Contract
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Xxxxxxx Xxxx xx Xxxxx
TELEJORNALISMO E ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS: CONTRATO DE LEITURA DO PROGRAMA PROFISSÃO REPÓRTER
Santa Maria, RS 2016
Xxxxxxx Xxxx xx Xxxxx
TELEJORNALISMO E ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS: CONTRATO DE LEITURA DO PROGRAMA PROFISSÃO REPÓRTER
Trabalho final de graduação apresentado ao curso de Jornalismo, Área de Ciências Sociais, do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para obtenção do grau de Jornalista
– Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo.
Orientador: Prof. Dr. Xxxxxx Xxxxx
Santa Maria, RS 2016
Xxxxxxx Xxxx xx Xxxxx
TELEJORNALISMO E ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS: CONTRATO DE LEITURA DO PROGRAMA PROFISSÃO REPÓRTER
Trabalho final de graduação apresentado ao curso de Jornalismo, Área de Ciências Sociais, do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para obtenção do grau de Jornalista
– Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo.
Prof. Dr. Xxxxxx Xxxxx – Orientador (UNIFRA)
Profª. Me. Xxxxx Xxxxx (UNIFRA).
Jornalista- Xxxx Xxxxxxxx Xx.
Aprovado em de de
Dedico este trabalho primeiramente а Deus, por ser essencial em minha vida, porque ele foi quem me deu força е coragem durante toda esta longa caminhada. Dedico a minha mãe Xxxxxxxxx, minhas irmãs, Xxxxxxx e Xxxxxxx e a todos aqueles que torceram por mim.
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AGRADECIMENTOS
Chegou a hora de agradecer àqueles que me ajudaram a concluir mais uma etapa na minha vida: a minha graduação. Primeiramente, a Deus, por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades, e por ter permitido que tudo isso acontecesse na minha vida. Em segundo lugar, agradeço infinitamente à pessoa que me pôs no mundo, por quem tenho um amor incondicional desde os primeiros minutos de vida, que me incentivou nas horas difíceis, de desânimo e xxxxxxx, que me deu apoio, afeto, conselhos, e sem ela, com certeza, não estaria aqui hoje me tornando uma jornalista, agradeço a minha mãe Xxxxxxxxx. Ela que sempre sonhou em me ver formada e que acreditou até o fim em mais um sonho meu. Obrigada, mãe, por todos os ensinamentos, por aguentar meu silêncio na hora do mate, enquanto folhava as páginas dos livros, que deixava empilhados no canto do sofá da sala, pelos meus barulhos nas madrugadas de estudos, pelo meu estresse em épocas de provas e, principalmente, pelos meus choros e loucuras nessa reta final de conclusão do TFG.
Não poderia deixar de agradecer as minhas irmãs, Xxxxxxx e Xxxxxxx, aos meus sobrinhos, Xxxxxx e Xxxxxxxx e ao meu namorado Xxxxxx, que nos momentos de minha ausência dedicada aos estudos, sempre entenderam que era o melhor para o meu futuro. Agradeço aos meus colegas e amigos da Eny Calçados, onde trabalhei durante nove anos, e tive total apoio e incentivo, para que eu concluísse a graduação, aos meus amigos, irmãos de coração, Xxxxxxx Xxxxxx, Xxxxxx Xxxxxxx, Xxxxxxx Xxxxxxx, Xxxxxxx Xxxx, Xxxxxxx Xxxxxxxx, Pâmela da Xxxxxxxx, Xxxxxx Xxxxxxxx, Xxxxx Xxxxxxx e Xxxxxxxxxx Xxxx, vocês também foram fundamentais para esta conquista.
Não poderia deixar de agradecer ao pessoal da TV UNIFRA, que me receberam com muito carinho, e por terem me ensinado TUDO, que hoje eu sei sobre jornalismo de televisão, em especial, ao Xxxx Xxxxxxxx, por sempre acreditar que eu seria capaz de escrever um bom texto a cada pauta proposta, e por não ter desistido de mim, mesmo quando eu mesma cheguei a pensar não ter competência para trabalhar em televisão. Você é um exemplo de profissional que me inspira e que merece todo meu reconhecimento. Muito obrigada!
Por fim, agradeço aos mestres que ao longo desses seis anos contribuíram para que me apaixonasse cada dia mais pelo jornalismo. Agradeço a minha orientadora Xxxxxx Xxxxx, que embarcou comigo nessa pesquisa desde o inicio e teve toda a paciência do mundo na orientação deste trabalho. E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação. Mais uma vez, muito obrigada!
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RESUMO: O estudo examina o jornalismo investigativo na televisão brasileira através da identificação dos modos de endereçamento do programa Profissão Repórter, apresentado pelo jornalista Xxxx Xxxxxxxxx, exibido semanalmente na Rede Globo. Inicialmente criado como um quadro do programa Fantástico, em 2008, tornou-se fixo na grade da programação da emissora pela agenda dos temas abordados e, especialmente, pelas estratégias de mostrar os bastidores da notícia por meio de uma equipe de novos jornalistas aprendizes, recrutados em cursos de Jornalismo do Brasil inteiro. A partir deste cenário, a questão norteadora do estudo é: de que maneira é construído o contrato de leitura do programa Profissão Repórter do jornalista Xxxx Xxxxxxxxx? Ou seja, quais são as estratégias discursivas utilizadas pelo programa que criam vínculos entre emissor e receptor? O intuito do estudo é compreender o contrato de leitura do programa Profissão Repórter por meio do estudo dos modos de endereçamento das reportagens apresentadas. Como objetivos específicos têm-se: descrever os modos de endereçamento das reportagens apresentadas no programa Profissão Repórter e analisar os contratos de leituras construídos a partir das estratégias discursivas identificadas. Como percurso metodológico trabalhou-se com estratégias discursivas, a partir de dois eixos: estratégias explícitas e estratégias implícitas. As estratégias explícitas referem-se ao modo como o personagem do jornalista Xxxx Xxxxxxxx é construído no programa. A escolha das estratégias implícitas baseou-se no subtítulo do programa, “os bastidores da noticia”, que conota a existência de uma apuração jornalística, um mundo não revelado. Este universo jornalístico desvendado pelo programa, tanto explicita quanto implicitamente é, no entendimento deste trabalho, um vínculo simbólico relevante para o estabelecimento do contrato de leitura do programa.
PALAVRAS-CHAVE: Contrato de leitura; estratégias discursivas; telejornalismo; jornalismo investigativo.
ABSTRACT: The study examines investigative journalism in Brazilian television through the identification of the modes of address of the Reporter Profession program, presented by journalist Xxxx Xxxxxxxxx, which is weekly screened at Rede Globo. Initially created as a framework for the Fantástico program in 2008, it became fixed on the schedule of the broadcaster's agenda for the topics covered and especially for the strategies of showing the news behind the scenes through a team of new recruited journalists In courses of Journalism of the whole Brazil. From this scenario, the guiding question of the study is: in what way is the contract for reading the program Reporter Profession of the journalist Xxxx Xxxxxxxxx constructed? That is, what are the discursive strategies used by the program that create links between sender and receiver? The purpose of the study is to understand the reading contract of the Reporter Profession program through the study of the addressing modes of the presented articles. Specific objectives are: to describe the ways of addressing the reports presented in the Reporter Profession program and to analyze the contracts of readings constructed from the identified discursive strategies. As a methodological course we worked with discursive strategies, based on two axes: explicit strategies and implicit strategies. Explicit strategies refer to how the character of journalist Xxxx Xxxxxxxx is built on the show. The choice of the implicit strategies was based on the subtitle of the program, "the backstage of the news", which connotes the existence of an investigative journalism, an undisclosed world. This journalistic universe unveiled by the program, both explicitly and implicitly, in the understanding of this work, is a symbolic link relevant to the establishment of the reading contract of the program.
KEY WORDS: Reading agreement; Discursive strategies; telejournalism; Investigative journalism.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: O jornalista que pretende ser repórter até o fim, Xxxx Xxxxxxxxx 30
Figura 2: Logomarca do programa, temporada de 2016 42
Figura 3: Falta de dinheiro causa o fechamento de lojas do comércio 44
Figura 4: Crise econômica gera demissões em massa, em um das maiores Siderúrgicas do país 45
Figura 5: Milhares de desempregados na busca por uma vaga de emprego 47
Figura 6: Casal religioso enfrenta preconceitos, por causa de seu trabalho 48
Figura 7: Xxxx Xxxxxxxxx acompanha o trabalho do empresário Xxxxxx Xxxxxxx 49
Figura 8: Stripper ganha à vida mostrando o corpo em sites de sexo virtual 52
Figura 9: Caco Barcellos mostra a situação dos moradores das cidades do Equador 53
Figura 10: Xxx xxxxxxx, esperançosamente, pelo resgate da filha desaparecida 55
Figura 11: Caco Barcellos conversa com a repórter sobre a pauta 57
Figura 12: Caco conversa com a repórter sobre as imagens exibida 59
Figura 13: O jornalista questiona a repórter, via internet, sobre a vida dos brasileiros que trabalham em Londres 60
Figura 14: Xxxxx conversa, o repórter mostra ao jornalista casos de pedofilia 61
Figura 15: A repórter explica ao jornalista a atitude grosseira de um morador, como a seu trabalho 62
Figura 16: Repórter convidada explica ao jornalista, o que presenciou no estado do Acre 63
Figura 17: Chamada do programa. 64
Figura 18: O jornalista abre o programa no meio da feira erótica 65
Figura 19: Abertura do programa direto do local do terremoto 66
Figura 20: Um novo negócio nasce na antiga loja de roupas 69
Figura 21: Funcionário de Usiminas com licença remunerada aguarda em casa, para voltar a trabalhar 69
Figura 22: A repórter mostra a situação da desempregada, que, há cinco meses procura por emprego 70
Figura 23: Caco Barcellos a repórter mostram com detalhes a organização e inauguração da maior feira Erótica da América Latina 71
Figura 24: Os dois ângulos de um repórter cinegrafista 73
Figura 25: Funcionário da Usiminas faz plantão no Sindicato, para resolver as homologações. 73
Figura 26: Plano contínuo de imagens, do ponto de vista da repórter 74
Figura 27: Plano contínuo de imagens do ponto de vista do cinegrafista 75
Figura 28: Plano contínuo de imagens, ponto de vista do cinegrafista e do repórter 76
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 10
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 14
2.1 Telejornalismo na televisão brasileira 14
2.2 (Tele) jornalismo investigativo 18
2.3 O âncora de televisão 24
2.4 Os olimpianos e a produção de sentido 27
2.5 Contrato de leitura 30
2.6 Estratégias discursivas 35
3. PERCURSO METODOLÓGICO 37
3.1. Natureza da pesquisa 37
3.2.Técnica de pesquisa: estratégia discursiva 38
3.3. Objeto empírico 40
3.3.1. Caco Barcellos 40
3.3.2. Programa Profissão Repórter 42
3.3.3. Programas analisados 43
3.3.4. Descrição dos programas analisados 44
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS 56
4.1 O protagonismo de Caco Barcellos no programa 56
4.2 Os bastidores da notícia: estratégias implícitas 68
4.2.1. Feedback: desfecho das histórias contadas 68
4.2.2. Diferentes angulações com diferentes repórteres: Trabalho em equipe é uma estratégia 72
CONSIDERAÇÕES FINAIS 78
REFERÊNCIAS 81
1. INTRODUÇÃO
A motivação para a escolha da temática desta pesquisa deve-se a duas perspectivas: uma pessoal e outra profissional. As questões pessoais estão relacionadas ao desejo de trabalhar com televisão, bem como pelo fato de já estar inserida nesta área, trabalhando como repórter voluntária na TV Unifra, desde junho de 2015. Esse gosto é antigo: quando escolhi o curso já pensava em atuar nessa área. No decorrer das aulas, tive a oportunidade de conhecer outras oportunidades do fazer jornalístico como o impresso com atividades de assessoria de imprensa, o online com a criação de notícias para Agência Central Sul, os estúdios de rádio com a criação de rádio documentário, narração e cobertura ao vivo de eventos como o vestibular de verão 2015 da Instituição. Já na parte ligada à fotografia, pude compreender que as imagens complementam um texto e as duas passam informações distintas ao leitor.
Mas foi nos últimos semestres que tive acesso aos estúdios da tevê universitária onde fui muito bem recebida por todos da equipe. Entendi que trabalhar na televisão é mais embaraçado que simplesmente produzir e executar uma matéria, que uma produção bem elaborada faz toda a diferença na hora da edição do material coletado. Também, compreendi que a postura é importante, a imagem fala por si só, a dicção deve ser perfeita e que os textos devem ser claros, curtos e objetivos. Passei a entender ainda que o jornalismo não se faz sozinho, que cinegrafista e repórter precisam estar na mesma sintonia e com a mesma pauta na cabeça. Outra questão importante no aprendizado foi a de que deve haver diálogo com a equipe, trocar ideias, perguntar sempre que tiver dúvidas e sempre buscar mostrar algo novo, explorar o que ainda não foi abordado, que devemos começar com matérias “mais simples”, ganhar conhecimentos da estrutura de texto, da linguagem televisiva, mas sem perder o contexto e a veracidade das informações. Esse é o passo inicial, para depois se aventurar por “videoteipes mais complexos”, com pautas mais complicadas de transcrever. Hoje sinto-me mais segura e confiante para trabalhar com televisão. Penso dessa forma, entretanto, sem perder a modéstia e humildade, pois ainda há muito para aprender. Sei também, que nunca vou saber tudo, mas que jornalista é assim, sempre em busca da notícia e de mais conhecimentos.
Outro fator que também influenciou na proposta deste estudo é decorrente de uma motivação profissional, de estudar a temática que engendra os programas televisivos de gênero jornalísticos, bem como minha admiração pelos trabalhos de investigação do
consagrado jornalista/repórter Xxxx Xxxxxxxxx. Cabe salientar que esse viés jornalístico fascina-me.
No decorrer da pesquisa, percebe-se que os tempos pós-modernos sinalizam para uma informação rápida, volátil e superficial. Contrariamente a essa tendência, o jornalismo investigativo e as grandes reportagens ainda encontram espaços em alguns veículos. Hoje são produzidos programas de jornalismo investigativo que são fixos na grade de programação. Para fazer uma análise comparativa entre eles, elencamos três emissoras de tevês abertas; Rede Record de Televisão (RECORD), Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) e Rede Globo (GLOBO).
Na Record, há o Repórter Record Investigação, apresentado por Xxxxxxxx Xxxxxxxxx, que vai ao ar todas as quintas-feiras, às 23h30min. Com base em denúncias e assuntos polêmicos, o programa exibe reportagens investigativas e tem a missão de desvendar temas de interesse público, problemas sociais que as autoridades ignoram e que mexem com o dia a dia do brasileiro. No SBT, há O Conexão Repórter, sob o comando de Xxxxxxx Xxxxxxx. O compromisso desse programa é a busca pela verdade por meio de grandes reportagens. Desde 2010, ele é exibido aos domingos à meia noite. O nome está ligado à modernidade já que, nos tempos atuais, a informação chega aos lares de forma instantânea e sofisticada.
Já na Rede Globo, há o Profissão Repórter, apresentado por Xxxx Xxxxxxxxx que se utiliza da investigação de um grupo de jovens repórteres “inexperientes”, inclusive didatizando o modo como eles devem investigar o fato. O programa jornalístico é semanal e vai ao ar nas noites de quartas-feiras, com duração média de 30 minutos. Criado como um quadro do Fantástico, em 2008 tornou-se fixo na grade da programação da emissora.
Em comum, os três programas têm um apresentador consagrado como repórter investigativo e a busca por pautas de repercussão na sociedade. Como diferença, destaca-se que cada um tem seu modo de endereçamento e suas estratégias discursivas. É nesse contexto que este trabalho escolheu o Profissão Repórter, exibido na Rede Globo de Televisão, sob o comando do jornalista Xxxx Xxxxxxxxx, para estudar os contratos de leitura que são estabelecidos neste programa.
A partir desse cenário, a questão norteadora do estudo é: de que maneira é construído o contrato de leitura do programa Profissão Repórter do jornalista Xxxx Xxxxxxxxx? Ou seja, quais são as estratégias discursivas utilizadas pelo programa que criam vínculos entre emissor e receptor?
Diante da credibilidade do programa e da aceitabilidade do mesmo, pretende-se investigar quais são os modos de endereçamento do programa, que cria vínculos entre emissor
e receptor e estabelece um contrato de comunicação, especialmente pela característica de exibir os bastidores da construção da notícia gerando efeitos de sentidos transparentes e pedagogizando a forma de apuração das notícias.
Nesse viés, Caco Barcellos, já foi pesquisado inúmeras vezes. Entre estes trabalhos destaca-se: Shneider (2008) em “A ficcionalização do real no livro-reportagem Abusado: o dono do morro Dona Xxxxx”, são analisados os pontos de aproximação entre a reportagem e a narrativa literária e discute a ficcionalização da realidade pelo discurso jornalístico. Para isso, o livro-reportagem Abusado: o dono do morro Dona Xxxxx, do jornalista, é examinado sob os pressupostos teóricos do jornalismo, efeitos de ordem, duração e frequência, o modo e a voz.
No artigo “A quem fala o Profissão Repórter? Modos de endereçamento do programa que mostra “os bastidores da notícia”, Xxxxx; Bastian (2016) as autoras analisam o Profissão Repórter, ainda quando era exibido como quadro no Fantástico, aos domingos. Elas destacam suas características de endereçamento à recepção. Para isso, as autoras trabalham com conceitos referentes às descontinuidades e à auto-referencialidade nos processos de midiatização.
Outro estudo, “Circulação crítica de Profissão Repórter: análise de comentários em blogs”, Xxxxx (2013) busca analisar comentários e discussões realizados em blogs sobre o programa televisivo Profissão Repórter em que se tem uma reflexão acerca dos modos como a televisão tem sido assistida e comentada, na ambiência digital.
Já no trabalho “Profissão Repórter: um Estudo de Mudança de Formato e Trânsito entre Gêneros a partir dos Modos de Endereçamento”, Xxxxx; Oselame (2011) os autores analisam, como o programa Profissão Repórter dialoga com os gêneros do telejornalismo e do reality show. Também, mostram as mudanças de formato que o programa sofreu com o passar dos anos até a sua temporada em 2010.
Assim, entende-se que a pesquisa justifica-se pela relevância do jornalismo investigativo no telejornalismo, uma vez que busca identificar o contrato de leitura do programa construído a partir de estratégias discursivas propostas por algumas características especificas: o papel do âncora, os bastidores da busca pela notícia e a pedagogização das rotinas produtivas de repórteres “inexperientes” que participam de diferentes temporadas do programa.
O intuito do estudo é compreender o contrato de leitura do programa através dos modos de endereçamento das reportagens apresentadas. Como objetivos específicos têm-se: descrever os modos de endereçamento das reportagens apresentadas no programa Profissão
Repórter, identificar as estratégias discursivas e analisar o contrato de leitura construído a partir de discurssividades.
Por fim, há a análise dos resultados do contrato do programa Profissão Repórter feita em duas perspectivas: ‘Estratégias Explícitas’ e ‘Estratégias Implícitas’. Como estratégia explícita, aponta-se para o jornalista Xxxx Xxxxxxxxx, com um perfil reconhecido e aplaudido como um profissional de grande articulação no cenário da reportagem investigativa.
Como estratégias implícitas, identificaram-se duas categorias: O feedback que está presente em quase todas as reportagens exibidas. Por meio de uma ‘temporalidade’, ‘passagem de tempo’, o repórter assume a responsabilidade de contar com veracidade os fatos e também dar um retorno ao público sobre o desfecho das histórias contadas.
A outra categoria observada nessa estratégia é o trabalho em equipe, o formato proposto pelo programa de mostrar diferentes angulações com diferentes repórteres criando uma diversidade de ideias, conotando, assim, uma imparcialidade jornalística. Isso vai de encontro ao que acontece nas mídias tradicionais, em que um repórter e um cinegrafista fazem a cobertura dos fatos. Percebe-se, dessa forma, que o Profissão Repórter possibilita que o repórter seja ao mesmo tempo o cinegrafista, e mostre seu olhar sobre a reportagem.
O estudo organizou-se da seguinte forma: no primeiro capítulo, trabalhou-se a fundamentação teórica abordando o telejornalismo, telejornalismo investigativo, entrevista (tele) jornalística bem como o contrato de leitura. Posteriormente a isso, tem-se o percurso metodológico com um viés qualitativo, no qual se organiza a partir de observações empírico- qualitativas, a organização de dados e sistematização das categorias apresentadas. Esse conjunto de dados foi aliado à capacidade de avaliação e interpretação do pesquisador, proporcionando uma reflexão subjetiva ao tema estudado.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O quadro teórico deste estudo é formado a partir de conceitos que relacionam a televisão, o jornalismo investigativo e os contratos de leitura. A partir deste engendramento, buscou-se autores como Chareaudeau (2006), Xxxxxxxx (2002), Xxxxxxxx (2002), Burgh (2008), Verón (2004), entre outros.
