Resumo
Relevância das Diferenças entre Contratos Futuros e a Termo: O Caso do Trio
Xxxxxx xx Xxxxx Xxxxxxxx Xxxxxxx (EESP/FGV) Xxxxxx xx Xxxxxx Xxxxx (EESP/FGV)
Resumo
Visando estudar as diferenças entre contratos futuros e contratos a termo no mercado cambial brasileiro, este trabalho foca no contrato de Dólar Futuro negociado na BM&FBOVESPA que, para vencimentos sem liquidez, é marcado a mercado pelo preço teórico dos contratos a termo. Simulações de Monte Carlo de uma carteira protegida contendo contratos de Dólar Futuro, DI Futuro e DDI Futuro mostram claramente que essa metodologia de marcação a mercado deveria, ao menos, ser revista.
Palavras-chave: Contratos futuros, Contratos a termo, Monte Carlo, hedging.
Classificação JEL: C02, C63
INTRODUÇÃO
As diferenças entre contratos futuros e contratos a termo são ao menos citadas pela grande maioria de trabalhos que tratam sobre derivativos (e.g. Xxxx (2009), Wilmott (2007) e Pina (2009)). Alguns simplesmente consideram os dois instrumentos como iguais, afirmando que a única diferença está no fato de contratos futuros terem ajustes diários, enquanto nos contratos a termo a movimentação financeira ocorre apenas no vencimento. Outros autores alertam que as diferenças não param nos ajustes diários, mas normalmente não entram em muitos detalhes sobre as relações envolvidas, afirmando que na prática os dois podem ser considerados como iguais. Xxxx (2009) trata brevemente a questão levantando o ponto que, em um mundo com taxas de juros constantes, ou pelo menos determinísticas, futuros e termos têm preços teóricos iguais. Todavia, quando consideramos taxas de juros estocásticas, como é o caso no mundo real, os dois preços podem divergir. O autor chega a apontar que a relação depende da correlação do preço do ativo considerado com a taxa de juros, mas não explora o tema em mais detalhes. Alguns artigos como Xxx, Xxxxxxxxx e Xxxx (1981) já trataram do assunto com profundidade, porém grande parte dos autores não entra muito no detalhe a respeito da diferença entre futuros e termos.
A razão pela qual a maioria dos autores internacionais não se preocupa muito com essa diferença é que, na prática ela é irrelevante para os mercados que esses autores observam. Primeiramente, já são raros os mercados em que são negociados tanto futuros quanto termos. Depois, quando isso ocorre, normalmente o prazo é curto e as taxas de juros são baixas, o que, como será mostrado, torna a diferença insignificante. No Brasil, a liquidez para os derivativos de dólar contra real se encontra primordialmente no primeiro futuro (vencimento no primeiro dia útil do mês seguinte ) da BM&FBOVESPA, embora existam contratos futuros abertos para prazos mais longos. Os Termos não são negociados diretamente na BM&FBOVESPA. Entretanto, será mostrado que, utilizando dois contratos futuros de juros negociados na bolsa, o DI Futuro e o DDI Futuro, ambos com mais contratos em aberto que o Dólar Futuro nos prazos mais longos, é possível replicar um contrato a termo de prazo similar. Como o mercado cambial brasileiro possui características únicas que podem tornar a diferença de preço entre futuros e termos extremamente relevante, esse tema torna-se ainda mais interessante quando se leva em consideração que a BM&FBOVESPA
atualmente não considera qualquer possível diferença, e marca a mercado os contratos de Dólar Futuro mais longos pelo preço teórico do termo, obtido através dos preços de ajuste do DI Futuro e DDI Futuro. Mostrar que essa premissa da BM&FBOVESPA apresenta problemas significa indicar que todos os agentes de mercado que possuem posições em contratos de Dólar Futuro longos estão com suas posições marcadas de maneira no mínimo não adequada, o que possivelmente poderia comprometer as decisões tomadas por estes agentes. Além disso, existe um risco não desprezível para a própria bolsa, pois, caso um desses agentes se torne inadimplente, a BM&FBOVESPA não conseguirá desfazer a posição com o resultado esperado, o que levaria a prejuízos para a própria bolsa.
Os principais objetivos deste trabalho são: (i) mostrar que essa questão de fato existe, e (ii) tentar estimar a diferença de preço entre o futuro e o termo. Para isso, será montada uma carteira teórica, balanceada diariamente, comumente conhecida no mercado como Trio, que é composta por contratos de Dólar Futuro, DI Futuro e DDI Futuro, onde o DDI e o DI representam um termo vendido que tenta zerar os riscos gerados pelo Dólar Futuro comprado. Então, por meio de uma Simulação de Monte Carlo, estima-se o valor esperado desta carteira; se a marcação atualmente feita pela BM&FBOVESPA estivesse perfeitamente adequada, o resultado esperado desta carteira seria zero. Além disso, o trabalho também se propõe a analisar o efeito que mudanças nos parâmetros mais relevantes ao modelo têm sobre a diferença entre o preço teórico do Dólar Futuro e do termo (este último usado para marcar a mercado o Dólar Futuro).
Xxxxx (1976) apresenta a discussão sobre a relação entre futuros e termos chegando à conclusão de que são essencialmente equivalentes e, por isso, teriam preços teóricos iguais. A conclusão de Black, apesar de correta, foi encontrada sob a hipótese de que as taxas de juros são constantes, o que retira do contexto a diferença fundamental entre futuros e termos. Margrabe (1976) é um dos primeiros a destacar a importância das taxas de juros estocásticas na diferença entre futuros e termos. Seu trabalho encontra quais são as condições necessárias para que futuros e termos tenham preços iguais. Taxas de juros constantes são apontadas como condição suficiente, porém não necessária para que os preços coincidam. Xxxxxx (1979) busca determinar qual é o sinal da diferença entre futuros e termos. Para isso, utiliza-se de um argumento de arbitragem em tempo discreto para o mercado de letras do Tesouro americano. Apesar de trabalhar apenas com o mercado de títulos americanos, os resultados obtidos no trabalho não apresentam perda de generalidade. Xxx, Xxxxxxxxx e Xxxx (1981) utilizam títulos que replicam perfeitamente os payoffs para futuros e termos, a fim de usar todo o instrumental disponível em finanças para a precificação de títulos, e relacionar preços de futuros e termos. Apesar de serem derivadas várias relações importantes entre os preços de futuros e termos, não foi encontrada uma forma geral de relacionar tais preços. Os autores também comentam sobre um possível contrato que teria ajustes periódicos como o futuro, mas estes ajustes seriam no valor a mercado de um termo; este contrato, apesar de ser chamado diferentemente no texto, corresponde ao NDF com reset que tem um importante papel neste estudo. Xxxxxx e Xxxxxxxx (1981), apesar de utilizarem uma abordagem um pouco diferente, chegam basicamente às mesmas conclusões de Xxx, Xxxxxxxxx e Xxxx (1981), focando na demonstração de que um futuro não é apenas um termo reescrito diariamente, como muitos artigos até hoje consideram. Na terminologia utilizada no trabalho, eles mostram que o Dólar Futuro não é equivalente ao NDF com reset. French (1983) usa as proposições de alguns artigos, em especial o de Cox, Ingersoll e Ross (1981), sobre a diferença entre futuros e termos, e as compara com os preços de fato negociados nos mercados de cobre e prata. Enquanto as diferenças médias podem ser explicadas pelos modelos, o mesmo não ocorreu para diferenças dentro da amostra. Segundo os autores, isso se deve à dificuldade de obter dados precisos devido à baixa liquidez observada nestes mercados. Xxxxxx e Xxxxxxx (1992) derivam preços para derivativos continuamente reescritos utilizando difusão de Markov. O estudo complementa o trabalho de Xxx, Xxxxxxxxx e Xxxx (1981), uma vez que o contrato futuro é um caso especial dos derivativos estudados por Xxxxxx e Xxxxxxx. No decorrer da pesquisa não foram encontrados trabalhos acadêmicos sobre a relação entre futuros e termos no mercado brasileiro. O que torna este fato mais curioso é o fato de que o mercado cambial brasileiro tem inúmeras características que tornam essa diferença ainda mais acentuada que em outros mercados. O Brasil tem uma das maiores taxas de juros do mundo e aqui será mostrado que quanto maior a taxa de juros,
maior tenderá a ser a diferença entre futuros e termos. A BM&FBOVESPA possui contratos de Dólar Futuro de longo prazo abertos. Haja vista que, por exemplo, em fevereiro de 2011 já havia contratos de Dólar Futuro com vencimento em janeiro 2021 abertos, o que é raramente encontrado em outros mercados. Além disso, na BM&FBOVESPA são negociados contratos de DDI Futuro e DI Futuro que, como será mostrado, podem ser usados para replicar um termo reescrito diariamente. Portanto, apenas usando contratos negociados na BM&FBOVESPA, é possível montar uma carteira que equivale a uma posição comprada em um futuro e vendida em um termo para um determinado vencimento, o que possibilita inúmeras simulações e análises.
