Autoria: Maristela Franco Paes Leme, Décio Zylbersztajn
Determinantes Da Escolha De Arranjos Institucionais: Evidências Na Comercialização De Fertilizantes Para Soja
Autoria: Xxxxxxxxx Xxxxxx Xxxx Xxxx, Xxxxx Xxxxxxxxxxxx
Resumo:
As transações, entre os agentes do agronegócio, têm deixado de ocorrer via mercado, passando a serem regidas por diferentes tipos de arranjos institucionais, parte formatados por contratos. No setor de fertilizantes, as empresas intensificaram a oferta de pacotes de insumos aos produtores agrícolas, mais especificamente aos produtores de soja, que são os focalizados nesta tese. Para adquirir fertilizantes, esses produtores podem optar pelo uso de recursos próprios, obtidos em financiamento com terceiros, ou podem ainda recorrer aos referidos pacotes que incluem além dos fertilizantes, soja e recursos financeiros, e que os produtores de soja chamam de troca, por adquirirem fertilizante pagando em soja para entrega futura. A questão que motiva este trabalho é: Quais são os fatores determinantes da escolha do produtor de soja entre arranjos alternativos para a aquisição de fertilizantes? Foram realizadas 200 entrevistas com produtores de soja dos estados de Goiás e Mato Grosso. Conclui-se que a formatação de pacotes ou de arranjos do tipo bundling pode ser motivada por razões de eficiência, sendo a economia em custos de transação uma dessas possíveis razões. A aversão ao risco e a confiança motivam o uso do arranjo troca. Por fim, com relação à escala, os maiores produtores de soja, diferentemente do esperado, utilizaram mais o arranjo troca.
Introdução
O relacionamento do setor agrícola com fornecedores de insumos tem passado por alterações no campo organizacional, sendo cada vez mais comum a oferta de soluções em forma de pacotes de insumos e serviços aos produtores agrícolas.
A aquisição de fertilizantes pelos produtores de soja pode ocorrer por meio do mercado spot ou na forma de arranjos alternativos. No primeiro grupo de arranjos, o objeto da transação, tanto para o produtor quanto para o agente comercializador de fertilizantes, seja misturador, cooperativa ou revendedor, é o fertilizante. Assim, nessa transação típica, no sentido comercializador-produtor segue o fertilizante, e no sentido contrário, o pagamento monetário. Ao realizar o pagamento, o produtor pode utilizar recursos próprios ou financiado pelos bancos ou por outros agentes. Uma das formas do produtor obter recursos para adquirir fertilizante é vender a soja para entrega futura utilizando o chamado contrato de soja verde.
O outro grupo de arranjos é mais complexo: de um lado está o produtor e do outro uma empresa que vende fertilizante e compra soja, sendo que o produtor vende soja para entrega futura para a mesma empresa de quem compra fertilizante, ou seja, o produtor recebe o fertilizante e se compromete a entregar-lhe a soja após a colheita. Essa transação é efetivada por meio de um contrato entre as partes, cujo objeto pode não ser somente o fertilizante, tanto para o produtor de soja quanto para a empresa de fertilizantes. Trata-se, assim, de um pacote composto, além do fertilizante, por soja e de certa forma por recursos financeiros, o que o caracteriza como bundling1. Tal pacote é o que o produtor de soja comumente chama de troca. A figura 1 mostra os principais tipos de formatação de bundlings que envolvem fertilizantes e soja. O bundling pode ser feito por uma empresa que vende o fertilizante e compra soja, pode ser formatado por empresas que compram soja, mas que, por não lidarem com fertilizantes, adquirem-no de outras empresas para fazer o bundling. Por fim, o bundling pode ser realizado por uma empresa em nome de uma terceira empresa que, além de vender fertilizante, também adquire soja.
Figura 1 - Principais tipos de formatação do bundling de fertilizantes e soja
Produtor de soja
Empresa X
Produto B
Produto A
Produtor de soja
Produtor de soja
Produto A
Empresa X
Empresa X
Empresa Y
Produto A
Produto B
Produto A
Produto B
Bundling
Bundling
I
II
Empresa Z
Bundling
III
Produto A = fertilizante Produto B = compra da soja
I - Empresa X possui os dois produtos (A e B) e faz o bundling.
II - Empresa Y possui o produto B, adquire o produto A e faz o bundling.
III - Empresa X possui os dois produtos (A e B), mas é a empresa Z que faz o bundling para ela.
As maiores misturadoras de fertilizantes do Brasil são também as maiores originadoras de grãos. A operação de troca mesmo para essas empresas é complexa: elas antecipam recursos para o produtor delas adquirir fertilizantes e em troca recebem a soja após a colheita. Para essas empresas o objeto da transação não é o fertilizante em si, que não pode ser separado da soja e do próprio crédito. Muitas vezes a antecipação dos recursos é viabilizada por meio de operações financeiras realizadas pelas empresas que, por isso, cobram um spread pela antecipação do crédito para os produtores. Para o produtor, o objeto da transação nesse tipo de arranjo também não é somente o fertilizante, ao mesmo tempo negociam-se a compra de fertilizante e a venda da soja.