2.1. Telejornalismo na televisão brasileira
O telejornalismo surgiu no Brasil nos anos 50 com a chegada da primeira emissora de TV do país, a TV Tupi exibida pelo canal 6 de São Paulo. Na época, a emissora possuía uma abordagem mais voltada para o entretenimento (REZENDE, 2000, p.105).
Segundo Xxxxxx (2010), a televisão brasileira foi inaugurada oficialmente no dia 18 de setembro de 1950, em estúdios precariamente instalados em São Paulo, graças ao pioneirismo de Xxxxx Xxxxxxxxxxxxx. Ainda conforme o autor, na época, o rádio era o principal veículo de comunicação do país e, “ao contrário da televisão norte-americana, que se desenvolveu apoiando-se na forte indústria cinematográfica, a brasileira teve de se submeter à influência do rádio, utilizando sua estrutura, formato, seus técnicos e artistas” (XXXXXX, 2010, p.23).
Dessa forma, os telejornais até a década de 60, não contavam com o trabalho de redatores e os apresentadores eram os mesmos locutores do rádio que possuíam um estilo “forte e vibrante”. Os primeiros telejornais apresentavam um formato muito simples, em termos visuais, e também, sempre o mesmo cenário: uma cortina de fundo, uma mesa e uma cartela com o nome do patrocinador (REZENDE, 2010, p. 57).
As notícias eram lidas em frente à câmera, por um ou mais apresentadores, sem grandes expressões e intervenções do comunicador, valorizando mais a fala do que a imagem. Segundo Xxxxxxx (2010), esse primeiro formato a aparecer nos telejornais mantém a mesma estrutura básica, o que diferencia daquela época é uso do telepromter1 que eliminou os papeis das mãos dos apresentadores. Os principais telejornais ainda mantêm o formato de transmissão ao vivo. Mesmo que as chances de imprevistos ou possíveis falhas técnicas sejam maiores, esse método utilizado permite que o repórter apresente o “factual”, o que acontece no Brasil e no mundo de qualquer lugar do país.
1 teleprômpter ou teleponto é um equipamento acoplado às câmeras de vídeo que exibe o texto a ser lido pelo apresentador. É a forma mais eficiente de exibir textos para apresentadores, especialmente em segmentos longos.
De acordo com Rezende (2000), as equipes responsáveis pelos telejornais eram pequenas e devido à precariedade técnica e a pouca experiência dos profissionais da época, os telejornais não tinham hora certa para entrar no ar, e as falhas eram comuns acontecerem. Além disso, os programas de televisão eram assistidos apenas pelas classes privilegiadas da sociedade, pois os aparelhos de TV eram muito caros, e ser dono de um televisor naquela época, era sinônimo de status (REZENDE, 2000, p. 106).
Mais tarde, Xxxxx Xxxxxxxxx, conhecido como o Repórter Esso do rádio jornalismo, passou a ser uma das maiores expressões do telejornalismo. Segundo Xxxxxxxx (2004, p.2), no período, em que Xxxxxxx Xxxxxx era o presidente do Brasil, o Repórter Xxxx fez história no radiojornalismo e ficou quase trinta anos no ar. “A estreia, no Brasil, ocorreu em 28 de agosto de 1941, poucos meses antes de o país entrar na Segunda Guerra, e a última edição foi ao ar em 31 de dezembro de 1968, poucos meses antes de o homem pisar na Lua”. Durante esse período, o noticiário mostrou os principais acontecimentos sociais, políticos e econômicos.
Muitas gerações cresceram, ouvindo e acreditando em tudo que O Repórter Esso, representado pelos locutores exclusivos, falava do outro lado do alto-falante. Boa parte do mundo, em 15 países, a partir da transmissão de 60 rádios que irradiavam o noticiário, parava para ouvir as últimas informações das guerras, os pronunciamentos dos Papas, dos presidentes, dos políticos, dos cientistas e como estavam os astronautas soviéticos e americanos que giravam em torno da terra em naves espaciais (KLÖCKNER, 2004, p.03).
Esse aspecto inicial citado por Xxxxxxx (2010), aos poucos foi perdendo a ligação com o meio antigo ganhando mais recursos tecnológicos, novos formatos e qualificando os profissionais para atuarem em televisão. Essas transformações deixaram o telejornal menos engessado, mais agradável de ser assistido. A partir disso, o fazer jornalístico foi mudando seu formato, ao passo que, a TV foi evoluindo e criando seu próprio modo de transmissão.
No entanto, logo a televisão surgiu, ela não tinha uma grande audiência e perdia para o rádio “em relação à instantaneidade”. Por isso, inicialmente, não era um veículo atrativo para os anunciantes. Porém, as agências publicitarias estrangeiras, instaladas no Brasil, que já tinham o conhecimento do poder e do sucesso desse veículo em seus países de origem, logo passaram a utilizar a televisão como meio publicitário. Assim, ganharam o direito de decidir o conteúdo dos programas, bem como atribuir seus nomes a eles. Durante as duas primeiras décadas de televisão no Brasil, os programas eram identificados pelo nome do patrocinador: “Telenotícias Xxxxxx”, “Xxxxxxxx Xxxx”, “Telejornal Bendix”, “Reportagem Ducal” ou “Telejornal Pirelli” (MATTOS, 2010, p.25).
De acordo com Rezende (2010) com os progressos tecnológicos e o surgimento do VT2, as notícias puderam ser transmitidas direto do local dos acontecimentos3. Essa facilidade deu-se devido à evolução das câmeras de captação de áudio, que se tornaram mais portáteis, o que facilitou o deslocamento do material e a transmissão das noticias direto do local dos acontecimentos.
Com o desenvolvimento da televisão, notou-se a necessidade de um apresentador que deixasse os noticiários mais dinâmicos, através de sua aparência, sua entonação e expressão facial. Portanto, a seleção dos locutores era criteriosa, o que confirma Xxxx, diretor-geral da Rede Globo, “além da correção da voz, do timbre bonito, os telejornais se beneficiariam muito com apresentadores que fossem competentes e de boa aparência” (XXXXX; XXXXX 1984, p. 226, apud in REZENDE, 2010, p.64).
Outra mudança foi a maneira como a mídia passou a se relacionar com público. No jornalismo, as primeiras formas de interação do telespectador eram por meio de cartas, ligações telefônicas, ou a participação em entrevistas, ao vivo ou gravadas. Para Vizeu (2010, p.91), “coincidentemente ou não, o aumento dos processos interativos ocorreu paralelo à chegada e ao crescimento da internet”.
Sendo assim, o autor destaca que os vídeos produzidos com tecnologia digital pelos internautas começaram a fazer parte da grade de conteúdo dos programas. Para destacar o uso desses vídeos, algumas emissoras criaram um espaço específico, para eles nos noticiários, como por exemplo: “O Bola Murcha e Bola Cheia” quadro do Fantástico, em que o telespectador, ligado em futebol, enviava vídeos engraçados, que eram exibidos e comentados pelo apresentador Xxxxx Xxxxxxx.
A possibilidade de utilizar conteúdos que não foram produzidos pelas equipes de reportagem foram ampliadas e incorporadas às rotinas produtivas das emissoras. O telespectador passou a atuar também como ‘coprodutor’ de notícias. Ele compartilha fotos e vídeos de situações que presencia na falta de um profissional para cobrir os fatos, deixando os noticiários televisivos mais interativos e participativos.
Para Xxxxx (1989, apud in ROCHA 2010), essa cooperação do receptor não é mais novidade, mas uma estratégia de captação de audiência e da identificação com o público numa sociedade contemporânea. Observa-se também uma mudança na estrutura dos programas, as bancadas deram lugar às poltronas e as projeções de tela passaram a ser interativas com o
2 Videoteipe o termo vem do inglês videotape, consiste numa fita de material plástico, bastante fina usada para o registro de imagens televisivas. Seu uso permitiu à gravação prévia de programas destinados a transmissões posteriores. Designa, ainda, a processo de registro das produções de televisão em fitas magnéticas.
3 Segundo Rezende (2010, p.58) encomendado para a cobertura da inauguração de Brasília.
jornalista. Dessa forma, o autor define que os telejornais ficaram mais versáteis e com um apresentador carismático que olha nos nossos olhos e conta os fatos e notícias da atualidade. Sua presença no estúdio transforma-se em suporte da expressão e do contato, em que as técnicas gestuais estão aliadas aos detalhes do ambiente que o cerca, ao trabalho dos técnicos, ao movimento das câmeras e às telas de controle.
Outro elemento importante, para o jornalista no exercício de sua profissão é lidar com “verdade absoluta dos fatos”. Temer (2010, p.105) defende que o jornalismo tem por princípio ético o compromisso com a verdade e que as noticias são organizadas a partir do ‘interesse público’ e do ‘interesse do público’. Nesse mesmo sentido, Xxxxxxxxx (2008, p.02) frisa que a atividade jornalística exerce uma forte influência sobre as pessoas, pois “atua como tradutora de realidades”.
Ainda de acordo com o autor, as tecnologias revolucionaram o modo operante do fazer jornalismo, com a quebra de linearidade na edição das reportagens, com a instantaneidade possibilitada pela internet, bem como a interatividade das redes sociais. Isso tudo contribuiu para deixar as notícias mais velozes o que, por sua vez, aumentou as chances de erros de apuração.
Chegamos ao tempo da narrativa, ela própria inenarrável, trazido justamente por essa velocidade. Um fato se transforma em um título e toda informação para além disso é descartada. Assim a história desse fato se transforma em uma cronologia de manchetes, expediente muito utilizado pelos veículos que utilizam recursos on-line de propagação de notícias (PELEGRINI, 2008, p.3)
A partir desse cenário o autor entende que essa incansável disputa pelo “furo” de reportagem pode vir a colocar em risco a credibilidade dos veículos de informação. Toda essa urgência do jornalismo pode decretar a morte da informação. A partir desse pensamento, o autor questiona até que ponto, o “furo de reportagem” é mais importante que dar a informação correta. “O simples ato de contar histórias do cotidiano tornou-se uma forma fugaz de narrativa, por conta da velocidade com que os meios de produção de informação realizam seu trabalho” (XXXXXXXXX, 2008, p.3).
Esse questionamento levantado por Xxxxxxxxx aponta para um cenário, em que o jornalista que for executar esse tipo de trabalho deverá ter serenidade para adaptar-se a esse meio transformador que, cada vez mais, busca corresponder às expectativas do jornal e não dos expectadores como deveria ser. Portanto, para chamar a atenção do telespectador, alguns programas de telejornalismo dão preferência a temas emocionais e fazem uso intencional de
uma linguagem simples, do dia-a-dia das pessoas. Essas estratégias identificadas ajudam a prender a atenção do telespectador e a manter a audiência.
Nesse sentido, Barbeiro (2002. p. 27) salienta que os veículos de comunicação também atuam como prestadores de serviço, já que a forma mais adequada de transmitir as informações é através da ‘isenção jornalística’, para que o público possa tirar suas próprias conclusões sobre os assuntos divulgados, sem a interferência de mediador.
O autor também defende que o jornalista não tem a obrigação de ser um especialista em todos os assuntos que vai abordar, mas que tem a obrigação de se informar antes de ir a campo. “O repórter deve cultivar suas próprias fontes e acompanhar os assuntos pelos jornais, revistas, emissoras de rádio e TV. Pesquisas ajudam no aprofundamento da reportagem. O jornalista não domina todos os assuntos que reporta, mas sabe quem pode dar as informações” (XXXXXXXX, 2002, p.67).
A partir desse cenário, é possível entender que o telejornalismo ocupa um espaço central na sociedade brasileira, como uma forma cômoda e mais acessível que a população tem de receber informação. É isso que defendem os autores Vizeu e Xxxxxxxx (2010) no artigo O telejornalismo: o lugar de referência e a revolução das fontes. Segundo esse estudo, com o surgimento de inúmeras possibilidades tecnológicas e a transição do sinal analógico para a fase digital, o jornalismo deve permanecer durante um bom tempo como o principal meio de informação para a sociedade.
2.2. (Tele) Jornalismo Investigativo
O jornalismo investigativo é uma área da comunicação que tem uma relevante importância para a sociedade, pois através dele muitos crimes, casos de corrupção, revelações de fraudes, má gestão de recursos públicos entre outros que abalam o país são desvendados. É um gênero que aprofunda a informação e causa questionamentos no público. De acordo com Xxxxxx (2005, p.8), o termo "jornalismo investigativo” soa redundante, pois todo jornalismo requer investigação.
Segundo Xxxxxx (2005, p.77) o jornalista Xxxxxxx Xxxxxx compartilha desse mesmo raciocínio, chamando atenção da seguinte maneira: “meus caros, denunciar um escândalo ou um erro, contar a história de um acidente de carro ou de uma eleição fraudada exige investigação. E exaustiva, muitas vezes. Claro, se quisermos fazer bom jornalismo”.
O que diferencia esses dois modelos, do fazer jornalístico, é a forma como se dá a realização das reportagens. No campo da investigação, os jornalistas estão mais suscetíveis
aos riscos, por envolver pessoas perigosas ou poderosas. Para Fortes (2005, p.61), na investigação jornalística, “o trabalho é sempre intenso, misto de suor e paciência, mesmo quando a luta cotidiana pela notícia requeira o cumprimento de prazos. Mas corre-se tanto contra o tempo como a favor da verdade e é nesse equilíbrio que reside o bom resultado de uma investigação”. Para tanto, o jornalista investigativo ao assumir o papel de investigador, faz uso de câmera escondida, disfarce, gravador, entre outros, até então, considerados antiéticos pela profissão. Além disso, o jornalista investigativo omite sua identidade e se infiltra entre as fontes para conseguir informações.
Nesse cenário de olhares atentos, passos silenciosos e mentes pensantes, Xxxxxx (2005) ressalta que “a imaginação no jornalismo serve para que você tente enxergar além do óbvio. Para que você diga mais sem dizer demais. É perigosa, se mal usada. Requer muito cuidado” (apud in FORTES 2005, p.70).
Burgh (2008) acredita que “o jornalismo é o primeiro rascunho da história; em contraste, o jornalismo investigativo é o primeiro rascunho da legislação”. A partir dessa definição, o autor conceitua a diferença entre as duas categorias da seguinte maneira:
Enquanto o jornalismo diário lida rapidamente com as informações recebidas, em geral aceitando o que a autoridades (ministros, polícia, bombeiros, universidades, porta-vozes institucionais) determinam como fatos apropriados para serem transformados em notícias, o jornalismo investigativo seleciona suas informações e prioridades de diferentes modos. A distinção não é, todavia, um lado absoluto: nem os editores de notícias são tão passivos, nem os jornalistas investigativos são tão ativos como essa simplificação pode sugerir (BURGH. 2008. p 16).
No entanto, Fortes (2005) parte do pressuposto de que as técnicas de jornalismo de maneira geral são muito parecidas o que diferencia o jornalismo investigativo dos outros setores da atividade “são as circunstâncias, normalmente mais complexas, dos fatos, sua extensão noticiosa e o tempo de duração que, necessariamente, deve ser maior, embora quase sempre exercido sob pressão”. Dessa forma, o autor define que o jornalismo investigativo é algo mais complexo, trabalhoso e perigoso. “Não se assemelha com a rotina natural das redações. Exige talento, tempo, dinheiro, paciência e sorte” (FORTES, 2005, p.30).
Essa perspectiva do autor faz alusão ao fato do profissional dessa área seguir mais a tendência de investigador e realizar um trabalho, que na maioria das vezes, cabe às autoridades e não a um jornalista. Ainda segundo o autor, o "jornalista investigativo passou a ser visto, dentro e fora da profissão, como uma espécie de entidade pronta para revelar os segredos da nação, sejam eles arquivos da ditadura ou os bastidores da demissão de um ministro qualquer” (FORTES, 2005, p.23).
Nessa mesma linha de raciocino, Burgh (2008) acredita que cabe ao jornalismo investigativo a responsabilidade de revelar a veracidade dos fatos e ‘identificar lapsos’ em qualquer plataforma midiática. Segundo ele, os profissionais dessa área desempenham um importante papel na sociedade, denunciando a corrupção, a injustiça e contribuindo de modo geral para esclarecer assuntos de interesse público.
Essa associação feita pelo autor faz pensar a responsabilidade atribuída ao trabalho investigativo, o compromisso de chamar atenção “para as falhas do sistema de regulamentação social e para formas como esse sistema pode ser logrado pelos ricos, poderosos e corruptos” (BURGH, 2008. p.3).
A partir desse consenso elaborado pelo autor, acredita-se que as revelações feitas através de reportagens investigativas podem causar reflexões nas pessoas diante dos fatos desvendados. Por outro lado, Xxxxx enfatiza que não existe verdade absoluta, embora todo jornalista investigativo esteja em busca da mais completa versão dos fatos.
De acordo com Xxxxxx (2005), o telejornalismo investigativo surgiu no Brasil no âmbito do jornalismo impresso e teve um boom na década de 1990, após o fim da ditadura militar (1964-1985).
Durante os 21 anos de rodízio de generais no Palácio do Planalto, a imprensa brasileira ficou, em maior e menor escala, sufocada pela censura e pela força da repressão. Vivia, aqui e ali, de iniciativas pontuais. Com a redemocratização do país, em 1985, os jornalistas começaram a respirar, a fugir do noticiário oficial e, finalmente, a buscar a melhor notícia — aquela que está escondida (FORTES, 2005, p. 9).
A partir desse contexto histórico do jornalismo investigativo brasileiro apresentado, Xxxxxx (2005) explica que o trabalho de investigação aos poucos deixou de ser um simples preceito e transformou-se em uma área de crescente especialização o que virou um símbolo de status dentro do jornalismo brasileiro.
Portanto, o termo ‘jornalismo investigativo’, normalmente utilizado para agregar glamour à profissão é muito mais uma marca do que um conceito. Dessa forma, o autor sinaliza que o jornalismo investigativo, “ao contrário das sub especializações que decorreram das editorias tradicionais, acabou por se sobrepor a todas elas, ditando normas, criando procedimentos, gerando castas e, principalmente, virando sinônimo de sucesso profissional” (FORTES, 2005, p.12).
Bucci (2005) entende “o jornalismo investigativo como uma "modalidade especializada" que teria se desenvolvido dentro do ofício a partir de uma imposição da
burocracia e de muitas das máfias nacionais que colocaram sobre o direito de informação uma cortina de fumaça”. Segundo o autor, essa tentativa de censura na divulgação de informações de forma “maligna e maliciosa” é capaz de barrar o direito de saber de todo cidadão (apud in FORTES, 2005, p.13).
O jornalista também defende a ideia de que “jornalismo investigativo é, antes de tudo jornalismo”, ao passo que, o diferencial dessa modalidade é o método de apuração adotado pelo repórter, (que leva mais tempo aprofundado os fatos) o objeto da pauta (que normalmente é algo mais complexo, envolvendo casos de crimes, corrupção, fraudes) a forma (são reportagens mais longas) e o conteúdo final (torna público algo sigiloso) com que a reportagem se apresenta (FORTES, 2005, p.14).
Nesse sentido, entende-se, aos olhos de Xxxxx (2008), que em todos os casos de jornalismo investigativo, está implícito certo conceito do papel do jornalista, um discurso profissional de responsabilidade social.
A partir desse cenário proposto pelos autores sobre o universo do jornalismo investigativo, compreende-se que, as reportagens com teor de investigação não são fáceis de serem produzidas, não são realizadas de um dia para o outro, envolve riscos ao jornalista que se propõem fazer esse trabalho, por se expor diante de casos perigosos, exige, ainda, persistência e paciência. Há casos que demoram anos para serem descobertos e há aqueles que o jornalista pode pagar com a própria vida. Isso acontece porque na busca pela verdade dos fatos, ficam sujeitos a situações que fogem do controle do profissional.
Exemplo4 disso observa-se o caso do jornalista investigativo Xxx Xxxxx, que foi sequestrado, torturado e morto por traficantes do Rio de Janeiro em 2002. “O jornalista Xxx Xxxxx, de 51 anos, foi torturado e morto por traficantes na favela da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, em junho de 2002, quando fazia uma reportagem investigativa sobre bailes funk financiados pelo tráfico no Complexo do Alemão, subúrbio carioca”. Um profissional que pagou com a própria vida, para cumprir seu papel de responsabilidade social.
