as Empresas Públicas adquirem lugares de destaque, o que mostra a importância potencial dessas variáveis na configuração atual do SLI.
Por outra parte, ao examinar o gráfico de Interdependências entre as Variáveis do SLI de Londrina, apresentado a seguir, na pág. 75 (no Relatório I, de maio 2003, este gráfico foi apresentado sob a designação “Plano de Motricidade e Dependência de um SRI), pode-se observar que a maioria dos fatores indutores considerados (75%) assume uma posição caracterizada por um alto grau de influência e um grau médio de dependência em relação as demais variáveis do sistema. Já no caso dos atores do SLI, o gráfico de distribuição mostra que 80% deles apresenta um grau de dependência alto e médio em relação à ação das demais variáveis, enquanto que 70% se situa numa faixa de influência média sobre as demais variáveis.
Em outras palavras a distribuição dos impactos entre as variáveis do SLI – Londrina, sugere que este encontra-se num processo ainda recente de consolidação e com um certo grau de instabilidade, devido, por um lado, ao fato que a maioria dos seus atores é altamente influenciável e só medianamente influente em relação as outras variáveis do sistema e, por outro lado, ao fato que a maioria dos fatores indutores é só medianamente influenciável pelos atores do sistema.
Em resumo, ao examinar as relações e impactos entre as diversas variáveis que compõem o SLI – Londrina (método da matriz de impactos cruzados), pode-se disser, por um lado, que os seus resultados tendem a confirmam aqueles obtidos com a aplicação do método dos fatores indutores no tocante ao papel das Lideranças e Iniciativas de Animação, das Práticas Gerenciais Inovadoras e da Capacitação de Recursos Humanos.
Por outro lado, os resultados do exame das relações e impactos entre variáveis também mostram que, no tocante aos principais atores do sistema, as Instituições de Ensino Superior, as Instituições Governamentais, as Organizações do Terceiro Setor e as Instituições de Pesquisa Científica, tem sido os elementos mais dinâmicos na configuração atual do SLI de Londrina.
Gráfico 2 – interdependências entre as variáveis do sistema local de inovação - Londrina
2.1.4 Perfil visual institucional
Conforme vimos anteriormente, os perfis visuais institucionais constituem instrumentos analíticos complementares que visam facilitar a visualização do conjunto institucional dos esforços de C,T&I realizados na localidade em análise. Neste espaço procuram-se agregar-se, quando cabíveis e disponíveis, outras informações visualizáveis, neste caso o critério de funções sistêmicas exercidas pelas diversas instituições. O perfil visual institucional mostrado no quadro 2 permite auxiliar na compreensão do SLI de Londrina.
Quadro 4 - perfil visual institucional do SLI de Londrina
ATORES ÓRBITA DE ATUAÇÃO | AUTORIDA DE POLÍTICA EM C,T&I | INSTITUIÇÕ ES DE FINANCIAM ENTO | EMPRESAS INOVADORAS | FORMAÇ ÃO DE RH e PESQUIS A | OUTRO S ATORE S EM C,T&I |
FEDERAL | FINEP | Grupos de Pesquisa FGV CEFET- CP EMBRAPA SOJA | |||
PARANÁ TECNOLOGI A | UEL UNOPAR IAPAR Grupos de Pesquisa | ||||
ESTADUAL | |||||
FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA | |||||
MUNICIPAL | CODEL | CODEL | CACIQUE, GAMA, MILÊNIA, INDREL, RONDOPAR,LAKTR ON, EXACTUS, JABUR, K2 | UNIFIL | ADETE C INCIL ACIL |
PRIVADO | |||||
FUNÇÕES | X0 | X0, X0, X0 | X0,X0,X0 | X0,X0,X0 | X0,X0 |
F1= Formulação, coordenação, supervisão, acompanhamento de políticas de C,T&I F2= Realização de atividades de P&D&E
F3= Financiamento de P&D&E
F4= Formação dos RH para C,T&I (basicamente engenharia+ gestão) F5= Difusão de tecnologia
F6 = Promoção do empreendedorismo tecnológico
2.1.5 Notas sobre os resultados obtidos
A análise dos resultados obtidos com o ensaio de aplicação do método dos fatores indutores e do método da matriz de impactos cruzados, bem como o exame da distribuição institucional dos diversos agentes no caso do sistema local de inovação de Londrina, vêm confirmar análises de ordem histórica.