Este trabalho busca mostrar que futuros deveriam ser negociados a preços acima dos termos no mercado cambial brasileiro, além de apontar discrepâncias, tanto na marcação a mercado como na chamada de margem pela BM&FBOVESPA para os contratos de dólar futuro de longo prazo. O trabalho também estima a diferença entre futuros e termos neste mercado, e ainda busca indicar o quão sensível é esta diferença aos parâmetros relevantes no modelo utilizando simulações de Monte Carlo. O artigo está dividido em seis seções. Além dessa introdução, a seção dois apresenta as premissas e a notação adotadas no trabalho, os contratos derivativos utilizados no modelo, explica como é calculada e rebalanceada a carteira do Trio, e apresenta análises qualitativas visando esclarecer a razão da diferença entre os preços teóricos do futuro e do termo. A seção três apresenta a metodologia para a implementação do modelo, na qual são detalhadas as técnicas para a construção dos processos estocásticos e para o tratamento numérico por Monte Carlo. Na seção quatro são apresentados os resultados da aplicação do modelo, e a seção cinco encerra com as conclusões do trabalho, sugestões de soluções para os problemas apontados e possíveis extensões.
2. PREMISSAS E NOTAÇÃO
O modelo aqui descrito assume as seguintes hipóteses/simplificações: (i) não existem custos de transação; (ii) é possível comprar ou vender contratos de DI Futuro e DDI1 Futuro nos preços de ajuste de cada dia afim de rebalancear a carteira; (iii) os participantes do mercado conseguem tomar dinheiro emprestado na mesma taxa de juros livre de risco que conseguem aplicar dinheiro, e essa taxa de juros coincide com a obtida a partir da curva de juros em reais observada no mercado no momento da aplicação ou empréstimo. Com intuito de facilitar tanto a fluidez do texto como seu entendimento, será definida nessa seção a notação utilizada e os respectivos significados de cada variável e parâmetro:
T : a data de vencimento do contrato em questão;
t : uma data útil qualquer, t < T; t + n: data t mais n dias úteis;
N : Nocional2 ou volume do contrato em questão. Quando se estiver tratando de um contrato futuro, N será o número de contratos vezes o valor do contrato unitário;
P : Preço que foi fechado no contrato em questão;
1 No caso do DDI o que se executa de fato é um FRA de cupom cambial, um dólar futuro curto (1º dia útil do mês seguinte) e um DI curto para sobrar apenas com o DDI de mesmo vencimento que o FRA. Isso é feito porque o DDI não possui liquidez, mas o FRA, o dólar futuro curto e o DI curto sim. Por isso podemos supor que é possível rebalancear a carteira por meio de um DDI.
2 Jargão comumente utilizado no mercado, derivado do inglês Notional.
Rc(t, T): taxa de juros ao ano em reais pré-fixada continuamente capitalizada (dias úteis sobre 252) entre t e T, calculada com a curva de fechamento de v. Quando omitidos os parênteses, leia-se ( t, T);
rt: taxa de juros ao ano em reais de um dia (ou CDI) negociado em t,ou seja, rt = Rt( t, t + 1);
Cc( t, T): cupom cambial limpo ao ano continuamente capitalizado (dias úteis sobre 252) entre t e T, calculado com a curva de fechamento de v. Quando omitidos os parênteses leia- se, ( t, T);
ct: cupom cambial ao ano de um dia (ou Linha) negociado em t, ou seja,ct = Cc( t, t + 1);
c
CS( t, T) : cupom cambial sujo ao ano continuamente capitalizado (dias úteis sobre 252) entre t e T, calculado com a curva de fechamento de v. Quando omitidos os parênteses leia- se (t, T);
Sc( t): Câmbio pronto de ajuste em v carregado pelo número de CDIs e descontado pelo número de Linhas entre t e v. Quando omitidos os parênteses leia-se ( t);
T − t: número dias úteis entre T e t;
Ptaxt: Ptax venda formada em t, ou seja, é a taxa de câmbio utilizada para liquidação de contratos que vencem em t + 1;
V( t, X): Marcação a mercado em t do contrato X; A( t, X): Ajuste em t do contrato X;
FS( t; T): Preço de ajuste em t do Dólar Futuro que vence em T. Quando omitido o segundo argumento, leia-se T, i.e., FS(t) equivale a FS( t; T);
FR(t; T) : Preço de ajuste (expresso em taxa) em t do DI Futuro que vence em T .Por definição coincide com Rt( t, T). Quando omitido o segundo argumento, leia-se T;
FC (t; T): Preço de ajuste (expresso em taxa) em t do DDI Futuro que vence em T. Quando omitido o segundo argumento, leia-se T;
F˜S ( t; T) : Preço de ajuste em t do NDF que vence em T . Quando omitido o segundo argumento, leia-se T;
S
F˜∗(t; T): Preço de ajuste em t do NDF com reset diário que vence em T. . Quando omitido o segundo argumento, leia-se T.
Nas próximas seções são descritos com detalhes os instrumentos financeiros utilizados no trabalho.
2.1 NDF
O Termo de Moeda, Forward ou NDF3 é o derivativo de câmbio mais simples que existe. Duas contrapartes, A e B, acordam uma taxa de câmbio P para A comprar de B uma quantidade N de dólares em uma data T, ambas predeterminadas. Nada acontece até a data T quando o resultado de A é obtido por meio da seguinte fórmula:
V(T, F˜S) = N(PtaxT−1 − P), (1)
em que a PtaxT–1 é o preço do câmbio usado para liquidação dos derivativos com vencimento em T e P é o preço acordado no momento em que a operação foi realizada, analogamente o resultado de B é o oposto do obtido por A. Devido a uma condição de não arbitragem o preço do termo de moedas com vencimento em T pode ser dado por:
F˜S( t; T) = Ste( Rt–Ct)( T–t)⁄252 . (2)
Essa equação é dita uma condição de não arbitragem, pois caso o preço do NDF F˜S ( t; T) fosse diferente do estabelecido em (2) e as premissas anteriormente citadas fossem válidas seria possível realizar uma arbitragem4 negociando o Spot e o NDF em pontas
contrarias além de tomar um empréstimo em uma moeda e fazer uma aplicação na outra5. Assim o valor a mercado de um NDF na data t, V(t, F˜S), é dado por:
V(t, F˜
) = N( F˜S (t; T) − P). (3)
S eRt(T−t)⁄252
O numerador é a esperança em uma medida neutra ao risco do resultado que será obtido em T, e o denominador está trazendo este resultado a valor presente em t.
2.3 NDF com reset diário
S
O NDF com reset diário, ou F˜∗, não é um derivativo muito conhecido. Entretanto, neste estudo, ele tem uma função didática muito importante, pois tem o mesmo preço do NDF, com o benefício de ser ainda mais semelhante ao Dólar Futuro na medida em que também
S
tem ajustes diários. O reset diário significa que todo dia útil o F˜∗ é recomprado pelo preço
de fechamento do NDF que vence no mesmo dia, sendo pago às partes o valor a mercado de
suas posições, e reaberto o mesmo contrato, também pelo preço de fechamento do NDF. Portanto, no primeiro dia ( tO) o ajuste seria:
A(t , F˜∗) = N(F˜S(t0) − P). (4)
0 S eRt0 ( T–t0)⁄252
3 Non Deliverable Forward.
4 Ganho sem risco.
5 Para uma explicação mais detalhada da operação de arbitragem ver, por exemplo, Hull(2009).
Para o último dia (dia que fixa a PtaxT–1) o ajuste será:
A(T − 1, F˜∗) = N[PtaxT–1 − F˜S ( T − 2)]. (5)
S e[ RT—1( T–1,T)] 1⁄252
Para os dias intermediários, tO < t < T , o ajuste será:
S
A(t, F˜∗) =
N (F˜S( t) − F˜S( t − 1))
e( Rt)( T–t)⁄252
eara todo t ∈ ]tO, T − 1[.