Fortes (2005) divulgou um trecho na nota, em que o diretor da Central Globo de Jornalismo, Xxxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxx fala sobre o papel do jornalismo investigativo:
[...] O jornalismo investigativo tem prestado um inestimável serviço ao país, com a denúncia contundente de crimes, corrupção, prevaricação de autoridades e serviços mal prestados aos cidadãos. Seja usando as técnicas usuais da apuração jornalística ou se valendo de aparatos eletrônicos, como uma microcâmera de vídeo, no caso da Globo, microcâmeras fotográficas, ou microgravadores, no caso dos jornais, revistas
4 (OGGIONI, especial para o IG. 03/03/2012). Acessado em: xxxx://xxxxxxxxxxxxx.xx.xxx.xx/xxxxxx/xxxxxx/xxxx- xxx-xxxxx/n1597661837127.html
e emissoras de rádio, grande parte da imprensa brasileira tem se dedicado a esse trabalho. Um trabalho que ressalta, talvez, o lado mais nobre da do jornalismo: empenhar-se com tenacidade, mas dentro de limites rígidos que minimizem os riscos, para revelar os lados obscuros de nossa sociedade. O único objetivo é torná-la mais humana e mais justa. Nós temos certeza de que mesmo diante deste atentado, a imprensa brasileira não abrirá mão do seu papel. Nós, da Globo, continuaremos firmes neste propósito [...] (FORTES, 2005, p.66).
Esse conceito de ‘responsabilidade social’ é percebido nas abordagens de temáticas das reportagens produzidas no Profissão Repórter. Nesse sentido, fazer jornalismo investigativo para televisão requer dominar as técnicas de investigação com os recursos televisivos. Dessa forma, por não dominar todos os assuntos, a entrevista é um recurso das reportagens e do jornalismo investigativo. Por questões éticas, as emoções não podem interferir no processo, para não prejudicar o lado profissional, assim como as opiniões e inferências devem partir do telespectador, o entrevistador deve manter, assim, sua imparcialidade.
De acordo com Xxxxxxxx (2002), a entrevista deve ser redonda com começo, meio e fim. O repórter tem que saber administrar bem o tempo disponível e se informar sobre o tema abordado, para fazer perguntas coerentes e importantes sobre o assunto pautado.
Nessa perspectiva, a autor defende que “a entrevista em televisão tem o poder de transmitir o que o jornalismo impresso nem sempre consegue”:
A exposição da intimidade do entrevistado. Os gestos, o olhar, o tom de voz, o modo de se vestir, a mudança no semblante influenciam o telespectador. Esses maneirismos também mudam a ação do entrevistado, que na medida de em que adquire experiência consegue tirar do entrevistado mais do que gostaria de dizer. Boas entrevistas são as que revelam conhecimentos, esclarecem fatos e marcam opiniões. Quando isso acontece à notícia avança e abre espaço para novas entrevistas e reportagens (BARBEIRO, 2002, p. 84).
Consoante com o pensamento de Xxxxxxxx (2002), um bom jornalista não pode induzir as respostas dos seus entrevistados, mas sim usar da sua experiência para conseguir declarações importantes para o esclarecimento dos fatos, assim como o entrevistado não deve ser enganado sobre o assunto a ser abordado. O entrevistador tem a responsabilidade de perguntar, mas o entrevistado tem o direito de se negar a responder determinadas perguntas e até mesmo, de não dar entrevista.
Entrevista não é linchamento. O entrevistado tem o direito legal e ético de não responder a determinada pergunta e até mesmo de não dar a entrevista, e tem que ser respeitado na sua decisão. Outro erro é induzir o entrevistado a dar a resposta que se quer ouvir. O que o jornalista pode fazer é usar sua inteligência para conseguir declarações que contenham notícias ou esclarecimentos (XXXXXXXX, 2002, p. 87).
Xxx (2008, p 109) classifica a entrevista como uma técnica em que o “investigador” se mostra frente ao “investigado” e lhe faz perguntas, com o objetivo de conseguir informações que interessam à investigação. Desse modo, a entrevista é mais flexível que todas as técnicas de coleta de dados; “psicólogos, sociólogos, pedagogos, assistentes sociais e praticamente todos os outros profissionais que tratam de problemas humanos valem-se dessa técnica, não apenas para coleta de dados, mas também com objetivos voltados para diagnóstico e orientação”.
O autor ainda ressalta que “as entrevistas mais estruturadas são aquelas que predeterminam em maior grau as respostas a serem obtidas, ao passo que as menos estruturadas são desenvolvidas de formas mais espontâneas”. Para tanto, Xxx (2008) define que “o responsável pelo planejamento da pesquisa deverá dedicar atenção especial ao processo de seleção e treinamento dos entrevistadores, já que o sucesso desta técnica depende fundamentalmente do nível da relação pessoal estabelecido entre entrevistador e entrevistado” (XXX, 2008, p. 111).
Dessa maneira, o autor afirma que a entrevista é um gênero jornalístico que requer técnica e capacidade profissional, pois se não for bem conduzida, pode resultar em fracasso. No entanto, se o repórter não estiver calmo e preparado para transmitir elementos básicos para uma matéria, ele só vai perder tempo e não vai conseguir realizar seu trabalho como esperado. Já Xxxxxxxxxx (2006) salienta que “a entrevista jornalística possui as mesmas características de qualquer outra entrevista. O que a diferencia é que ela é especificada pelo contrato midiático”, uma espécie de dispositivo triangular composto por quem entrevista, pelo entrevistado e pelo ouvinte. Diante desse cenário, o autor entende que o papel do entrevistador é conseguir arrancar “verdades ocultas” do entrevistado, falar o que se quer saber e do ouvinte, escutar coisas que sejam de interesse geral (XXXXXXXXXX, 2006, p.
214).
Ainda conforme o autor, a entrevista, seja ela jornalística, radiofônica ou televisiva, tem que obedecer a um conjunto de limites, mas pode existir um problema de credibilidade, na medida em que se pode prever antecipadamente perguntas e respostas: “perguntas provocadoras, mas pouco convenientes do entrevistador, com direito de resposta difícil de levar a bom termo, respostas de defesa, que esquiva ou de membros da oposição. Trata-se de uma mecânica “previsível demais para ser honesta”, isto é, para ser credível” (XXXXXXXXXX, 2006, p. 217).
A partir disso, a entrevista pode ser considerada como a chave de uma estratégia discursiva e, portanto, um encadeamento entre a construção de um contrato de leitura. Nessa
situação apresentada, o âncora em telejornalismo tem um papel essencial, atua com um mestre de cerimônias, que conduz as reportagens cria elos entre elas e vínculos com a recepção.
2.3. O âncora de televisão
Xxxxxx é o nome dado ao jornalista responsável por apresentar um telejornal. Esse profissional coordena e anuncia os acontecimentos, com a função de transmitir a notícia para o telespectador. Temer (2010, p.14) define que “o âncora, apresentador ou noticiarista (sozinho ou em dupla) é uma espécie de fio condutor, pai simbólico ou personagem principal que limita o espaço dos demais personagens”. Também, Squirra, (1993, p.16) ressalta que é fundamental que o âncora tenha “uma boa voz e dicção clara e eficiente” (apud in RUHEE, 2007, p.53).
Cabe ao âncora também, a missão de interagir com os repórteres que estão na rua e que fazem as entradas ao vivo, bem como possuir ‘destreza’ para conduzir os convidados em estúdio e ‘jogo de cintura’ para os imprevistos que podem acontecer numa transmissão ao vivo. Seu carisma e talento para apresentar são fatores decisivos na escolha do telespectador. Além disso, o âncora dos telejornais carrega a imensa responsabilidade de ajudar a formar a ‘opinião de grande parte das pessoas de um país’, que não tem o hábito de ler jornais e revistas e que utilizam a televisão, como única fonte de consumir informação
Além disso, Xxxxx (2009, p.2) reforça a ideia de que, “no jornal a informação é impessoal, transmitida por palavras que formam ideias e se transformam em opiniões”. Segundo a autora, estão à frente dos telejornais, “verdadeiros agentes sociais”, que além de passar a informação de forma clara, sempre que possível, opinam sobre os grandes acontecimentos do mundo.
Nessa mesma particularidade, Xxxxx (2009) comenta que a maneira do âncora se portar diante das câmeras, assim como a linguagem utilizada por ele, vai depender da linha editorial de cada programa e, também, vai variar conforme os interesses da emissora para a qual ele trabalha.
Dessa forma, a autora define em seu artigo Âncora: posturas e evolução de uma atividade jornalística, que os âncoras nos telejornais brasileiros, podem ser classificados em três tipos distintos: “O primeiro tipo é o mais formal, amarrado ao script. Um âncora que praticamente se detém na leitura da notícia, sem muito envolvimento emocional e com pouco espaço para dar opiniões. Os poucos comentários proferidos são previamente definidos” (XXXXX, 2009, p.20). Esses jornalistas são normalmente encontrados nos telejornais mais
clássicos, que mantêm uma estrutura formal no início. As notícias são apresentadas na bancada e os âncoras, permanecem o tempo todo sentados durante a transmissão.
O segundo tipo de âncora é classificado como um profissional com maior liberdade dentro dos telejornais que apresenta. A apresentação ainda é sentada, mas com menos formalidade que os citados anteriormente. Eles têm mais autonomia em relação às notícias anunciadas e podem até fazer comentários. Nesse caso, “o roteiro é apenas a base da apresentação e ele dialoga com o telespectador acrescentado nuances particulares ao que está sendo noticiado” (XXXXX, 2009, p. 20).
E, por fim, o terceiro tipo de âncora definido é considerado um profissional menos engessado, com mais ‘leveza’ e menos formalidade que os dois primeiros. Nesse caso, o jornalista guia-se por um roteiro, mas não se prende a ele, tendo liberdade para fazer comentários e opinar sobre os assuntos abordados. Segundo a autora, esses profissionais “adotam uma linguagem mais informal e próxima do telespectador e, normalmente, interagem diretamente com correspondentes ou comentaristas” (XXXXX, 2009, p.20).
Por ser mais interativo e poder apresentar as notícias de lugares diferentes, dentro ou fora dos estúdios e das “tradicionais bancadas”, esses jornalistas também alternam sua postura durante a apresentação, podendo ler as notícias acomodados em poltronas, em pé diante das câmeras ou fazendo uso da banca. Como forma de manter a audiência nos primeiros telejornais, a escolha dos locutores era feita de maneira precisa, de modo que se exigia “homens de boa aparência e bonito timbre de voz eram estratégia, para ‘segurar’ o público feminino que estava nas novelas” (XXXXX, 2009, p.12).
A partir dessas definições da autora, parte-se para um pressuposto elaborado por Xxxxx (2007) de que o âncora deve causar uma “boa impressão desde o princípio, para manter o telespectador atento ao telejornal”. E, para isso acontecer, é necessário uma ‘postura’ adequada, ‘boa aparência’ e ‘desenvoltura’, ou seja, “de um apresentador não é esperado apenas que ele saiba falar, mas também que mantenha uma boa postura frente às câmeras” (XXXXX, 2007, p.53).
Diante desses elementos visuais destacados, a utilização de uma linguagem de fácil entendimento ajuda a criar laços de identificação do telespectador. Embora em grande parte dos programas o âncora leia no telepromter, um texto previamente escrito, “a linguagem utilizada na composição desse discurso não é de caráter genuinamente gramatical, pois, como o intuito é informar e estabelecer uma conexão com o destinatário, ele precisa fazer uso de outras linguagens” (RUHEE, 2007, p.53).
Diante disso, a autora aconselha que as notícias sejam escritas como se fosse um diálogo, entre o apresentador e o telespectador, utilizando-se de palavras conhecidas e que as frases ditas durante o programa sejam curtas, na ordem direta e com palavras comuns, para facilitar a compreensão do telespectador. Ruhee (2007) conclui:
A televisão precisa que a linguagem não seja tão elaborada quanto num jornal, porque fica difícil para o telespectador rever a notícia depois, caso não a tenha entendido perfeitamente, como acontece com uma matéria publicada num veículo impresso. E preciso que ela passe o recado imediato, sendo compreendida tão logo recebida. (XXXXX, 2007, p.53)
A autora ressalta ainda que, para o apresentador criar uma situação de diálogo com o telespectador, é necessário além da utilização de uma linguagem mais do dia a dia das pessoas, desenvolver fatores da linguagem corporal. “Se quando duas ou mais pessoas conversam pessoalmente ficam constantemente movimentando braços, mãos, fazendo expressões faciais para dar maior sentido ao fato narrado, nos telejornais os âncoras têm que agir semelhantemente” (RUHEE, 2007, p.56).
Nessa mesma perspectiva, Traquina (2005) presume que, quando o apresentador posiciona-se para realizar o seu trabalho, ele propõe-se a passar a melhor imagem possível, mantendo uma postura ereta e atuando de diferentes formas diante dos telespectadores, a fim de ganhar a credibilidade e criar vínculos como seu público.
Traquina (2005) também defende a ideia da informação ser apresentada pela linguagem não verbal; através de olhares, gestos corporais, ritmo das frases, pausas e expressão do apresentador. Além disso, disposição do cenário central também pode influenciar na construção da notícia e, consequentemente, na deflagração de sentidos.
Através desse envolvimento entre emissor e receptor, Xxxxx (2007) reforça que esse posicionamento do âncora dos telejornais torna-o um companheiro diário do telespectador, por desenvolver estratégias de aproximação. Também entende-se que, “por intermédio de uma empatia” que se cria entre as partes, o programa conquista mais credibilidade e atrai mais público, que se identificam com o apresentador e com a programação (RUHEE, 2007, p.54).
Nesse mesmo propósito, Xxxxx (2009, p. 02) afirma que a interação estabelecida entre âncora e telespectador, mesmo que por intermédio de um dispositivo midiático, tem causado transformações no universo do telejornalismo, começando pelo vocabulário utilizado e pela forma como eles leem as notícias na tela. O olhar firma para a câmera e deixa-os mais próximos de quem os assistem fortalecendo assim a credibilidade das notícias que são apresentadas.
Xxxxxxx (2007) acentua que a vida em sociedade resulta na interação entre os indivíduos que dela participam. E, para isso, existem algumas estratégias simbólicas que facilitam a compreensão entre os mesmos. Outro ponto importante é a representação midiática dos âncoras, que exercem um importante papel na sociedade, podendo ser considerados atores sociais ou mestres de cerimônias. Atuando na mediação dos fatos sociais, são capazes de influenciar na vida de quem os assiste e na formação de seu comportamento e ideias.
Visto isso, entende-se que o âncora deve-se manter imparcial e sustentar uma postura crítica diante dos acontecimentos, ou seja, ter boas noções da conduta jornalística. Nessa perspectiva, a televisão torna-se um veículo de proximidade, que acaba atraindo o receptor de maneira que ele acredite que a mensagem emitida é direcionada somente a ele, criando assim um elo de credibilidade com o programa. Por isso, há a necessidade de os apresentadores de TV utilizarem formas mais universais e precisas de expressão. Portanto, convencer a audiência sobre aquilo que se está informando é um dos principais papéis do apresentador. Dessa forma, a ligação de fatores como a linguagem verbal e gestual, assim como a emissão de sons e imagens, são elementos que contribuem para o produto de comunicação.
Os anos passaram, os telejornais evoluíram e como já foi citado anteriormente, tiveram algumas mudanças no seu formato de exibição e estrutura. Hoje, pode-se dizer que o papel do âncora continua o mesmo, de principal mediador dos telejornais, porém a responsabilidade de estar à frente das bancadas de telejornais importantes e de noticiar os principais acontecimentos do Brasil e do mundo mudou a forma com que as pessoas enxergam esses profissionais. O jornalista âncora de televisão deixou de ser apenas um contador de histórias e passou a ser visto como um artista, um ídolo que conquistou o carisma do público e virou uma celebridade da mídia.
Essa projeção sobre esse profissional é definida na obra Cultura de Massas do século XX de Xxxxx Xxxxx (1997), como ‘olimpo’, ou seja, ele compara indivíduos que têm alguma representação midiática perante a sociedade a heróis, ídolos, seres divinizados. O autor classifica os âncoras como os olimpianos, que são seres com dupla natureza, são seres humano e sobre-humanos.
2.4 Os olimpianos e a produção de sentido
Antigamente, na mitologia grega, o “Monte Olimpo” era o local onde moravam os deuses gregos, divindades que possuíam sentimentos humanizados. Eram criaturas que inspiravam a vida de grande parte das pessoas, que tentavam assemelhar-se a esses
‘semideuses’, ou simplesmente, ficavam a admirar suas formas, sua riqueza, beleza e inteligência. Em pleno século XXI, outro ‘Olimpo’ apresenta-se não só na península Ática, mas diante de nossos olhos, mais precisamente nos programas midiáticos. Essa pequena definição citada acima, faz alusão a uma classe de seres humanos divinizados pela cultura de massa, os olimpianos.
Segundo Xxxxx (1997, p.107), “conjugando a vida quotidiana e a vida olimpiana, os olimpianos se tornam modelos de cultura no sentido etnográfico do termo, isto é, modelos de vida. São heróis modelos. Encarnam os mitos de auto realização da vida privada”.
Naquela época, eram vistos como deuses da mitologia, que exerciam forte influência sobre a vida das pessoas. Isso não é diferente em pleno século XXI, visto que, a mídia, em geral, transforma pessoas comuns em grandes representações. Nesse sentido, Xxxxx (1997, p.105) afirma que “a informação transforma esses olimpos em vedetes da atualidade”.
Na obra Cultura de Massas do século XX, Xxxxx Xxxxx (1997) enfatiza que o olimpiano pode nascer do imaginário das pessoas, através de personagens representados nos filmes (astros da dramaturgia), também nasce por meio de uma função desempenhada pela pessoa, sua representação diante da sociedade (realeza, presidência), e de seus trabalhos admiráveis (campeões, músicos, jornalistas) ou eróticos (playboys). Dessa forma, pode-se entender à luz de Xxxxx (1997), que a classe dos olimpianos é vasta e diversificada, pois ele não considera apenas as estrelas de cinema dignas de possuir a aura divina (MORIN, 1997, p.106).
Nessa pesquisa, o que importa são os mitos da comunicação atual, mais precisamente o jornalista Xxxx Xxxxxxxxx. Ele consiste em um repórter consagrado na televisão brasileira, que pode ser comparado aos deuses olimpos, não no sentido restrito da palavra, mas por ser uma pessoa ‘admirada’ por seu público e ‘respeitada’ no campo da comunicação.
Para Xxxxx (1997, p.106), esses novos olimpianos são “magnetizados no imaginário e no real, simultaneamente, ideias inimitáveis e modelos imitáveis; sua dupla natureza é análoga à dupla natureza, teológica do ‘heroi-deus’ da religião cristã”. A partir dessa perspectiva do autor, de dupla natureza, percebe-se que os olimpianos e olimpianas desempenham sobre os indivíduos da sociedade, dois fatores importantes: a projeção e a identificação. Isso acontece ao passo que depositam nesses “atores sociais” seus projetos pessoais e realização profissional.
Dessa forma, ele evidencia que os atores sociais são considerados uma espécie de humanos divinizados e que são conectados ao estrelato, seja por status social ou por intermédio de seu trabalho. Essa esfera possui personagens ‘endeusadas’, que estão em
presente circulação nas mídias, podendo ser amadas ou odiadas. “A imprensa de massa ao mesmo tempo investe os olimpianos de um papel mitológico, mergulha em suas vidas privadas, a fim de extrair a substância humana que permite a identificação” (XXXXX, 1997, p. 107).
No entanto, esse desejo que o homem tem de espelhar-se em mitos, ter essas figuras como referências, de certa forma beneficiou o comércio da indústria cultural, que se aproveita desse desejo que os fãs têm de se projetar nos ídolos e transforma tudo em mercadoria. Logo, o sujeito, passa a ser uma ‘estrela-mercadoria’, em que tudo que tem seu nome e é associado a ele é comercializado.
Em função dessa particularidade, Xxxxx (1997) conclui que o ambiente do espetáculo torna os olimpianos representações e referências de cultura para os espectadores e que está cada vez mais estreito o vínculo entre o ator social e o público. Acredita-se que surgem assim, novos modelos e padrões para serem seguidos, através do discurso televisivo.
Desse modo, a cultura de massa produz seus semideuses e a imprensa procura mostrar a realidade que os cerca demonstrando que eles também são gente, que consomem, que são mortais e modelos alcançáveis para os que se projetam neles. Na obra As estrelas, XXXXX (1989) apresenta um parecer sociológico de personalidades que obtiveram a fama e faz uma avaliação especificamente dos mitos cinematográficos, nos quais, nota-se que entorno deles, existe uma veneração de forma semelhante à época dos deuses antigos e conclui que o glamour e o estrelato glorificado sobre a luz dos influentes mitos não deixa os admiradores diferenciar o ator do personagem.
A partir desse cenário, o autor frisa que é comum o telespectador identificar-se com a pessoa que admira (ídolo) ou que tem como referência (profissão) e idealizar nela seus desejos, o que ele gostaria de ser ou de ter. Mas, para que o público possa realmente se identificar pelas figuras dos olimpianos, é necessário que elas tenham um lado humano cativante.