O anterior permite afirmar que as características atuais do SLI de Londrina não seriam as mesmas se não tivesse existido a iniciativa e o trabalho persistente de lideranças individuais, no contexto das universidades, dos meios de comunicação de massa e das organizações do terceiro setor.
A existência de uma instituição de ensino superior de renome (a Universidade Estadual de Londrina - UEL), de institutos de pesquisa científica e tecnológica que são referência nacional (IAPAR e EMBRAPA Soja) e de uma organização do terceiro setor altamente dinâmica (a Associação de Desenvolvimento Tecnológico de Londrina - ADETEC), é o principal fator que explica a configuração atual do SLI de Londrina. A essas variáveis explicativas positivas, vem se acrescentar ainda, o papel de uma empresa pública de alto conteúdo inovador do ponto de vista tecnológico na área das telecomunicações (SERCOMTEL).
No outro extremo, em termos de pontos fracos, vale a pena mencionar que a análise dos resultados mostra também a falta de presença e o pouco dinamismo da ação de entidades internacionais no processo de configuração do SLI – Londrina, bem como o papel pouco significativo atribuído às disposições legais que estimulam o processo inovador e regulam as condições em que ele se desenvolve.
2.2 Sistema Local de Inovação (SLI) – Curitiba
Neste ensaio de mapeamento do SLI – Curitiba, a área territorial abrange a Região Metropolitana de Curitiba, embora deva-se registrar que durante os procedimentos de aplicação da metodologia, aparentemente os fenômenos e
observações analíticas que surgiram tenham ficado circunscritos apenas aos
12
municípios lindeiros aos da capital .
Curitiba, como capital estadual, desenvolveu ao longo do tempo todo um conjunto de aparatos institucionais conexos com as funções governamentais da área de ciência, tecnologia e inovações. Com isto, foi obtendo um posição de destaque em termos de base de instituições científicas e tecnológicas, embora não tenha ainda conformado um projeto aglutinador do tipo tecnópolis.
2.2.1 Atores do SLI - Curitiba
Conforme pode ser verificado no Quadro 5, apresentado a seguir, é razoavelmente denso o conjunto dos atores listados como realizando atividades inovativas, no sentido amplo aqui utilizado.
É importante ressaltar que não se pretendeu fazer um levantamento exaustivo destes atores. Além disso, não foi possível encontrar uma relação de todas as empresas que realizam esforços com investimentos em P&D&E nem mesmo as de todo o subconjunto de empresas nitidamente “de base tecnológica”, tais como, por exemplo, as ligadas ao novo paradigma microeletrônico nas áreas de informação/ comunicação/ entretenimento (ICE). Ainda assim fica claro, que este sistema local de inovações tem relevância mesmo quando considerado numa escala nacional.
Em suma, mesmo com a listagem dos atores não tendo sido feita segundo a importância econômica de suas vendas (no caso das empresas) ou de seus orçamentos (no caso das demais entidades), o fato de desenvolverem atividades de C&T&I torna-as objeto de menção, por estar participando das formas sociais pelas quais a sociedade inova e aprende novas formas de produzir.
Neste sentido ressalta-se em termos de importância para os processos inovativos à existência de clusters locais em metal-mecânica, materiais e equipamentos eletromecânicos, indústria automotiva, equipamentos eletrônicos e de
12 Os municípios lindeiros a Curitiba são: Campo Largo, Campo Magro, Almirante Tamandaré, Colombo, Pinhais, São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande e Araucária. A RMC inclui ainda um outro anel de mais outros 12 municípios: Itaperuçu, Rio Branco do Sul, Bocaiúva do Sul,Campina Grande do Sul, Quatro Barras, Piraquara, Mandirituba, Contenda e Balsa Nova. A polarização direta de Curitiba inclui ainda os seguintes municípios, ao norte, Tunas do Paraná, Cerro Azul, Dr. Xxxxxxx e Adrianópolis, bem como ao sul, Tijucas do Sul, Agudos do Sul, e Quitandinha.
comunicações, de software, de mobiliário e de produtos cerâmicos, além da existência de outras empresas inovativas em diversos setores de produção. Também é de suma importância a presença de mais de 300 Grupos de Pesquisa cadastrados no CNPq, aqui incluídos na categoria EIN.
