Lei do Contrato de Seguro
Lei do Contrato de Seguro
Lei do Contrato de Seguro
2228 Diário da República, 1.ª série — N.º 75 — 16 de Abril de 2008
MINISTÉRIO DAS FINANÇAS
E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Decreto-Lei n.º 72/2008
de 16 de Abril
I — O seguro tem larga tradição na ordem jurídica por- tuguesa. No entanto, a legislação que estabelece o regime jurídico do contrato de seguro encontra-se relativamente desactualizada e, mercê de diversas intervenções legisla- tivas em diferentes momentos históricos, nem sempre há harmonia de soluções.
A reforma do regime do contrato de seguro assenta primordialmente numa adaptação das regras em vigor, procedendo à actualização e concatenação de conceitos de diversos diplomas e preenchendo certas lacunas.
Procede-se, deste modo, a uma consolidação do direito do contrato de seguro vigente, tornando mais acessível o conhecimento do respectivo regime jurídico, esclarecendo várias dúvidas existentes, regulando alguns casos omissos na actual legislação e, obviamente, introduzindo diversas soluções normativas inovadoras. Importa referir que a consolidação e adaptação do regime do contrato de seguro têm especialmente em conta as soluções estabelecidas no direito comunitário, já transpostas para o direito nacio- nal, com especial relevo para a protecção do tomador do seguro e do segurado nos designados seguros de riscos de massa.
A reforma do regime do contrato de seguro vem também atender a um conjunto de desenvolvimentos no âmbito dos seguros de responsabilidade civil, frequentemente asso- ciados ao incremento dos seguros obrigatórios. Por outro lado, foram tidos em conta alguns tipos e modalidades de seguros que se têm desenvolvido, como o seguro de grupo e seguros com finalidade de capitalização. Refira-se, ainda, a diversificação do papel de seguros tradicionais que, mantendo a sua estrutura base, são contratados com uma multiplicidade de fins.
II — Nesta reforma foi dada particular atenção à tutela do tomador do seguro e do segurado — como parte contra- tual mais débil — , sem descurar a necessária ponderação das empresas de seguros.
No âmbito da protecção da parte débil na relação de seguro, importa realçar dois aspectos. Em primeiro lugar, muito frequentemente, a maior protecção conferida ao segurado pode implicar aumento do prémio de seguro. Por outro lado, a actividade seguradora cada vez menos se encontra circunscrita às fronteiras do Estado Português, sendo facilmente ajustado um contrato de seguro por um tomador do seguro português em qualquer Estado da União Europeia, sem necessidade de se deslocar para a celebração do contrato. Ora, a indústria de seguros portuguesa não pode ficar em situação jurídica diversa daquela a que se sujeita a indústria seguradora de outros Estados da União Europeia. De facto, o seguro e o resseguro que lhe está as- sociado têm características internacionais, havendo regras comuns no plano internacional, tanto quanto aos contratos de seguro como às práticas dos seguradores, que não po- dem ser descuradas.
Em suma, em especial nos seguros de riscos de massa, importa alterar o paradigma liberal da legislação oitocen- tista, passando a reconhecer explicitamente a necessidade de protecção da parte contratual mais débil. Não obstante se assentar na tutela da parte contratual mais débil, como resulta do que se indicou, cabe atender ao papel da indústria
de seguros em Portugal. Pretende-se, por isso, evitar ónus desproporcionados e não competitivos para os segurado- res, ponderando as soluções à luz do direito comparado próximo, mormente de países comunitários.
Não perdendo de vista os objectivos de melhor regu- lamentação (better regulation), consolida-se num único diploma o regime geral do contrato de seguro, evitando a dispersão e fragmentação legislativa e facilitando o melhor conhecimento do regime jurídico por parte dos operado- res.
III — Relativamente à sistematização, o regime jurídico do contrato de seguro encontra-se dividido em três partes:
«Parte geral», «Seguro de danos» e «Seguro de pessoas». Tendo em conta os vários projectos nacionais, assim como a legislação, mesmo recente, de outros países, mormente da União Europeia, em que é estabelecida a divisão en- tre seguro de danos e seguro de pessoas, entendeu-se ser preferível esta sistematização à que decorreria da legisla- ção actual, em resultado da classificação vigente ao nível comunitário, que contrapõe os seguros dos ramos «vida» e «não vida». Quanto aos regimes especiais, incluem-se várias previsões no novo regime — tanto nos seguros de danos como nos seguros de pessoas — , não só aqueles que actualmente se encontram regulados no Código Co- mercial como também em diplomas avulsos, com exclusão do regime relativo aos seguros marítimos. De facto, não se justificava a inclusão dos seguros marítimos (com ex- cepção do transporte marítimo) no regime geral, não só pelas várias especificidades, muitas vezes resultantes da evolução histórica, como pelo tratamento internacional.
Assim, no que se refere à sistematização, do título I consta o regime comum do contrato de seguro, nomea- damente as regras respeitantes à formação, execução e cessação do vínculo. No título II, relativamente ao seguro de danos, além das regras gerais, faz-se menção aos seguros de responsabilidade civil, de incêndio, de colheitas e pecuário, de transporte de coisas, financeiro, de protecção jurídica e de assistência. Por fim, no título III, no que respeita ao seguro de pessoas, a seguir às disposições comuns, atende-
-se ao seguro de vida, ao seguro de acidentes pessoais e ao seguro de saúde.