(6)
S
Proposição 2.1: Dada a premissa de que é possível tomar e dar dinheiro em reais nas taxas de juros de mercado, o preço do NDF com reset diário coincide com o do NDF, ou seja, F˜∗(t; T) = F˜S ( t; T), para todo t < T.
Demonstração:
S
S
S
Para mostrar que F˜∗( t; T) = F˜S ( t; T) para todo t < T, basta demonstrar que se o detentor de um F˜∗ aplicar todos os ajustes positivos até T e tomar empréstimos com vencimento também em T, para cobrir todos os ajustes negativos ele terá exatamente o mesmo resultado do detentor de um F˜S em T. Para tanto, temos que o valor total liquido em T, L( T), obtido pelo detentor de F˜∗, após todas as aplicações e empréstimos serem liquidados, é dado por:
T–2
L(T) = N [PtaxT–1 − F˜S(T − 2) + F˜S (tO) − P + Σ (F˜S (i) − F˜S (i − 1))]. (7)
i=t0+1
L(T) nada mais é que a soma dos numeradores das expressões (4), (5) e (6), uma vez que os denominadores somem quando é considerado o empréstimos/aplicação para levar a valores em T. Simplificando a expressão (7) acima obtemos:
L(T) = N(PtaxT−1 − P), (8)
que é a mesma expressão do resultado do NDF em T. Portanto é possível reproduzir o resultado do NDF por meio de um NDF com reset diário com o mesmo N. Isso mostra que o preço dos dois instrumentos deve ser igual para que não haja possibilidade de arbitragem,
Ou seja:
S
F˜∗( t; T) = F˜S( t; T) para todo t < T. (9)
□
2.4 Dólar Futuro
O contrato de Dólar Futuro de delivery price FS, é semelhante ao NDF, e mais semelhante ainda ao NDF com reset diário. Como citado anteriormente, a literature sobre apenas cita as
principais diferenças entre os dois e depois os trata como intercambiáveis. Entretanto, esse estudo visa explorar exatamente as diferenças entre eles, no caso específico do mercado cambial brasileiro. Uma diferença óbvia é o fato do Dólar Futuro, por ser um contrato futuro negociado na BM&FBOVESPA, ter ajustes diários, enquanto o NDF não. Por este motivo,
S
S
iremos compará-lo ao F˜∗ que, como já mostrado, tem o mesmo preço que o F˜S, e ainda tem o equivalente a um ajuste diário. A principal diferença entre FS e F˜∗ é a fórmula de cálculo do
ajuste diário, uma vez que no Dólar Futuro o ajuste não é trazido a valor presente, ou seja, em uma data t qualquer o ajuste diário do FS é:
A( t, FS) = N(FS( t) − FS( t − 1)). 10)
Isso faz com que o Dólar Futuro seja dependente do caminho, pois se o Dólar Futuro sobe 10 centavos no primeiro dia e fica inalterado o resto do tempo, é melhor para a parte comprada do que o caso em que o tudo fica inalterado até o penúltimo dia, quando sobe os mesmos 10 centavos, pois o dinheiro ganho no primeiro dia teria sido aplicado anteriormente, rendendo mais juros. É fácil observar que tanto para o NDF como para o NDF com reset diário, os dois cenários seriam indiferentes.
2.5 DI Futuro
Os contratos de DI Futuro são os derivativos de juros mais líquidos do Brasil e como se trata de um contrato futuro negociado na BM&FBOVESPA, ele possui, entre outras características, ajuste diário. A parte comprada6 em um DI, doravante referida apenas por comprado, está apostando que o CDI acumulado entre o dia do negócio e o vencimento do contrato será mais alto que o preço que o DI está sendo negociado. Analogamente, a parte vendida em um DI, doravante referida apenas por vendido, está apostando que o CDI acumulado entre o dia do negócio e o vencimento do contrato será mais baixo que o preço
que o DI está sendo negociado. É importante perceber que o DI com vencimento em T negociado hoje é diferente do DI com vencimento em T negociado amanhã, uma vez que hoje o derivativo negociado refere-se ao CDI acumulado entre hoje e T e o derivativo negociado amanhã refere-se ao CDI acumulado entre amanhã e T. Por isso, muitas vezes esse estudo estará se referindo ao preço de ajuste do DI em um dia ajustado para o dia seguinte (ver a definição de Rc( t, T) na seção 3.2). O ajuste do DI para o comprado é calculado pela seguinte fórmula7:
A( t, FR) = (e–[ Rt—1( t,T)]( T–t)⁄252 − e–[ Rt( t,T)]( T–t)⁄252 )N,
R ( t − 1, T)[T − (t − 1)] − r
(11)
onde Rt–1( t, T) =
t–1 t–1.
T − t
6 Para derivativos de juros sempre será usada a nomenclatura comprada ou vendida em relação à taxa, nunca a PU (preço unitário).
7 Para chegar a essa fórmula partindo dá fórmula encontrada no site da BM&FBOVESPA é necessário transformar as taxas para capitalização contínua com contagem em dias úteis sobre 252.
Observe que o primeiro exponencial refere-se ao PU de t − 1 ajustado por 1 dia de CDI, e o segundo exponencial refere-se ao PU de t.
2.6 DDI Futuro
O DDI Futuro é o contrato utilizado no mercado brasileiro para negociar a taxa de juros em dólar8. O comprado em DDI tem exposição a 2 fatores de riscos, ganha se o cupom cambial subir ou se o dólar spot cair. Analogamente o vendido no DDI fica vendido no cupom cambial e comprado no dólar. Partindo da fórmula encontrada no site da BM&FBOVESPA e transformando as taxas para capitalização continua com dias úteis/252 obtemos:
(e A(t, FC) = [
–(CC (t–1,T))[T–(t–1)]⁄252
( )
t—1
Ptaxt–1 Ptaxt–2
) (ert—1
⁄252 )
t t–1
−e–(CC(t,T))(T–t)⁄252 ] N Ptax . (12)
Usando a definição de cupom sujo9, obtemos:
t
e(–CC( t,T))( T–t)⁄252
= St
Ptaxt–1
e(–Ct( t,T))( T–t)⁄252
. (13)
Uma vez observado que trocando t por t − 1em (13) obtemos e
–(CC (t–1,T))[ T–(t–1)]⁄252 =
t—1
St−1 e–(Ct−1(t–1,T))[T–( t–1)]⁄252 , basta substituir (13) em (12) e simplificar para obter:
Ptaxt−2
A(t, FC ) = [ St–1( e–(Ct—1(t–1,T))[T–(t–1)]⁄252 )ert—1⁄252− St e–(Ct(t,T))(T–t)⁄252 ]N. (14)
A equação (14) traz o ajuste do DDI em função do cupom limpo e do Spot ao invés do cupom sujo. Isso é útil pois, nesse trabalho, os principais fatores de risco tratados são a curva de juros em reais, o Spot e o cupom limpo.
2.7 Relação entre DI e DDI com o NDF com reset diário
S
Toda essa álgebra para colocar a fórmula do ajuste do DI e do DDI na notação desse estudo visa explicar que é possível replicar perfeitamente o resultado de um F˜∗ com volume N por meio de uma carteira composta por NF˜S( t − 1) em volume de DI e N em volume de DDI, todos vencendo em T.
8 É mais preciso dizer que o mercado negocia o FRA de cupom cambial que são 2 DDI combinados. Entretanto, como é possível zerar o DDI mais curto e ficar com o outro, será considerado que o DDI é negociado diretamente sem afetar nenhuma conclusão.
9 O cupom sujo é o Cupom Limpo ajustado pela variação cambial entre St e Ptaxt 1.
S
Proposição 2.2: Os ajustes A( t, F˜∗), A( t, FC) e A( t, FR) obedecem a seguinte relação:
A(t, F˜∗) + A( t, F ) − A( t, F ) F˜ ( t − 1) = 0. (15)
S C R S
Demonstração:
Para mostrar este resultado é preciso trabalhar com as equações de ajuste encontradas nas seções anteriores. Apenas rearranjando (6) obtemos:
A(t, F˜∗) = F˜S( t) N
− F˜S( t − 1) N
. (16)
S e(Rt( t,T))( T–t)⁄252
e(Rt( t,T))( T–t)⁄252
Combinando (14) com (2) obtemos:
A(t, F ) = F˜S( t − 1)N
− F˜S ( t) N
. (17)
C e(Rt—1( t,T))( T–t)⁄252
e(Rt( t,T))( T–t)⁄252
Rearranjando (11) obtemos:
A( t, F ) ∗ F˜ ( t − 1) = F˜S ( t − 1) N
− F˜S ( t − 1) N
. (18)
R S e(Rt—1( t,T))( T–t)⁄252
e(Rt( t,T))( T–t)⁄252
Substituindo (16), (17) e (18) em (15) fica fácil perceber que todos os termos se cancelam mostrando que (15) é verdadeira.