Quadro 5 - atores do sistema local de inovação Curitiba
EPR Empresas Privadas com atividades em P&D&E ou com comportamentos inovativos | Núcleos interindustriais nas atividades de: automobilística, material elétrico, eletrônica e comunicações, cerâmica branca, metal-mecânico, software, farmacêuticos, fitoterápicos e cosmética, alimentos, gráfica. Siemens, Furukawa, Electrolux, Boticário, Kraft Foods, Inepar, GVT, Vivo, Equitel, Denso, Infopar, Sofhar, ALL, TIM, Spaipa/Coca-Cola, Elma Chips, Flexiv, Nabisco, Renault, Volvo, New Holand, Audi VW, Nutrimental e Bematech, |
EPU Empresas Públicas com atividades em P&D&E e funções normativas ou de difusão tecnológica | URBS, Mineropar Copel, Itaipu, Sanepar, Compagás |
ONM Organizações Produtivas Públicas não orientadas para o mercado via formação de preços individualizados | Laboratório de Medicamentos, Hospital de Clinicas, Hospital Evangélico, Hospital NS Graças, |
IGO Instituições Governamentais voltadas para as atividades de C&T | SMIC-Secret.Munic.Ind.Comércio, SETI, PR-Tec, Fund.Araucária, BRDE, |
CONTINUAÇÃO
EIN “Espaços de Inovação” diretamente voltados para o desenvolvimento de atividades de C,T&I | SOFTEX, Parque de Software, Rede TIC, Rede Gamenet, Tecnocentro, INTEC, Hotel Tecnol.Cefet, Incub.UFPR (NEMPS), IIES (Incub. do CITS), GRUPOS DE PESQUISA/CNPq |
OTS Organizações do Terceiro Setor dedicadas ao estímulo, animação e fomento indiretos das atividades de C,T&I | FUPEF-Fund. de Pesq. Florestais, CITPAR, Funpar, Fund.Boticario, IPD, Fundação Herbarium |
IES Instituições de Ensino Superior e Tecnológico com atividades de formação e de P&D focadas no desenvolvimento tecnológico | SENAI UFPR, PUC, Tuiuti, Unicenp, FAE, CEFET, Uniandrade , UniBrasil, Pitágoras, SENAR |
IPC Instituições de Pesquisa Científica, de serviços tecnológicos, de capacitação profissional, e de apoio à gestão empresarial ou pública | Tecpar, LacTec, Lacen, Iapar, Cemepar, Emater, Cits, Cetsam, Cetmam, Celepar, Iap, Ibqp, Ibmp, Ippuc, Embrapa, Ipem, Ipardes, Simepar, Mineropar, Sebrae, Senai, Senar |
APR Associações Profissionais ou de classe que exerçam atividades indutoras de desenvolvimento científico e tecnológico | CRMV-Cons.Reg.Med.Veterinária; IEP-Instituto de Engenharia do Paraná Sucesu PR, Assespro PR, Crea, Senge, AMP, Socieds.Cients., Assoc.Criad, FIEP-IEL, Ocepar, AECIC, AECIAR |
EOI Entidades ou Organismos Internacionais que exercem cooperação na área de desenvolvimento tecnológico | British Council, GTZ, JICA, BIRD, BID, Universidades estrangeiras |
2.2.2 Fatores Indutores
Nas páginas seguintes estão apresentados a Tabela 5 com os fatores indutores do SLI – Curitiba, bem como o Gráfico 3, com a influência desses fatores, obtido a partir da referida tabela.
A primeira constatação é a de que o SLI - Curitiba não vem apresentando graves situações de desfavorabilidades sistêmicas para o seu desenvolvimento.
Para os “experts”, nenhum dos fatores indutores apresentou insuficiências dinâmicas, que seriam representadas por pontos com valores negativos, pois todos sem exceção atingiram 50 pontos positivos ou mais. Isto reflete sem dúvida o fato de que Curitiba constitui uma das partes do território brasileiro dentre as melhores capacitadas a realizar os esforços necessários à difusão para sua população dos novos paradigmas tecnológicos vigentes em escala mundial e, com isto, encaminhar-se progressivamente no sentido da economia do conhecimento.