Em matéria de sistematização, importa ainda realçar que, de acordo com a função codificadora pretendida, o novo regime contém regras gerais comuns a todos os contratos de seguro — inclusive aplicáveis a contratos semelhantes ao seguro stricto sensu, celebrados por segu- radores — , regras comuns a todos os seguros de danos, regras comuns a todos os seguros de pessoas e, finalmente, regras específicas dos subtipos de seguros. Estas regras específicas diminuem significativamente de extensão, de- vido às disposições comuns. Por exemplo, várias regras que surgiam a propósito do seguro de incêndio são agora estendidas a todos os seguros de danos, acompanhando, de resto, a prática interpretativa e aplicadora do Código Comercial.
IV — No que respeita à harmonização terminológica, estabeleceu-se, em primeiro lugar, que se mantêm, como regra, os termos tradicionais como «apólice», «prémio»,
«sinistro», «subseguro», «resseguro» ou «estorno». Por outro lado, usa-se tão-só «segurador» (em vez de «segura- dora» ou «empresa de seguros»), contrapõe-se o tomador do seguro ao segurado e não se faz referência aos ramos de seguros. Pretendeu-se, nomeadamente, que os conceitos de tomador do seguro, segurado, pessoa segura e benefi- ciário fossem utilizados de modo uniforme e adequado
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aos diferentes problemas jurídicos da relação contratual de seguro.
O regime do contrato de seguro cumpre, assim, uma função de estabilização terminológica e de harmonização com as restantes leis de maior importância. Lembre-se que a antiguidade do Código Comercial e a proliferação de leis avulsas, bem como de diferentes influências estrangeiras, propiciou o emprego de termos contraditórios, ambíguos e com sentidos equívocos nas leis, na doutrina, na jurispru- dência e na prática dos seguros. O novo regime unifica a terminologia utilizando coerentemente os vários conceitos e optando entre as várias possibilidades.
V — O novo regime agora estabelecido tem em vista a sua aplicação primordial ao típico contrato de seguro, evitando intencionalmente uma definição de contrato de seguro. Optou-se por identificar os deveres típicos do contrato de seguro, assumindo que os casos de qualifi- cação duvidosa devem ser decididos pelos tribunais em vista da maior ou menor proximidade com esses deveres típicos e da adequação material das soluções legais ao tipo contratual adoptado pelas partes. Atendendo, sobre- tudo, à crescente natureza financeira de alguns subtipos de «seguros» consagrados pela prática seguradora, é esta a solução adequada.
No que respeita ao âmbito, pretende-se estender a apli- cação de algumas regras do contrato de seguro a outros contratos, relacionados com operações de capitalização. Ainda quanto ao âmbito, previu-se o regime comum, válido para todos os contratos de seguro, mesmo que regulados em outros diplomas. Pretendeu-se, pois, aplicar as regras gerais aos contratos de seguro regidos por diplomas especiais.
Relativamente ao regime aplicável ao contrato de seguro, assentou-se apenas na consagração do regime específico, sem afastar a aplicação dos regimes gerais, nomeadamente do Código Civil e do Código Comercial. Por esta razão procedeu-se a uma remissão, com especial ênfase, para regimes comuns, como a Lei das Cláusulas Contratuais Gerais ou a Lei de Defesa do Consumidor.
Foram igualmente introduzidas regras que visam o en- quadramento com outros regimes, nomeadamente com as regras da actividade seguradora. Assim, as regras de direito internacional privado, o regime da mediação, o regime do co-seguro ou o regime do resseguro poderiam não ser incluídos no novo regime, mas respeitando a ques- tões relativas ao contrato de seguro e estabelecendo uma ligação com outros regimes, entendeu-se ser conveniente a sua inserção. No fundo, a inclusão de tais regras deveu-
-se, em especial, a uma função de esclarecimento e de enquadramento, tendo em vista o melhor conhecimento do regime. Apesar de primordialmente as referidas regras terem sido inseridas como modo de ligação com outros regimes, também se introduzem soluções inovadoras, pre- tendendo resolver lacunas do sistema.
Superando o regime do Código Comercial, mas sem pôr em causa o princípio da liberdade contratual e o carácter supletivo das regras do regime jurídico do contrato de seguro, prescreve-se a designada imperatividade mínima com o sentido de que a solução legal só pode ser alterada em sentido mais favorável ao tomador do seguro, ao se- gurado ou ao beneficiário. Regula-se, assim, numa secção autónoma, a imperatividade das várias disposições que compõem o novo regime. Merece destaque a reafirmação da autonomia privada como princípio director do contrato, mas articulado com limites de ordem pública e de normas de aplicação imediata, assim como com as restrições de-
correntes da explicitação do princípio constitucional da igualdade, através da proibição de práticas discriminató- rias, devidamente concretizadas em função da natureza própria da actividade seguradora.
