PESQUISA
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Sivnealrmelho
Com os juros ainda mais altos neste início de ano, o consumidor que precisar de crédito deverá redobrar os cuidados antes de assinar contrato. O Idec pesquisou as opções disponíveis e dá algumas dicas para escapar das armadilhas
P
assado o susto da crise econômi-
ca mundial e com o consumo su- perando as expectativas, o governo co-
loca o pé no freio para conter o crescimento da inflação. As medidas anunciadas nesta virada de ano visam elevar as taxas de juros e desestimular as vendas a crédito. Uma reviravolta que pode com- prometer seriamente a vida dos consumidores, em especial aqueles que embarcaram na onda de con- sumo do ano passado e contraíram dívidas além da capacidade de pagamento.
O momento pede cautela, pois, segundo a economista do Idec Xxxx Xxxxxx, os números da inadimplência de- vem começar a subir em breve. “O problema é ainda maior para o consumidor de baixa renda, que foi fortemente estimulado a entrar no crédito sem muita informação e sem conhecimento sobre a dinâmica dos juros”, diz.
Neste início de ano, todas as linhas de crédito ao con-
CRÉDITO
sumidor estão mais caras. Quem parcelou compras no cartão de crédito ou entrou no cheque especial vai ter de desembolsar mais que o previsto. Os juros do crédito rotativo, tradicionalmente os mais caros do mercado, foram os que sofreram maior alta. O financiamento de bens e veículos também foi afetado.
A orientação geral é evitar ao máximo contrair novas dívidas e só fazê-lo se não houver alternativa. E, nesse caso, é preciso avaliar com muita atenção as ofertas, pois a variação das taxas de juros praticadas pelos bancos nas diferentes modalidades de crédito pode fazer grande di- ferença no valor das prestações e no montante da dívida. Para ajudar o consumidor a entender melhor como
Como foi feita a pesquisa
XXXXX XXXXXX
Neste estudo, que faz parte do projeto Bancos, RSE e Con- sumidores no Brasil, apoiado pela Oxfam Novib, os pesquisadores do Idec identificaram grande número de instituições financeiras que mantêm linhas de crédito ao consumidor. Entre elas, foram sele- cionadas as com maior participação no mercado.
Foram consideradas as informações publicadas no site do Banco Central no último dia útil de cada mês entre 2009 e 2011 (exceto os dados sobre cartão de crédito, cujas fontes foram a Anefac e os sites dos bancos).
As taxas de juros foram comparadas de acordo com a modali- dade de crédito em três momentos diferentes: fevereiro de 2009, janeiro de 2010 e janeiro de 2011.
Revista do Idec | Março 2011 21
CRÉDITO
esse novo cenário econômico pode afetar suas finanças e a en- contrar a melhor alternativa de crédito para o seu caso, o Idec pesquisou as taxas de juros co- bradas por Banco do Brasil, Ban- risul, Bradesco, Caixa Econô- mica Federal (CEF), HSBC, Itaú Unibanco e Santander de 2009 a 2011. Juntos, esses bancos de- têm mais de 1 milhão de clien- tes, de acordo com o ranking de reclamações do Banco Central (BC) em janeiro de 2011, e res- pondem por mais de 80% das operações de crédito no país.
“É importante observar como
as taxas evoluíram desde o perío- do de crise até agora, para perce- ber que os juros cobrados nas linhas de crédito mais caras ao consumidor e, ao mesmo tempo, mais utilizadas, sofreram uma queda muito pequena e já atin- gem patamares superiores aos praticados durante a crise”, de- xxxxx Xxxxx Xxxxx Xxxxxx, gerente jurídica do Idec.
O QUE HOUVE COM OS JUROS?