No caso deste estudo, considera-se o jornalista Xxxx Xxxxxxxxx, uma figura conhecida no meio televisivo e que chama atenção por onde passa. Com mais de quarenta anos de profissão atuando como repórter, Caco já cobriu inúmeras guerras, atentados e manifestações. Sua experiência na aérea da comunicação torna-o um profissional bastante requisitado para palestras em Universidades e eventos literários. Por essas e outras capacidades, pode-se associar a figura de Xxxx Xxxxxxxxx aos ‘deuses olímpios’, divindades humanizadas, que têm o poder de influenciar na vida das pessoas.
2.5 Contrato de leitura
O contrato de leitura é a maneira como os meios de comunicação apresentam-se e falam ao seu púbico receptor, através de suas marcas enunciativas. Cada veículo de informação estabelece formas de enunciação, em que se manifestam as características próprias no estilo de se expressar, possibilitando que o emissor crie laços de identificação da sua presença.
O contrato de leitura de um veículo de comunicação permite que se estabeleçam vínculos que fidelizam a parceria entre emissor e receptor de uma determinada programação ou publicação. A identificação, por parte do receptor, influencia os “modos de dizer” do enunciador. “Reconhecer é também produzir sentidos; enunciador e receptor se atualizam num processo recíproco” (XXXXX, 2010, p.4).
Xxxxxx Xxxxx (2004) define contrato de leitura como uma esfera imaginária, em que são apresentados diversos caminhos ao receptor, de modo que ele determine por qual percurso seguir. “Um discurso é um espaço habitado de atores, de objetos e ler é colocar em movimento este universo, aceitando ou recusando, indo mais além à direita ou à esquerda”. (VERÓN, 2004, p.216). Dessa forma, Verón (2004) conceitua que o contrato de leitura:
implica que o discurso de um suporte de imprensa seja um espaço imaginário onde percursos múltiplos são propostos ao leitor; em uma paisagem, de alguma forma, na qual o leitor pode escolher seu caminho com mais ou menos liberdade, onde há zonas nas quais ele corre o risco de se perder ou, ao contrário, que são perfeitamente sinalizadas (VERÓN. 2004 p.216).
Xxxxx (2004, p.216) presume que, “ao longo de todo o seu percurso, o leitor reencontra personagens diferentes, que lhe propõem atividades diversas e com as quais ele deseje estabelecer uma relação, conforme a imagem que eles lhe dão, a maneira como o tratam, à distância ou intimidade que lhe propõem”. (apud in ROCHA 2010, p.3).
Dessa forma, Xxxxx (2004, p.216) “aponta para um discurso como um espaço habitado, cheio de atores, de cenários e de objetos, e, ler é movimentar esse universo, aceitando ou rejeitando, indo de preferência para direita ou para esquerda, investindo maior ou menor esforço, escutando com um ouvido ou com os dois”. De maneira sucinta, Xxxxx propõe que, “caso se chegue a responder a essa questão, compreender-se-ão melhor as razões pelas quais se lê o que se lê” (apud in ROCHA 2010, p. 3).
A partir desse cenário proposto pelo autor, é possível entender que o contrato de leitura é a ‘grosso modo’ a maneira que a mídia tem de ‘falar seu discurso’, os comunicados
designados ao receptor. Xxxxxxx Xxxxxxxxxx (2006, p.67) ressalta que “todo discurso depende, para a construção de seu interesse social, das condições especificas da situação de troca na qual ele sugere”. Visto isso, o autor acrescenta que “a situação de comunicação constitui o quadro de referência ao qual se reportam os indivíduos de uma comunidade social quando iniciam uma comunicação”.
Dessa forma, Xxxxxxxxxx (2006) reforça que as “linguajeiras realizadas entre atores sociais dependem de um contrato de comunicação, que regula tal prática e que essa relação contratual que organiza o discurso é feita pelos interlocutores, representados por um produtor, a mídia e um receptor da informação, o público” (apud in ROCHA, 2010, p.5).
A situação da comunicação é como um palco, com suas restrições de espaço, de tempo, de relações, de palavras, na qual se encenam as trocas sociais e aquilo que constituem seu valor simbólico. Como se estabelecem tais restrições? Por um jogo de regulação das práticas sociais, instauradas pelos indivíduos que tentam viver em comunidade e pelos discursos de representação, produzidos por justificar essas mesmas práticas a fim de valorizá-las. Assim se constroem as convenções e as normas dos comportamentos linguajeiros, sem as quais não seria possível a comunicação humana (XXXXXXXXXX, 2006, p. 67)
Xxxx (2007, p.2) define contrato de leitura como ‘regras, estratégias e políticas de sentido’ que organizam os meios de veiculação entre a recepção dos discursos midiáticos, que se formalizam nas técnicas textuais, de maneira que estabelecem uma ligação entre usuários e produtos. Ou seja, o contrato de leitura é o ‘modo de dizer’ dos meios de comunicação, estampado nas mensagens que são destinadas ao público. Isto é, a maneira como a mídia, por meio de suas marcas enunciativas, exibe-se e fala ao receptor, na tentativa de ganhar um espaço de interação com as partes.
Os meios de comunicação manifestam suas características, seu modo de comunicar e sua identidade, através da enunciação, e isso possibilita ao receptor, criar maneiras de reconhecer a sua presença, de forma que se criam vínculos entre todos que participam do processo de enunciação. O apresentador passou a ocupar um papel de caráter muito expressivo de emissor, diante das mudanças que ocorreram no campo midiático, por isso ficou mais forte o contato com o seu receptor, fortalecendo assim, a ligação entre os comunicantes através da confiança depositada nele.
O contrato de leitura é um meio que a enunciação tem de conquistar o receptor de acordo com seus interesses perante o mercado. O enunciador torna-se incubado de pensar e criar um texto de apresentação de modo que agrade a um público-alvo. Nesse sentido, pode-se pensar que a elaboração de um conteúdo midiático é composta por elementos relevantes da
sociedade e por informações cruciais de diferentes categorias. Vendo por esse ângulo, percebe-se que o telespectador torna-se o principal foco de alcance do enunciador, e todo conteúdo produzido é destinado a ele, firmando assim, o contrato de leitura entre as partes.
Nas mídias televisivas, o vocabulário não é usado apenas como um recurso para construção de sentidos, mas também como uma classe, em que se encontra a realidade que o locutor procura. A partir desse pensamento, quando o programa determina um acontecimento para transmitir, compreende-se que é feita uma avaliação por parte do enunciador, da importância da informação e se a mesma vai causar interesse para o público. Para tanto, alguns elementos não podem faltar na hora de produzir um programa televisivo. São eles o ‘discurso’ e o ‘processo de enunciação’ de modo que a confiança do receptor é construída a partir da maneira que o emissor posiciona-se frente às câmeras, na tentativa de passar veracidade e qualidade na produção dos conteúdos. Acontece assim um modo particular de interpretar e transformar a notícia enunciada.
Para Xxxxxxxxxx (2006, p.115), a comunicação midiática realiza-se segundo um duplo processo de transformação e de transação. Nesse caso, “esse duplo processo se inscreve, então, num contrato que determina as condições de encenação da informação, orientando as operações que devem efetuar-se em cada um dos processos”. Nesse sentido, o autor argumenta que “é o contrato de comunicação que gera um espaço público de informação e é o seu próprio quadro que se constrói a opinião pública”.
Ainda conforme Xxxxxxxxxx (2006. p. 115), o contrato de comunicação pode ser explicado por duas categorias, de modo que uma é a ‘produção midiática’ e a outra a ‘recepção midiática’. Em conformidade com essas duas instâncias, são construídas as etapas de transformação e de interpretação do fato. Um dos objetivos do contrato é de localizar o receptor num campo de interesses, associadas às expectativas que são elucidadas por suas operações enunciativas.
Em meio a esse cenário, Xxxxxx Xxxx (2007, p.5) frisa que “a força do contrato estaria nas virtudes de suas operações enunciativas”, que expressa os possíveis efeitos de articulação e interação entre o trabalho de apoderamento do receptor e a alegação jornalística. Isso acontece devido ao fato que ter o potencial para manter um processo de comunicação está associado à capacidade de relacionar-se com o outro e também à forma como essa interlocução ocorre, assentando assim, uma técnica de enunciação em que determina e confirma o diálogo.
Para tanto, Xxxxxx Xxxxxxxxx (2002, p.141) faz alusão aos ícones encontrados na comunicação afirmando que “consiste em dizer que o destinatário ou alocutário de uma
mensagem reconhece a intenção do locutor e identifica o objeto para que a sua mensagem remete, graças à existência de um código que determina as correspondências entres os signos trocados”. Esse preceito argumentado acima pelo autor refere-se ao dispositivo de enunciação presente na interlocução dos comunicadores.
Entende-se assim que autores consideram o processo de enunciação um dos principais elementos na hora de apresentar um programa televisivo. Para Xxxxx (2003), através da forma que o apresentador posiciona-se frente às câmeras, é possível observar sua vontade de conquistar a confiabilidade e a credibilidade do receptor, em que o seu olhar, expressa a comunicação sincera ao público que o assiste. ( in ROCHA, 2010).
Com já foi tratado antes, com as evoluções tecnológicas, o papel deu lugar ao telepromter o que acarretou mudanças no comportamento dos apresentadores diante das câmeras. Esse fato deixou a leitura das notícias mais descontraída, o que veio a diversificar a maneira de dirigir-se ao seu receptor. Tal fato causa a sensação, em quem está em assistindo, de que a mensagem narrada está sendo falada para si próprio, em decorrência de o apresentador não ler mais a notícia em um papel na mão e sim descrevê-la da forma mais natural possível, olhando para os olhos do espectador, através da tela do dispositivo midiático. Para Xxxxx (2007), o olhar, o tom da voz e a postura do apresentador são fatores importantes para interpretar um programa midiático. À medida que o apresentador olha diretamente para a câmera, seu objetivo é transmitir realidade causando no espectador, a
sensação de que aquela mensagem é destinada para ele (in ROCHA, 2010).
Além disso, o autor ressalta que existem outras questões que abordam as várias formas de enunciados, como por exemplo; o “espaço-mundo”, definido como local onde acontece a cena com os personagens envolvidos. O “espaço-percurso” refere-se aos agentes responsáveis por gravar os áudios e capturar as imagens- cinegrafistas - equipe técnica. No “espaço-mediação” onde acontecem as edições, o apresentador exerce a função de mediador, responsável por esclarecer o acontecimento para o espectador. E, por fim, há o “espaço-canal” que se remete a todo conteúdo produzido e colocado no ar pela emissora (VERÓN 2007) in (ROCHA, 2010).
O vocabulário é a principal ação de um modo comunicacional, pois é por meio desse processo de enunciação que a confiabilidade e a veracidade do apresentador são adquiridas pelo espectador. Em razão disso, existe a preocupação com a qualidade e a autenticidade do conteúdo produzido.
De acordo com os conhecimentos de Vizeu (2005, p.40), os jornalistas utilizam como referência a enunciação para elaborar os discursos que, posteriormente, transformar-se-ão nas
notícias. O autor qualifica o “interlocutor como um agente construtivo do ato da produção da linguagem, sendo identificado como co-enunciador do texto e não um mero codificador de mensagens”.
Dentro desse contexto, é possível observar que a enunciação não depende somente das ações do locutor, sendo assim, é aconselhável uma análise dos processos enunciativos, de modo que o público-alvo tenha sua participação de forma implícita na escolha do vocabulário utilizado.
Portanto, entende-se a definição de contrato de leitura como um suporte que, com base nos discursos estabelecidos, permite idealizar e manter um vínculo de confiabilidade com seus receptores no decorrer do tempo, o qual é planejado em virtude dos interesses e do desenvolvimento do público receptor, no mesmo sentido da relação de disputa com outros suportes. Dessa forma, o contrato de leitura procede em relação ao modo de enunciação dos discursos sociais e corresponde às especificidades de falar do discurso escolhido, o que possibilita um cenário comunicativo entre o enunciador e o enunciatário.
Quase sempre a linha editorial do veículo é incumbida de escolher o tema a ser emitido, assim como, levar em consideração a relevância que o assunto representa no momento. Assim sendo, as opiniões e os conhecimentos do receptor não interferem na maneira que os enunciados são produzidos, pois para a compreensão de um público geral é necessário um reconhecimento universal do que será transmitido.
Na televisão, a audiência é um fator determinante para manter o projeto fixo na grade de programação de qualquer emissora. Desse modo, os apresentadores desenvolvem técnicas enunciativas, como por exemplo, o uso frequente da ‘terceira pessoa’ fazendo alusão a quem está assistindo e recursos de interação para deixar o apresentador mais próximo do público, de modo a firmar o contrato de leitura como o receptor. Ou seja, com a intenção de desenvolver novos métodos de convívio entre enunciador e receptor, os produtos midiáticos reservam uma atenção especial para que o telespectador passe a interagir mais com os veículos de comunicação.
No entanto, para existir esse convívio entre as partes, é necessário que os atores envolvidos compreendam o discurso uns dos outros, pois é a partir desse entendimento, que se dá de fato, a relação de aprendizado dos indivíduos na sociedade.
A partir desse cenário, conclui-se aos olhos de Xxxxx, que contratos de comunicação midiática são estabelecidos entre os meios de comunicação e seu público. Ou seja, os contratos de leitura são regras e políticas de sentidos que formam os modos de ligação entre
as propostas e recepção dos discursos midiáticos que se formalizam nas condutas textuais, que estabelecem a conexão entre produtores e usuários.
2.6 Estratégias discursivas
As estratégias discursivas fazem parte dos contratos de leituras de todo e qualquer meio de comunicação. São elementos que compõem o discurso de enunciação, em que se criam características peculiares a cada produto midiático, de maneira a constituir aspectos textuais, vocabulário e marcas próprias de cada veículo de informação o que leva a sua identificação pela esfera receptiva e a criação de um contrato de leitura.
No entanto, para que isso ocorra, as estratégias discursivas servem como suporte para assegurar a atenção do público, assim como, manter a credibilidade com o programa. Elas são pensadas de modo que os caminhos percorridos ao longo da programação tragam assuntos noticiosos de importância para a esfera da recepção. Assim, tudo é previamente elencado desde as marcas textuais e gestuais que serão utilizadas. Desse modo, fica mais fácil desenvolver a identificação com o receptor a fim de fidelizar o telespectador.
As estratégias discursivas são nomeadas por Xxxxxxxxx (2004, p.28) como estratégias de convencimento em que “o fato de existir uma tela ligada, poderá comprometer um encontro dos sujeitos”. O autor explica que, de um lado do aparelho está o público receptor disposto a assistir à programação do noticiário, e do outro, encontra-se o emissor – apresentador – que descreve fatos e notícias com a pretensão de ser visto e ouvido pela audiência, de modo que esse mecanismo entre as partes estabeleça uma conexão de interação comunicacional.
Para Sodré (2006, p.10), as ‘estratégias’ estão engendradas às ‘táticas’, de maneira que as duas juntas possibilitem que o conteúdo produzido seja mais próximo da realidade e que alcance as pretensões estabelecidas durante sua criação. Desse modo, o autor ressalta que a estratégia para ser adequada “tem de calcular os aspectos de começo e de fim da ação e não se confinar ao detalhamento concreto da manobra a que se dispõe.” Segundo ele, essa última, pertence à tática, encarregada de operar e presa ao tempo presente. “Estratégia e tática podem estar referidas a jogos de guerra, de comércio, de política, de entretenimento ou de comunicação”.
Essa abordagem feita pelo autor aos conceitos de estratégia e tática faz alusão a um ambiente de batalhas no campo da comunicação de modo que, nos leva a pensar que cada programa utiliza técnicas de defesas e armas pessoais e para derrotar o adversário e garantir a
audiência de cada dia. Isso deixa claro que todo discurso é produzido para atingir um público alvo. Sendo assim, para conquistar definitivamente o receptor, é preciso envolvê-lo na programação, deixá-lo familiarizar-se com os conteúdos e assim, induzi-lo a responder às interpretações discursivas propostas, de modo essa interação conduza o telespectador conforme a pretensão do enunciador. Mas isso só acontece quando as estratégias discursivas são pensadas pelos âncoras como objetivo de capturar a atenção do telespectador. A partir dessas observações, nota-se o cuidado dos atores sociais com o manuseio de recursos de convencimento do púbico de tudo que está sendo abordado.
A partir desse embasamento teórico, é possível compreender que as estratégias discursivas são componentes fundamentais para a construção do contrato de leitura, assim como de todo aparato textual do produto midiático. E, para conseguir decifrar o contrato de leitura do programa Profissão Repórter do jornalista Xxxx Xxxxxxxxx exibido todas as quartas- feiras pela Rede Globo, será necessário fazer o desmonte de três episódios, com o objetivo de encontrar os sentidos deflagrados em cada programa exibido nessa temporada de 2016.
3. METODOLOGIA
Esse estudo tem como objetivo identificar as estratégias discursivas do contrato de leitura do programa Profissão Repórter, exibido pela Rede Globo todas as quartas-feiras. Para essa análise, buscou-se sistematizar as estratégias discursivas através da “desconstrução” de três programas veiculados nos dias 27 de abril, 04 de maio e 11 de maio da temporada de 2016.
3.1 Natureza da pesquisa
Como percurso metodológico, optou-se por uma pesquisa qualitativa, a qual caracteriza-se por ser mais descritiva e interpretativa. Partindo da ideia de que os programas analisados do Profissão Repórter apresentam temáticas diferentes em cada semana e trabalham com no mínimo três abordagens distintas dentro de cada edição, a pesquisa qualitativa permite uma proximidade com o objeto estudado.
De acordo com Xxxxx (2009, p.23), a pesquisa qualitativa consiste na escolha apropriada de “métodos e teorias adequadas no reconhecimento e na análise de diferentes perspectivas; nas reflexões dos pesquisadores a respeito de suas pesquisas como parte do processo de produção de conhecimento”.
Suassuna (2008, p.348) entende que a pesquisa qualitativa preocupa-se não só em quantificar ‘fatos e fenômenos’, mas em explicar os meandros das relações sociais, considerando que a ação humana depende dos significados que lhe são atribuídos pelos atores sociais. Segundo Xxxx (2000), numa pesquisa de cunho qualitativo, a escolha da técnica de análise tem a ver com a formulação do problema a ser investigado. Dessa forma, a teoria deve sugerir perguntas e indicar possibilidades de interpretação, servindo de referencial para os resultados que vão sendo observados (apud in SUASSUNA, 2008 p.348).
Nessa mesma linha de pensamento, Goldenberg (1997, p.34) compreende que a pesquisa qualitativa “não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc”.
A partir dessa reflexão da autora, pode-se dizer que os pesquisadores que optam pelos métodos qualitativos opõem-se à ideia de que são defensores de um modelo único de pesquisa para todas as ciências. “Assim, os pesquisadores qualitativos não podem fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa” (XXXXXXXXXX, 1997, p. 34) apud in (XXXXXXXX; XXXXXXX, 2009 p. 32).
Xxxxxx (1994) determina que a pesquisa qualitativa "trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis". Para a autora, a pesquisa qualitativa é criticada por seu ‘empirismo, pela subjetividade e pelo envolvimento emocional do pesquisador’. Dessa forma a abordagem qualitativa “aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas”.
Nessa lógica, entende-se que o método qualitativo refere-se a algo que não pode ser mensurável. Numa pesquisa qualitativa, os dados em vez de serem tabulados de forma a apresentar um resultado preciso, são expostos por meio de relatórios, sem esquecer aspectos relevantes os que possibilitam uma visão mais completa do cenário pesquisado. Observa-se ainda, que na pesquisa qualitativa, tem-se a objetividade dos fatos, compreensão das relações envolvidas além da constante busca do pesquisador por resultados mais próximos da realidade.
Portanto, o pesquisador que opta por esse método qualitativo tem o objetivo de explicar ‘o porquê das coisas’, qualificando o que convém ser estudado preocupando-se com aspectos da realidade que podem ser quantificados.
3.2 Técnica de pesquisa: estratégias discursivas
Como técnica de pesquisa optou-se pela análise das estratégias de discurso. Nesse sentido, pretende-se mostrar como o discurso funciona não tendo a pretensão de dizer o que é certo ou errado, pois não é isso que está em julgamento pela pesquisadora.
Assim, uma base para identificar as estratégias do discurso é o estudo da Análise do Discurso (doravante AD). Dessa forma, Xxxxxxx (1995) ressalta que é preciso “entender e explicar como se constrói o sentido de um texto e como esse texto se articula com a história e a sociedade que o produziu. O discurso é um objeto, ao mesmo tempo, linguístico e histórico; entendê-lo requer a análise desses dois elementos simultaneamente” (XXXXXXX, 1995, p.20). Xxxxxxx (2007, p.15) define que a AD não trata a linguagem nem a gramática, como a nomenclatura pode levar a crer. A autora entende que, na AD, a linguagem serve tanto para comunicar quanto não comunicar, de modo que não é analisado somente o que é falado, mas o que não é dito também, ou seja, a AD visa à compreensão de como as marcas acionam certos processos de significação. Para a autora, a palavra ‘discurso’ tem em si a ideia de percurso, de
movimento, ao passo que “o discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando”.