O novo regime agora aprovado integra uma disposição que estabelece um nexo entre o regime jurídico da acti- vidade seguradora e as normas contratuais. Dispõe-se, pois, que são nulos os pretensos contratos de seguro feitos por não seguradores ou, em geral, por entidades que não estejam legalmente autorizadas a celebrá-los. Sublinha-se, contudo, que esta nulidade não opera em termos desvan- tajosos para o tomador. Pelo contrário, prescreve-se que o pretenso segurador continua obrigado a todas as obrigações e deveres que lhe decorreriam do contrato ou da lei, se aquele fosse válido. Esta solução, afastando alguma rigidez do regime civil da invalidade — rigidez essa, porém, que o próprio Código Civil e várias leis extravagantes já atenuam em sede de relações duradouras — é, por um lado, uma solução de protecção do consumidor, quando o tomador tenha esta natureza. Por outro lado, a regra constante do novo regime explicita o que já se poderia inferir do regime do abuso do direito, numa das modalidades reconhecidas pela doutrina e jurisprudência, ou seja, a proibição da in- vocação de um acto ilícito em proveito do seu autor.
Procede-se a uma uniformização tendencial dos deveres de informação prévia do segurador ao tomador do seguro, que são depois desenvolvidos em alguns regimes especiais, como o seguro de vida. Na sequência dos deveres de infor- mação é consagrado um dever especial de esclarecimento a cargo do segurador Trata-se de uma norma de carácter inovador, mas em que o respectivo conteúdo surge balizado pelo objecto principal do contrato de seguro, o do âmbito da cobertura.
No que respeita à declaração inicial de risco, teve-se em vista evitar as dúvidas resultantes do disposto no ar- tigo 429.º do Código Comercial, reduzindo a incerteza das soluções jurídicas. Mantendo-se a regra que dá preponde- rância ao dever de declaração do tomador sobre o ónus de questionação do segurador, são introduzidas exigências ao segurador, nomeadamente impondo-se o dever de infor- mação ao tomador do seguro sobre o regime relativo ao incumprimento da declaração de risco, e distingue-se entre comportamento negligente e doloso do tomador do seguro ou segurado, com consequências diversas quanto à validade do contrato. Neste âmbito, cabe ainda realçar a introdução do parâmetro da causalidade para aferir a invalidade do contrato de seguro e do já mencionado dever específico, por parte do segurador, de, aquando da celebração do contrato, elucidar devidamente a contraparte do regime de incum- primento da declaração de risco. Quanto à causalidade, importa a sua verificação para ser invocado pelo segurador o regime da inexactidão na declaração inicial de risco e a consequente invalidade do contrato de seguro.
A matéria do risco, de particular relevo no contrato de seguro, surge regulada, primeiro, em sede de formação do contrato, seguidamente, na matéria do conteúdo contratual e, depois, a propósito das vicissitudes, mantendo sempre um vector: o risco é um elemento essencial do contrato, cuja base tem de ser transmitida ao segurador pelo tomador do seguro atendendo às directrizes por aquele definidas. Quanto à alteração do risco, encontra-se uma previsão expressa de regime relativo à diminuição do risco e ao agravamento do risco, com diversidade de soluções e maior adequação das soluções aos casos concretos, bem como maior protecção do tomador do seguro, prescrevendo-se
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um regime específico, aliás muito circunstanciado, para a ocorrência de sinistro estando em curso o procedimento para a modificação ou a cessação do contrato por agrava- mento do risco.
Prescreve-se o princípio da não cobertura de actos do- losos, admitindo convenção em contrário não ofensiva da ordem pública.
Mantendo-se o regime da formação do contrato de se- guro com base no silêncio do segurador, introduziram-se alguns esclarecimentos, de modo a tornar a solução mais justa e certa. Na realidade, subsistindo a solução do regime actual (prevista no artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 176/95, de 26 de Junho), foi introduzida alguma flexibilização susceptível de lhe conferir maior justiça, na medida em que se admite a não vinculação em caso de não assunção genérica dos riscos em causa pelo concreto segurador.
Sem pôr em causa o recente regime da mediação de seguros, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 144/2006, de 31 de Julho, aproveitou-se para fazer alusão expressa à figura da representação aparente na celebração do contrato de seguro com a intervenção de mediador de seguros e à eficácia das comunicações realizadas por intermédio do mediador.
Quanto à forma, e superando as dificuldades decorren- tes do artigo 426.º do Código Comercial, sem descurar a necessidade de o contrato de seguro ser reduzido a escrito na apólice, admite-se a sua validade sem observância de forma especial. Apesar de não ser exigida forma especial para a celebração do contrato, bastando o mero consenso, mantém-se a obrigatoriedade de redução a escrito da apólice. Deste modo, o contrato de seguro considera-se validamente celebrado, vinculando as partes, a partir do momento em que houve consenso (por exemplo, verbal ou por troca de correspondência), ainda que a apólice não tenha sido emitida. Consegue-se, assim, certeza jurídica quanto ao conteúdo do contrato, afastando uma possível fonte de litígios e oferecendo um documento sintético (a apólice) susceptível de fiscalização pelas autoridades de supervisão. Contudo, o regime do contrato de seguro aper- feiçoa as regras existentes, distinguindo os vários planos jurídicos relevantes:
i) Quanto à validade do contrato, ela não depende da ob- servância de qualquer forma especial. Esta solução decorre dos princípios gerais da lei civil, adequa-se ao disposto na legislação sobre contratação à distância, resolve problemas relativos aos casos híbridos entre a contratação à distância e a contratação entre presentes e, dadas as restantes regras agora introduzidas, é um instrumento geral de protecção do tomador do seguro;
ii) Quanto à prova do contrato, eliminam-se todas as regras especiais. Esta solução é a mais consentânea com o rigor técnico do que aqui se dispõe e com a necessidade de evitar a possibilidade de contornar a lei substantiva através de meios processuais;
iii) Quanto à eficácia e à oponibilidade do contrato e do seu conteúdo, estatui-se que o segurador tem a obri- gação jurídica de reduzir o contrato a escrito na apólice e de entregá-la ao tomador. Como sanção, o segurador não pode prevalecer-se do que foi acordado no contrato sem que cumpra esta obrigação, podendo o tomador resolver o contrato por falta de entrega da apólice.