Para entender a dinâmica dos juros entre 2009 e 2011, o Idec apurou, com base em dados do BC, as taxas médias aplicadas em quatro modalidades de crédito: cheque especial, crédito pessoal,
de crédito são da Associação Na- cional dos Executivos de Finan- ças, Administração e Contabili- dade (Anefac). O estudo mostrou que a média das taxas em todas as linhas de crédito sofreu ligeira baixa entre 2009 e 2010 – perto de 1% –, uma redução bem infe- rior à da taxa básica de juros (Selic) no mesmo período, que foi de 4% (veja o gráfico abaixo). “Já em janeiro de 2011, quando a taxa Selic subiu 0,5%, o mercado reagiu rapidamente com a eleva- ção dos juros, indicando uma tendência de retorno ao patamar de 2009”, compara Xxxx Xxxxxx, responsável pela pesquisa. Ainda segundo a economista, “esse qua-
dro indica que os juros devem continuar subindo ao longo de 2011, aumentando os riscos de endividamento de quem precisa de crédito ou já está utilizando as linhas de crédito rotativo”.
COMPARANDO AS OPÇÕES
Com os juros nesse patamar, quem estiver pensando em finan- ciar uma compra ou pedir em- préstimo deve ter cautela. O con- selho é: vale a pena gastar algum tempo pesquisando antes de assi- nar o contrato. Na comparação entre as taxas de juros cobradas pelos bancos pesquisados nas cinco modalidades, o Idec en- controu diferenças bastante sig-
nificativas (veja a tabela abaixo). As taxas mais altas verificadas foram as do cartão de crédito, em média 10,69% ao mês, podendo chegar a assustadores 16%. A análise do juro rotativo foi preju- dicada, porque nem todos os bancos divulgam os juros que praticam. Ao contrário das demais modalidades, os cartões de crédito estão livres da obri- gação de informar mensalmente os juros praticados ao BC. Essa, aliás, é uma antiga reivindicação do Idec, baseada no direito do consumidor de conhecer esses valores e compará-los antes de fazer sua escolha. Apenas os três bancos que informaram as taxas cobradas foram incluídos no estudo. Entre eles, a menor taxa ao mês foi a do Banco do Brasil (9,14%). A seguir vem Bradesco (10,12%) e HSBC (10,51%). “Ao
efetuar uma compra com cartão,
o consumidor precisa estar muito seguro de que vai conseguir pagar a fatura na data do venci- mento, caso contrário, é melhor buscar outra forma de financia- mento”, alerta Xxxx Xxxxxx.
Em segundo lugar no ranking dos juros altos vem o cheque especial. Deixar a conta no ver- melho pode custar de 6,73% ao
mês, na CEF, até 9,24%, no San- tander. Segundo Xxxx, nessa mo- dalidade, apesar de os juros se- rem na média menores que os do cartão de crédito, o risco de endi- vidamento pode ser ainda maior. “Isso porque para não ficar inadimplente o consumidor aca- ba amortizando parte da dívida ao fazer o pagamento mínimo das faturas”, explica.
Uma alternativa mais viável que o cartão de crédito e o cheque especial é o crédito pes- soal, que apresentou taxas entre 2,35% ao mês na CEF, e 5,13% no Bradesco.
Nas linhas de crédito para fi- nanciamento de bens – aquelas disponíveis para a compra de ele- trodomésticos, móveis etc. – os juros oscilaram de 1,76% no Santander a 5,37% na CEF, uma diferença de 3,61%, que indica que também nesta modalidade uma pesquisa prévia pode sig- nificar boa economia.
As menores taxas de juros do mercado são as do financiamento de veículos, que oscilaram de 1,56% no Banrisul a 1,96% no Bradesco. Segundo a economista do Idec, apesar de apresentar um percentual considerado baixo em relação às demais
Dicas
● Compare as taxas de juros praticadas no mer- cado antes da contratação.
● Em caso de compra parcelada, solicite o custo efetivo total. O consumidor tem direito de saber o va- lor total à vista e a prazo, e o detalhamento da pres- tação paga (amortização, juros e demais encargos).
● Não aceite a venda de outro produto para garantir redução na taxa de juros, pois isso é venda casada, prática considerada ilegal.