Dessa forma, reflete sobre a maneira como a linguagem está incorporada na ideologia, assim como a ideologia evidencia-se na língua. Para tanto, Xxxxxx (2007) entende que a AD localiza-se simultaneamente em um apoderamento da linguística habitual e da análise de conteúdo, relatando que elas são práticas-teóricas com abordagens definidas.
Já Xxxxxxx Xxxxxxx (2005, p.306) ressalta que ‘analisar’ significa ‘dividir’ e define que a AD é, na verdade, “a desconstrução do texto em discursos, ou seja, em vozes. A técnica consiste em desmontar para perceber como foi montado”. O autor ainda classifica a AD em Análise de Discurso francesa e inglesa. Segundo o ele, a primeira “caracteriza-se pela ênfase no assujeitamento do emissor, que se expressaria mediante a incorporação de discursos sociais já instituídos: o religioso, o científico, o mitológico, o poético, ou o jornalístico, o publicitário, o corporativo etc.” E a segunda “caracteriza-se pela ênfase no papel ativo do sujeito, daquele que utiliza pragmaticamente as palavras para fazer coisas, embora ela não descarte o fato de o sujeito estar obrigado a obedecer a imperativos linguísticos, o que implica um relativo assujeitamento”.
Sendo assim, o sujeito é objetivado por razões que visa a fins específicos, em situações específicas. As histórias reveladas pelos receptores em diferentes momentos de interação, propostos pelos veículos midiáticos, em que o meio não é pensado como um canal através do qual se transmitem conteúdos, mas como um espaço em que diferentes sujeitos exercem papéis distintos, produzindo o sentido em conjunto. A interpretação do discurso é um gesto, ou seja, é um ato no nível simbólico.
Visto isto, Xxxxxxxx (2007, p.13) conclui que a AD “é um campo da pesquisa cujo objetivo é compreender a produção social de sentidos, realizada por sujeitos, por meio da materialidade das linguagens”. Dessa forma, a autora acredita que esse campo de pesquisa tem cada vez mais o interesse em tomar a mídia como objeto de investigação. “A articulação entre os estudos da mídia e os de análise do discurso enriquece dois campos que são absolutamente complementares, pois ambos têm como objeto as produções sociais de sentidos”.
A partir desse embasamento teórico de alguns autores da área, pode-se entender que a AD tem uma visão mais completa dos fenômenos da comunicação, pois ela trabalha com o sentido e não com o conteúdo do texto, ou seja, é uma prática da linguística que consiste em analisar o sentido da estrutura de um texto, com foco na estrutura interna da mensagem, mais
precisamente, em seus componentes implícitos. Dessa forma, parte-se para a descrição do objeto empírico dessa pesquisa.
3.2 Objeto Empírico
3.2.1 Caco Barcellos:
Figura 29: O jornalista que pretende ser repórter até o fim, Xxxx Xxxxxxxxx.
Fonte: Google. 2016.
Xxxxxxx Xxxxxxxxx de Barcellos, conhecido como Xxxx Xxxxxxxxx, é um dos jornalistas brasileiros mais respeitado e de credibilidade no país. Casado com a estilista Xxxxxxx Xxxxxxxx e pai de três filhos, Xxx, Xxxx e Xxxxx, é gaúcho e natural de Porto Alegre, onde viveu grande parte de sua infância na Vila São José do Murialdo. Segundo o jornalista, desde criança, presenciou a ação brutal da polícia que ainda domina alguns setores da corporação. Caco Barcellos foi taxista e resolveu trocar a Matemática pelo Jornalismo. Sempre atuou como repórter de televisão, especializou-se em jornalismo investigativo, mais precisamente na parte de investigações policiais, documentários e produziu ao longo de sua trajetória, grandes reportagens sobre injustiças e violência.
Sua primeira experiência no jornalismo foi como repórter do Jornal Folha da Manhã, do grupo gaúcho Xxxxxx Xxxxxx. Seu trabalho foi destaque nos veículos da imprensa alternativa dos anos 70. Além disso, o jornalista foi um dos criadores da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre e da antiga Revista Versus, que apresentava grandes reportagens sobre a América Latina. Em sua trajetória, passou por grandes veículos de comunicação e também atuou, como repórter correspondente internacional em Nova York e Londres. Seu trabalho também é reconhecido pela autoria de obras, entre elas: Rota 66, Abusado e Nicarágua: a Revolução das Crianças.
Na TV Globo, realizou inúmeras reportagens que ganharam destaque, entre elas:
Massacre do Carandiru (1992), Desaparecidos políticos (1995), Acidente aéreo TAM (1996),
Máfia dos fiscais (1997), Escândalo do TRT (1999), Atentados em Madri (2003), Morte do Papa JP II (2006), Mineiros no Chile (2010)5.
Como freelance, cobriu a guerra e foi refém dos sandinistas, um grupo de jovens meninos, no entanto, tudo deu certo e resultou em mais um livro com sua narrativa particular. Realizou também uma reportagem sobre os vinte anos do atentado militar durante a ditadura, deflagrado no Rio-Centro durante as comemorações do Dia do Trabalho, o que lhe rendeu o Prêmio Xxxxxxxx Xxxxxx. Transmitiu, ao vivo, a cobertura sobre a morte de Xxxxxxxx xx Xxxxxxx Xxxxx, Presidente eleito, que estava internado no Hospital das Clínicas em SP.
Xxxx Xxxxxxxxx construiu, ao longo de seus 40 anos de profissão, uma carreira sólida e repleta de trabalhos com grandes repercussões no Brasil e no mundo. Ao longo de sua trajetória no jornalismo, atuou como repórter de televisão, correspondente internacional e escritor brasileiro. O jornalista ganhou notoriedade com sua experiência no jornalismo investigativo e como autor de reportagens em defesa dos direitos humanos. Conquistou credibilidade arriscando sua vida na cobertura de guerras, cobrindo pautas policias, desvendando casos envolvendo crimes, violência e injustiça social. Devido a essas e outras aventuras no jornalismo, Xxxx declarou em entrevista à Memória Globo, que deseja “ser repórter até o fim”.
No Profissão Xxxxxxxx, sua participação vai além de um repórter investigativo. Percebe-se, ao longo dos episódios analisados, sua atuação na narração em off, apresentação inicial, ancoragem, suporte à equipe coordenando e verificando o trabalho dos repórteres nas ruas, além de atuar como mentor e conferir legitimidade ao discurso dos “jovens inexperientes”. Caco também pedagogiza sua equipe, mostrando não só os erros e os acertos dos fatos apurados, mas também a forma de reproduzi-los. No entanto, sem perder a linha editorial e o propósito que o programa se propõe, de mostrar o que acontece nos bastidores das notícias e os desafios encontrados pelos repórteres na apuração das pautas.
Um aspecto comum a todos os programas produzidos é que as reportagens são em sua grande maioria, mostradas pelos atores envolvidos, não apenas contadas pelos repórteres.
Essa estratégia, de certa forma, humaniza a reportagem, colocando as fontes como protagonistas na matéria, não apenas contando suas histórias, mas mostrando como elas acontecem.
Além disso, o ato de mostrar os bastidores da notícia, o posicionamento dos repórteres frente às câmeras interagindo com as fontes, como se fossem ‘pessoas comuns’, dá
5 Fonte: Memória Globo- acessado em: xxxx://xxxxxxxxxxxx.xxxxx.xxx/xxxxxx/xxxxxxxx/xxxx-xxxxxxxxx.xxx
credibilidade e objetividade aos fatos abordados e demonstra o respeito e o compromisso do programa com o telespectador.
3.2.2 Profissão Repórter
Figura 30: Logomarca do programa, temporada de 2016.
Fonte: Face book do programa/Rede Globo
O Profissão Repórter é um programa jornalístico semanal brasileiro, produzido e exibido pela Rede Globo, que vai ao ar nas noites de quartas-feiras com duração média de 30 minutos. Foi criado como um quadro do programa Fantástico em 2006 e teve três edições especiais nas noites de quinta-feira em 2007, que foram ao ar nos dias 30 de agosto de 2007, 18 de outubro de 2007 e 13 de dezembro de 2007. Em 2008, tornou-se fixo na grade da Globo.
Xxxx Xxxxxxxxx e uma equipe de jovens repórteres vão às ruas, juntos, para mostrar diferentes ângulos de uma mesma reportagem. Com um caráter altamente informativo, aos olhos da pesquisadora, talvez seja um dos poucos programas de conteúdo jornalístico, exibidos em uma grande emissora de televisão, que procura manter a integridade ao retratar um jornalismo diferente do que é mostrado nos demais programas de televisão, em que grande parte de suas notícias ‘editadas’ e ‘filtradas’ são conforme o gosto de ‘patrocinadores’, ‘apoiadores’ e ‘investidores’ vinculados à emissora.
O Programa Profissão Repórter objetiva passar para seus telespectadores a realidade dos fatos, da maneira mais fiel possível, mostrando os bastidores da notícia, o que acontece por trás das câmeras, com imparcialidade ‘sempre que possível’, sem a interferência de terceiros e até mesmo opinativo quando necessário.
Nota-se, ao longo dos episódios exibidos, que o programa foi pensado de modo que os jovens repórteres inexperientes participem de todas as etapas da produção, desde a reunião para a escolha das pautas, a produção da reportagem, escolha das fontes, a execução das entrevistas, a captura das imagens até a parte final, edição de todo material apurado. Esse
formato estabelecido pelo programa faz com que o repórter saia para rua em busca de uma proposta elaborada por ele mesmo.
O programa tem sua apresentação coordenada e dirigida por Xxxx Xxxxxxxxx. No começo de cada bloco, ele cita a temática das abordagens que serão exibidas no decorrer do programa, em seguida, finaliza com a famosa frase: “Os bastidores das notícias, os desafios da reportagem, agora no Profissão Repórter”. As vinhetas de abertura fazem a transição de uma reportagem para outra. Normalmente, o programa retrata um tema com três abordagens distintas mostrando os diferentes lados do mesmo assunto. Em algumas reportagens, a equipe atua em dupla, na medida em que um filma (repórter cinematográfico) o outro reporta, mas sempre com o suporte de um ou mais cinegrafistas profissionais.
3.2.3 Programas analisados
Para o desenvolvimento desta pesquisa, foram analisados oito programas da temporada de 2016. Metodologicamente, dividiu-se as análises da seguinte forma: cinco programas foram analisados a partir do papel do jornalista Xxxx Xxxxxxxxx como protagonista dos episódios, o que denominou-se de “Estratégias Explícitas”.
Os outros três programas foram analisados a partir de estratégias construídas nas entrelinhas do programa, o que se denominou de Estratégias Implícitas. Esse eixo de modos de endereçamento foi dividido em duas categorias: uma chamada de “Feedback” e outra de “Trabalho em equipe”.
No sentido do programa ser bem compreendido, descreve-se integralmente os três programas em que identificou-se as análises implícitas. O programa do dia 27 de abril abordou a questão da “crise econômica” que gerou desemprego e o fechamento de muitas lojas do comércio pela falta de circulação de dinheiro. O programa do dia 4 de maio em que a “indústria erótica” foi o foco do programa, revelou que, cerca de 30% de todo conteúdo acessado na internet, é pornográfico e que produtos, artigos e sites destinados à indústria do sexo chega a movimentar R$400 bilhões ao ano. E, por fim, no programa do dia 11 de maio, a equipe do Profissão Repórter viajou para o Equador e mostrou com detalhes a destruição causada pelo “terremoto” que deixou mais de 600 mortos e 30 mil desabrigados até o dia da reportagem. Cada episódio exibe um determinado assunto com profundidade, e como característica própria do programa retrata três lados distintos desse mesmo tema.
3.2.4 Descrição dos programas analisados
Programa exibido no dia 27 de abril de 2016 mostrou três retratos do atual momento econômico do país. Foi retratada a crise econômica que gerou cerca de 90 demissões por dia numa das maiores Siderúrgicas do Brasil, o fechamento de muitas lojas do comércio pela falta de circulação de dinheiro e a incansável busca de milhares de desempregados por uma vaga nas agências de emprego. Como de costume, o programa intercala pequenos trechos das matérias produzidas, justamente para mostrar os diferentes lados de uma situação comum que atinge direta ou indiretamente muitos brasileiros.
Figura 31: Falta de dinheiro causa o fechamento de lojas do comércio.
Fonte: Profissão Repórter/Rede Globo. 2016.
No primeiro bloco, o repórter Xxxxxxxxx Xxxxxxxxx mostra a situação de uma loja de roupas localizada na Zona leste de São Paulo, que estava fazendo ‘queima total’ de estoque para entregar o ponto. Os proprietários Dircel e Xxxxx xx Xxxxxx mantiveram o estabelecimento comercial por oito anos. Em um off, coberto por um gráfico ilustrativo, o repórter fala que a loja faturava em média sete mil reais por mês e, em dadas comemorativas como dia das mães e no natal, o rendimento chegava a R$ 15 mil reais, nos últimos meses o valor caiu para R$ 1,500.
Nessa primeira abordagem do programa, nota-se que o repórter acompanhou de perto os últimos 12 dias de venda da loja, antes do fechamento e que, mesmo com mercadorias pela metade do preço, os consumidores não se arriscavam em gastar. A reportagem deixa claro que, na loja, tudo estava à venda, inclusive os cabides, manequins, prateleiras, araras, balcão e até os provadores. Segundo o repórter, essa foi uma maneira que Xxxxxx, dono da loja, encontrou para quitar as dívidas e os fornecedores. No dia do fechamento, as mercadorias estavam todas por R$10,00. Um mês após a entrega do ponto, o repórter volta ao local da antiga loja e mostra a inauguração de outro negócio por xxx.
Dessa vez, as araras de roupas deram lugar às prateleiras de perfumes. O repórter faz o boletim da matéria em frente à loja e fala: “Por oito anos aqui funcionou uma loja de roupas, com muitas dívidas Dircel e Fátima fecharam as portas. Um mês depois do fechamento, a gente está de volta porque hoje é um dia importante, reinauguração da loja. Vai funcionar aqui agora uma perfumaria”. O repórter conheceu o pernambucano logo após o fechamento da loja. Xxxxxxxxx Xxxxx Xxxx, conhecido como “Gênio do perfume” tinha uma banca de perfumes no centro da cidade e resolver arriscar mesmo com um cenário de crise econômica, em um negócio novo. Investiu suas economias em uma loja mais ampla e com ajuda da família apostou tudo no estabelecimento.
A reportagem termina com palavra do comerciante: “Xxxx, nessa crise querendo ou não querendo, está feia a coisa, mas aí que tá, você tem é que reinventar, tem uma meia dúzia aí que fala, não. não abre esse negócio aí não, isso aí não vai dar certo essas coisas toda..Não cara..Olha aí oh..Tô Aqui..Vou pagar aluguel daqui pra frente, se Deus quiser vai dar tudo certo e eu vou continua”. Esse pensamento do comerciante faz as pessoas pensarem que a crise existe, mas que é possível descobrir alternativas criativas para enfrentar as dificuldades que vêm junto dela.
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Paralelamente, outro repórter mostra a situação das indústrias em Cubatão no litoral de São Paulo, que abriga uma sede do maior polo industrial da América Latina. Em “off” e ilustrado por imagens, o repórter fala que na época da reportagem foram demitidos no início do ano, 1.800 trabalhadores da Usiminas, uma das maiores siderúrgicas do Brasil.
Figura 32: Crise econômica gera demissões em massa, em um das maiores Siderúrgicas do país.
Fonte: Profissão Repórter. 2016.
O repórter Xxxxxx Xxxxxxxx começou essa reportagem às 5h30min da manhã, em um ponto de ônibus que levava os funcionários até a Usiminas em Cubatão. Devido à crise, centenas de trabalhadores foram demitidos e, na madrugada da matéria, apenas Xxxxx Xxxxxx
apareceu no local para pegar o ônibus. Apreensivo, demostrou sua angústia antes de embarcar no transporte coletivo: “O psicológico é bem baixo, eu estou indo agora e não sei se eu volto de novo no ônibus ou diretamente de táxi”. Esse comentário com um tom de incerteza feito pelo funcionário da siderúrgica refere-se ao fato de que todos os demitidos da Usiminas retornavam para suas casas de táxi.
Em outro momento, o repórter vai até o Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos para acompanhar as homologações dos funcionários demitidos da Usiminas. Em off, o repórter conta que, além das duas mil demissões, a Usiminas deu folga de duas semanas a outros 1.300 funcionários e contextualiza essa informação citando o número de habitantes em Cubatão na baixada santista, 120 mil. Com a câmera na mão, o repórter questiona o funcionário sobre sua atuação dentro do Sindicato dos Metalúrgicos:
- O senhor teme acontecer isso com o senhor também no final?
“É uma contingência natural que pode acontecer, né. Hoje eu estou aqui fazendo o serviço de estar homologando, amanhã pode ser que eu esteja no lugar deles sendo homologado também”.
Em off , o repórter traz dados do sindicato dos metalúrgicos: “A previsão é que outras 50 empresas sejam afetadas com as demissões na Usiminas”. Esse número dá-se pelo fato do consumo de aço no Brasil ter caído 17% no ano de 2015. Em seguida, nesse mesmo bloco, o repórter vai até lojas locais e conversa com os comerciantes da cidade. Percebe-se que durante as entrevistas, o repórter cinematográfico registra o relato das pessoas em um plano contínuo de imagens, seguido de perguntas-respostas.
Em outro bloco, o repórter vai até a cidade de Campinas no interior de São Paulo e visita outra indústria, onde registra a manifestação de 1900 trabalhadores, que protestavam pelos salários atrasados há cinco meses e ocuparam a fábrica de fogões, onde trabalhavam, e que estava com a produção parada. Em off, o repórter conta que a justiça declarou falência, mas o sindicato e os funcionários tentavam reverter essa decisão para conseguir receber seus direitos.
Três semanas depois, o repórter volta à baixada santista e dessa vez encontra Xxxxx Xxxxxx, o funcionário da Usiminas, em casa numa tarde de quarta-feira. Segundo ele, o motivo era licença remunerada da indústria: “A empresa está passando esse momento difícil, a gente sabe disso, então a gente está aguardando aqui na residência, eu não sei o dia de amanhã”. Mais uma vez nota-se a insegurança do funcionário com relação à garantia de seu emprego em decorrência da forte crise econômica que atingiu o país.
Noutra abordagem feita nesse programa, os repórteres Xxxxxxx Xxxxxx e Xxxx Xxx Xxxxx começam sua reportagem às 4 horas da manhã. Eles acompanham milhares de pessoas que estavam numa fila no centro de São Paulo para conseguir uma das sete mil vagas oferecidas por uma agência de emprego. Xxxxxxx estava “em on”, isto é, conduzindo a reportagem com ajuda de um cinegrafista e Xxxxx ‘quase’ que “em off”, pois com uma câmera no ombro gravou as imagens e fez as entrevistas, com algumas interferências ao longo da reportagem.
Figura 33: Milhares de desempregados na busca por uma vaga de emprego.
Fonte: Profissão Repórter. 2016.
Em off , aparece a voz de Xxxx Xxxxxxxxx com a seguinte informação: “Segundo o IGBE, 10% dos brasileiros estão desempregados”. Na fila quilométrica, com pessoas de todas as idades, Mariana mostra a decepção de uma senhora que passou a madrugada toda em pé, no frio era a primeira da fila para conseguir uma empregada fixa para a vaga de limpeza, mas como ela não tinha o Ensino Fundamental completo, não se encaixava nas exigências da empresa, que não esclarecia esse requisito no anúncio. O resultado foi tristeza e frustração estampada no rosto da senhora que tinha apenas a quinta série e estava na luta por um emprego. Enquanto isso, o repórter está com uma câmera no ombro no final da fila conhecendo as histórias dos desempregados.
Em outro momento, a repórter vai até uma agência de emprego que seleciona profissionais para fazer serviços domésticos. O local estava lotado de esperanças com mulheres de todas as idades. O telefone que não parava de tocar poderia trazer uma notícia boa, que mudaria a vida daquelas mulheres que buscavam de maneira incansável um emprego na sociedade.
Um mês depois, a repórter vai até a casa de Xxxxx Xxxxxxxxx, que conheceu na agência de emprego. Desempregada há cinco meses, ‘Cida’, como era conhecida, fez cursos de baby sister para aperfeiçoar suas habilidades e ter mais chances de conquistar uma vaga de emprego. Esperançosa, mostra os certificados dos cursos que fez pensando em num futuro
melhor para seus filhos e fala: “Vamos torcer para que Deus ajude e a gente consiga emprego rápido, porque senão as coisas vão ficando mais complicada ainda, graças a Deus que a gente não paga aluguel, mas mesmo assim é difícil, precisa comer, precisa vestir, precisa de remédio”. Ela e sua família estavam vivendo do seguro desemprego do marido e dos “bicos” que ele fazia para completar a renda. Por fim, a repórter acompanha a família nas compras do mês.