Há menções que devem obrigatoriamente constar da apólice e certas cláusulas, designadamente as que excluem ou limitam a cobertura, têm de ser incluídas em destaque, de molde a serem facilmente detectadas.
Quanto à vigência, esclarecendo alguns aspectos, assenta-
-se no princípio da anuidade do contrato de seguro.
À questão do interesse no seguro foram dedicados al- guns preceitos, reiterando o princípio de que não é válido o seguro sem um interesse legítimo. Como o interesse pode relacionar-se com terceiros, há uma explicitação dessas realidades. No que respeita ao efeito em relação a terceiros, procede-se ao enquadramento do denominado «seguro por conta própria» e do «seguro por conta de outrem», com aproveitamento dos traços inovadores do Código Comer- cial (por exemplo, o parágrafo 3.º do artigo 428.º), sobre seguro misto por conta própria e por conta de outrem) e prevendo nova regulamentação para os pontos carecidos de previsão.
Em matéria de prémio, com algumas particularidades, mantém-se o princípio de no premium, no risk ou no pre- mium, no cover, nos termos do qual não há cobertura do seguro enquanto o prémio não for pago. O regime do pré- mio, com vários esclarecimentos, aditamentos e algumas alterações, permanece, no essencial, tal como resulta do Decreto-Lei n.º 142/2000, com as alterações de 2005.
Foram inseridas regras especiais disciplinadoras de cer- tas situações jurídicas que se generalizaram na actividade seguradora, como o seguro de grupo. De facto, alguns regimes não regulados na legislação vigente (ou insu- ficientemente previstos), mas que correspondem a uma prática generalizada, como o seguro de grupo, surgem no novo regime com um tratamento desenvolvido. Quanto ao seguro de grupo, importa acentuar a previsão (ex. novo ou mais pormenorizada) do dever de informar, do regime do pagamento do prémio — pagamento do prémio junto do tomador do seguro ou pagamento directo ao segurador — , e do regime de cessação do vínculo, por denúncia ou por exclusão do segurado.
Nos contratos de seguro de grupo em que os segurados contribuem para o pagamento, total ou parcial, do prémio, a posição do segurado é substancialmente assimilável à de um tomador do seguro individual. Como tal, importa garantir que a circunstância de o contrato de seguro ser celebrado na modalidade de seguro de grupo não cons- titui um elemento que determine um diferente nível de protecção dos interesses do segurado e que prejudique a transparência do contrato.
Nas designadas vicissitudes contratuais, além de se de- terminar o regime relativo à alteração do risco, estabelecem-
-se regras relativas à transmissão do seguro e à insolvência do tomador do seguro ou do segurado. Neste último caso, prescreve-se a solução geral da subsistência do contrato em caso de insolvência, sendo aplicável o regime do agra- vamento do risco (embora com excepções). Recorde-se que o regime do artigo 438.º do Código Comercial é o da exigibilidade de caução, sob pena da insubsistência do contrato.
Na regularização do sinistro, além de se manterem as soluções tradicionais, incluíram-se regras inovadoras, com função de esclarecimento (por exemplo, âmbito da partici- pação do sinistro) e, como novidade, explicitou-se de modo detalhado um regime de afastamento e mitigação do sinis- tro, a cargo do segurado, que corresponde à concretização de princípios gerais e aplicável primordialmente no âmbito do seguro de danos. Quanto ao ónus da participação do sinistro, comparativamente com o disposto no artigo 440.º do Código Comercial, há uma maior concretização, seja da previsão do dever, seja da sanção pelo seu incumprimento, que pode ser a perda da garantia em caso de incumpri-
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mento doloso acompanhado de prejuízo significativo do segurador. Tal como em outras previsões, no novo regime reconhecem-se certos deveres de cooperação entre o se- gurador e o tomador do seguro ou o segurado e um desses casos é o do chamado «ónus de salvamento» em caso de sinistro. Dispõe-se que, em caso de sinistro, o segurado deve tomar as medidas razoáveis que se imponham com vista a evitar a sua consumação, de molde a acautelar perdas evitáveis de bens e pagamentos desnecessários por parte do segurador. Em contrapartida, como os actos de salvamento são, fundamentalmente, realizados no interesse do segurador, este fica obrigado a reembolsar o segurado pelas despesas de salvamento.
Quase a terminar a parte geral, consta um capítulo sobre a cessação do contrato de seguro, espelhando muitas regras que já resultam do regime contratual comum, ainda que com um tratamento sistemático próprio, e, além de certos esclarecimentos, prescrevendo soluções particulares para atender a várias especificidades do contrato de seguro, nomeadamente no que respeita ao estorno do prémio, à denúncia, à resolução após sinistro e à livre resolução do contrato.