Dentre os arranjos que envolvem fertilizantes e soja, existem diferenciações dependendo da empresa com relação à fixação do preço da soja, pois se pode utilizar a modalidade de preço fixo ou a fixar. Além disso, pode haver variações na data de pagamento pela soja.
O objetivo deste artigo é estudar empiricamente os fatores determinantes da escolha do produtor de soja entre arranjos alternativos para aquisição de fertilizante. Mais especificamente, focalizam-se nos arranjos em que o produtor compra fertilizante e vende soja com entrega futura para a mesma empresa. Acredita-se que a percepção dos custos de transação, da incerteza e da confiança por parte do produtor pode influenciar a sua escolha entre os arranjos institucionais.
Este artigo está estruturado como segue. Inicialmente, discute os arranjos alternativos que podem ser utilizados para aquisição de fertilizantes pelos produtores de soja e introduz as
possíveis variáveis associadas com a escolha entre os referidos arranjos. Em seguida, apresenta o referencial teórico utilizado para suportar as variáveis mencionadas. Depois discute o método de pesquisa que inclui os modelos empíricos e as variáveis. Os dados obtidos em entrevistas com 200 produtores de soja de Goiás e Mato Grosso são analisados em seguida. Por fim, conclui-se o artigo apresentando as limitações e sugestões para futuras pesquisas.
Quadro Conceitual
Neste item, discute-se os construtos que podem influenciar a escolha dos produtores de soja entre arranjos alternativos no momento da aquisição de fertilizantes.
O custo de transação, inicialmente discutido por Xxxxx (1937), é o primeiro destes construtos e compreende tanto o custo ex-ante relacionado ao desenho do contrato, negociação e montagem de salvaguardas, quanto o custo ex-post associado ao monitoramento, às renegociações e custo com eventual ordenamento privado e com a justiça, no caso de quebras contratuais. Neste artigo, consideram-se principalmente os custos de transação ex- ante, ou seja, os custos envolvidos da negociação até a assinatura do contrato entre as partes. Assim, chamou-se esta variável de custo de negociação (CN) para captar a percepção dos produtores de soja do custo de negociar, analisar e formatar contratos, tendo em vista que se acredita que esse custo influencia a decisão de utilizar cada um dos arranjos alternativos disponíveis para aquisição de fertilizantes. Acredita-se que os contratos sejam utilizados em vez do mercado, para economizar em custos de transação, embora a especificidade dos ativos não seja a variável chave, conforme o modelo proposto por Xxxxxxxxxx (1985), onde a forma organizacional é a variável endógena, e a especificidade dos ativos, a variável explicativa.
Segundo Xxxxxxxx e Xxxxxxxx (2000), uma das limitações de seu estudo foi não considerar os custos de transação entre as variáveis explicativas do uso de contratos futuros pelos produtores rurais. Neste artigo, essa variável não é considerada diretamente, mas, o custo de negociação constitui parte do chamado custo de transação.
A incerteza é outro construto utilizado para explicar a escolha entre arranjos institucionais alternativos. Xxxxxxxxxx (1996) afirma que elevada incerteza aumenta a probabilidade das estruturas de governança polares (mercado ou hierarquia). Embora a eficácia de todas as formas de governança possa deteriorar-se diante de distúrbios mais freqüentes, a forma híbrida é a mais suscetível, pois a adaptação nesta última requer consentimento mútuo (XXXXXXXXXX, 1991).
Não há consenso na literatura, com relação à divisão da incerteza em duas partes, sendo uma mensurável e a outra não, onde a primeira é definida como risco. Para Knight (1921) existe uma diferença fundamental entre a incerteza determinada ou risco e a indeterminada ou não-mensurável. De acordo com Xxxxx (2002), a teoria da escolha sob incerteza ou teoria da utilidade esperada de Xxx Xxxxxxx-Morgenstern desconsiderou a diferença entre as incertezas mensurável e não mensurável proposta por Xxxxxx (1921). Neste artigo, para representar a incerteza, utiliza-se uma medida de risco, independente de este não captar toda a dimensão da incerteza.
Assim, como Pennings e Xxxxxxxx (2000), dividiu-se o risco em duas variáveis. A primeira é a atitude com relação ao risco (AR) que pode ter papel importante na escolha do arranjo institucional utilizado. O risco precisa ser primeiro percebido, para depois responder- se a ele. Assim, a segunda variável é a exposição percebida ao risco (EPR) que pode ser definida como a avaliação do produtor de soja do risco inerente em uma situação.
O terceiro construto considerado é a confiança (CONF). Esta tem sido considerada em vários trabalhos que tratam as relações verticais (XXXXXXXX e XXXXX, 1990; XXXXXXX, 1994; CLARO, 2003) e horizontais (XXXXX e XXXXXXX, 1997) entre agentes. Para definir e
delimitar a noção de confiança, Xxxxxxxxxx (1996) emprega a razão econômica calculativa da qual a economia dos custos de transação é variante.