Entretanto, aparentemente, apenas dois destes fatores tem sido fortemente favoráveis ao SLI, superando a marca de 100 pontos. Um destes fatores vem sendo a “capacitação dos recursos humanos – CRH” para as atividades de C,T&I com 140 pontos, e o outro as condições do fator infraestrutura de “comunicação e transporte – CTR” que atingiu os 170 pontos, cuja função dinâmica para a era das redes é de extrema importância.
Todos os demais fatores, embora atuando favoravelmente ao desenvolvimento das atividades de C,T&I deste SLI, oscilam entre os 100 pontos alcançados pelo fator “relações institucionais de trabalho – RIT”, os 75 pontos alcançados pelo “sistema produtivo local – SPL”, os 70 pontos atingidos pelos “xxxxxx xxxxxx e regulatórios - MLR” e pelas “práticas gerenciais para a inovação – PGI”, os 60 pontos do “contexto macro-econômico – CME” e, atingindo o menor escore de 50 pontos, portanto o fator que tem sido menos favorável para a atual conformação do SLI, as “lideranças e iniciativas de animação – LIA”.
Tabela 5 – Fatores Indutores do SLI – Curitiba
FATORES INDUTORES | PESOS | NOTAS | PONTOS |
CME CONTEXTO MACRO- ECONÔMICO | 100 | 60 | |
Comportamento agregado da economia | 40 | +1 | 40 |
Política monetária, creditícia e cambial | 20 | -1 | -20 |
Política fiscal e tributária | 20 | -1 | -20 |
política industrial, de comércio exterior, de C&T, agrícola | 20 | +1 | 20 |
SPL SISTEMA PRODUTIVO LOCAL | 100 | 75 | |
especialização/diversificação | 25 | +1 | 25 |
estrutura setorial | 25 | +1 | 25 |
padrões tecnológicos | 25 | +1 | 25 |
Volume e tipologia das exportações | 25 | 0 | 0 |
MLR MARCOS LEGAIS E REGULATÓRIOS | 100 | 70 | |
incentivos à inovação | 40 | +1 | 40 |
apoio à criação de empresas | 30 | +1 | 30 |
proteção da propriedade intelectual | 30 | 0 | 0 |
CTR COMUNICAÇÕES E TRANSPORTES | 100 | 170 | |
Sistema de telecomunicações | 30 | +2 | 60 |
Rede regional de internet | 40 | +2 | 80 |
Malha de conexões aéreas e terrestres | 30 | +1 | 30 |
CRH CAPACITAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS | 100 | 140 | |
nível médio de escolaridade geral | 30 | +1 | 30 |
Oferta de educação e capacitações superiores específicas adequadas às principais demandas locais | 30 | +1 | 30 |
Oferta de educação e capacitações profissionais e tecnológicas adequadas às principais demandas locais | 40 | +2 | 80 |
RIT RELAÇÕES INSTITUCIONAIS | 100 | 100 |
DE TRABALHO | |||
deslocamentos inter-firmas de força de trabalho qualificados | 20 | +1 | 20 |
a disponibilidade/custo de oferta e demanda de pessoal de nível superior altamente qualificado para as atividades de Ciência, Tecnologia & Inovação | 40 | +1 | 40 |
a disponibilidade/custo de oferta e demanda de pessoal com nível e capacitações profissionais e tecnológicas qualificados para as atividades dos setores produtivos mais importantes do local | 40 | +1 | 40 |
PGI PRÁTICAS GERENCIAIS PARA A INOVAÇÃO | 100 | 70 | |
estímulo projetos cooperativos | 30 | 0 | 0 |
estímulo à cultura da inovação | 30 | +1 | 30 |
LIA | 100 | 50 | |
lideranças pessoais | 50 | 0 | 0 |
lideranças de grupo | 50 | 1 | 50 |
GRÁFICO 3 - INFLUÊNCIA DOS FATORES INDUTORES DO SISTEMA LOCAL DE INOVAÇÃO - CURITIBA
CME 200
LIA
50
10060
0
-100
-200
SPL
75
PGI 70
70 MLR
CURITIBA
100
RIT
170
CTR
140
CRH
2.2.3 Matriz de Impactos Cruzados
Utilizando os conjuntos dos oito tipos de fatores indutores e os dez tipos de categorias de atores dos SLI, uma matriz com dupla entrada permite inferir os impactos cruzados entre cada um destes conjuntos e os demais. Na Tabela 6, página 86, é apresentada a matriz de impactos cruzados do SLI de Curitiba, e na página 87, o gráfico demonstrativo das interdependências entre as suas variáveis.