Ainda na parte geral, prevê-se o dever de sigilo do segu- rador, impondo-se-lhe segredo quanto a certas informações que obtenha no âmbito da celebração ou da execução do contrato de seguro, e estatui-se um regime específico de prescrição. Prevêem-se igualmente prazos especiais de prescrição de dois anos (direito ao prémio) e de cinco anos (restantes direitos emergentes do contrato), sem prejuízo da prescrição ordinária. Ainda neste derradeiro capítulo da parte geral, cabe destacar a remissão para arbitragem como modo de resolução de diferendos relacionados com o seguro.
No título II, sobre seguro de danos, na sequência da sistematização adoptada, distingue-se o regime geral dos regimes especiais. Em sede de regras gerais de seguro de danos, além da delimitação do objecto (coisas, bens imateriais, créditos e outros direitos patrimoniais) e da regulação de aspectos sobre vícios da coisa e de seguro sobre pluralidade de coisas, dá-se particular ênfase ao prin- cípio indemnizatório. Apesar de o princípio indemnizatório assentar basicamente na liberdade contratual, de modo supletivo, prescrevem-se várias soluções, nomeadamente quanto ao cálculo da indemnização, ao sobresseguro, à pluralidade de seguros, ao subseguro e à sub-rogação do segurador.
Não obstante valer o princípio da liberdade contratual, admitindo-se a inclusão de múltiplas cláusulas, como o se- guro «valor em novo», para o cálculo da indemnização não se pode atender a um valor manifestamente infundado.
No sobresseguro estabelece-se a regra da redução do contrato. Passa, pois, a haver previsão expressa de regime, quando hoje o regime relativo à matéria implica uma difícil conjugação das regras respeitantes ao princípio indemni- zatório, à pluralidade de seguros e à declaração do risco (artigos 435.º, 434.º e 429.º do Código Comercial).
Em caso de pluralidade de seguros, além do dever de comunicação a todos os seguradores, aquando da veri- ficação e com a participação do sinistro, determina-se que o incumprimento fraudulento do dever de informa- ção exonera os seguradores das respectivas prestações e prescreve-se o regime de responsabilidade proporcional dos diversos seguradores, podendo a indemnização ser pedida a qualquer dos seguradores, limitada ao respectivo capital seguro. Acresce ainda a previsão específica de cri-
térios de repartição do ónus da regularização do sinistro entre seguradores.
No caso de subseguro, o segurador só responde na pro- porção do capital seguro. Associado com o subseguro, estabelece-se, no seguro de riscos relativos à habitação, um regime específico de actualização automática do valor do imóvel seguro, ou da proporção segura do mesmo, com base em índices publicados para o efeito pelo Instituto de Seguros de Portugal.
A parte especial do seguro de danos inicia-se com o regime dos seguros de responsabilidade civil. No seguro de responsabilidade civil, o segurador cobre o risco de constituição no património do segurado de uma obrigação de indemnizar terceiros. Por via de regra, o prejuízo a atender para efeito do princípio indemnizatório é o dis- posto na lei geral.
Quanto ao período de cobertura, assente no regime base occurrence basis, admitem-se cláusulas de claims made, embora com cobertura obrigatória de reclamações posterio- res; deste modo, clarifica-se a admissibilidade das cláusulas de claims made (ou «base reclamação»), tentando evitar o contencioso sobre a questão da admissibilidade de tais cláusulas havido em ordenamentos comparados próximos. A aceitação destas cláusulas determina a obrigação de co- bertura do risco subsequente (ou risco de posterioridade) relativo às reclamações apresentadas no ano seguinte ao da cessação do contrato, desde que o risco não esteja coberto por contrato de seguro subsequente.
Reiterando uma regra enunciada na parte geral, estabelece-se que, em princípio, o segurador não responde por danos causados dolosamente pelo tomador do seguro ou pelo segurado, podendo haver acordo em contrário não ofensivo da ordem pública. Contudo, a solução pode ser diversa nos seguros obrigatórios de responsabilidade civil em caso de previsão especial, legal ou regulamentar, para cobertura de actos dolosos.
No seguro de responsabilidade civil voluntário, em de- terminadas situações, o lesado pode demandar directamente o segurador, sendo esse direito reconhecido ao lesado nos seguros obrigatórios de responsabilidade civil. Por isso, a possibilidade de o lesado demandar directamente o segu- rador depende de se tratar de seguro de responsabilidade civil obrigatório ou facultativo. No primeiro caso, a regra é a de se atribuir esse direito ao lesado, pois a obrigato- riedade do seguro é estabelecida nas leis com a finalidade de proteger o lesado. No seguro facultativo, preserva-se o princípio da relatividade dos contratos, dispondo que o terceiro lesado não pode, por via de regra, exigir a indem- nização ao segurador.
Relativamente a meios de defesa, como regime geral dos seguros obrigatórios de responsabilidade civil, é in- troduzida uma solução similar à constante do artigo 22.º do Decreto-Lei n.º 291/2007, relativo ao seguro automó- vel, sob a epígrafe «Oponibilidade de excepções aos le- sados».
O direito de regresso do segurador existe na medida em que o tomador do seguro ou o segurado tenha actuado dolosamente.
No âmbito dos seguros obrigatórios de responsabilidade civil prescreve-se a inadmissibilidade de a convenção das partes alterar as regras gerais quanto à determinação do prejuízo e a impossibilidade de se acordar a resolução do contrato após sinistro.
A regulamentação do seguro de incêndio, atenta a pre- visão geral do seguro de danos, fica circunscrita ao âmbito
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e a menções especiais na apólice. A solução é similar no caso dos seguros de colheitas e pecuário.