Neste artigo, considera-se a dimensão inter-organizacional da confiança, ou seja a confiança com relação à empresa. Como Xxxxxxxxx et al. (1997), trata-se a confiança como uma percepção do indivíduo com respeito à organização envolvida no processo de troca. Xxxxx (2003) considerou diferentemente tanto a dimensão inter-organizacional da confiança quanto a dimensão inter-pessoal. A confiança não é uma condição objetiva e varia mesmo entre indivíduos que estão em condições idênticas. Tal como Malhotra e Murnighan (2002), considera-se que a confiança depende em grande parte da interação histórica das partes. Assim, interações repetidas provêem um significado central para construir ou aumentar a confiança.
Por fim, o último construto é a escala (ESC). De acordo com Xxxxxxx e Xxxxxx (1997), a alta sofisticação do consumidor desfavorece as estratégias de bundling2. Neste artigo, assume- se que a sofisticação do produtor de soja esteja relacionada à escala de produção, tendo em vista que os maiores produtores possuem nível tecnológico mais elevado e adotam instrumentos mais modernos de comercialização da safra, como contratos futuros e de opções.
Método de pesquisa
Tomando por base a economia dos custos de transação, define-se para o presente estudo que a transação objeto de análise é aquela entre produtores de soja e empresas de fertilizantes, focalizando o fertilizante fornecido para a produção de soja nos estados de Goiás e de Mato Grosso. As entrevistas foram realizadas de forma individual com os produtores de soja, por telefone, seguindo o questionário3 cujas principais perguntas foram feitas utilizando escalas. Como cada produtor de soja entrevistado poderia ter mais de uma propriedade em Goiás e no Mato Grosso, colocou-se no questionário uma instrução para que o entrevistador, ao perguntar sobre a localização da propriedade, pedisse que fosse focalizada na propriedade principal. Nas questões relacionadas à área plantada e ao tipo de arranjo utilizado para aquisição de fertilizante, por decorrência, também centralizou-se no que se chamou de propriedade principal, o que evita dúvidas no momento da resposta e problemas oriundos do fato do produtor poder adquirir fertilizantes com variados tipos de arranjos em propriedades diferentes.
Os produtores incluídos na amostra fazem parte de um banco de dados de 1.000 produtores de soja nos estados e Goiás e Mato Grosso, tendo sido entrevistados produtores que utilizaram diferentes tipos de arranjos para aquisição de fertilizantes.
Com relação ao tamanho da amostra, realizaram-se 200 entrevistas com produtores de soja, sendo 68 em Goiás e 132 no Mato Grosso, o que representa 1,95% do total de produtores de soja em Goiás e 4,80% dos produtores de soja no Mato Grosso, se considerarmos o Censo Agropecuário de 1996, o mais recente disponível quando da pesquisa.
Variáveis e hipóteses
O presente estudo propõe que um conjunto de fatores definidos como custo de negociação (CN), exposição percebida ao risco (EPR), atitude ao risco (AR), confiança (CONF) e escala (ESC) explique a escolha do arranjo compra de fertilizantes por meio da venda da soja para entrega futura para a mesma empresa (ARR).
Quando se utiliza o pacote fertilizante/ soja, em um mesmo momento são transacionados vários itens, ou seja, o produtor de soja em vez de despender tempo com a busca de financiamento, compra isolada do fertilizante antes do plantio e venda da soja após a
colheita, o produtor de soja negocia estes itens conjuntamente, otimizando o tempo de negociação. A primeira hipótese é:
H1: A percepção de economia na negociação motiva o produtor a optar pela utilização do pacote fertilizante/ soja, ou seja, a comprar fertilizantes e vender soja para uma mesma empresa em vez de fazê-lo com empresas diferentes.
Ao utilizar o pacote em questão, o produtor, no momento da aquisição do fertilizante, conhece a relação de troca fertilizante/ soja, ou seja, independentemente do preço da soja após a colheita, o produtor sabe quanto do seu produto será empregado para quitar o fertilizante. Com o conhecimento da relação de troca e travamento antes do plantio, do preço da soja, a incerteza do produtor é reduzida. Assim, a segunda hipótese é:
H2: A exposição percebida ao risco e a aversão a este motivam o produtor a optar pela utilização do pacote fertilizante /soja.
Ao escolher a utilização do pacote, o produtor aceita a relação de preço fertilizante/ soja das empresas de fertilizantes, apesar de acreditar que estas podem deter mais informações sobre o comportamento de preços futuros da soja. No entanto, a confiança depositada nas empresas de fertilizantes determina que o produtor aceite a relação de troca ofertada, principalmente porque existe um histórico de transações, e de reputação e porque essa transação pode repetir-se em anos subseqüentes. Dessa forma, a terceira hipótese é:
H3: A confiança depositada pelo produtor de soja na empresa de fertilizante motiva-o a optar pela utilização do pacote fertilizante/ soja.
Segundo Xxxxxxx e Zelner (1997), a alta sofisticação do consumidor desfavorece as estratégias de bundling. No caso da soja, a alta sofisticação está relacionada, principalmente, à escala de produção, pois quanto maior a escala, mais alto o nível de tecnologia empregado para plantio, manejo e colheita da safra. Além disso, os grandes produtores de soja utilizam mecanismos de gerenciamento de risco diferenciados, como o mercado futuro e de opções, operando muitas vezes diretamente na Bolsa de Chicago. Assim, a quarta e última hipótese é:
H4: Quanto maior a escala do produtor de soja, menor é a utilização do pacote fertilizante/ soja.