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Do dia 4 de maio de 2016, a “indústria erótica” foi foco. O programa mostrou que cerca de 30% de todo conteúdo acessado na internet é pornográfico, que os artigos destinados à indústria do sexo chegam a movimentar R$ 400 bilhões ao ano e também o conflito entre sexo e religião.
Figura 34: Casal religioso enfrenta preconceitos, por causa de seu trabalho.
Fonte: Profissão Repórter/Rede Globo. 2016.
O primeiro bloco do programa começa com a reportagem do repórter Xxxx Xxx Xxxxx, que acompanhou o dia a dia de Xxxx Xxxxxxx e Xxxxx Xxxxxxx, um casal muito religioso que moravam em Portugal e que resolveram voltar para o Brasil, quando Xxxx perdeu o emprego na crise de 2010. O casal conta que, depois de muitas pesquisas de mercado, perceberam que se investissem seu dinheiro no ramo , as chances de terem uma rentabilidade nos negócios eram grandes, então decidiram abrir uma Sex Shop no centro de Jandira (SP).
Porém, o casal optou por comercializar apenas mercadorias eróticas, ou seja, não vendem vídeos ou artigos pornográficos e o público-alvo são outros casais. Mesmo assim, a decisão causou espanto na família de Xxxxx, além disso, encontraram rejeição na própria religião. Em uma narração off coberta por imagens da Sex Shop, o repórter relata que o casal trabalha cerca de doze horas por dia, que Xxxxx cuida da área administrativa e Xxxx dá dicas de relacionamentos em um blog religioso e o atendimento dos clientes na loja.
Nota-se que durante o tempo em que o repórter esteve na loja, muitos clientes que entraram não permitiram ser filmados, tão pouco aceitaram dar entrevista. Com muita
insistência, Xxxx conseguiu com que duas clientes mulheres falassem um pouco sobre as mercadorias e produtos eróticos da loja. Dessa forma, o repórter finaliza sua reportagem.
Figura 35: Caco Barcellos acompanha o trabalho do empresário Xxxxxx Xxxxxxx.
Fonte: Profissão Repórter/Rede Globo. 2016.
Dessa vez quem aparece é o jornalista Xxxx Xxxxxxxxx, que acompanhou de perto o trabalho de montagem dos estandes e os últimos ajustes nas atrações da maior feira erótica da América Latina. Essa visita aconteceu vinte dias antes da inauguração, tudo realizado sobre os comandos do organizador de eventos, Xxxxxx Xxxxxxx. Em off, Caco fala que, em 1997, o empresário montou a primeira feira erótica do Brasil. Durante sua passagem pela feira, o repórter mostra que o empresário também é dono de Clubes secretos que acontecem uma vez por mês, com cerca de vinte stripper, para animar as noites da casa. Entre eles, o dançarino Evandro Titanic, que tem o show mais ousado do clube secreto.
A primeira abordagem feita pelo repórter ao stripper foi a respeito do seu trabalho nas casas noturnas e suas apresentações ousadas. Xxxxxxx, mais conhecido por Titanic vestindo apenas uma toalha, fala à vontade com o jornalista: “Comecei por acaso a dançar, porque eu tinha o corpo legal, e o emprego... e o dinheiro acabou me segurando [...] trabalhamos dessa maneira muito durante o dia, despedida de solteiro, chás né.. chá de cozinha, chá de lingerie, chá de bebê também.. na realidade, eu costumo brincar assim; a mulherada quando ela quer fazer uma festa quer um homem dançando, o tema não importa elas fazem até um chá de erva doce e chamam um cara pra dançar”. Essa declaração do dançarino durante o primeiro contado com Xxxx despertou no repórter a curiosidade de saber mais sobre a vida do stripper.
No dia seguinte, o jornalista vai até a casa de Titanic para conhecer sua família. Logo na chegada, Xxxx utiliza-se de um plano contínuo de imagens, recurso semelhante ao ‘plano sequência’ muito usado no cinema, em que não há muitos cortes na edição e o repórter registra de maneira sequencial a história contada. O jornalista entra na casa do stripper já com a câmera ligada e narrando tudo que avista: “Um dia depois, encontramos o Titanic num outro cenário, em casa, na casa dele, aqui é a entrada, é uma oficina me parece?”. Em
resposta, o dançarino fala que os carros são um hobby e que os antigos dão uma renda extra, para “bicos” como motorista de noivas. Xxxxxxx tem uma filha de dois anos com Xxxxxxx, com quem é casado há dez anos. Sua esposa também trabalha como stripper.
Em off, narra como funciona o trabalho dos stripper: O casal faz em média cinco apresentações por semana. Durante os shows, seguem duas regras básicas: não permitem que toquem nas partes íntimas e não fazem sexo.
Caco acompanha o casal numa noite de trabalho. Xxxxxxx, não hesita em perguntar para dona Xxxxxxxxx xx Xxxxxx, mãe do stripper, o que ele acha do trabalho do filho. A senhora cuida da neta, nas noites em que o casal trabalhar. Embora com uma expressão de preocupação, ela diz estar acostuma com o horário que o filho sai de casa para trabalhar.
Em outro instante da reportagem, dessa vez durante a luz do dia, o repórter acompanha o dançarino em mais um evento pela cidade. Na passagem, Caco diz: “Xxxxxxx também trabalha durante o dia. Xxxxxxx à tarde, Zona Sul de São Paulo, ele é a atração principal de um chá de lingerie”. O dançarino chega dirigindo um dos seus carros, um Gol branco e vestido de bombeiro para fazer a alegria da mulherada na festa de despedida de solteiro. O stripper confessa a Caco que tem preferências por esse tipo de trabalho: “Esse é um dos trabalhos que eu prefiro, é mais divertido, financeiramente melhor, e um horário mais tranquilo também durante o dia”.
Durante essa abordagem realizada pelo jornalista Xxxx Xxxxxxxxx, percebe-se a sua gentileza e o cuidado como profissional em mostrar com detalhes todos os lados dos personagens envolvidos. Essa necessidade de vivenciar a realidade das histórias abordadas, de sentir na pele o que está contando traduz mais veracidade ao produto final.
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Em seguida, o programa traz a repórter Xxxxxxxx Xxxxxxxx, que visita a maior feira do mercado erótico da América Latina, apresentada por Caco Barcellos no início do programa. A expectativa dos organizadores do evento é que aproximadamente 30 mil pessoas passem pelo local nos três dias de feira.
O empresário Xxxxxx Xxxxxxx, que o Caco conheceu quase um mês antes é quem apresenta os estandes, as atrações à repórter. Curiosa para ver os ajustes de tudo que foi apurado pelo jornalista, quase trinta dias antes, a repórter pergunta ao empresário: “Então você apresentou um pouquinho do espaço para o Caco, como é que está hoje aqui?”. Contente com os desfechos de seu trabalho, Xxxxxxx responde que está tudo saindo como esperado, que o público está se divertindo com as atrações da feira.
Entre as ‘quarentas’ atrações que eram oferecidas nos três dias de feira, a sala de sexo tântrico era mais procurada. Um local onde casais independentes da opção sexual ou idade, praticavam exercícios de relaxamento, com trocas de olhares, toques e massagens exóticas na intenção de despertar o prazer sexual. Ao ver a sala, ela questiona: [...] “Quando o Xxxx visitou o evento, ele viu que vocês estavam muito preocupados com o isolamento acústico da sala pra não vazar os sons, como é que isso ficou resolvido, deu certo no fim?”.
Quando a repórter faz esse questionamento à responsável pela sala onde acontecem as seções, fica clara a intenção do programa em mostrar ao público os desfechos dos empecilhos
- problemas encontrados na primeira visita, uma maneira de mostrar o antes e o depois, sem esconder a realidade dos fatos e o registrado pelos bastidores do programa.
Em outra situação, a repórter lembra-se da limousine mostrada no início do programa. Nesse momento, entra um flex da entrevista do jornalista: Xxxx percebe que o pessoal está com dificuldades para entrar com a limousine dentro dos estantes da feira e faz a seguinte pergunta ao motorista: “Qual é a dificuldade?”. Em resposta, o motorista fala de dentro do carro: “É a distância entre os eixos do carro”, pois na hora que a limousine começa a descer a roda da frente para entrar no local, onde deveria ficar exposta, ela trava a parte de baixo e não tenho como seguir.
A limousine estava localizada embaixo, no canto da parede e rodeada de visitantes. A repórter relembra esse falto citado anteriormente: “Estou vendo ali a limusine, essa limousine deu um pouco de trabalho para entrar aqui não deu não?”. Para não falar das dificuldades de acomodar a gigantesca atração, Xxxxxxx simplesmente responde que eles optaram por deixá-la na parte de baixo próximo à área de negócios.
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Por fim, a repórter cinematográfica Xxxxxx Xxxxxxxx mostrou o lado secreto das meninas que trabalham mostrando o corpo em sites de sexo virtual. Não teve sucesso na sua primeira tentativa, pois a menina que xxxxx a entrevista tinha apenas 19 anos desistiu por medo da exposição e de ser descoberta pelos pais. Sua segunda tentativa deu certo, a menina de 21 anos conhecida como “Xxxxx Xxxxx” trabalha há quatro anos como stripper virtual, as camgirls e aceitou mostrar o rosto.
Figura 36: Stripper ganha à vida mostrando o corpo em sites de sexo virtual.
Fonte: Profissão Repórter/Rede Globo. 2016.
Sua reportagem começa no quarto da stripper. Com uma câmera na mão, a repórter tem a missão de mostrar o trabalho e a intimidade da jovem de 21 anos, que há quatro anos exerce essa função e que lhe obrigou a trocar o dia pela noite. A repórter presenciou como funciona o trabalho da dançarina. Foram quase 13 horas em frente à câmera do notebook fazendo transmissões, trocando de lingerie e fantasias eróticas. Durante as transmissões, Xxxxx Xxxxx mostra o corpo e fica nua para várias pessoas ao mesmo tempo, quem quiser fazer sexo online tem que entrar numa conversa privada em que o cliente também pode mostrar o corpo.
A stripper mora sozinha desde que se separou e troca o dia pela noite trabalhando. Seus pais moram em outro estado e sabem do trabalho que a filha realiza. Xxxxx terminou o Ensino Médio, pretende cursar Administração e planeja abrir um restaurante. Em off, a repórter traz alguns dados que contextualizam sua reportagem: “40% do que as modelos ganham são repassados para a equipe que gerencia o site. A sede que monitora mais de 500 modelos fica em Curitiba. Segundo 30% de todo conteúdo acessado na internet é pornográfico, os sites tem em média 50 mil acessos por dia”.
A repórter com uma câmera no ombro utiliza-se do plano contínuo de imagens e narra seus passos ao chegar ao prédio onde fica a agência do site que gerencia as modelos. Xxxxxx conversa com Xxxxx Xxxxxx, presidente do site, com o diretor de tecnologia Xxxx xx Xxxxxxxx, responsável por toda parte tecnológica do site sua esposa Xxxxxxxx Xxxxxx, que também trabalha no site como gerente financeira e com a sócia e Xxxxxxxx Xxxxxxx. Para eles, trabalhar na indústria pornográfica é tranquilo sem problemas algum de convivência na sociedade. Em média, 12 meninas cadastram-se por dia e apenas quatro são ativadas na seleção. O que impressiona é o perfil dessas candidatas. Segundo Xxxxx, presidente do site, são estudantes universitárias e donas de casas, casadas e que na maioria das vezes o marido participa das
transmissões, ao contrário que muitas pessoas pensam serem somente garotas de programas. Para ele, não existe crise que abale esse setor.
Passado um tempo, a repórter retorna a casa da stripper, mas dessa vez, durante o dia, e para mostrar o que ela faz com o pouco tempo que lhe resta, quando não está transmitindo. Para a sexy girl, o seu trabalho tem dois lados: “A maior desvantagem é essa... que você fica muito isolada do mundo real... você vê bem poucas pessoas, e a maior vantagem é ter a sua condição financeira de se manter, fazer o que você quiser e tal...”. Com esse depoimento, a repórter finaliza sua abordagem.
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Figura 37: Caco Barcellos mostra a situação dos moradores das cidades do Equador.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
No dia 11 de maio, o programa exibe as reportagens que Xxxx Xxxxxxxxx e o repórter Xxxxxxx Xxxxx realizaram no Equador, mostrando detalhes do terremoto que aconteceu às 19 horas do dia 16 de abril de 2016, que durou apenas 42 segundos e deixou mais de 600 mortos e 30 mil desabrigados até o momento da reportagem. Caco, na companhia de um cinegrafista, visita a província de Manabi, no litoral norte do país, bastante afetada pelo terremoto.
O jornalista mostrou a situação das estradas que estavam com grandes rachaduras, interrompendo o acesso. Durante o caminho, Xxxx encontra famílias inteiras que vivem em barracas improvisadas, depois que suas casas foram destruídas ou condenadas pela defesa civil. É importante destacar que o jornalista utilizou-se novamente do plano contínuo de imagens para fazer a cobertura dessa tragédia ambiental. Desse modo, suas abordagens são inesperadas pelas fontes, ou seja, o jornalista chega às pessoas com a câmera ligada e com o microfone aberto.
Dessa forma, conversa com as pessoas de maneira informal, não como um jornalista que está lá para coletar as informações e passar para o resto do mundo. Nota-se certo envolvimento do jornalista com a situação das pessoas, não do lado emocional, mas sim, da
necessidade que o jornalista tem de sentir na pele o que está contando. Realiza seu trabalho com tamanha naturalidade, que às vezes parece esquecer que está sendo filmado. Caco também conhece a TV local e tem acesso às imagens feitas pela imprensa local sobre as destruições causadas pelo tremor no país.
A cidade de Bahia de Caráquez tinha cerca de vinte e cinco mil habitantes e também foi atingida, localizada a pouco mais de 100 quilômetros de distância do epicentro do terremoto. O repórter mostra imagens chocantes de casas e prédios destruídos e também centenas de barracas de plástico que abrigavam os moradores pelas ruas. Caco visita a Igreja da Santa de Lá Mercedes, a catedral da cidade. Toda de madeira, tem mais de cem anos e segundo o padre responsável pela paróquia, Xxxxx xxx Xxxxxx que por sinal era brasileiro, ela já resistiu a dois terremotos. O padre realiza missa para os mortos e também ajuda a cuidar das pessoas que estão alojadas num acampamento na praça da paróquia.
Caco mostra que na cidade de Pedernales de cada 10 prédios oito caíram. O moto- taxista Xxxxx perdeu sua casa e mostrou com detalhes ao jornalista onde ficava sua casa no meio dos destroços. Na carona do morador, o jornalista passa pelos pontos mais atingidos da cidade e mostra que no meio dos escombros as pessoas se arriscavam para tirar ferro e metal entre as pedras para vender. Outra situação presenciada pelo repórter foi a dos mestres de obras colocando bambu nas encostas dos prédios que resistiram ao tremor. Segundo os moradores, eles utilizam o bambu por ser forte e flexível e assim sustenta as paredes. No antigo aeroporto de Portoviejo, Caco mostra que o local antes destinado para as duas pistas de voo, virou um albergue com mais de mil desabrigados e que as barracas de plástico, assim como água e outros condimentos foram fornecidas pelas Nações Unidas.
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Em outro ponto do país, o repórter cinematográfico Xxxxxxx Xxxxx mostra as técnicas dos especialistas dentro dos escombros. Filma de perto a destruição nas ruas da cidade de Manta, acompanha as equipes de resgates que trabalhavam dias e noites em busca de desaparecidos. Conversou com sobreviventes e com profissionais da imprensa local.
Figura 38: Xxx xxxxxxx, esperançosamente, pelo resgate da filha desaparecida.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
O repórter encontrou entre as ruas cobertas de escombros, a triste espera de seu Xxxxxx, pai de Xxxxx Xxxxx Xxxxx que trabalhava em uma lanchonete de um dos prédios atingidos e que estava desaparecida. Durante dezoito dias, esse pai esperou sentado na calçada com esperanças que sua filha ainda fosse resgatada com vida. Um fato triste que pode-se dizer que mexeu com o emocional de quem assistiu. Por um momento, tive a sensação de que o repórter quase de deixou envolver com essa situação, pois demostrou não saber direito como lidar com a esperança desse pai de encontrar sua filha ainda com vida. Mesmo sabendo que essa hipótese já havia sido descartada pelos bombeiros, ele não soube como falar sobre a notícia com a família.
Durante esse acontecimento, o repórter vai para o carro e lamenta a situação com o cinegrafista. Essa situação reforça a questão da “ética jornalística” em que o profissional deve-se manter imparcial e não se envolver com as fontes, independente da situação. Ou seja, por mais difícil que seja a abordagem, é fundamental manter-se o mais neutro possível, para não interferir no resultado do trabalho.
A partir da descrição minuciosa desses três programas, do Profissão Repórter da temporada de 2016, parte-se para a segunda parte a qual esse trabalho se propõem, deflagração de sentidos, as estratégias de comunicação identificadas pela pesquisadora.
4. Análise e discussão dos dados
4.1 A articulação de um mestre de cerimônia: estratégia explícita
Entre as estratégias discursivas identificadas no programa Profissão Repórter e, decorrente delas, o contrato de leitura que estabelece os vínculos de fidelização do programa com sua audiência, a mais impactante e com presença marcante em todos os programas, é o papel central e articulador do jornalista Xxxx Xxxxxxxxx, que “circula” como âncora e como mestre de cerimônias, dando legitimidade às rotinas produtivas dos repórteres, pedagogizando os modos de trabalhar o jornalismo investigativo e, em certos programas, atuando, inclusive, como repórter de televisão.
Para dar consistência a essa estratégia de “articulador” do programa, conversando com os repórteres aprendizes nas ilhas de edição, entrevistando as fontes de assuntos polêmicos ou simplesmente anunciando os temas abordados, descreve-se e analisa-se cinco programas Profissão Repórter apresentados pelo jornalista Xxxx Xxxxxxxxx da temporada de 2016. Na quarta-feira do dia 6 de abril, foi ao ar, o primeiro programa dessa temporada.
Os três primeiros minutos do programa de reestreia faz uma retrospectiva de fatos que foram marcantes na programação ao longo dos dez anos de Profissão Repórter. Essa estratégia de “recapitular” o que aconteceu durante esses anos sinaliza a importância das temáticas abordadas pelo programa, ou seja, conota o papel de prestador de serviços que o jornalismo tem junto ao público, quando informa as questões prioritárias da sociedade. Mas, principalmente, deixa explicita os valores e critérios de notícia que o repórter Xxxx Xxxxxxxxx valoriza.
Nesse sentido, o propósito de Xxxx Xxxxxxxxx fica alinhado a uma dimensão estratégica proposta por Xxxxxxxxxx (2006 p.86) que configura o projeto de fala em três perspectivas: O “fazer fazer” - realidade, através do programa é um indicativo dos fazeres jornalísticos, o “fazer saber” voltado para o lado informativo além de viabilizar questões de interesse da sociedade e a do “fazer crer” referente ao poder de persuasão do jornalista uma vez que Xxxx Xxxxxxxxx pedagogiza as rotinas produtivas do jornalista. Já a conversa com os repórteres na ilha de edição aparece como prova.
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No decorrer do programa do dia 6 de abril, em uma ilha de edição Caco Barcellos conversa com a repórter Xxxxxx Xxxxxxxx sobre a pauta do programa, “a grave crise política” que está nas ruas do país inteiro. Essa conversa é uma espécie de estratégia utilizada pelo
jornalista em alguns programas para mostrar os erros e acertos dos repórteres de “primeira viagem” na apuração dos fatos para as reportagens.
Na prática, observa-se que o jornalista assiste ao material produzido ou que ainda está em andamento, juntamente com o repórter responsável faz algumas observações dá sugestões e faz questionamentos sobre os rumas da pauta, pedagogizando os fazeres jornalísticos.
Figura 39: Caco Barcellos conversa com a repórter sobre a pauta.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
Xxxx Xxxxxxxxx conversa com a repórter Xxxxxx Xxxxxxxx sobre sua cobertura das manifestações dos militantes de um partido politico. De início, ele abre o programa da seguinte maneira:
“Bom esse é o nosso primeiro programa da temporada e a pauta, nê Xxxxxx tinha que ser essa aqui; ‘a grave crise politica’ que está nas ruas do país inteiro”; “a primeira gravação foi a sua e começou forte como estamos vendo, como é que foi Mayara?”.
Essa primeira fala do jornalista além de mostrar o seu papel de condutor no programa, demonstra um teor de preocupação com o repórter ao questioná-lo sobre o comportamento que teve diante das dificuldades encontradas. Essa estratégia adotada por Caco faz com que o Profissão Repórter seja um programa diferenciado no meio das mídias tradicionais de comunicação, uma vez que o discurso construído baseia-se no saber jornalístico do apresentador. A riqueza desse “modelo” está na experiência exposta, na vivência do jornalista como repórter de televisão.
O jornalista escuta atentamente cada justificativa da repórter e em seguida pede para ver as imagens:
“Vamos ver aqui”.