□
S
Com essa relação, podemos tratar da carteira composta por Dólar Futuro e NDF com reset diário mesmo que o F˜∗ não seja observado normalmente no mercado, pois sua replicação por meio de um contrato de DI e outro de DDI é bastante direta, como mostrado
acima.
2.8 Trio
Trio é o nome dado a uma operação composta por um Dólar Futuro com Volume N, um DDI na mesma ponta do Dólar Futuro com Volume Ne(Rt( t+1,T))[ T–( t+1)]⁄252 , e um DI na ponta contraria com Volume N(e(Rt( t+1,T))[ T–( t+1)]⁄252 ) F˜S ( t − 1), todos com vencimento em T.É importante perceber que o volume do DI é o volume do DDI vezes F˜S ( t − 1) ,
S
exatamente o necessário para replicar o F˜∗. Por isso, falar do Trio é o mesmo que falar de
S
uma carteira composta por um Dólar Futuro com Volume N e um F˜∗ na ponta contrária do
Dólar Futuro com Volume Ne(Rt( t+1,T))[ T–( t+1)]⁄252
. Por questões didáticas e de
simplicidade, analisaremos essa segunda carteira para precificar o Trio, mas sempre tendo
S
em mente que, ao realizar essa operação no mercado, trata-se de um Dólar Futuro casado com um DDI Futuro e um DI Futuro. Como o Volume do F˜∗ depende de e(Rt( t+1,T))[ T–( t+1)]⁄252 o mesmo tem que ser rebalanceado todos os dias úteis. Por isso nesse estudo sempre será utilizada a premissa de que é possível comprar ou vender o DI e o DDI nos preços de ajuste. Dito isso, o ajuste do Trio em um determinado dia t é dado pela fórmula:
˜ ˜ e(Rt—1( t,T))( T–t)⁄252
(19)
A(t, Trio) = N(FS(t) − FS( t − 1)) − (FS( t) − FS( t − 1)) N ( e(Rt( t,T))( T–t)⁄252 ).
Como, para os contratos de Dólar Futuro mais longo que um mês, a BMF&BOVESPA determina que o preço de ajuste seja igual ao preço do NDF (ou seja FS( t) = F˜S (t)), calculado com os preços de ajuste do DI e DDI, para o mesmo período, a
fórmula acima fica:
˜ ˜ e(Rt—1( t,T))( T–t)⁄252
(20)
A( t, Trio) = N (FS(t) − FS(t − 1)) (1 −
e(Rt( t,T))( T–t)⁄252 ).
Caso a curva de juros em reais fosse determinística (ou seja, Rt( t, T) = Rt–1( t, T) para todo t) o ajuste seria sempre zero10, o que seria condizente com a marcação do Dólar Futuro pelo preço do NDF e da ausência de chamada de margem para o Trio. Entretanto,
basta observar o mercado de DI Futuro para compreender que a curva de juros definitivamente não é determinística. Para fins de análise de sensibilidade aos fatores de risco do Trio, é preciso lembrar que F˜S( t) é função de Rt( t, T), Ste Ct( t, T), por tanto o
ajuste do Trio e suas primeiras derivadas11 são:
A(t, Trio) = N (Ste(Rt(t,T)–Ct(t,T))(T–t)⁄252 − F˜S (t − 1)) (1 − e(Rt—1(t,T)–Rt(t,T))(T–t)⁄252 ), (21)
&A( t, Trio) = N (T − t) (F˜ ( t) − F˜ ( t − 1) e(Rt−1( t,T)−Rt( t,T))( T−t)⁄252 ), (22)
&Rt( t, T) 000 X X
&X( x, Xxxx) = N(e(Rt(t,T)–Ct(t,T))( T–t)⁄252 − e(Rt—1( t,T)–Ct(t,T))( T–t)⁄252), (23)
&St
&A( t, Trio) = −N F˜ &Ct(t, T) S
(t) (T − t) (1 − e(Rt−1(t,T)−Rt(t,T))(T−t)⁄252 ). (24)
252
Nota-se que todas as derivadas primeiras são iguais a zero no ponto (St–1( t), Rt–1( t, T) , Ct–1( t, T)). Na verdade para as derivadas em relação ao cupom e ao spot serem zero precisa-se apenas de Rt( t, T) = Rt–1( t, T).Essa, provavelmente, é a razão
10 Essa conclusão foi demonstrada, de uma maneira distinta, por Xxx, Xxxxxxxxx e Xxxx (1981).
11 A álgebra por trás dos cálculos das derivadas mostradas nas equações (22), (23), (24), (25), (26) e (27) é explicada com mais detalhe no Apêndice A.
da BM&FBOVESPA não exigir margem para uma carteira com um Trio, pois a bolsa olha apenas para os riscos de primeira ordem, que, como demonstrado, estão totalmente zerados nos preços de ajuste do mercado. Observando as segundas derivadas isso muda bastante, como segue:
&2A(t, Trio) T − t 2
&Rt( t
, T) 2 = N (
252 )
(F˜S (t) + F˜S( t − 1) e(Rt−1( t,T)−Rt( t,T))( T−t)⁄252 ). (25)
Essa é a derivada segunda mais importante pois, como já foi mostrado, nenhum risco surge a menos que Rt( t, T) seja diferente de Rt–1( t, T) . A equação (25), acima, mostra que a convexidade é sempre positiva em relação a mudanças no Pré para uma posição de Trio
comprada12, outra conclusão importante é que essa derivada é proporcional ao quadrado do tempo, ou seja um Trio com um prazo três vezes mais longo tem uma convexidade nove vezes maior. Esse resultado não impossibilita que o Dólar Futuro tenha o mesmo preço do NDF, mas dificulta muito, pois as derivadas segundas cruzadas e as correlações teriam que atuar fortemente contra a posição comprada no Trio para que isso acontecesse uma vez que a convexidade dos juros em reais sempre atuará a favor do comprado. Já a variação em relação ao Cupom Cambial da variação do ajuste do Trio e relação à taxa de juros em reais é dada por:
&2A( t, Trio)
T − t 2 ˜
(26)
&R ( t, T)&C (t, T) = −N ( 252 )
FS(t).
t t
Essa derivada cruzada é sempre negativa, o que significa que, para o comprado no Trio, seria bom que a correlação entre os juros em reais e o cupom cambial fosse negativa. Historicamente observamos que essa correlação é aproximadamente 0.27 para o Trio com vencimento em janeiro 2021, o que sugere que essa correlação atua ligeiramente contra o comprado no Trio. Já a variação em relação ao Spot da variação do ajuste do Trio e relação à taxa de juros em reais é dada por:
&0X( x, Xxxx)
( X x x)
(X ( x,X)−C ( t,T))( T–t)⁄252
(27)
&R ( t, T)&S = N 252 e t t .
t t
Essa derivada cruzada é sempre positiva o que significa que para o comprado no Trio seria bom que a correlação entre a taxa de juros em reais e o Spot fosse positiva, historicamente observamos que essa correlação é em torno de 0.31 para o Trio com vencimento em janeiro 2021, o que sugere que essa correlação atua ligeiramente a favor do comprado no Trio. As demais segundas derivadas são bem menos relevantes, pois como foi mostrado, é a diferença
entre Rt( t, T) e Rt–1(t, T) que abre exposição a todos os riscos no Trio. Considerando as correlações históricas, vemos que uma derivada cruzada atua ligeiramente a favor do
comprado no Trio, e a outra atua ligeiramente contra, no entanto, a mais importante de todas, a segunda derivada em relação ao juros em reais é sempre a favor (pois a “correlação“ do juros em reais com ele mesmo é 1, por definição), o que nos leva a intuir que alguém estaria disposto a pagar um prêmio para ficar comprado no Trio. As simulações de Monte Carlo tentam estimar o valor desse prêmio e suas sensibilidades às correlações e volatilidades dos preços de mercado.