Medidas e método de análise dos dados
As variáveis custo de negociação (CN), atitude ao risco (AR), exposição percebida ao risco (EPR) e confiança (CONF) não podem ser medidas diretamente, ou seja, não são observadas, sendo chamadas de variáveis latentes. Computa-se esse tipo de variável por meio de indicadores que são as variáveis observadas. Utilizaram-se 3 indicadores para cada uma das variáveis latentes, com exceção da variável exposição percebida ao risco, para a qual foram utilizados quatro indicadores, conforme mostra tabela 1. Tal metodologia foi utilizada por Xxxxxxxx e Xxxxxxxx (2000) e por Claro (2003).
Tabela 1 - Resumo das variáveis latentes e seus indicadores
Variáveis Latentes Indicadores
CN CN0, CN1, CN2
EPR EPR0, EPR1, EPR2, EPR3
AR AR0,AR1,AR2
CONF CONF0,CONF1,CONF2
A variável escala (ESC) é medida pela área plantada de soja na última safra na principal propriedade; neste sentido, a escala é a única variável independente métrica ou não escalar.
Como as variáveis utilizadas, com exceção da variável escala (ESC), são medidas por um grupo de variáveis observadas ou indicadores, fez-se análise fatorial confirmatória para verificar as suas propriedades com relação a validade e confiabilidade. Além disso, analisou- se também o alfa de Cronbach para examinar a confiabilidade. A validade refere-se à extensão na qual um conjunto de medidas representa um conceito, ou seja, a variável latente. A confiabilidade refere-se à consistência dos indicadores com relação à medição da variável latente. Nunnally e Xxxxxxxxx (1994) apresentam os métodos desenvolvidos para testar a validade e a confiabilidade das variáveis.
O alfa de Cronbach é uma medida de confiabilidade comumente usada, seu valor fica entre zero e um, sendo que valores maiores indicam maior confiabilidade dos indicadores para capturar o conceito da variável latente. Segundo Hair et al. (1998), a prática comum é aceitar valores de alfa superiores a 0,70, sendo aceitáveis valores superiores a 0,60.
O modelo de análise fatorial confirmatória assume que as variáveis observadas (indicadores) são geradas por um menor número de variáveis não observadas (variáveis latentes). A relação das variáveis observadas e não observadas pode ser representada pela equação 1:
(1) X = Λk + ζ , onde
X é o vetor q x 1 dos n grupos de variáveis observadas, k é o vetor n x 1 dos fatores, Λ é a matriz q x n dos coeficientes da regressão relacionando as variáveis observadas aos fatores e ζ é o vetor q x 1 do termo de erro das variáveis observadas.
A análise fatorial confirmatória estima as relações entre as variáveis observadas e as variáveis latentes, sendo que várias variáveis latentes podem ser estimadas simultaneamente. Conforme sugerido por Xxxx et al. (1998), utiliza-se a matriz de correlação como matriz de entrada de dados. A matriz de correlação é preferível à de covariância, pois torna possível a comparação direta dos coeficientes dentro de um modelo. Com relação ao processo de estimação, utilizou-se a técnica ADF, Asymptotically Distribution Free, que segundo Hair et al. (1998) e Xxxxxx et al. (1989) é a mais utilizada para casos de dados não normais. Baseado na prática comum, segundo Hair et al. (1998), de que os valores de skewness e kurtosis não deve exceder /1/, a maior parte das variáveis observadas, neste artigo, não são normalmente distribuídas; assim, o método de máxima verossimilhança não é recomendável 4.
Em termos de valores de referência para análise dos resultados da análise fatorial confirmatória, recomenda-se que o resíduo padronizado seja inferior ao /2,58/, que o λ padronizado de cada variável observada seja maior que 0,60 com o valor do t maior que 2,0.
Em termos de medidas de ajustamento para verificar até que ponto o modelo é bem especificado para os dados, Hair et al. (1998) recomendam que sejam analisadas as medidas absolutas (estatística qui-quadrado, GFI - goodness of fit index, RMSR - root mean square residual), as medidas incrementais como NFI (normed fit index) e as medidas parcimoniosas ajustadas pelos graus de liberdade como AGFI - adjusted GFI for degree of freedom. Em termos de valores de referência, recomenda-se que as medidas GFI, AGFI, NFI sejam maiores ou iguais a 0,90 e a medida RMSR próxima de zero. A tabela 2 mostra um resumo dos valores de referência de cada medida. As medidas GFI e AGFI avaliam quão melhor o modelo de medida proposto ajusta-se aos dados comparativamente com qualquer outro modelo. O RMSR mede a média da variância do resíduo que não pode ser explicada pelo modelo. O NFI é uma medida incremental para a estatística qui-quadrado e é utilizada para comparar o ajustamento do modelo estimado com o ajustamento de um modelo nulo, no qual se assume que todas as variáveis são não correlacionadas. Se o ajustamento do modelo nulo é bom, o ajustamento do modelo estimado também será.