No seguro de transporte de coisas há uma previsão genérica das diversas modalidades do seguro de transpor- tes — seguro de transportes terrestres, fluviais, lacustres e aéreos, com exclusão do seguro de envios postais e do seguro marítimo — , prescrevendo várias soluções, como a cláusula «armazém a armazém» e a pluralidade de meios de transporte.
O seguro financeiro abrange o seguro de crédito e o seguro-caução e, remetendo para o regime recentemente alterado, estabelecem-se soluções relativamente a ques- tões não previstas nesse diploma, em particular quanto a cobrança, comunicações e reembolso.
No seguro de protecção jurídica mantêm-se as soluções vigentes com uma diferente sistematização.
Por último, no seguro de assistência, indica-se a noção e as actividades não incluídas nesta espécie contratual.
Do título III consta o regime do seguro de pessoas, tal como no título anterior, começa enunciando as disposições comuns aos vários seguros do designado ramo «vida».
De entre as disposições comuns merece especial relevo o regime relativo aos exames médicos.
O regime respeitante ao seguro de vida aplica-se igual- mente a outros contratos, como o de coberturas comple- mentares do seguro de vida ou de seguro de nupcialidade. Além das especificidades quanto a informações e menções a incluir na apólice, importa atender ao regime particular de risco, nomeadamente a cláusula de incontestabilidade, o regime de agravamento do risco e a solução no caso de suicídio ou de homicídio.
Foi consagrada a solução da cláusula de incontesta- bilidade de um ano a contar da celebração do contrato relativamente a inexactidões ou omissões negligentes, não sendo este regime aplicável às coberturas de acidentes e invalidez complementares do seguro de vida.
Prescreveu-se a regra da não aplicação do regime do agravamento do risco nos seguros de vida, que sofre res- trições relativamente às coberturas complementares de seguros de vida.
Supletivamente, encontra-se excluída a cobertura em caso de suicídio ocorrido até um ano após a celebração do contrato. Em caso de homicídio doloso, a prestação não será devida ao autor, cúmplice ou instigador.
Em matéria do chamado «resgate» — entendido tão-só como meio jurídico de percepção de uma quantia pecu- niária e não como forma de dissolução do vínculo — , subsiste a regra da liberdade contratual das partes, per- mitindo aos seguradores a criatividade necessária ao bom funcionamento do mercado. Mas a posição do tomador do seguro ou do segurado é integralmente protegida através da atribuição ao segurador do dever de tornar possível à contraparte, a qualquer momento, calcular o montante que pode haver através do resgate. Pretende-se, assim, que os segurados tomem esclarecidamente as decisões de optar por um ou outro segurador e por um ou outro dos
«produtos» oferecidos por cada segurador, podendo ainda avaliar a cada momento da conveniência em manter ou, quando permitido, extinguir o contrato.
Estabeleceu-se, com algum pormenor, o regime da designação beneficiária, de molde a superar muitas das dúvidas que frequentemente surgem.
Conhecendo o desenvolvimento prático e as dúvidas que suscita, sem colidir com o regime dos instrumentos financeiros, estabeleceram-se regras relativas às operações
de capitalização, indicando exaustivamente o que deve ser incluído na apólice para melhor conhecimento da situação por parte do tomador do seguro.
No regime do contrato de seguro, encontra-se uma re- gulamentação específica do seguro de acidentes pessoais (lesão corporal provocada por causa súbita, externa e vio- lenta que produza lesões corporais, invalidez, temporária ou permanente, ou a morte do tomador do seguro ou de terceiro), prescrevendo, nomeadamente, a extensão do regime do seguro com exame médico, a previsão de um direito de renúncia (tal como na legislação vigente) e a limitação da sub-rogação às prestações indemnizatórias.
Por fim, no seguro de saúde, estabelece-se a obriga- toriedade de menções especiais na apólice, de molde a permitir a determinação rigorosa do risco coberto, faz-se referência à exclusão das denominadas «preexistências» e, de modo idêntico ao seguro de responsabilidade civil, prescreve-se a regra da subsistência limitada da cobertura após a cessação do contrato.
Foi ouvida a Comissão Nacional de Protecção de Da- dos.
Foi promovida a audição do Conselho Nacional do Consumo.
Foram ainda ouvidos o Instituto de Seguros de Portugal e a Associação Portuguesa de Seguradores.
Assim:
Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 198.º da Cons- tituição, o Governo decreta o seguinte:
Artigo 1.º
Objecto
É aprovado o regime jurídico do contrato de seguro, constante do anexo ao presente decreto-lei e que dele faz parte integrante.
Artigo 2.º
Aplicação no tempo
1 — O disposto no regime jurídico do contrato de se- guro aplica-se aos contratos de seguro celebrados após a entrada em vigor do presente decreto-lei, assim como ao conteúdo de contratos de seguro celebrados anteriormente que subsistam à data da sua entrada em vigor, com as es- pecificidades constantes dos artigos seguintes.
2 — O regime referido no número anterior não se aplica aos sinistros ocorridos entre a data da entrada em vigor do presente decreto-lei e a data da sua aplicação ao contrato de seguro em causa.