Com uma frase curta, Caco demonstra uma expressão de indignação ao que estava assistindo e fala:
“É muito difícil imaginar que um dia tão importante como esse, um dia histórico, um repórter não esteja ali no meio dessas pessoas”.
.
Nota-se que com esse posicionamento, o jornalista deixa transparecer a sua “veia jornalística”, ao passo que acredita ser inadmissível a censura na informação. O jornalista tem o compromisso social de mostrar o factual à realidade dos acontecimentos. Dessa maneira, Xxxx sinaliza que, para a reportagem passar veracidade a relação tem que ser física, tem que ir para rua e sentir na pele o que vai contar.
Aparentemente ofendido com a situação em que a repórter foi exposta, Caco avalia a atitude de uma senhora militante, que hostilizou a repórter em plena multidão como irresponsável e comenta a cena assistida:
“Bastante irresponsável você hostilizar no meio de uma multidão, a gente sabe que uma multidão pode se transformar em algo...uma ação incontrolável. Acho bastante irresponsável”.
Essa declaração exposta por Xxxx reforça sua articulação no programa, sua sensibilidade com a repórter, sua defesa pelos direitos de imprensa, pelo direito de exercer a profissão sem censura ou represália. Retrata também, sua notoriedade enquanto jornalista que luta em defesa dos direitos humanos. Para Xxxxxxxxxx (2006), essa capacidade de avaliar as situações fazendo comentários pontuais e pouco crítico do jornalista baseia-se que “na hipótese [...] esse alvo dispõe de critérios de avalição que lhe permitem julgar e separar o que é verdadeiro, confiável e autêntico”. (2006, p. 80).
Em outro momento, nota-se que jornalista demonstra certa leveza ao ver a cena da repórter sendo amparada, por duas militantes contrárias à atitude hostil dos manifestantes.
“É impressionante essa imagem aqui Mayara, dizer que com toda essa hostilidade você tem ali a solidariedade de duas militantes também. Quem são essa duas? ”
Essa estratégia de aprofundar com os repórteres e escutá-los fortalece o sentido de significar o jornalista Xxxx Xxxxxxxxx como um profissional que tem conhecimento, e por isso, autoridade sobre o fazer jornalístico. Sua experiência, seus prêmios, seus anos de profissão dão-lhe base para fazer observações, críticas e demonstrar seu posicionamento em relação aos acontecimentos colocados. Esse conjunto de dizeres e falas entre o jornalista e a repórter conotam que o profissional Caco Barcellos não atua apenas analisando a apuração das matérias, tão pouco, se resume fazer comentários e sugestões aos repórteres, cabe a ele, a função de “um pedagogo da profissão repórter”.
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Esses modos de endereçamento avaliativos realizados pelo jornalista também está presente no programa exibido dia 18 de maio de 2016. No programa, o apresentador utiliza-se mais uma vez, do seu saber, para questionar a pauta com a repórter, que cobre o tema sobre os bailes funks, que acontecem quase todas as noites em bairros e favelas da cidade de São Paulo e que é permitida a entrada de menores, assim como, o consumo de álcool e drogas pelos frequentadores das festas.
Figura 40: Caco conversa com a repórter sobre as imagens exibida.
Fonte: Profissão Repórter/Rede Globo. 2016.
Ao assistir as imagens, surgem alguns questionamentos de Xxxx, como:
[...] “Quantas pessoas numa balada dessas?”. “Que situação é essa? [...]
Nota-se que o jornalista observa pequenos detalhes apresentados no vídeo. São fatos que poderiam ser considerados irrelevantes por quem assiste sem um ‘olhar crítico’, mas que desperta o interesse de quem domina as práticas do fazer jornalístico, que sabe onde tirar informação e escrever uma boa história.
Esse conjunto de questões entre o jornalista e a repórter sinaliza uma estratégia baseada na experiência do seu conhecimento. Nesse sentido, Xxxx Xxxxxxxxx extrapola o papel de âncora do programa, ele torna-se o mestre que conduz as temáticas e práticas dos programas, bem como guia os fazeres dos repórteres aprendizes.
Isso é repetido no programa do dia 08 de junho de 2016, que mostra a situação dos brasileiros que moram em Londres e que ganham a vida em cima de uma moto. Abordando essa questão, Xxxx Xxxxxxxxx tem uma conversa via internet com a repórter convidada, Xxxxxxx Xxxxxxxxx, que mora no país, e a pedido do programa Profissão Repórter acompanhou o dia a dia de “moto boy” brasileiros em Londres.
Figura 41: O jornalista questiona a repórter, via internet, sobre a vida dos brasileiros que trabalham em Londres.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
Observa-se que logo no início da conversa, o jornalista procura saber qual a situação dos brasileiros que moram no país:
“Há muita restrição hoje, tem países que se esforçam para evitar entrada de imigrantes, outros países até pensam em expulsá-los. Como é que os brasileiros estão com relação a essa nova realidade?”
Esse questionamento do jornalista contextualiza a abordagem da reportagem e demonstra que ele está bem informado sobre o que acontece no país. Com perguntas pontuais, ele vai orientando e conduzindo como ela tem que colocar os fatos.
Nesse sentido, Xxxx Xxxxxxxxx evidencia a sua necessidade em ouvir o que o repórter tem a dizer, de saber o seu posicionamento diante das dificuldades que aparecem durante a realização das reportagens. Por isso, as perguntas frequentes de Caco, tais como:
“O que você sentiu? Como foi para você ouvir isso?”.
Ao observar essas indagações ao longo dos programas, percebe-se que um dos propósitos que o Profissão Repórter tem e que estabelece o contrato de leitura com o seu público receptor é de mostrar o lado humano das histórias contadas, os bastidores das noticias os erros e os acertos dos repórteres inexperientes, um jeito de fazer jornalismo diferente dos demais programas jornalísticos da televisão brasileira.
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Na quarta-feira dia 27 de julho de 2016, o Profissão Repórter abordou o abuso sexual de crianças e “os traumas provocados por esse crime”. Em mais um programa, Xxxx senta ao lado de um repórter e juntos olham o material produzido. Dessa vez, foi o de Xxxxxxxxx Xxxxxxxxx, que mostrou casos de pedofilia.
Figura 42: Xxxxx conversa, o repórter mostra ao jornalista casos de pedofilia.
Fonte: Profissão Repórter/Rede Globo. 2016.
Mais uma vez, Xxxx assiste e escuta com atenção às imagens e à fala do repórter sobre as cenas que estão sendo exibidas na tela de um dos computadores da redação do programa. Por se tratar de um tema polêmico, as imagens exibidas não revelavam o rosto do entrevistado apenas detalhes fechados. Nesse sentido, Caco faz algumas perguntas:
[...] “O estado civil dele? ”; “a mulher sabe? ”; “Bom se foi preso!!” E por fim: “Ele sofreu algum tipo de represália na cadeia?”. [..]
Observa-se, que o jornalista contém-se a poucas perguntas (perguntas que ele supostamente faria às fontes) diante da gravidade do assunto deixando o repórter mostrar o seu olhar sobre o tema. No entanto, há todo um conjunto de dados que o jornalista vai unindo, perguntando, sobre como se sentiu e depois questionando dados objetivos que revelam como se faz jornalismo. Dessa forma, o jornalista vai confirmando se a atuação do repórter está de acordo com o que se espera de um profissional da comunicação.
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Diante desse cenário, encontra-se essa pedagogização de Caco Barcellos no programa exibido no dia 14 de setembro 2016, que abordou a questão das “queimadas ambientais e dos incêndios nas favelas”. Nesse programa, Xxxx assiste ao material produzido por duas repórteres; Xxx Xxxxx Xxxxxxx convidada pelo programa para mostrar a situação das queimadas no estado do Acre. E mais uma vez, da repórter Xxxxxx Xxxxxxxx, que cobriu o incêndio em uma favela na cidade de Osasco no interior de São Paulo, que causou a morte de uma criança.
Um fato marcante que chamou atenção do jornalista ao assistir as gravações da repórter Mayara, foi a atitude de um dos moradores pela presença da repórter no local com seu objeto de trabalho na mão, a câmera. Revoltado, o morador gritou para que ela parasse de
filmar e pegasse na enxada para ajudar. Nesse momento, Caco aperta o pause nas imagens e pergunta:
“Ele sugeriu que pegasse a enxada?!’ [...] [...] “ O que você achou na hora disso? ”
As duas perguntas em sequência realizadas pelo jornalista remetem mais uma vez ao seu método pedagógico estabelecido no programa, seu cuidado em saber do repórter a opinião sobre os acontecimentos presenciados e conhecer a história das pessoas envolvidas através do que o repórter absorveu durante a apuração da matéria.
Figura 43: A repórter explica ao jornalista a atitude grosseira de um morador, como a seu trabalho.
Fonte: Profissão Repórter/Rede Globo. 2016.
Diante de todas as circunstâncias que aquelas famílias estavam passando, a repórter diz que pensou em largar a câmera e ajudar, mas que preferiu afastar-se deixar as coisas acalmarem-se e voltou mais tarde para concluir sua missão.
Em reposta, Xxxx faz seu posicionamento:
[...] “Tem que entender que o nosso trabalho se tem alguma relevância é como repórter esse papel é muito claro, é retratar o drama que eles estão vivendo ali.. si é que você pode fazer alguma coisa positiva pra eles, esse retrato, esse é o nosso trabalho.”[...]
Após indagar o aspecto emocional da repórter com o incidente, Xxxx conota uma intervenção opinativa sobre o papel da responsabilidade social do jornalista. Ele chama a atenção da repórter para o compromisso dela com a sociedade, enquanto jornalista. Ao fato que independente das circunstâncias estabelecidas, ela estava lá para realizar o seu trabalho como repórter e que dessa maneira ela já estava ajudando aquelas pessoas.
Dessa forma, Caco frisa que o repórter tem que atuar como representante do ‘olhar do público’ que sua responsabilidade é levar a informação a lugares onde ela não pode chegar e chegar a lugares onde tem a informação. Essa missão do repórter está dentro dos desafios da
reportagem: “chegar aonde se precisa estar, revelar o que deve ser visto, dar voz a quem demanda ser ouvido” (XXXXXX; XXXXXXXXX) in (BARCELLOS 2016, p.366).
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Figura 44: Repórter convidada explica ao jornalista, o que presenciou no estado do Acre.
Fonte: Profissão Repórter/Rede Globo. 2016.
Outra análise feita pelo jornalista no mesmo programa foi das imagens feitas pela repórter, Xxx Xxxxx. Em mais uma conversa do jornalista, é possível identificar sua inquietação para saber a pauta através dos olhos do repórter. Nesse caso, saber mais sobre a situação dos moradores do Estado do Acre a partir do que a repórter convidada tem para contar:
“E nossa repórter convidada para mostrar esta situação das queimadas do Estado do Acre [...] “Você já tinha feito alguma reportagem lá na Amazônia? ”[...] “E para televisão você já tinha feito alguma reportagem”[...] “É a primeira. E como é que foi sua chegada lá com tanta surpresa já que para você tudo é novo? ”
Nota-se que ao mesmo tempo em que o jornalista apresentava a repórter ao telespectador, ele estabelece um diálogo informal com a convidada, com perguntas simples sem a inserção da pauta, mais voltadas para ele estabelecer um vínculo interativo com a repórter. Sentado ao lado da convidada e como forma de deixá-la mais à vontade e tranquila para falar sobre sua pauta, o jornalista utiliza-se da sua simplicidade para falar dos métodos de comunicação.
Fica claro também que os repórteres do programa atuam como personagens das histórias contadas, pois eles vivenciam as experiências que pretende narrar. Dessa forma, entende-se que esses profissionais têm um duplo papel, o de sentir na pele o que as fontes sentem e mostrar isso de maneira real e também de inserir o telespectador nessa experiência.
4.1.1 O protagonismo de Caco Barcellos no programa
Uma característica comum a todos os programas, evidenciada nessa pesquisa, é a tradicional abertura realizada por Xxxx Xxxxxxxxx nos primeiros minutos que o programa está no ar.
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No programa do dia 27 de abril, que abordou a crise econômica e suas consequências que atingiu grande parte da população, Xxxx abre o programa com uma narração em off, de fundo a trilha ambiental do programa, citando pontos importantes que serão abordados ao longo da programação, tais como:
[...] “Os demitidos da indústria”, “O comércio fechando as portas”, “E os desempregados que fazem fila por uma vaga”. [..]
Essas pequenas frases ditas pelo jornalista em off confere legitimidade ao discurso dos jovens repórteres. Para isso, as reportagens anunciadas são cobertas por imagens dos produtores e receptores dos fatos narrados.
Figura 45: Chamada do programa.
Fonte: Profissão Repórter/Globo. 2016.
“No Profissão Repórter de hoje, três retratos do atual momento econômico do país, o desemprego já atingi 10% dos brasileiros”. (Caco Barcellos)
Observa-se que, após a voz-off introduzindo o destaques das reportagens, o jornalista aparece no vídeo e faz uma passagem curta. Nesse episódio, Xxxx caminha sobre uma faixa de segurança no meio das pessoas e da uma informação que contextualiza os off anteriores.
Em seguida mais uma voz-off destacando partes que será mostrado no decorrer das reportagens, tais como:
[..] “90 demissões por dia numa das maiores siderúrgicas do Brasil”; “dezenas de domésticas esperam todos os dias, uma vaga nessa agência de emprego”[...] “ E o nosso repórter acompanha os últimos dias de uma loja”, e finaliza a narração com a frase clássica do programa” [...]
E para finalizar o “jargão” do programa:
“Os bastidores da notícia, os desafios da reportagem, agora no Profissão Repórter”[...]
Essa forte presença de Caco Barcellos no programa; na narração dos ‘offs’ de abertura e na passagem para cada bloco, garante de certa forma, que o trabalho jornalístico realizado pela equipe é de qualidade.
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Essa articulação do jornalista também aparece na abertura do programa do dia 4 de maio, que falou sobre a indústria do sexo. Incialmente, a narração em voz-off de Xxxx Xxxxxxxxx ilustrada pelas fintes da reportagem:
[...] “Sexo pela internet, ao vivo. ”[...] [...] “O conflito entre sexo e religião”
Em seguida, o jornalista aparece no vídeo e fala mais uma vez uma frase curta no boletim do programa:
Figura 46: O jornalista abre o programa no meio da feira erótica.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
“O Profissão Repórter de hoje vai contar histórias do mercado erótico do Brasil”. [...]
O que tem em comum na chamada anterior é o uso de frases curtas e impactantes. Entende-se que esse método objetiva chamar a atenção do telespectador ao tema abordado e assim despertar o seu interesse para assistir ao programa.
E para finalizar, o famoso ‘jargão’ que encerra a abertura e ao mesmo tempo causa a identificação do programa:
“Os bastidores da notícia, desafios da reportagem agora no Profissão Repórter”
Essas pequenas frases evocadas por Caco Barcellos sinalizam para um aspecto característico do programa, de mostrar tudo que acontece na busca pelas informações, de trazer para a cena televisiva os bastidores da notícia.
Desse modo, o Profissão Repórter apresenta um formato inovador na mídia, pois traz para o centro das atenções o que normalmente fica por trás das câmeras nos demais programas tele jornalísticos. Mostra como eles fazem para retratar realidades e pessoas diferentes, como produzem as reportagens e apresentam-nas de maneira autêntica e coerente, mostrando as condições e dificuldades encontradas pelos jovens repórteres.
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E por fim, a abertura do programa do dia 11 de maio que mostrou as destruições causadas pelo terremoto que atingiu o Equador. Mesmo sendo uma cobertura internacional, o programa manteve seu mesmo formato. Caco Barcellos e o repórter cinematográfico Xxxxxxx Xxxxx, amparados por uma equipe do programa, viajaram até o Equador e mostraram a destruição causada pelo terremoto, que durou apenas 42 segundos.
Figura 47: Abertura do programa direto do local do terremoto.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016
Dessa vez, inverte-se a ordem dos fatores. Com um close no relógio no alto de um prédio, com os ponteiros na hora que aconteceu o terremoto, Caco Barcellos faz a abertura do programa:
“Sete da noite relógio parado na hora exata do terremoto, 659 mortos ate o dia de hoje, mais de mil feridos, vinte e seis mil desabrigados, o
Profissão Repórter de hoje mostra uma das maiores tragédias da historia aqui do equador”.
Nessa abertura, repara-se que a passagem é mais longa e com mais informações, devido à falta de off iniciais para introduzir a abordagem. Essa estratégia do jornalista realizar sempre esse formato de abertura retrata o seu papel fundamental como mentor – articulador- no programa. Seus anos de experiências no jornalismo de televisão, cobrindo guerras e atentados atribuem-lhe a capacidade para guiar jovens repórteres diante as dificuldades encontradas pelo caminho, situação que foge de zona de conforto.
Seguindo essa análise, verifica-se mais uma vez a atuação do jornalista com sua narração em off:
[...] “A angústia dos resgates que duram horas” “ Madrugadas. Dias inteiros.
“ O pai que espera a duas semanas por uma notícia da filha”
“O nosso repórter Xxxxxxx Xxxxx mostra as técnicas dos especialistas, dentro dos escombros”
“O padre brasileiro no meio da tragédia. ” [...]
Sua voz traduz confiabilidade ao que será exibido, de modo que os telespectadores criem laços de afetividade com o programa. Para fechar essa abertura, o jornalista aparece novamente entre as ruas destruídas da cidade de Manta e fala:
[..] “Os bastidores da noticia, os desafios da reportagem agora no Profissão Repórter” [..]
Esse conjunto de dados (abertura- narração do off- passagens) remete à segunda grande estratégia desse bloco explícito a teoria do “fazer fazer” proposta por Xxxxxxx Xxxxxxxxxx (2006. p 86) . A partir dessa perspectiva, Caco parte de um pressuposto de que ele não atua só como o jornalista que mostra como se faz, que orienta os repórteres inexperientes na cobertura das pautas, como ele também vai a campo e mostra que “sabe fazer”. “Informar é possuir um saber que o outro ignora (“saber”), ter a aptidão que permite transmiti-lo a esse outro (“poder dizer”), ser legitimado nessa atividade de transmissão (“poder de dizer”).” Desta forma, o discurso informativo realizado pelo jornalista Xxxx Xxxxxxxxx, não faz referência apenas com o imaginário do ‘saber’, mas fortemente ao imaginário do ‘poder’, pela autoridade que o saber lhe confere. (XXXXXXXXXX, 2006, p. 63).
O jornalista realiza o trabalho da maneira que ele acredita que o trabalho jornalístico deve ser feito, criando-se assim, um modelo jornalístico, uma estratégia que cria uma matriz, pela notoriedade e representatividade que os anos de experiência como jornalista, lhe confere.
Xxxxxxxxxx (2006, p.144) defende ainda, que os atores sociais contribuem para o avanço da máquina social. Mas, para ter esse mérito é necessário que sejam considerados “dignos pelas mídias, de se tornarem visíveis”. Dessa forma a autor ressalta que, “as mídias constituem uma instância que detém uma parte do poder social”. Ao passo que esse posicionamento de Caco Barcellos tem uma posição central dentro do Profissão Repórter. (2006, p.63).
4.2 Bastidores da notícia: estratégias implícitas
4.2.1 Feedback: desfecho das histórias contadas
Através dessa categorização proposta, podemos refletir sobre a temporalidade que existe nas reportagens, de maneira que o repórter além de assumir a responsabilidade de contar e mostrar com veracidade os fatos abordados, dá um retorno ao público com o desfecho das histórias contadas, mesmo que tenham decorridos alguns dias ou até mesmo meses.
Denominou-se essa estratégia de feedback, dentro do que chamou-se- de estratégias implícitas, uma vez que elas não estão escancaradas como a presença de jornalista Xxxx Xxxxxxxxx, mas elas revelam os bastidores, ou seja, aquilo que está por trás de um fazer jornalístico. Trata-se do que se pode ler nas entrelinhas do texto, funcionando como uma “malha de sentidos” que releva as rotinas produtivas de uma prática profissional. Essa estratégia faz-se presente em vários momentos dos programas analisados.
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Na reportagem feita pelo repórter Xxxxxxxxx Xxxxxxxx, que acompanhou o fechamento de uma loja de roupas, na Zona leste de São Paulo, percebeu que o recurso linguístico utilizado foi um modelo de descrição de fatos aliado a testemunhabilidade dos entrevistados.
Na proposta de mostrar a realidade vivenciada por ele e os desdobramentos das histórias, o repórter volta ao local da loja um mês depois e mostra a inauguração do novo comércio. Dessa vez, as araras de roupas deram lugar às prateleiras de perfumes.
Esse modo de fazer jornalismo é uma estratégia do programa, ou seja, de não apenas contar os fatos, mas também de mostrar o que mudou na vida das pessoas envolvidas. Trata- se, portanto de conotar uma “resposta” ao que foi divulgado e/ou denunciado, sinalizando
como uma explicação ao público que assiste as matérias produzidas e deseja saber o desdobramento das histórias.