Tabela 2 - Resumo dos valores de referência das medidas de ajustamento
Medidas Valores de referência
GFI, AGFI, NFI > 0.90
RMSR próximo a 0
Fonte: Hair et al. (1998)
Hair et al. (1998) sugerem que, após o exame das medidas de ajustamento para o modelo, sejam feitas as análises das medidas de cada construto. Embora o alfa de Cronbach seja utilizado para verificar a confiabilidade, outras medidas importantes, segundo Hair et al. (1998), para avaliar a confiabilidade são a confiabilidade composta e variância extraída que são calculadas a partir dos resultados da análise fatorial confirmatória. A confiabilidade composta é uma medida da consistência interna dos indicadores de uma variável latente e representa o grau em que os indicadores estão relacionados com essa variável. De acordo com Xxxx et al. (1998), os guias sugerem que o valor da confiabilidade composta seja maior que 0,70, mas valores inferiores também podem ser aceitáveis em pesquisas exploratórias.
A variância extraída por sua vez reflete toda a variância dos indicadores sob a variável latente, sendo que os valores de referência sugeridos devem exceder 0,50 para cada variável latente.
Com relação à multicolinearidade, valores na matriz de correlação excedendo 0,9 devem ser examinados, corrigidos e, se necessário, eliminada a variável latente.
A análise fatorial confirmatória estima as variáveis não observadas a partir das variáveis observadas, mas não provê informação sobre a relação entre as variáveis independentes e a dependente. Para testar as relações entre as variáveis latentes, que no caso são as variáveis independentes, e a variável dependente, utilizou-se o modelo de equações estruturais (Structural Equation Modeling - SEM), pois as variáveis não observadas estão sujeitas a erros de medida, podendo resultar em coeficientes viesados quando estimados em regressão linear. Este modelo estima simultaneamente as variáveis independentes (não observadas) a partir das variáveis observadas e a relação entre estas variáveis e a variável dependente. Com o modelo de equações estruturais estima-se simultaneamente uma série de equações de regressão múltipla separadas, mas interdependentes, por meio da especificação de um modelo estrutural utilizado pelo programa estatístico, que neste caso é o SAS. A característica principal de tal modelo é a capacidade de incorporar variáveis latentes na análise.
O presente estudo propõe que o custo de negociação (CN), a exposição percebida ao risco (EPR), a atitude ao risco (AR), a confiança (CONF) e a escala (ESC) explica a escolha do arranjo compra de fertilizantes por meio da venda da soja para entrega futura para a mesma empresa (ARR). Os outros arranjos utilizados pelos produtores de soja para aquisição de fertilizantes, que não o relacionado com a venda da soja para entrega futura para a mesma empresa, foram agrupados em outra categoria. Assim, como o somatório do uso do arranjo compra de fertilizantes por meio da venda da soja para entrega futura para a mesma empresa com o uso dos outros arranjos totaliza 100%, somente o percentual de uso do arranjo compra de fertilizantes por meio da venda da soja para entrega futura para a mesma empresa foi utilizado como variável dependente no modelo de equações estruturais.
Resultados
Ao fazer a análise fatorial confirmatória as variáveis latentes custo de negociação (CN), exposição percebida ao risco (EPR), atitude ao risco (AR) e confiança (CONF)) foram
combinadas duas a duas, devido ao fato de três das variáveis latentes possuírem apenas três variáveis observadas, o que faz com que o grau de liberdade do modelo estimado seja zero. Assim, as medidas de ajustamento do modelo (GFI, AGFI, RMSR e NFI) não podem ser calculadas. Segundo Hair et al. (1998), essa metodologia é prática comum na literatura. Ao serem combinadas as variáveis duas a duas, as medidas de ajustamento representam o modelo que contempla ambas as variáveis, mas os coeficientes (λ) são particulares de cada variável. Assim, a análise fatorial confirmatória de CN foi realizada com EPR, a de AR com CN e a de CONF foi realizada com CN, ou seja, CN entrou em todos os modelos. Embora EPR tivesse quatro variáveis observadas, a análise fatorial confirmatória de EPR também teve de ser realizada de forma conjunta, pois EPR3 apresentou problema de singularidade da matriz e teve de ser eliminada.
Antes de realizar a análise fatorial confirmatória, analisaram-se os dados da amostra para verificar a normalidade univariada e multivariada. A opção por utilizar a técnica ADF para realizar as estimações, conforme foi discutido, decorreu do fato de a maior parte das variáveis ter apresentado valores de skewness e/ou kurtosis maiores que o /1/.
Examinaram-se também os dados para verificar a presença de outliers, inclusive, a princípio, a partir da análise gráfica da normalidade dos dados, foram eliminados 6 produtores de soja que produziam mais de 20.000 hectares. No entanto, os resultados encontrados não representaram melhoria nos testes de normalidade. Assim, os resultados apresentados neste artigo são da amostra completa, ou seja, de 200 produtores de soja.