Artigo 3.º
Contratos renováveis
1 — Nos contratos de seguro com renovação periódica, o regime jurídico do contrato de seguro aplica-se a partir da primeira renovação posterior à data de entrada em vigor do presente decreto-lei, com excepção das regras respeitantes à formação do contrato, nomeadamente as constantes dos artigos 18.º a 26.º, 27.º, 32.º a 37.º, 78.º, 87.º, 88.º, 89.º, 151.º, 154.º, 158.º, 178.º, 179.º, 185.º e 187.º do regime jurídico do contrato de seguro.
2 — As disposições de natureza supletiva previstas no regime jurídico do contrato de seguro aplicam-se aos contratos de seguro com renovação periódica celebra- dos anteriormente à data de entrada em vigor do presente
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decreto-lei, desde que o segurador informe o tomador do seguro, com a antecedência mínima de 60 dias em relação à data da respectiva renovação, do conteúdo das cláusulas alteradas em função da adopção do novo regime.
Artigo 4.º
Contratos não sujeitos a renovação
1 — Nos seguros de coisas não sujeitos a renovação, aplica-se o regime vigente à data da celebração do con- trato.
2 — Nos seguros de pessoas não sujeitos a renovação, as partes têm de proceder à adaptação dos contratos de seguro celebrados antes da entrada em vigor do presente decreto-lei, de molde a que o regime jurídico do contrato de seguro se lhes aplique no prazo de dois anos após a sua entrada em vigor.
3 — A adaptação a que se refere o número anterior pode ser feita na data aniversária do contrato, sem ultrapassar o prazo limite indicado
xxxxx Xxxxxxxxx Xxxxx — Xxxxxxx Xxxx xx Xxxxxx Xxxx- ra — Xxxxx xx Xxxxx Xxxxx Xxxxx — Xxxxx Xxxx Xxxxxx Xxxxxxx — Xxxxx Xxxxxx Xxxx de Xxxxx Xxxxxxx — Xxxx- xxxxx Xxxxxxx Xxxxx.
Promulgado em 3 de Abril de 2008. Publique-se.
O Presidente da República, XXXXXX XXXXXX XXXXX. Referendado em 3 de Abril de 2008.
O Primeiro-Ministro, Xxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxx xx Xxxxx.
ANEXO
Regime jurídico do contrato de seguro
TÍTULO I
Regime comum
Artigo 5.º
Supervisão
O regime jurídico do contrato de seguro constante do anexo ao presente decreto-lei não prejudica a aplicação do disposto na legislação em vigor em matéria de compe- tências de supervisão.
Artigo 6.º
Norma revogatória
1 — É revogado o Decreto-Lei n.º 142/2000, de 15 de Julho, alterado pelos Decretos-Leis n.os 248-B/2000, de 12 de Outubro, 150/2004, de 29 de Junho, 122/2005, de 29 de Julho, e 199/2005, de 10 de Novembro.
2 — São ainda revogados:
a) Os artigos 425.º a 462.º do Código Comercial apro- vado por Carta de Lei de 28 de Junho de 1888;
b) Os artigos 11.º, 30.º, 33.º e 53.º, corpo, 1.ª parte, do Decreto de 21 de Outubro de 1907;
c) A base XVIII, n.º 1, alíneas c) e d), e n.º 2, e base XIX
da Lei n.º 2/71, de 12 de Abril;
d) Os artigos 132.º a 142.º e 176.º a 193.º do Decreto-
-Lei n.º 94-B/98, de 17 de Abril, alterado pelos Decretos-
-Leis n.os 8-C/2002, de 11 de Janeiro, 169/2002, de 25 de Julho, 72-A/2003, de 14 de Abril, 90/2003, de 30 de Abril, 251/2003, de 14 de Outubro, 76-A/2006, de 29 de Março, 145/2006, de 31 de Julho, 291/2007, de 21 de Agosto, e 357-A/2007, de 31 de Outubro;
e) Os artigos 1.º a 5.º e 8.º a 25.º do Decreto-Lei n.º 176/95, de 26 de Julho, alterado pelos Decretos-Leis n.os 60/2004, de 22 de Março, e 357-A/2007, de 31 de Outubro.
Artigo 7.º
Entrada em vigor
O presente decreto-lei entra em vigor no dia 1 de Janeiro de 2009.
Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 24 de Janeiro de 2008. — Xxxx Xxxxxxxx Xxxxxxxx Xxxxx xx Xxxxx — Xxxxxxxx Xxxxxxxx xxx Xxxxxx — Xxxxxx Xx- xxx Xxxxx xx Xxxxx Xxxxxxx — Xxx Xxxxxx Xxxxxxx — Al-
CAPÍTULO I
Disposições preliminares
SECÇÃO I
Âmbito de aplicação
Artigo 1.º
Conteúdo típico
Por efeito do contrato de seguro, o segurador cobre um risco determinado do tomador do seguro ou de outrem, obrigando-se a realizar a prestação convencionada em caso de ocorrência do evento aleatório previsto no con- trato, e o tomador do seguro obriga-se a pagar o prémio correspondente.
Artigo 2.º
Regimes especiais
As normas estabelecidas no presente regime aplicam-se aos contratos de seguro com regimes especiais constantes de outros diplomas, desde que não sejam incompatíveis com esses regimes.
Artigo 3.º
Remissão para diplomas de aplicação geral
O disposto no presente regime não prejudica a aplica- ção ao contrato de seguro do disposto na legislação sobre cláusulas contratuais gerais, sobre defesa do consumidor e sobre contratos celebrados à distância, nos termos do disposto nos referidos diplomas.