A análise da matriz de impactos cruzados e do gráfico de interdependências entre as variáveis do SLI-Curitiba permite inferir que a ampla maioria de seus fatores e atores possui elevada motricidade ou capacidade de influência entre si, logo melhorias em quaisquer destas variáveis tendem a se difundir ao conjunto do sistema, ao mesmo tempo em que apresentam um alto grau de dependência mútua.
A matriz indica que os fatores de maior impacto na conformação do SLI tem sido o sistema produtivo local - SPL (1 = 99 pontos), a capacitação de recursos humanos - CRH (2 = 97 pontos) e o comportamento macroeconômico da economia local – CME (3 = 96 pontos), respectivamente classificados nas três melhores posições. Quanto aos atores de maior influência na determinação da conformação atual do SLI, destacaram-se na ordem, as empresas privadas – EPR (1 = 99 pontos), as empresas públicas – EPU (2 = 92 pontos) e as instituições de ensino superior e profissionalizantes – IES (3 = 88 pontos).
Isto parece indicar que os maiores estímulos aos avanços na conformação do SLI provém antes da “dinâmica normal dos mercados” do que dos mais específicos fatores e atores conectados com as questões de C,T&I. Estes ainda não foram capazes de transformar-se nas variáveis chave da conformação do sistema de inovações locais.
Entretanto a matriz fornece em suas 306 interações (18 x 18 – 18) um quadro analítico bastante detalhado das inter-relações mais importantes que, ao longo dos últimos anos foram conformando o SLI. Também a análise particularizada dos quatro quadrantes que compõem a matriz permite perceber os pesos relativos das diferentes interações.
Esta situação parece ser ótima para desenvolver experiências novas na fronteira do conhecimento tecnológico existente no país e sua transformação em atividades produtivas baseadas nesse conhecimento. A sua rápida capacidade de
resposta permite, em princípio, prescindir de todo o investimento que seria necessário se estas experiências fossem instaladas em locais cujas variáveis fossem até mais motrizes, mas não pudessem contar com respostas adequadas e necessárias sistemicamente.
Gráfico 4 – interdependência entre as variáveis do sistema local de inovação de Curitiba
2.2.4 Perfil Visual Institucional
O perfil visual institucional mostrado no Quadro 6 permite auxiliar na compreensão do SLI de Curitiba.
Quadro 6 - perfil visual institucional do SLI de Curitiba
ATORES ÓRBITA DE ATUAÇÃO | AUTORIDAD E POLÍTICA EM C,T&I | INSTITUIÇÕ ES DE FINANCIAME NTO | EMPRESAS INOVADORA S | FORMAÇÃ O DE RH e PESQUISA | OUTROS ATORES EM C,T&I |
FEDERAL | MCT, MDIC | FINEP. CNPq, CAPES, BNDES | CE FET, UFPR, EMBRAPA, IBA MA, Grupos de Pesquisa/C NPq | FUNPAR | |
ESTADUAL | SETI, SEIC, SEPL | PARANÁ TECNOLOGI A, FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA, BRDE | IAPAR EMATER IAP IPARDES, Grupos de Pesquisa/C NPq | CREA, AMP | |
MUNICIPAL | SMIC, | FADEP MATER DEI IPPUC UNILIVRE | |||
PRIVADAS | |||||
FUNÇÕES | X0, X0, X0 | X0, X0, X0 | X0, X0, F6 | X0, X0, X0, X0 | X0, X0, X0,X0 |
F1= Formulação, coordenação, supervisão, acompanhamento de políticas de C,T&I F2= Realização de atividades de P&D&E
F3= Financiamento de P&D&E
F4= Formação dos RH para C,T&I (basicamente engenharia+ gestão) F5= Difusão de tecnologia
F6 = Promoção do empreendedorismo tecnológico
2.2.5 Notas sobre os resultados obtidos
Tentar examinar a economia e sociedade de Curitiba sob a ótica das inovações, ou seja, sob a forma pela qual ela aprende e apreende os novos padrões produtivos e, portanto competitivos, torna-se uma tarefa bastante complexa. Isto, não só porque estes novos padrões estão se alterando muito rapidamente, porque a natureza dos fenômenos inovativos ainda não é capturada pelos sistemas de informação estatísticos, mas também porque neste local se expressam forças sócio- políticas que transcendem à sua base produtiva, exatamente pelo exercício de suas funções de capital política regional.