12 Comprada no Dólar futuro e no DDI e vendida no DI.
2.9 Margem
A BM&FBOVESPA exige um depósito de margem para qualquer operação em contratos futuros. No caso do detentor de um contrato futuro não pagar o ajuste diário, a bolsa utiliza essa margem para se desfazer do contrato no mercado. Como diferentes contratos possuem alguns riscos em comum, uma carteira com 2 contratos diferentes pode ter menos margem do que teria a soma de duas carteiras onde cada uma tivesse um dos contratos. A forma detalhada de como esse cálculo é feito não está disponível. Entretanto simulações com um carteira contendo um Trio têm margem igual a zero. Isso ocorre provavelmente porque a bolsa utiliza apenas a primeira derivada para calcular os riscos da carteira e, como já mostrado, esses riscos estão zerados no Trio nos preços de ajuste do mercado.
3. METODOLOGIA
Este capítulo descreve passo a passo como foi estruturado o modelo para estimar os prêmios dos Trios para diversos vencimentos e as sensibilidades destes prêmios aos inputs do modelo por meio de simulações de Monte Carlo. Após montar os Trios para quatro vencimentos (janeiro de 2015, 2017, 2019 e 2021) a preços de mercado de 7 de fevereiro de 2011 (sendo considerado o Dólar Futuro no preço justo para o NDF, como considera a marcação a mercado feita pela BM&FBOVESPA), são simulados aleatoriamente caminhos para todos os preços de mercado envolvidos e calculados os resultados dessas carteiras até o seu vencimento. Esse processo é repetido M vezes. Para simular esses caminhos, são necessários alguns inputs: (i) as dinâmicas de evolução para cada um dos preços de mercado envolvidos,
(ii) a volatilidade de cada um desses preços e (iii) as correlações entre as variações desses preços. Em seguida, analisa-se a sensibilidade dos resultados aos parâmetros escolhidos, uma vez que esses inputs são estimativas e não valores exatos e definitivos.
O objetivo é mostrar que essas carteiras têm valores esperados muito positivos, sendo pouquíssimo provável a observação de resultados negativos. Analisa-se quatro vencimentos para ilustrar o quanto o prazo é importante na determinação do tamanho desse valor esperado positivo. Os itens a seguir visam explicar detalhadamente cada etapa da construção deste modelo.
3.1 Processos Estocásticos
A ideia básica de uma simulação de Monte Carlo aplicada à maioria dos derivativos consiste em sortear de forma aleatória um grande número de caminhos do ativo base, apurar o resultado do derivativo para cada um dos caminhos sorteados e calcular a média desses resultados. Para o caso do Trio, a ideia é muito semelhante, com a diferença de existirem vários ativos base e não apenas um. Por isso foram necessários sortear caminhos aleatórios para cinco preços de mercado correlacionados entre si. São eles:
Taxa de juros em reais com vencimento em T, Rt( t, T);
Cupom Cambial para vencimento em T, Ct( t, T);
Taxa de câmbio Spot, St;
CDI ou Taxa de juros em reais com vencimento em 1 dia útil, rt;
Linha ou Cupom Cambial para vencimento em 1 dia útil, ct.
Processo para Rt( t, T)
Para o caso da taxa juros em reais, o processo estocástico adotado é muito simples: a taxa de t a T vista em t é a taxa de t a T vista em t − 1 mais um fator estocástico com média zero e desvio padrão constante em percentual da taxa segundo a curva de t − 1. A equação para o processo estocástico da taxa de juros em reais fica assim:
t
Rt( t, T) = Rt–1( t, T) + Rt–1( t, T)aRdWR, (28)
t
onde aR é a volatilidade da taxa juros em reais com vencimento em T e WR segue um processo de Xxxxxx. Para efeito de simplificação assumimos que a volatilidade da taxa de juros em reais com vencimento em T é constante. O mesmo tipo de aproximação é adotado nos demais processos aqui descritos.
Processo para Ct( t, T)
Para o caso do Cupom Cambial, o processo estocástico é muito semelhante ao da taxa de juros em reais, ou seja, o Cupom de t a T visto em t é o Cupom de t a T visto em t − 1 mais um fator estocástico com média zero e desvio padrão constante em percentual da taxa segundo a curva de t − 1. A equação para o processo estocástico do Cupom fica assim:
t
Ct( t, T) = Ct–1( t, T) + Ct–1( t, T) aCdWC, (29)
t
em que aC é a volatilidade do Cupom Cambial com vencimento em T e WC segue um
processo de Wiener.
Processo para St
Para o caso do Spot o processo também é semelhante. O Spot em t é o Spot em t − 1 carregado por um dia de CDI e descontado por um dia de Linha mais um fator estocástico com média zero e desvio patrão constante em percentual de St–1( t) . A equação para o processo estocástico do Spot fica assim:
t
St(t) = St–1( t) + St–1(t) aSdWS (30)
t
em que aS é a volatilidade do Spot e WS segue um processo de Wiener. Lembrar que
St–1( t) = St–1( t − 1)e(rt–ct)⁄252 pela definição dada na seção 3.2.
Processo para rt
O CDI ou taxa de juros em reais para 1 dia útil, desempenha um papel secundário no modelo. Ele é necessário pra calcular a taxa de juros de t a T vista em t − 1, (Rt–1(t, T)), que é a esperança para a taxa de juros de t a T vista em t, (Rt( t, T)) . Como o hedge
dinâmico é mais relevante quando o Trio está longe do vencimento, o CDI afeta muito
pouco a esperança para a taxa de juros em t. Entretanto, o CDI é necessário para a coerência do Modelo. Outro ponto relevante é que, conforme o vencimento se aproxima, o CDI e a taxa de juros em reais com vencimento em T têm que convergir, por definição. Para garantir tal comportamento, foi colocado na equação estocástica do CDI um termo de convergência para a taxa de juros em reais no vencimento que depende de um fator y( t, T), que é zero enquanto o prazo até o vencimento é superior a 3 anos e sobe até 1 no dia do vencimento13.
A equação para o processo estocástico do CDI fica assim:
t
xx x xx–0 x xx–0xxxXx + y( t, T)[Rt–1( t − 1, T) − rt–1], (31)
t
1 15 31 61 91 121 252 504 630 1008 1260 2520
120,0%
100,0%
80,0%
60,0%
40,0%
20,0%
0,0%
y(t,T)
em que ar é a volatilidade do CDI, Wr segue um processo de Xxxxxx e y(t, T) é o fator discutido acima, que se comporta como o gráfico apresentado na Figura 1, a seguir.
Figura 1 - fator y em relação ao prazo
A Figura 1 mostra o comportamento do fator y, escolhido arbitrariamente. O eixo horizontal representa o prazo em dias úteis para o vencimento e o eixo vertical representa o valor do fator y(t, T) para um certo prazo.
Processo para ct
A Linha está para o cupom cambial assim como o CDI está para taxa de juros em reais. Portanto, a Linha é necessária pra calcular o Cupom Cambial de t a T visto em t − 1 (Ct–1( t, T)), que é a esperança para o Cupom Cambial de t a T visto em t (Ct(t, T)). Dessa forma, a equação para o processo estocástico da Linha fica assim:
t
ct = ct–1 + ct–1acdWc + y( t, T)( Ct–1( t − 1, T) − ct–1), (32)
t
onde ac é a volatilidade da Linha, Wc segue um processo de Wiener e y é o fator discutido acima que se comporta como o gráfico mostrado na Figura 1. Por simplicidade e sem perda de generalidade, o fator y(t, T) utilizado para a Linha é o mesmo que o adotado para o caso do CDI.
13 A velocidade de convergência foi estipulada arbitrariamente. Entretanto testes mostraram que os efeitos de uma convergência mais rápida ou mais lenta não influenciam de forma relevante os resultados.
3.2 Correlações
Outra questão que surge quando se utiliza vários ativos em simulações de Monte Carlo é que os movimentos desses ativos podem ser correlacionados, e isso deve ser considerado no modelo, pois tem potencial para afetar consideravelmente os resultados. Analisando os dados históricos, observa-se que o CDI e a Linha não possuem correlações significantes (nenhuma correlação histórica em módulo acima de 0,10 foi encontrada) tanto com os outros ativos, como entre si. Por isso, foi considerado no modelo que os choques desses ativos
(dWr e dWc) são independentes entre si, assim como independentes dos demais choques.
t t
No caso dos juros em reais, Cupom Cambial e Spot, os dados históricos mostram que as
correlações entre os três ativos são significativas, portanto dWR, dWC e dWS têm que ser
t t t
correlacionados entre si. Ou seja 〈dWR, dWC 〉 , 〈dWR, dWS〉 e 〈dWC, dWS〉 são todos
t t t t t t
diferentes de zero e estimados a partir de dados históricos. Para gerar choques normalmente distribuídos, com média zero, variância um e correlação diferente de zero, foram utilizadas combinações lineares de três variáveis aleatórias independentes normalmente distribuídas, com média zero e variância um. O peso de cada variável aleatória dada uma matriz de correlações históricas foi obtida por meio de uma fatoração de Cholesky. Com essas
combinações lineares dWR, dWCe dWS ficam normalmente distribuídos, com média zero,
t t t
variância um e correlação igual à historicamente estimada. Isto é,
〈dWR, dWC〉 = q
, 〈dWR, dWS〉 = q
〈dWC, dWS〉 = q
t t
3.3 Dados
R,C t t
R,S,
t t C,S.