A variável latente, custo de negociação (CN), foi medida por três variáveis observadas, ou seja, utilizaram-se três afirmações para as quais o entrevistado teve de atribuir valores de 1 a 5. A variável latente exposição percebida ao risco (EPR) foi medida por quatro variáveis observadas. Três variáveis observadas foram utilizadas para medir o construto atitude ao risco (AR) e, por fim, a variável latente confiança (CONF) foi medida por três variáveis observadas.
As medidas GFI, AGFI, RMSR e NFI ficaram dentro do valor recomendado para todas as variáveis latentes.
CN0 foi o único indicador de CN cujo valor do t dos coeficientes ( λ) ficou abaixo do limite recomendável, embora o valor do t também não tenha sido significativo. O valor do t do coeficiente (λ) de EPR2 ficou abaixo do valor esperado, que é /2/, ou seja, não foi significativo. Apenas o valor do coeficiente de EPR0 foi maior de 0,60 e significativo. Todos os demais coeficientes (λ) são superiores a 0,60 e os erros padrão são inferiores a /2,58/.
Analisando as medidas calculadas com base nos resultados da análise fatorial confirmatória, observa-se que tanto a confiabilidade composta quanto a variância extraída de todas as variáveis latentes são maiores que o limite mínimo recomendado por Hair et al. (1998). Os alfas de Cronbach para as variáveis CN, EPR, AR, CONF ficaram dentro de um limite aceitável, indicando, juntamente com os resultados da análise fatorial confirmatória, a validade e a confiabilidade da variável em análise.
Para analisar as relações entre as variáveis independentes e a variável dependente, utilizou-se o modelo de equações estruturais. Verificou-se a validade e a confiabilidade das variáveis latentes formadas a partir de uma série de variáveis observadas. Cada uma das variáveis latentes analisadas foi levantada com base no referencial teórico. O modelo estrutural relaciona as variáveis independentes e a dependente, enquanto o modelo de medidas especifica as variáveis observadas de cada variável latente.
A tabela 3 mostra os resultados do modelo de equações estruturais estimado. Ao estimar tal modelo, verificou-se que as variáveis observadas CN0 e EPR3 apresentaram multicolinearidade, razão pela qual foram eliminadas.
A tabela 3 apresenta as medidas de ajustamento (GFI, AGFI, RMSR e NFI) do modelo de equações estruturais estimado que podem ser aceitas conforme os critérios apresentados na
tabela 2. Com relação à significância dos coeficientes do modelo, apenas o valor do t da variável exposição percebida ao risco (EPR) foi inferior a /2/, portanto, não significativo. Todos os erros padrão ficaram dentro do limite esperado, que é /2,58/.
Tabela 3 - Resultado do modelo de equações estimado
Indicadores | Coeficiente | t do coeficiente | erro padrão |
CN | 0,27 | 6,06 | 0,04 |
EPR | 0,001 | 0,02 | 0,05 |
AR | 0,12 | 2,79 | 0,04 |
CONF | 0,14 | 2,88 | 0,04 |
ESC | 0,94 | 51,32 | 0,01 |
GFI = 0,99; AGFI = 0,9972; RMSR = 0,14; NFI = 0,99
Conforme esperado, o custo de negociação (CN) tem relação positiva com a escolha do arranjo aquisição de fertilizantes por meio da venda da soja para entrega futura para a mesma empresa, ou seja, os produtores com maior nível de concordância com relação a otimização de tempo, economia de recursos e rapidez do processo vinculado ao referido arranjo são os produtores que o utilizaram em maior percentual.
Os coeficientes da exposição percebida ao risco (EPR) e da atitude ao risco (AR) apresentaram sinal positivo de acordo com o esperado, embora o valor do t da variável exposição percebida ao risco não tenha sido significativo.
Com a aquisição de fertilizantes por meio da venda de soja para entrega futura para a mesma empresa, o produtor de soja fica ciente da relação de troca insumo/ produto no que se refere pelo menos ao fertilizante, ou seja, independentemente do preço da soja após a colheita, sabe-se quanto do seu produto será empregado para pagar os fertilizantes. Assim, o produtor fica protegido no que se refere a esse item. Com o conhecimento da relação de troca e travamento do preço da soja antes do plantio, a incerteza do produtor de certa forma é reduzida. De acordo com o discutido, utilizam-se duas variáveis relacionadas ao risco para captar o conceito de incerteza, independentemente de o risco não esgotar toda a dimensão desta última. Essas variáveis são a exposição percebida ao risco e a atitude ao risco.
Com relação à variável exposição percebida ao risco, embora esta não tenha sido significativa para explicar o uso do arranjo troca, verifica-se que existe uma relação positiva entre a percepção de exposição ao risco e o percentual de uso do arranjo em questão, ou seja, a percepção de alta exposição ao risco aumenta o uso do arranjo troca pelo produtor de soja. Não foram encontrados indícios teoricamente aceitáveis para supor que a amostra não fosse homogênea para justificar a sua segmentação. Com respeito à atitude ao risco, verifica-se que quanto mais averso ao risco, mais o produtor de xxxx utiliza o arranjo troca.