Figura 48: Um novo negócio nasce na antiga loja de roupas.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
Acima, duas situações presenciadas pelo repórter, o fechamento de uma loja de roupas e trinta dias depois, a abertura de uma loja de perfumes no mesmo local. Para contextualizar sua abordagem, o repórter faz uma passagem em frente ao estabelecimento comercial:
[..] “Por oito anos aqui funcionou uma loja de roupas, com muitas dívidas Dircel e Fátima fecharam as portas. Um mês depois do fechamento, a gente está de volta, porque hoje é um dia importante, reinauguração da loja vai funcionar aqui agora é uma perfumaria”[...]
Através desse boletim em frente à loja, o repórter relembra o telespectador sobre o início da reportagem que mostrou os últimos dias de venda de uma loja de roupas, que devido à crise econômica, não conseguiu manter suas postas abertas. Dessa forma, percebesse que é uma narrativa apresentada com início, meio e fim.
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Essa estratégia também está presente na reportagem da Usiminas em Cubatão.
Figura 49: Funcionário de Usiminas com licença remunerada aguarda em casa, para voltar a trabalhar.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
No início de sua matéria, o repórter conversou com Xxxxx Xxxxxx, funcionário da siderúrgica em um ponto de ônibus, que demonstrou sua angústia antes de embarcar no transporte coletivo, que levava todos os dias, centenas de trabalhadores até a Usiminas. Três semanas depois, o repórter volta à baixada santista e encontra Xxxxx Xxxxxx em casa numa tarde de quarta-feira, porque estava de licença remunerada da indústria:
“A empresa está passando esse momento difícil, a gente sabe disso então gente está aguardando aqui na residência eu não sei o dia de amanhã”.
Essa estratégia de testemunhabilidade é percebida no modelo de fazer falar os entrevistados da reportagem. Essa operação discursiva significa dizer que não basta apenas contar o que aconteceu, tem que relatar como o processo se desenvolveu e como acabou.
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Nesse mesmo formato, a repórter Xxxxxxx Xxxxxx volta à casa da babá desempregada, Xxxxx Xxxxxxxxx, que encontrou na agência de empregos um mês antes. A família estava vivendo do seguro desemprego do marido e dos “bicos” que ele faz no bairro.
Figura 50: A repórter mostra a situação da desempregada, que, há cinco meses procura por emprego.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
Desempregada há cinco meses, Xxxx fez cursos de baby sister para aperfeiçoar suas habilidades e ter mais chances de conquistar uma vaga de emprego. Esperançosa, mostra os certificados dos cursos que fez pensando em num futuro melhor para seus filhos.
Esse feedback que o programa oferece ao público causa efeito de realidade ao telespectador que assiste aos episódios e que fica sabendo do rumo que as histórias contadas tomaram, do início ao fim, o que, normalmente nos programas diários não acontece. Eles levantam as situações e deixam-nas acontecer. Isso é diferente do formato do Profissão repórter, que volta para ver e mostrar o que mudou.
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No programa do dia 4 de maio, que retratou a indústria erótica do país, é possível identificar essa estratégia quando Xxxx visita as obras da maior feira erótica da América Latina, acompanha os últimos ajustes da equipe responsável pela organização do evento e mostra as dificuldades de acomodar uma limusine dentro dos estandes da feira, uma das quarentas atrações da feira, os testes feitos no elevador panorâmico e de isolamento acústico, em uma sala de sexo tântrico.
Quase um mês após essa vistoria feita pelo jornalista Xxxx, a repórter Xxxxxxxx Xxxxxxxx volta até o local da feira no intuito de mostrar o resultado do que foi apurado por Caco no inicio da reportagem. Curiosa para ver os ajustes, a repórter pergunta ao empresário:
“Então você apresentou um pouquinho do espaço para o Caco, como é que está hoje aqui? ”
Figura 51: Caco Barcellos a repórter mostram com detalhes a organização e inauguração da maior feira Erótica da América Latina.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
Nota-se que a repórter começa relembrando a presença do jornalista na feira, o que aponta para uma perspectiva de mostrar melhorias, ajustes, mostrar que os problemas encontrados por Xxxx foram solucionados.
A sala de sexo tântrico era o local mais procurado pelas pessoas. Durante as seções, casais independentes da opção sexual ou idade, praticavam exercícios de relaxamento, com trocas de olhares, toques e massagens exóticas na intenção de despertar o prazer sexual. Ao ver a sala, ela questiona:
[... ] quando o Xxxx visitou o evento ele viu que vocês estavam muito preocupados com o isolamento acústico da sala para não vasar os sons, como é que isso ficou resolvido, deu certo no fim?
Mais uma vez, a repórter fala o nome do Caco Barcellos reforçando a ideia de que ela estava lá para conferir os resultados apresentados pelo jornalista quase trinta diante antes. Em outro momento, a repórter lembra-se do caso da limusine também mostrada por Xxxx e fala:
“estou vendo ali a limusine, essa limusine deu um pouco de trabalho para entrar aqui não deu não?”
A partir dessa inserção sobre a limusine, a repórter demonstra ter conhecimento sobre as dificuldades que os organizadores do evento estavam encontrando para posicionar a atração na feira.
Essa estratégia utilizada pelos repórteres de mostrar em dois momentos alguns assuntos abordados sinaliza além de mostrar os dois lados da história, uma resposta ao público com o resultado do que foi levantado nas reportagens. Com um início, meio e um fim, as reportagens apresentadas não têm a pretensão de justificar prováveis julgamentos de quem assiste, mas apontam para o objetivo de realizar um trabalho completo.
Essa completude das reportagens é uma estratégia, que sinaliza para o estabelecimento de um contrato de leitura com intuito de construir uma percepção de credibilidade do telespectador.
4.2.2. Diferentes angulações com diferentes repórteres: equipe é outra estratégia
Nas entrelinhas do programa Profissão Repórter, identificou-se outra estratégia discursiva que sinaliza a identidade do programa: a presença das equipes de repórteres entrevistando e abordando com diferentes enfoques e ao mesmo tempo, um mesmo assunto. Trata-se de uma estratégia de construir uma diversidade de ideias conotando uma imparcialidade jornalística.
Diferente dos telejornais convencionais em que um repórter e um cinegrafista fazem a cobertura dos fatos, o formato do Profissão Repórter possibilita que o repórter seja ao mesmo tempo o cinegrafista e mostre seu olhar sobre a reportagem através do uso de uma pequena câmera GoPro atrelada à lateral ou na parte superior da câmera manuseada pelo repórter. Isso permite o registro desde a escolha das fontes, a maneira como se dirigir até elas, as perguntas que vai fazer, assim como mostrar a reação das pessoas entrevistadas e a do repórter em ação simultaneamente.
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Na figura abaixo, o repórter cinematográfico Xxxx Xxx Xxxxx entrevista pessoas que estão no final de uma fila quilométrica de emprego.
Figura 52: Os dois ângulos de um repórter cinegrafista.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
Como precaução e garantia de que o programa terá imagens de qualidade, mesmo que o repórter seja cinematográfico, ou seja, que faça os dois papéis na reportagem, de entrevistar e gravar ao mesmo tempo, existe outro cinegrafista que acompanha os jovens na cobertura das matérias. Esse outro profissional na equipe também é responsável por mostrar os bastidores das reportagens e a atuação dos repórteres diante de diferentes situações, como é possível observar na figura abaixo, que mostra o trabalho do repórter Xxxxxx Xxxxxxxx entrevistando analista de recursos humanos, Xxxxxx Xxxxxxx Xxxxx, responsável por fazer as homologações dos demitidos pela Usiminas.
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Figura 53: Funcionário da Usiminas faz plantão no Sindicato, para resolver as homologações.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
Nota-se que nessa cena do repórter com a câmera na mão conversando com o funcionário no Sindicato dos Metalúrgicos, existe uma segunda câmera filmando esse registro. É comum que as reportagens tradicionais na televisão exibam apenas o ponto de vista do cinegrafista, ou seja, um único olhar. Essa estratégia de equipe de contar com o suporte de um segundo cinegrafista possibilita o revelar tudo que acontece por trás da lente da câmera do repórter na mesma cena. Sendo assim, esse método permite mostrar forma de construir as noticias.
Essa estratégia de equipe aponta para uma estratégia de multiplicidade de ideias e diferentes versões e construções da realidade. Sendo esse um dos conceitos mais caros para o
jornalismo, por isso que o contrato de leitura do programa pode ser de veracidade de credibilidade. O fato do mesmo assunto ser abordado por diferentes repórteres, cada um dando o seu olhar para o tema com diferentes angulações, mas sem perder o propósito que o programa se propõe em passar; uma informação clara, sem cortes e o mais próximo da realidade presenciada, vinculada a essa estratégia de equipe, em que é possível observar a atuação, direta ou indiretamente, de todos da equipe aponta pra um contrato de credibilidade do programa.
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Ainda dentro dessa estratégia, também é possível identificar o uso de um recurso já citado anteriormente durante uma reportagem realizada pelo jornalista Xxxx Xxxxxxxxx. O método é semelhante ao ‘plano-sequência’, um recurso que proporciona mais realismo ao que está sendo mostrado. Através desse formato inovador e diferente dos veículos tradicionais, o Profissão Repórter mostra os bastidores na apuração das notícias, por meio de gravações continuas e com longo período de duração, de modo que o repórter cinematográfico ou o cinegrafista responsável pela pauta realize um movimento sequencial sem ocorrência de cortes e registrando tudo que presencia.
Essa estratégia é visível na sequência abaixo durante a reportagem da repórter cinematográfica Xxxxxx Xxxxxxxx, que registra seus passos desde sua passagem pela rua, entrada no elevador da empresa e sua conversa com o responsável pelo site pornográfico, que monitora o trabalho das stripper pela internet.
Figura 54: Plano contínuo de imagens, do ponto de vista da repórter.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
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Esse recurso também é observado durante a reportagem de Xxxx Xxx, o que diferencia da matéria anterior, é que dessa vez a responsabilidade de registrar todos os passos do repórter e a reação das pessoas é do cinegrafista, que aparece em pequenos momentos realizando seu trabalho. Na edição da reportagem, as imagens feitas pelo cinegrafista sentado no banco de
trás do carro, foram intercaladas com as captadas pelo micro câmera fixadas no vidro do carro.
Figura 55: Plano contínuo de imagens do ponto de vista do cinegrafista.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
A partir dessa perspectiva, nota-se a transfiguração da ação das pessoas diante das câmeras, conotando um sentido de realidade em consonância com as tecnologias utilizadas, sugerindo assim, a identificação absoluta entre dizer e crer. Desse modo, a informação que o programa reproduz é vista como verossímil, ou seja, diante de tantos lados explorados nas reportagens fica difícil não ganhar a credibilidade do público receptor.
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No programa do dia 11 de maio, a equipe do Profissão Repórter viajou para o Equador para mostrar as destruições causadas pelo terremoto que durou apenas 42 segundos e que causou destruição total no país.
Para a realização dessa cobertura internacional, o jornalista Xxxx Xxxxxxxxx na companhia de um cinegrafista e o repórter cinematográfico Xxxxxxx Xxxxx, permaneceram durante dezoito dias no país, para mostrar a situação das pessoas que perderam suas casas, parentes e que estavam juntando forças para recomeçar do zero. Nota-se que os dois repórteres responsáveis pela cobertura da tragédia contaram com o apoio de cinegrafistas profissionais, para garantir a qualidade no registro das imagens.
Caco, seguido por um cinegrafista percorre as ruas, mostrando os prédios tombados, as lojas destruídas e a situação dos moradores das cidades atingidas pelo terremoto. Já o repórter Xxxxxxx Xxxxx, com sua câmera no ombro, acompanhou o trabalho das autoridades locais, dos bombeiros na procura por desaparecidos nos escombros e mostrou a triste história de um pai que aguardava esperançoso pelo resgate da filha desaparecida.
Durante as duas reportagens, são observadas alguns aspectos característicos do programa, como a utilização constante de um “plano contínuo de imagens” para o registro das imagens. O uso desse recurso possibilita aos repórteres abordarem as fontes já com a câmera ligada registrando a reação dos entrevistados seja ela qual for. Esse método também
possibilita captar de vários ângulos o que acontece durante a execução da pauta, além de mostrar os bastidores por trás da câmera do repórter.
No caso da entrevista com o prefeito de Manta, Xxxxx Xxxxxxxx, o repórter registra seus passos até o momento de falar com o prefeito. Além disso, durante a entrevista, pode-se observar que eles utilizam duas câmeras para registrar a conversa. Uma manuseada pelo repórter ‘frente a frente’ com o entrevistado e outra por um cinegrafista profissional que filma toda a ação de longe e sem ser identificado. Esse jeito de fazer jornalismo adotado pelo Profissão Repórter procura passar a informação de maneira mais real possível, uma forma de ganhar a confiança do telespectador, e assim, manter a audiência do programa.
Um fato que comprova essa estratégia é o registro da atitude grosseira do prefeito com o repórter após ser questionado sobre a falta de notícias do poder público e do Corpo de Bombeiros às famílias que esperavam por notícias de parentes desaparecidos nos escombros causados pelo terremoto. Essa reação é registrada tanto pelo repórter, que tem que baixar sua câmera diante do prefeito que coloca a mão na frente da lente e pede para ele parar de filmar, quanto pelo cinegrafista que registra de longe toda a ação.
Figura 56: Plano contínuo de imagens, ponto de vista do cinegrafista e do repórter.
Fonte: Profissão Repórter/ Rede Globo. 2016.
Visivelmente ofendido com o questionamento, o prefeito demonstra uma reação inesperada pelo repórter e fala:
“Seria muito duro pensar que todos nos somos insensíveis e que não demos respostas..Você está levando a entrevista para o
lado errado. Por favor, pare de gravar”
Essa estratégia de equipe, que permite o programa mostrar o ato de filmar, mostrar como funciona os ‘bastidores da notícia’, reafirma a credibilidade do Profissão Repórter, ao falar de si mesmo, mostrando seus modos de fazer jornalismo, a intervenção e a presença da equipe. “O efeito de verossimilhança surge desse encontro entre a reportagem, o repórter e o púbico, numa espécie de narrativa ampliada que conecta essas três posições modificando as
formas narrativas dos programas jornalísticos” (XXXXXXXXX; XXXXXX) apud in
(BARCELLOS 2016, p.371).
Dessa forma, este posicionamento do programa viabiliza um arranjo consistente e flexível do fazer jornalístico, intercalando o imaginário do público através as narrativas apresentadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desse trabalho foi compreender o contrato de leitura do programa Profissão Repórter através do estudo dos modos de endereçamento das reportagens apresentadas. Diante do resultado desta pesquisa, podemos concluir que os objetivos pretendidos foram alcançados. Visto isso, partimos para o desmonte de oito programas exibidos pelo Profissão Repórter nessa temporada de 2016.
Organizamos a pesquisa em dois eixos. Em um eixo, identificamos como uma ‘estratégia explícita’, em que a figura do jornalista Xxxx Xxxxxxxxx aparece com efeitos de verdade, como um modelo jornalístico, que busca roteirizar as situações e que se apresenta como elemento central no programa. Em outras palavras, entre as estratégias discursivas identificadas no programa profissão Repórter, a que mais chama atenção, explicitamente, é essa, o papel do jornalista Xxxx Xxxxxxxx como o “articulador” do programa, questionando com autoridade de quem sabe o que faz. Seus anos de experiência como repórter dão-lhe credibilidade para essa atuação.
Para legitimar essa nossa visão, descrevemos e mostramos como o jornalista responsável, pelo comando do Profissão Xxxxxxxx aparece nos programas. Não só seu relacionamento com os repórteres, mas também, sua atuação como jornalista. Desse modo, entendemos a luz de Xxxxxxxxxx (2007), que ele não só faz “fazer fazer”, como ele também faz “fazer saber. Esta é uma estratégia muito explícita nos programas estudados.
Mas, no decorrer das análises, percebemos outro eixo, “outra estratégia”, que está na desconstrução dos programas, ‘implícita’ nas entrelinhas, e que reforçam o fazer jornalístico, os modos operantes do jornalista, bem como, da construção das matérias seguindo o padrão de qualidade Caco Barcellos. Desta forma, passamos a observar melhor o grupo de jovens repórteres, a equipe (cinegrafistas profissionais - Caco Barcellos) que trabalham em conjunto, para a realização das reportagens.
Nessa estratégia implícita, identificamos uma polifonia de vozes, de diferentes repórteres perguntando e pesquisando sobre um mesmo assunto. “Mostrando os diferentes lados de um mesmo tema abordado”. Nesse sentido, observamos também o trabalho em conjunto, da equipe de cinegrafistas profissionais, que dão suporte aos repórteres, com pouca experiência no manuseio dos equipamentos de filmagem, durante a produção das reportagens.
Em vista disso, percebemos que o programa preocupa-se com a captação das imagens e prima pela qualidade do material produzido.
Ainda dentro desta estratégia implícita, constatamos nas reportagens apresentadas, o retorno em algumas abordagens. Entendemos esse feedback, por dois viés: Como uma resposta ao público sobre os desfechos que as histórias contadas tiveram, e que, ao dar esse retorno, eles conseguem fazer um entendimento dessa verdade. Esse retorno faz o telespectador crer que tudo o que foi mostrado nas reportagens, teve inicio, meio e fim.
Nessa estratégia, percebemos que o ato de mostrar como se faz, fideliza os vínculos de verdade, credibilidade o vínculo da autenticidade, do que eles estão dizendo é real. Fato esse, que diferencia o Profissão Repórter da maioria dos programas de telejornais, ao passo que, eles não têm um formato que permita essa abordagem mais profunda dos fatos.
A partir desse cenário, concluímos que a estratégia de equipe conota uma credibilidade, veracidade, um conceito que é caro para o jornalismo e que é o único, que dá sustentabilidade e durabilidade para um produto jornalístico.
Essa pesquisa também nos possibilitou entender, que a exposição midiática do jornalista Xxxx Xxxxxxxxx, permite a ele uma associação metaforicamente, a um olimpiano, ou seja, uma figura emblemática que inspira a vida de muitos aspirantes a repórteres e de telespectadores assíduos do programa, que associam essas personalidades que são conhecidas e admiradas aos ‘semideuses’ da mitologia grega, como exemplos a serem seguidos. Nesse contexto Morin (2005) ressalta que os atores sociais são considerados humanos humanizados conectados ao universo da fama seja por status social ou por consequência de seu trabalho, de modo que essas pessoas chegam a essa patamar da fama sendo amadas ou odiadas.
Xxxx Xxxxxxxxx tem seu trabalho reconhecido pela sociedade como um profissional da televisão brasileira, conseguiu mais visibilidade para seu trabalho e conquistou a credibilidade de seu público, por meio de um trabalho bem feito que prima pela veracidade dos fatos e por mostrar o que nenhum outro programa de teve se propõe em fazer. O registro dos bastidores na apuração das pautas, dos imprevistos e reações inesperadas das fontes. Esse método utilizado pelo jornalista garante há dez anos a permanência do Profissão Repórter na grade de programação da emissora, bem como e a audiência do programa.
Observamos também que a tradicional abertura se repete no mesmo formato (voz off- boletim- voz off- jargão), em todos os programas analisados. Dessa maneira, compreendemos que, como formato padrão de identificação do Profissão Repórter, Xxxx Xxxxxxxxx faz as honras da casa, atuando com um mestre de cerimônias do programa, adiantando os principais momentos de cada reportagem que será abordada no decorrer do programa. O famoso ‘jargão’ presente em todos finais de aberturas dos programas: “Os bastidores da notícia.. Os desafios da reportagem. Agora no Profissão Repórter”.
Compreendemos a partir desse cenário pesquisado, que os ‘bastidores da notícia’ que Caco Barcellos refere-se na frase, diz respeito, ao fato dele ter que lidar com diferentes enfoques, com diferentes multiplicidades de um mesmo fato. Já os ‘desafios da reportagem’ remetem ao fato dele ter que dar conta das duas grandes estratégias encontradas no programa.
Concluímos então que, a estratégia explícita demonstra todo poder de articulação do mestre de cerimônia, Xxxx Xxxxxxxxx e as estratégias implícitas presentes nas entrelinhas do programa abrangem os bastidores da notícia.
Portanto, a partir desse cenário elaborado, entendemos que esse conjunto formado pela a equipe, os repórteres, pelo jornalista Xxxx Xxxxxxxxx, por todos “os seus fazeres”, e mais esse conjunto de estratégias, explícita e implícitas, resulta numa grande proposta, de não apenas apresentar os acontecimentos dos fatos, mas também mostrar como eles podem ser tratados e abordados. As diferentes angulações que devem ser feitas, como que os assuntos das reportagens podem ser melhor entendidos. E é esse ‘bastidor da notícia’ apresentado, que faz os vínculos e o contrato de leitura do programa Profissão Repórter.
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