Os dados para inferir as volatilidades e correlações históricas foram todos obtidos na Bloomberg e foi utilizada a janela de 02/01/2010 a 01/07/2014. Como não haviam dados anteriores a 2010 disponíveis para todos os ativos e treze meses foi considerada uma janela muito pequena para a coleta de dados históricos, optou-se por utilizar dados até 2014 para estimar Trios que foram montados em 2011. Essas estimativas têm apenas a função de determinar um marco inicial e não de tentar acertar as volatilidades e correlações reais dos ativos, até porque esses parâmetros são claramente estocásticos no mundo real. Isso torna ainda mais importante a análise de sensibilidade explicada na seção 4.4. A Tabela 1, a seguir, mostra todas as volatilidades e correlações utilizadas no modelo que foram inferidas a partir desses dados históricos. Obviamente para o Spot, CDI e Linha as volatilidades independem do prazo do Trio. Como mencionado anteriormente, os Trios estimados foram com vencimento em janeiro 2015, janeiro 2017, janeiro 2019 e janeiro 2021, todos iniciando em 07/02/2011, que foi a data onde os primeiros quatro mil lotes de Dólar Futuro com vencimento em janeiro 2021 foram abertos na BM&FBOVESPA. Para todas as simulações
foram usadas amostras com M = 5.000 observações.
Tabela 1 - Volatilidades e correlações históricas
Volatilidades | Correlações | |||||||
aS | aR | aC | xx | xx | xX,X | xX,X | qC,S | |
jan/15 | 0,78% | 0,81% | 14,00% | 0,80% | 1,72% | 0,18 | 0,04 | 0,17 |
jan/17 | 0,78% | 0,83% | 2,50% | 0,80% | 1,72% | 0,29 | 0,25 | 0,26 |
jan/19 | 0,78% | 0,84% | 1,81% | 0,80% | 1,72% | 0,29 | 0,26 | 0,23 |
jan/21 | 0,78% | 0,81% | 1,49% | 0,80% | 1,72% | 0,31 | 0,27 | 0,21 |
3.4 Análises de sensibilidade
Como as volatilidades e as correlações utilizadas no modelo foram obtidas a partir de dados históricos (o que significa que esses parâmetros são apenas estimativas e podem mudar com o passar do tempo), é necessário entender como o prêmio do Trio se comporta quando cada um desses parâmetros é alterado marginalmente. Para isso em cada uma das M simulações foi medido o efeito de uma mudança em cada um dos parâmetros individualmente, as volatilidades em 0.10% e as correlações em 0.10. Para cada alteração, foi recalculado o prêmio do Trio mantendo-se todos os choques constantes e depois calculada a média das M sensibilidades obtidas para cada parâmetro. Em outras palavras, uma vez sorteados todos os
números aleatórios necessários para calcular um resultado do Trio, altera-se marginalmente cada um dos parâmetros (volatilidades e correlações) e recalcula-se o resultado do Trio com os mesmo números aleatórios a fim de se estimar o efeito de uma mudança em cada um dos parâmetros individualmente. Esse processo se repete nas M simulações. Foram utilizadas
alterações para cima e para baixo em cada um dos parâmetros a fim de minimizar o erro na
estimação da sensibilidade.
4. RESULTADOS
Neste capítulo são descritos os resultados obtidos com a simulações de Monte Carlo e com os backtestings realizados. Será mostrado que os resultados são extremamente robustos, não deixando dúvida que a marcação a mercado atualmente utilizada na BM&FBOVESPA para os contratos de Dólar Futuro mais longos deve ser revista.
4.1 Diferencial entre o NDF e o Dólar Futuro
O diferencial entre o Dólar Futuro e o NDF estimado foi, qualitativamente, o que era esperado, ou seja, o Dólar Futuro deveria ser mais alto que o NDF. Essa diferença aumenta conforme o prazo aumenta e essa taxa de crescimento também aumenta com o aumento do prazo. A Figura 2, a seguir, mostra, com base nos preços de mercado em 7 de fevereiro de 2011, a curva de NDF e a curva de Dólar Futuro estimada pelas simulações de Monte Carlo. Foram plotadas também curvas com a estimativa mais ou menos quinze desvios-padrão para explicitar a robustez do modelo.
NDF x Dólar Futuro
3,75
3,55
3,35
3,15
2,95
2,75
2,55
2,35
NDF
Dólar Futuro
-15 sigma
+15 sigma
xxx/15 jan/16 jan/17 jan/18 jan/19 jan/20 jan/21
Figura 2 – NDF vs Dólar Futuro estimado
É possível observar que mesmo a curva que representa o preço estimado para o Dólar Futuro menos quinze desvios-padrão ainda se encontra muito acima da curva de NDF. Isso corrobora fortemente a conclusão que o Dólar Futuro deveria ser marcado acima do NDF. A fim de ilustrar de forma ainda mais contundente a relevância da diferença entre o Dólar Futuro e o dólar a termo, a Tabela 2 abaixo, utiliza os resultados do modelo para estimar, com base na posição em aberto na BM&FBOVESPA em sete de fevereiro de 2011, o valor em reais do erro de marcação a mercado cometido pela bolsa para cada contrato de janeiro 2015 para frente. Para o janeiro 2016 e janeiro 2018 foram utilizadas interpolações lineares tanto para o NDF como para o Dólar Futuro uma vez que esses prazos não foram estimados pelo Monte Carlo. Por exemplo, para o Trio com vencimento em janeiro 2021 a diferença entre o preço do Dólar Futuro estimado (3,8100) e o preço no NDF (3,5031) é 0,3069. Essa diferença em cima dos 4000 contratos em aberto na BM&FBOVESPA em 7 de fevereiro de 2011 representa um erro de R$61.380.000,00 (0,3069 * 4.000 * 50.000).
Tabela 2 - Tamanho do erro de marcação a mercado
Prazo | NDF | DolFut | Contratos em aberto | Diferença em BRL |
jan/15 | 2,3686 | 2,3839 | 630 | R$ 481.950,00 |
jan/16* | 2,5452 | 2,5812 | 6.020 | R$ 10.836.000,00 |
jan/17 | 2,7219 | 2,7786 | 4.000 | R$ 11.340.000,00 |
jan/18* | 2,9052 | 3,0064 | 3.100 | R$ 15.686.000,00 |
jan/19 | 3,0885 | 3,2342 | 0 | R$ 0,00 |
jan/21 | 3,5031 | 3,8100 | 4.000 | R$ 61.380.000,00 |
Total | 17.750 | (R$ 99.723.950,00) |
* estimados por interpolação linear
É possível observar que o erro estimado em fevereiro de 2011 é dá ordem de 100 milhões de reais. Como a margem cobrada de uma carteira de Trio, calibrada pelos preços de ajuste do mercado, é zero se todos os agentes vendidos no Trio se tornassem inadimplentes, a BM&FBOVESPA sobraria com uma posição que ela considera sem risco e de valor zero, mas que na verdade tem risco e vale algo em torno de cem milhões de reais de prejuízo. A Tabela 2 também deixa claro o quão importante é o prazo para que o Dólar Futuro seja mais alto que o NDF. A diferença começa em 1.5 centavos para o Trio de 4 anos, sobe para 5.7 centavos para o Trio de 6 anos, depois sobe para 14.6 centavos para o Trio de 8 anos e termina em 30.7 centavos para o Trio de 10 anos. Com isso, o Trio com vencimento em janeiro 2021, tendo apenas 22.5% dos contratos de Dólar Futuro longos é responsável por 61.5% do erro na marcação a mercado.