A variável que captura confiança apresentou sinal de acordo com o esperado, ou seja, quanto maior a confiança, maior o percentual de uso do arranjo troca. O fato de o produtor de soja ter afirmado que sempre compra fertilizantes da mesma empresa e que ele confia naquela empresa tem relação positiva com o uso do referido arranjo. Trata-se a confiança como uma percepção do indivíduo com respeito à organização envolvida no processo de troca, ou seja, considera-se a dimensão inter-organizacional da confiança, que se aproxima do conceito de reputação. Tal como Malhotra e Murnighan (2002), considera-se também que a confiança depende em grande parte da interação histórica das partes. Ao escolher a utilização do arranjo
troca, o produtor aceita a relação de preço fertilizante/ soja da empresa de fertilizante, consciente de que as empresas podem deter mais informações sobre o comportamento futuro dos preços, em parte pela confiança nelas depositada. Além disso, existe um histórico de transações, reputação e repetição do uso do arranjo em mais de uma safra. Em conversa informal com o dirigente de uma grande empresa de fertilizante, constatou-se que existe alta incidência de produtores que utilizam o arranjo troca em anos subseqüentes.
Por fim, a variável “escala”, diferentemente do esperado, foi positivamente relacionada ao uso do referido arranjo, ou seja, os maiores produtores de soja utilizaram mais o arranjo troca. A priori, esperava-se que os maiores produtores utilizassem menos o arranjo troca, pois eles mesmos seriam capazes de formatar seus próprios arranjos. Pode ser que a utilização da variável escala como proxy para a variável sofisticação empregada por Spiller e Zelner (1997), não tenha sido adequada, ou seja, os maiores produtores de soja não são os mais sofisticados. Nesse caso, não se poderia contestar a afirmação de tais autores de que quanto maior a sofisticação, menor a utilização de arranjos do tipo bundling. O fato de os maiores produtores utilizarem o bundling pode ser explicado por incentivos oferecidos pelas empresas a esses produtores no intuito de atraí-los.
Tendo em vista que o coeficiente da variável EPR foi não significativo, estimou-se um modelo alternativo sem essa variável, mas os resultados obtidos não foram melhores. Assim, manteve-se o modelo de equações estruturais estimado originalmente.
Discussão e Conclusões
Este artigo iniciou abordando a intensificação do uso de arranjos institucionais alternativos na agricultura de modo geral e no setor de fertilizantes em particular, ressaltando a crescente redução de incidência das transações no mercado “spot”. Procurou-se encontrar regularidades explicativas da escolha entre arranjos institucionais alternativos, assim, analisou-se a percepção dos produtores de soja com relação a diferentes arranjos institucionais para aquisição de fertilizantes, o que exigiu a realização de 200 entrevistas.
De acordo com os resultados, os produtores de soja percebem que, ao adquirir fertilizantes por meio da venda de soja para entrega futura para a mesma empresa, otimizam tempo e recursos, tendo em vista que em um mesmo momento, ocorre a transação de mais de um item. Caso o produtor não possua recursos próprios, em uma única transação ele resolve o problema do financiamento, da compra do fertilizante e da venda da soja. Essa percepção motiva o produtor a escolher esse tipo de arranjo para adquirir fertilizante. A economia nas negociações advinda da transação de um pacote de produtos reduz o que se denominou custo de negociação, que é principalmente os custos de transação ex ante. Nesse sentido, a formatação de pacotes ou de arranjos do tipo bundling pode ser motivada por razões de eficiência, sendo a economia em custos de transação uma dessas possíveis razões. Tal visão reforça que nem todo o bundling pode ser interpretado como prática não competitiva.
A variável exposição percebida ao risco não foi significativa no modelo analisado. Com relação à aversão ao risco, os produtores mais aversos foram os que mais optaram por adquirir fertilizantes por meio da venda da soja para entrega futura para a mesma empresa. Com tal arranjo, no momento da aquisição do fertilizante o produtor conhece a relação de troca fertilizante/ soja, ou seja, independentemente do preço da soja após a colheita, sabe quanto do seu produto será empregado para pagar o fertilizante. Parte do risco do produtor deixa de ter de ser gerenciado com o travamento do preço da soja antes do plantio, reduzindo parcialmente a incerteza do produtor.
O arranjo chamado comumente de troca, tratado neste artigo e utilizado para aquisição de fertilizante por meio da venda de soja para entrega futura, é formatado por contrato formal entre as partes. De acordo com Xxxxxxxxxx (1996), tal arranjo é, portanto, uma forma híbrida.
De acordo com os resultados, os produtores com maior aversão ao risco utilizaram mais o arranjo troca, que é uma forma híbrida. Assim, a proposição de Xxxxxxxxxx (1985) de que a elevada incerteza aumenta a probabilidade das estruturas de governança polares é fragilizada. No entanto, o resultado contribui mais para reforçar a colocação de Sykuta e Parcell (2002) de que a incerteza é um conceito multidimensional, sendo difícil prescrever a resposta em termos de governança sem compreender a dimensão específica pela qual a incerteza afeta a transação, o que indica a necessidade de estudos mais aprofundados sobre o tema. O arranjo abordado, embora seja uma forma híbrida, é utilizado em vez do mercado como forma de reduzir a incerteza, principalmente de preço, que está longe de representar todas as dimensões da incerteza. Além disso, o risco é utilizado como proxy para a incerteza e sabe-se que aquele não capta toda a dimensão desta. Este conceito multidimensional da incerteza é o responsável pelas controvérsias existentes na literatura com relação ao seu papel na determinação da forma de governança.