● Evite compras parceladas, mesmo com o apelo de parcelas sem juros.
● Não utilize o crédito rotativo. Se não for pos- sível evitar, contrate um empréstimo pessoal.
linhas de crédito, na verdade é uma modalidade cara e com grande exposição aos juros, por se tratar de financiamento de longo prazo. Nessa modalidade é necessária ainda mais cautela, pois a inadimplência pode acar- retar a perda do bem alienado. Além disso, antes de efetivar a compra é preciso computar to- dos os gastos que virão com o veículo, como seguro, IPVA, taxa de licenciamento, despesas com manutenção e outras que podem comprometer a renda e dificultar o pagamento das prestações.
Independentemente da linha
de crédito, é fundamental que o consumidor avalie os riscos con- tidos em cada uma delas e con- sulte sempre mais de uma insti-
aquisição de bens e aquisição de veículos. Os dados sobre cartões
Comparação das taxas de juros*
A pesquisa revelou que com exceção da CEF, os valores das taxas
Banco | Cartão de crédito | Cheque especial | Crédito pessoal | Aquisição de veículos | Aquisição de bens |
Banco do Brasil | 9,14% | 8,19% | 3,20% | 1,77% | 2,47% |
Banrisul | ND | 8,92% | 3,58% | 1,56% | 2,13% |
Bradesco | 10,12% | 8,45% | 5,13% | 1,96% | 3,56% |
CEF | ND | 6,73% | 2,35% | 1,59% | 5,37% |
HSBC | 10,51% | 9,13% | 4,72% | 1,82% | 3,90% |
Itaú Unibanco | ND | 8,44% | 4,27% | 1,81% | ** |
Santander | ND | 9,24% | 3,53% | 1,84% | 1,76% |
de juros cobradas pelos bancos são bem próximos, o que demonstra baixo nível de competitividade entre as instituições financeiras na oferta de crédito. Veja abaixo:
tuição para fazer a simulação das operações. “A escolha deve recair sobre a entidade que propor- cionar maior transparência no processo”, aconselha a econo- mista. Os bancos devem infor- mar por escrito as condições consultadas, a simulação e a composição dos custos, assim como fornecer o contrato com o detalhamento do custo efetivo total (à vista e a prazo, especifi- cando o que se refere a juros, amortização e impostos) e os
Simulação
Empréstimo pessoal
Calculando pela média, um empréstimo de
R$ 1 mil
resultará, ao fim de cinco meses, em um total de aproximadamente
R$ 1.159,
o equivalente
a uma variação de
15,9%
Financiamento de bens
Ao financiar uma compra no valor de R$ 1 mil
em cinco meses, o consumidor deverá pagar cinco parcelas de R$ 233,34. Nesse caso, o total da dívida será
R$ 1.166,70,
o que corresponde
a um acréscimo de
16,7%
Cartão de crédito
Alguém que recebe uma fatura de R$ 1 mil
e paga só o mínimo, empurrando a dívida durante cinco meses, terá de pagar, ao final desse período, aproximadamente
R$ 1.350,
um acréscimo superior a
35%
Cheque especial
Quando um correntista mantém um saldo negativo de
R$ 1 mil por cinco
meses, poderá acumular uma dívida superior a
R$ 1.430,
que corresponde a uma
variação em torno de
43%
Fonte: Banco Central (exceto cartão de crédito, cujos dados foram extraídos dos sites dos bancos)
■ = menor taxa ■ = maior taxa ND = informação não disponível
*É importante lembrar que os valores desta tabela correspon-
dem às taxas médias praticadas em janeiro, portanto, é pos- sível que o consumidor encontre valores diferentes no mercado
**O Banco Itaú não divulga a taxa desde setembro de 2009. As coligadas do banco (Banco Itaucard e CBD CFI Itaú) con- tinuam divulgando
demais encargos que poderão ser
incluídos na operação sempre com o conhecimento e o consen- timento do consumidor.
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