4.2 Análise de Dispersão
Para melhorar a análise dos resultados, foram observados os histogramas das simulações de Monte Carlo para os quatro prazos escolhidos. A Figura 3 mostra os histogramas para os quatro prazos simulados. O eixo horizontal representa a diferença entre o preço do Dólar Futuro e o preço do NDF enquanto o eixo vertical representa a porcentagem das simulações contidas em cada intervalo. É possivel observar que apenas para o Trio com vencimento em janeiro de 2015 houve observações em que o Trio comprado no Dólar Futuro perdeu (o que indicaria que a diferença entre Dólar Futuro e NDF seria negativa) e isso ocorreu em apenas 0.74% das observações, em todos os outros Trios mais longos nenhuma das cinco mil observações apresentaram resultados negativos para o Trio comprado no Dólar Futuro, o que é mais uma fortíssima evidência que o Dólar Futuro deveria ser marcado acima do NDF.
Figura 3 – Histogramas das simulações de Monte Carlo
4.3 Sensibilidades
As simulações de Monte Carlo também estimaram as sensibilidades da diferença entre o Dólar Futuro e o NDF a mudanças de 0.10% nas volatilidades dos ativos. Como foi mostrado no capítulo 3, era esperado que o resultado do Trio fosse mais sensível em relação a mudanças na volatilidade da taxa de juros em reais do que em relação a qualquer outra volatilidade, essa expectativa foi confirmada.
Sendo que:
V é a diferença entre o preço estimado para o Dólar Futuro e o preço do NDF,
&V/ &aS representa o efeito em V de um aumento de 0.10% em aS, &V/ &aR representa o efeito em V de um aumento de 0.10% em aR, &V/ &aC representa o efeito em V de um aumento de 0.10% em aC, &V/ &ar representa o efeito em V de um aumento de 0.10% em ar, &V/ &ac representa o efeito em V de um aumento de 0.10% em ac,
&V/ &qS,R representa o efeito em V de um aumento de 0.10 na correlação entre dWSe dWR,
&V/ &qR,C representa o efeito em V de um aumento de 0.10 na correlação entre dWRe dWC,
&V/ &qS,C representa o efeito em V de um aumento de 0.10 na correlação entre dWSe dWC .
A Figura 4, a seguir, mostra um gráfico do impacto sobre a diferença estimada entre o Dólar Futuro e o NDF (V) de um choque de 0.10% na volatilidade de cada um dos 5 processos estocásticos. O eixo horizontal representa a data de vencimento dos contratos e o eixo vertical representa o impacto na diferença entre o preço estimado do Dólar Futuro e o preço do NDF. Por exemplo, a Figura 4 aponta que, para o Trio com vencimento em janeiro 2021, um aumento de 0.10% em aR aumenta a diferença entre o preço estimado do Dólar
Futuro e o preço do NDF em aproximadamente 9 centavos de real por dólar. Para o Trio
Sensibilidade às Volatilidades
0,1
0,08
0,06
0,04
0,02
∂V/∂σS
∂V/∂σR
∂V/∂σC
∂V/∂σr
∂V/∂σc
0
-0,02
com vencimento em janeiro 2017 esse efeito é de aproximadamente 1,3 centavos.
xxx/15 | jan/16 | jan/17 | jan/18 | jan/19 | jan/20 | jan/21 |
Figura 4 – Sensibilidade de V às volatilidades
Além da alta sensibilidade a mudanças na volatilidade da taxa de juros em reais, pode-se confirmar pelo gráfico acima que as volatilidades do CDI e da Linha são praticamente irrelevantes, e que aumentos na volatilidade da taxa de juros em reais e do Spot aumentam a diferença entre o NDF e o Dólar Futuro, enquanto aumentos na volatilidade do Cupom Cambial diminuem essa diferença. Isso se torna esperado quando levamos em consideração que todas as correlações entre a taxa de juros em reais, o Spot e o Cupom Cambial são positivas e as sensibilidade às correlações tem sinal positivo para o Spot com a taxa de juros, e negativo para o Cupom Cambial com a taxa de juros, como foi mostrado no capitulo 3. As simulações de Monte Carlo também estimaram as sensibilidades da diferença entre o Dólar Futuro e o NDF a mudanças de 0.10 nas correlações entre o Spot, o Cupom Cambial e a taxa de juros. Os resultados estão resumidos na Figura 5, a seguir, corroborando as conclusões do capítulo 3.
Sensibilidade as Correlações
0,04
0,03
0,02
0,01
0
-0,01
∂V/∂ρS,R
∂V/∂ρR,C
∂V/∂ρS,C
xxx/15 jan/16 jan/17 jan/18 jan/19 jan/20 jan/21
-0,02
-0,03
-0,04
Figura 5 – Sensibilidade de V às correlações
A Figura 5 mostra um gráfico do impacto sobre a diferença estimada entre o Dólar Futuro e o NDF (V) de um choque de 0.10 nas correlações envolvendo a taxa de juros, o Spot e o Cupom Cambial. O eixo horizontal representa a data de vencimento dos contratos e o eixo vertical representa o impacto na diferença entre o preço teórico do Dólar Futuro e o preço do NDF. Por exemplo, a Figura 5 aponta que, para o Trio com vencimento em janeiro 2021, um
aumento de 0.10 na correlação entre dWRe dWSaumenta a diferença entre o preço estimado
t t
do Dólar Futuro e o preço do NDF em aproximadamente 3,2 centavos de real por dólar. Para o Trio com vencimento em janeiro 2017 esse efeito é de aproximadamente 0,8 centavos. Além dos sinais opostos entre o efeito de uma mudança na correlação do Spot com a taxa juros em reais e na correlação do Cupom Cambial com o a taxa juros em reais, o gráfico acima também ilustra bem que a correlação entre o Spot e o Cupom Cambial é pouco relevante e que o aumento do prazo aumenta muito a importância de todas as correlações, como já era esperado pela análise das derivadas feita no capítulo 3.
4.4 Backtesting
Para complementar os resultados foi feito um backtesting para os quatro Trios simulados, foram usadas as informações de mercado de 07 de fevereiro de 2011, quando iniciaram todas as simulações, até 01 de julho de 2014 e comparados com as simulações de Monte Carlo durante este mesmo período. A Figura 6, a seguir, mostra, para os quatro prazos simulados, gráficos comparando a média das simulações de Monte Carlo com os resultados encontrados no backtesting, foram colocadas também curvas dá média das simulações com mais dois e menos dois desvios-padrão para dar base de comparação entre o backtesting e o Monte Carlo. O eixo horizontal representa o tempo decorrido e o eixo vertical representa o resultado em reais obtido por um Trio composto por mil contratos de Dólar Futuro. Pelos gráficos da Figura 6 é possível observar que os resultados do backtesting estão ligeiramente abaixo da média das simulações, mas confortavelmente inseridos entre as curvas de mais e menos dois desvios para todos os prazos, interessante também o fato das curvas dos backtesting serem muito semelhantes entre si o que mostra que as curvas de juros em reais e do Cupom Cambial devem ter uma alta correlação entre diferentes maturidades, uma consequência disso é que os resultados dos backtestings são muito correlacionados, ou seja, se pegarmos um período em que o Trio com vencimento em janeiro 2021 tenha obtido um
resultado melhor que a média apontada pelas simulações de Monte Carlo muito provavelmente o mesmo ocorreu para os Trios com vencimentos mais curtos e vice-versa.
Figura 6 – Comparando backtesting com Monte Carlo
Outro ponto importante é que os resultados, além de serem positivos no final, têm trajetórias praticamente monotônicas de alta durante todo o período analisado (utilizando vértices aproximadamente semestrais). Isso é mais um indício do quão improvável é um resultado negativo para uma carteira comprada em um Trio com prazo superior a 4 anos.
5. CONCLUSÕES
Partindo de uma carteira formada a partir de preços de ajuste, que não exige nenhuma margem depositada, rebalanceando essa carteira diariamente nos preços de ajuste do DI e DDI Futuros, foram obtidos ganhos em todas as 5.000 simulações para os Trios com vencimento em janeiro de 2017, 2019 e 2021 e em mais de 99% das simulações para o Trio com vencimento em janeiro de 2015. Essas são evidências extremamente robustas que o Dólar Futuro deveria ser marcado a mercado em um preço acima do preço teórico do termo, diferentemente do que faz atualmente a BM&FBOVESPA, e que a margem inicial necessária para um Trio deveria ser diferente de zero.