A relação encontrada entre a confiança do produtor e a utilização do pacote fertilizante/soja foi positiva. A confiança motivou os produtores de soja a utilizarem o arranjo troca, sendo que as interações repetidas entre as partes oferecem um significado central para a confiança, assim como preconizou Xxxxxxxx e Murnighan (2002). Ao escolher a utilização do pacote, o produtor aceita a relação de preço fertilizante/ soja das empresas de fertilizantes, apesar de reconhecerem que estas podem deter mais informações sobre o comportamento de preços futuros da soja. No entanto, a confiança depositada nas empresas de fertilizantes baseado no histórico da interação das partes determina a aceitação pelo produtor dos termos de troca envolvidos no pacote. Apesar de o arranjo em questão ser de curto prazo, ou seja, compreender apenas uma safra, existem evidências de que os produtores tendem a utilizá-lo em anos subseqüentes.
A relação encontrada entre a escala e a escolha do arranjo troca foi positiva. Os maiores produtores de soja, diferentemente do esperado, utilizaram mais o arranjo troca. Tal hipótese partiu da colocação de Xxxxxxx e Zelner (1997) de que a alta sofisticação do consumidor desfavorece as estratégias de bundling. Assim, os resultados contestam Xxxxxxx e Zelner (1997), embora se tenha utilizado a escala como proxy para a alta sofisticação. Essa proxy foi utilizada tendo em vista que, no caso da soja, a escala geralmente está associada ao alto nível tecnológico para plantio, manejo e colheita e aos mais diferenciados mecanismos de comercialização da safra, como, por exemplo, a negociação de contratos futuros e de opções diretamente na Bolsa de Chicago, que possui maior liquidez do que a BM&F.
A priori, esperava-se que os maiores produtores utilizassem menos a troca, pois eles seriam mais aptos a formatarem seus próprios arranjos para proteger-se contra a incerteza e para ter acesso a crédito e a mercado. No entanto, a maior utilização do arranjo troca por parte dos grandes produtores pode ser explicada pelo lado da oferta, ou seja, as empresas de fertilizantes oferecem esse arranjo com melhores condições e incentivos para os agricultores de maior escala, o que de certa forma atua como mecanismo de incentivo. Do lado das empresas de fertilizantes, a atração de grandes produtores pode ser justificada tanto pela garantia de suprimentos com menor número de transações, quanto pelas vendas em proporções mais elevadas. Com menor número de negociações e de contratos, as empresas atingem a meta estabelecida, o que explica o seu esforço para atrair e fidelizar grandes agricultores oferecendo-lhes incentivos.
Os resultados do presente estudo devem ser analisados considerando as limitações e agenda para futuras investigações. Este artigo foi realizado com produtores de soja dos estados de Goiás e Mato Grosso que pertenciam a um cadastro particular de agricultores.
Quanto à mensuração das variáveis abordadas, acredita-se que exista espaço para melhorá-la. Embora tenham sido significativas, as variáveis utilizadas para custos de transação captam principalmente a parte dos custos de transação ex ante, aqui denominado
custo de negociação. Assim, seria interessante utilizar variáveis mais abrangentes que considerem os demais custos de transação ex post. O risco não capta toda a dimensão da incerteza; assim, como se considerou apenas o risco, estimulam-se trabalhos que focalizem as diversas dimensões da incerteza para prescrever a resposta em termos de governança com base na compreensão dessas dimensões específicas pelas quais a incerteza afeta a transação.
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Notas
1 Bundling refere-se à prática de vender bens em pacotes; no bundling puro, os bens estão disponíveis apenas em pacotes enquanto no misto, os bens estão disponíveis individualmente ou juntos (XXXXX; XXXXXX, 1976; XXXXXXX, 1984; SCHMALENSEE; XXXXXX, 1989).
2 Quanto à motivação para uso do bundling, para Xxxxx e Xxxxxx (1976) alguns atribuem-no à economia de custo na produção, transação e informação associada com a venda do pacote. Segundo Xxxxxxxx (1999), uma explicação obvia para muitos bundles é que a empresa pode integrar os produtos melhor do que seus clientes. Para Xxxxxxxxxxx (1984, apud Schmalensee e Xxxxxx,1989), o verdadeiro papel do bundling é reduzir a heterogeneidade no que se refere à avaliação dos consumidores. Xxxx (1997) mostrou o potencial do bundling como um facilitador, ou seja, uma forma para duas empresas competidoras se diferenciarem.
3 O questionário será disponibilizado pela autora mediante solicitação dos interessados.
4 No caso de dados não normais, o uso do método da máxima verossimilhança implica erros padrão instáveis, embora os parâmetros estimados não sejam viesados (XXXXXX et al.,1989).