Isto significa dizer que a elevada intensidade de suas interrelações totais comparadas com os outros ensaios (Ctba 1367, Londrina 1282 e Pato Branco 867) talvez possa estar refletindo antes o acúmulo destas funções urbanas que uma real compreensão do papel que o conhecimento científico & tecnológico e suas aplicações inovativas signifiquem para o futuro de sua economia.
Embora seja reconhecidamente capaz de oferecer respostas dinâmicas aos estímulos que ali se manifestam, o razoável parque de formação de recursos humanos e de comunicação e transporte ali instalados ainda não parece ser suficientemente intenso para transformar a questão tecnológica em preocupação de primeira linha entre as lideranças políticas e empresariais privadas da área.
É verdade que após o sucesso da estabilização inflacionária do Plano Real, a Região Metropolitana de Curitiba recebeu graças a uma ativa política de atração de investimentos, uma parcela nada desprezível da onda de investimentos internacionais ocorrida quando o Brasil foi considerado um dos mais importantes mercados emergentes, logo após a China e a Rússia.
No caso da RMC, quando os volumes expressivos de investimentos de novas empresas e setores se somou com os realizados pelas empresas que já se encontravam aqui localizadas, não apenas o sistema produtivo local se expandiu e
se complexificou, como em várias atividades ocorreu uma elevação dos padrões tecnológicos (ainda que em sua maioria simplesmente transplantados do exterior), decorrendo um período de expansão de algumas atividades endógenas das atividades de C,T&I.
Pode-se precisar que foi exatamente este motivo que se expressou através do elevado valor da pontuação alcançada pelo SPL-sistema produtivo local (1 – 99) e pelas EPR – empresas privadas (1 – 99) enquanto capacidade de influenciar o comportamento das demais variáveis do SLI-Curitiba
2.3 Sistema Local de Inovação (SLI) - Pato Branco
O município de Pato Branco tem experimentado nos últimos anos um notável processo de transformação em sua base produtiva, tradicionalmente agrícola, razão pela qual foi escolhido para fazer parte do ensaio de aplicação deste trabalho. De fato, a partir da inserção no local de uma instituição de ensino superior tecnológico, aliada à necessidade de retomada do crescimento econômico, e ao despertar de nova aptidão regional liderada por pessoas com visão de futuro, fizeram com que o conceito de Tecnópolis fosse introduzido na agenda dos agentes locais e com isso provocasse as transformações que ora estão em curso via surgimento de pequenas empresas de base tecnológica e formação de recursos humanos empreendedores e voltados ao desenvolvimento das atividades econômicas do município.
2.3.1 Atores do SLI - Pato Branco
Conforme pode ser observado no Quadro 7, a seguir, não são numerosos os elementos constituintes do SLI Pato Branco. Concentram-se basicamente em instituições universitárias e em associações ou entidades representativas do ambiente sócio-econômico local . Destaque, entretanto, deve ser dado nos espaços de inovação (embora a existência de grupos de pesquisa cadastrados no CNPQ seja muito pequena , não passando de cinco grupos) a uma organização do Terceiro Setor denominada Pato Branco Tecnópole, a qual tem sido a base organizada das questões de desenvolvimento de C&T&I no município.