Este trabalho teve por objetivo, muito mais mostrar que o problema existe e é bem relevante do que almejar uma grande precisão nas estimativas da diferença entre o Dólar Futuro e o NDF para os diversos prazos. Este objetivo principal parece ter sido alcançado. Apesar de estar claro que a atual metodologia da BM&FBOVESPA precisa ser revista,
soluções para resolver este equívoco não são simples. A alternativa mais adequada, mas provavelmente impossível de ser implementada operacionalmente, seria a BM&FBOVESPA montar um modelo similar ao proposto neste trabalho e, a partir de parâmetros históricos e processos estocásticos bem definidos, estimar por Monte Carlo a diferença entre o Dólar Futuro e o termo todos os dias, e assim calcular um preço de ajuste diário do Dólar Futuro. Entretanto, a discussão tanto na inferência dos dados históricos quanto na determinação dos melhores processos estocásticos promete ser bastante desafiadora, para não citar a dificuldade operacional de rodar N simulações de Monte Carlo para cada vencimento de Dólar Futuro todos os dias. Outra alternativa seria criar um novo contrato onde o cálculo do ajuste diário fosse o do Dólar Futuro atual trazido a valor presente pela taxa de juros em
S
reais e incentivar os agentes a migrarem as posições para esse novo contrato. As equações abaixo mostram as fórmulas de ajuste do Dólar Futuro atual e desse novo contrato (F∗).
A( t, FS) = N( FS( t) − FS( t − 1)) (33)
( t, F∗) = N( FS( t) − FS( t − 1))
(34)
S eRt( t,T)( T–t)⁄252
Esse novo contrato seria equivalente a um NDF com reset diário, que possui o mesmo preço teórico do NDF como foi mostrado no capítulo 3. Portanto todo o problema deixaria de existir quando todos os contratos em aberto passassem a ser esse novo e não mais o Dólar Futuro tradicional. O trabalho buscou apresentar o problema da diferença entre futuros e termos para o mercado cambial brasileiro por meio da precificação do Trio. Como este é o primeiro modelo utilizado para simular esse tipo de carteira foram escolhidos processos estocásticos razoavelmente simples, pois o foco era muito mais mostrar que o problema existe de fato e não deve mais ser ignorado do que estimar com máxima precisão a diferença entre futuros e termos. Uma vez alcançado este objetivo, abre-se espaço para várias complicações do modelo visando uma melhor estimativa dessa diferença, como a introdução de custos de transação e liquidez, volatilidades e correlações dependentes do prazo e estocásticas, jumps e estudos para obter uma forma ótima para coletar os parâmetros históricos.
REFERÊNCIAS
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Journal of Financial Economics 9, p.321-346, 1981. XXXXXX, X. Futures Markets. Prentice Hall.1989.
XXXXXX, X. x XXXXXXX, X. Pricing Continuously Resettled Contingent Claims. Journal of Economic Dynamics and Control 16, p. 561-573, 1992.
FRENCH, K. R. A Comparison of Futures and Forward Prices. Journal of Financial Economics 12, p.311-342, 1983.
XXXXXXXXXX, X. Monte Carlo Methods in Financial Engineering. New York: Springer, 2003.
XXXX, X. X. Options, Futures and Other Derivatives. Prentice Hall, 7th Ed. 2009.
Xxxxxx, R. A. e Xxxxxxxx, G. S. Forward Contracts and Futures Contracts. Journal of Financial Economics 9, p.373-382, 1981.
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XXXXXX, X. X. On the Pricing of Contingent Claims and the Modigliani-Miler theorem.
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XXXXXX, X. X. Unpublished class notes (Sloan School of Management. Massachusetts Institute of Technology, Cambridge. MA,1979.
XXXX, Xxxxx. Derivativos Financeiros. Curitiba: XXXXX, 0000
XXXXXXX, X. Xxxx Xxxxxxxx Introduces Quantitative Finance. John Wiley & Sons, 2nd Ed. 2007.
APÊNDICE A
A fim de facilitar a verificação do cálculo das derivadas apresentadas no capítulo 3, este apêndice mostra, de forma mais detalhada, a álgebra para obtenção desses resultados.
Partindo da equação (21):
A( t, Trio) = N (Ste(Rt( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252 − F˜S ( t − 1)) (1 − e(Rt—1( t,T)–Rt( t,T))( T–t)⁄252 ),
e realizando a operação distributiva temos:
A( t, Trio) = NSte(Rt( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252 − NF˜S ( t − 1)
− NSte(Rt—1( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252
+ NF˜S( t − 1)e(Rt—1( t,T)–Rt( t,T))( T–t)⁄252
(35)
Derivando (35) em função de Rt(t, T) obtemos:
&A( t, Trio) = N ( T − t) S e(Rt( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252
&Rt( t, T) 252 t
− N ( T − t) F˜ ( t − 1) e(R
(36)
( t,T)–R ( t,T))( T–t)⁄252,
252 S
t—1 t
t
pois apenas o primeiro e o quarto termos dependem de R ( t, T) . Colocando N (T–t) em
252
evidência e substituindo Ste(Rt( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252 por F˜S ( t), obtemos a equação (22).
&A(t, Trio) = N ( T − t) (F˜ ( t) − F˜ ( t − 1) e(Rt−1( t,T)−Rt( t,T))( T−t)⁄252 )
&Rt( t, T) 000 X X
Xxxxxxxxx (35) em função de St obtemos:
&A(t, Trio) = Ne(Rt( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252 − Ne(Rt—1( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252,
&St
pois apenas o primeiro e o terceiro termos dependem de St. Colocando N em evidência obtemos a equação (23).
&A(t, Trio) = N(e(Rt(t,T)–Ct(t,T))(T–t)⁄252 − e(Rt—1(t,T)–Ct(t,T))(T–t)⁄252 )
&St
Derivando (35) em função de Ct( t, T) obtemos:
&A( t, Trio) = −N ( T − t) S e(Rt( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252
&Ct( t, T) 252 t
+ N ( T − t) S e(Rt—1( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252 .
252 t
pois apenas o primeiro e o terceiro termos dependem de Ct( t, T) . Substituindo
Ste(Rt—1( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252
obtemos:
por Ste(Rt( t,T)–Ct( t,T) )( T–t)⁄252 e(Rt—1( t,T)–Rt( t,T))( T–t)⁄252
&A( t, Trio) = −N (T − t) S e(Rt( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252
&Ct(t, T) 252 t
+ N ( T − t) S e(Rt( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252 e(Rt—1( t,T)–Rt( t,T))( T–t)⁄252 .
252 t
Substituindo Ste(Rt( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252 por F˜S (t) obtemos:
&A(t, Trio) = −N ( T − t) F˜ ( t) + N ( T − t) F˜ ( t) e(Rt—1( t,T)–Rt( t,T))( T–t)⁄252 ,
&Ct( t, T)
000 X
000 X
X
Colocando −N (T–t) F˜ ( t) em evidência obtemos a equação (24).
252
&A(t, Trio) = −N F˜ &Ct(t, T)
(t) (T − t) (1 − e(Rt−1(t,T)−Rt(t,T))(T−t)⁄252 )
S
252
Uma vez mostrados os cálculos das primeiras derivadas (equações (22), (23) e (24)), será mostrado os cálculos das segundas derivadas exploradas no capítulo 3 (equações (25), (26) e (27)). Derivando (36) em função de Rt( t, T) obtemos:
&2A(t, Trio) T − t 2
&Rt( t
, T) 2 = N (
252 )
Ste(Rt( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252
(T–t 2
T − t 2
+ N ( 252 )
F˜S (t − 1) e(Rt—1( t,T)–Rt( t,T))( T–t)⁄000 ,
(Xx( x,X)–Ct( t,T))( T–t)⁄252
˜ ( )
Colocando N
)
252
em evidência e substituindo Ste
por FS t
obtemos a equação (25).
&2A( t, Trio) T − t 2
&Rt( t, T
) 2 = N (
252 )
(F˜S ( t) + F˜S ( t − 1) e(Rt−1( t,T)−Rt( t,T))( T−t)⁄252 )
Derivando (36) em função de Ct( t, T) obtemos:
&0X( x, Xxxx) X x x 0
&X (x, X)&X ( x, X) = −N ( 252 )
Ste(Rt( t,T)–€t( t,T))( T–t)⁄252 ,
t t
pois apenas o primeiro termo depende deCt(t, T) .Substituindo Ste(Rt( t,T)–Ct( t,T))( T–t)⁄252
por F˜S( t) obtemos a equação (26).
&2A( t, Trio)
T − t 2 ˜
&Rt( t, T)&Ct( t, T) = −N ( 252 )
FS( t)
Derivando (36) em função de St obtemos:
&0X( x, Xxxx)
(X x x)
(X ( x,X)–C ( t,T))( T–t)⁄252
&R ( t, T)&S = N 252 e t t ,
t t
pois apenas o primeiro termo depende de St. A equação acima é a equação (27).