Quadro 7 - Atores do Sistema Local de Inovação de Pato Branco
EPR Empresas Privadas com atividades em P&D&E ou com comportamentos inovativos | Fogões ATLAS, INPAC. |
EPU Empresas Públicas com atividades em P&D&E e funções normativas ou de difusão tecnológica | |
ONM Organizações Produtivas Públicas não orientadas para o mercado via formação de preços individualizados | . |
IGO Instituições Governamentais voltadas para as atividades de C&T | Secretaria Municipal de Ind. e Comércio |
EIN “Espaços de Inovação” diretamente voltados para o desenvolvimento de atividades de C,T&I | Incubadora Gênesis CETIS Grupos de Pesquisa/CNPq |
OTS Organizações do Terceiro Setor dedicadas ao estímulo, animação e fomento indiretos das atividades de C,T&I | IFIXA (Cefet) OSCIP Pato Branco Tecnópole |
IES Instituições de Ensino Superior e Tecnológico com atividades de formação e de P&D focadas no desenvolvimento tecnológico | Cefet Fadep Mater Dei |
IPC Instituições de Pesquisa Científica, de serviços tecnológicos, de capacitação profissional, e de apoio à gestão empresarial ou pública | Iapar, Emater, Iap, Ibama |
APR Associações Profissionais ou de classe que exerçam atividades indutoras de desenvolvimento científico e tecnológico | Crea, Fórum Municipal de De- senvolvimento, Ass.Comercial, Sindicato da Ind.Metal.Mec.El. |
EOI Entidades ou Organismos Internacionais que exercem cooperação na área de desenvolvimento tecnológico | Projeto União Européia (em negociação) |
2.3.2 Fatores Indutores
Os resultados mostrados na Tabela 7 e no Gráfico 5 apontaram que, do ponto de vista da sua contribuição e importância para a configuração atual do Sistema Local de Inovação de Pato Branco, os fatores indutores considerados podem ser classificados em três categorias:
• os fatores altamente favoráveis, como notas iguais a ou acima de 100, onde encontram-se Comunicações e Transporte (CTR), Lideranças e Iniciativas de Animação (LIA), Práticas Gerências Inovadoras (PGI) e Capacitação de Recursos Humanos (CRH)
• fatores favoráveis, com notas entre 100 e 50, onde encontram-se as características do mercado de trabalho ou Relações Institucionais de Trabalho (RIT);
• fatores pouco favoráveis e neutros, onde encontram-se os Xxxxxx Xxxxxx e Regulatórios (MLR), o Contexto Macro Econômico (CME) e o Sistema Produtivo Local (SPL)
A análise dos fatores indutores do SLI de Pato Branco mostra que nenhum deles teve uma influência desfavorável. Os resultados assinalados mostram que os quatro fatores considerados altamente favoráveis foram os principais responsáveis pela configuração atual do SLI de Pato Branco.
Por outro lado, o caráter neutro atribuído à importância do SPL e a baixa pontuação alcançada pelo fator CME, estão indicando que, de fato, o SLI de Pato Branco tem se desenvolvido a partir de fatores outros que as características da base produtiva local ou as manifestações regionais e locais do contexto econômico nacional.
No referente ao fator LIA e diferentemente do caso de Londrina, é a ação de lideranças pessoais que tem sido responsável pelo importante papel atribuído a esse fator na estruturação do SLI de Pato Branco. Cabe apontar, sim, que, da mesma forma que no caso de Londrina, a ação desse tipo de liderança não tem sido acompanhada e, portanto, ainda não sedimentada, pela ação do outro tipo, das lideranças de grupo, cuja importância foi avaliada como neutra.
No caso do fator CTR vale a pena mencionar o caráter altamente favorável atribuído ao subfator Rede Regional de Internet e o caráter neutro atribuído ao subfator malha de conexões aéreas e terrestres.
Ainda, no tocante ao Sistema Produtivo Local, é importante assinalar que seu grau de especialização e diversificação foi considerado desfavorável à estruturação e desenvolvimento do SLI, avaliação compensada somente pelo papel positivo desempenhado pelo volume e tipologia das exportações na região.
Os resultados gerais fazem pensar que o desenvolvimento de Xxxxxx Xxxxxx e Regulatórios bem como o maior dinamismo das Relações Institucionais de Trabalho são fatores que podem contribuir para a consolidação do SLI de Pato Branco, equilibrando assim a força dos outros fatores indutores e compensando o caráter pouco favorável do SPL e do CME.