Artigo 4.º
Direito subsidiário
Às questões sobre contratos de seguro não reguladas no presente regime nem em diplomas especiais aplicam-se, subsidiariamente, as correspondentes disposições da lei comercial e da lei civil, sem prejuízo do disposto no regime jurídico de acesso e exercício da actividade seguradora.
2234 Diário da República, 1.ª série — N.º 75 — 16 de Abril de 2008
Artigo 5.º
Lei aplicável ao contrato de seguro
Ao contrato de seguro aplicam-se as normas gerais de direito internacional privado em matéria de obrigações contratuais, nomeadamente as decorrentes de convenções internacionais e de actos comunitários que vinculem o Estado Português, com as especificidades constantes dos artigos seguintes.
Artigo 6.º
Liberdade de escolha
1 — Sem prejuízo do disposto nos artigos seguintes e do regime geral de liberdade contratual, as partes contratantes podem escolher a lei aplicável ao contrato de seguro que cubra riscos situados em território português ou em que o tomador do seguro, nos seguros de pessoas, tenha em Portugal a sua residência habitual ou o estabelecimento a que o contrato respeita, consoante se trate de pessoa singular ou colectiva.
2 — A localização do risco é determinada pelo regime jurídico de acesso e exercício da actividade seguradora.
3 — A escolha da lei aplicável deve ser expressa ou resultar de modo inequívoco das cláusulas do contrato.
4 — As partes podem designar a lei aplicável à tota- lidade ou apenas a uma parte do contrato, assim como alterar, em qualquer momento, a lei aplicável, sujeitando o contrato a uma lei diferente.
Artigo 7.º
Limites
A escolha da lei aplicável referida no artigo anterior só pode recair sobre leis cuja aplicabilidade corresponda a um interesse sério dos declarantes ou esteja em conexão com alguns dos elementos do contrato de seguro atendíveis no domínio do direito internacional privado.
Artigo 8.º
Conexões subsidiárias
1 — Se as partes contratantes não tiverem escolhido a lei aplicável ou a escolha for inoperante nos termos dos artigos anteriores, o contrato de seguro rege-se pela lei do Estado com o qual esteja em mais estreita conexão.
2 — Na falta de escolha de outra lei pelas partes, o contrato de seguro que cubra riscos situados em território português ou em que o tomador do seguro, nos seguros de pessoas, tenha a sua residência habitual ou o estabele- cimento a que o contrato respeita em Portugal é regulado pela lei portuguesa.
3 — Presume-se que o contrato de seguro apresenta co- nexão mais estreita com a ordem jurídica do Estado onde o risco se situa, enquanto nos seguros de pessoas, a conexão mais estreita decorre da residência habitual do tomador do seguro ou do estabelecimento a que o contrato respeita, consoante se trate de pessoa singular ou colectiva.
4 — Na falta de escolha das partes contratantes, nos ter- mos previstos nos artigos anteriores, o contrato de seguro que cubra dois ou mais riscos situados em Portugal e noutro Estado, relativos às actividades do tomador do seguro e quando este exerça uma actividade comercial, industrial ou liberal, é regulado pela lei de qualquer dos Estados em que os riscos se situam ou, no caso de seguro de pessoas,
pela lei do Estado onde o tomador do seguro tiver a sua residência habitual, sendo pessoa singular, ou a sua admi- nistração principal, tratando-se de pessoa colectiva.
Artigo 9.º
Normas de aplicação imediata
1 — As disposições imperativas em matéria de contrato de seguro que tutelem interesses públicos, designadamente de consumidores ou de terceiros, regem imperativamente a situação contratual, qualquer que seja a lei aplicável, mesmo quando a sua aplicabilidade resulte de escolha das partes.
2 — O disposto no número anterior aplica-se quando o contrato de seguro cobre riscos situados em território português ou tendo o tomador do seguro, nos seguros de pessoas, a sua residência habitual ou o estabelecimento a que o contrato respeita em Portugal.
3 — Para os efeitos do número anterior, sempre que o contrato de seguro cubra riscos situados em mais de um Estado, considera-se constituído por diversos contratos, cada um dizendo respeito a um único Estado.
4 — Não é válido em Portugal o contrato de seguro, sujeito a lei estrangeira, que cubra os riscos identificados no artigo 14.º
Artigo 10.º
Seguros obrigatórios
Os contratos de seguro obrigatórios na ordem jurídica portuguesa regem-se pela lei portuguesa, sem prejuízo do disposto no n.º 3 do artigo anterior.
SECÇÃO II
Imperatividade
Artigo 11.º
Princípio geral
O contrato de seguro rege-se pelo princípio da liberdade contratual, tendo carácter supletivo as regras constantes do presente regime, com os limites indicados na presente secção e os decorrentes da lei geral.
Artigo 12.º
Imperatividade absoluta
1 — São absolutamente imperativas, não admitindo convenção em sentido diverso, as disposições constantes da presente secção e dos artigos 16.º, 32.º, 34.º, 36.º, 43.º, 44.º, 54.º, n.º 1, 59.º, 61.º, 80.º, n.os 2 e 3, 117.º, n.º 3, e 119.º
2 — Nos seguros de grandes riscos admite-se convenção em sentido diverso relativamente às disposições constantes dos artigos 59.º e 61.º
Artigo 13.º
Imperatividade relativa
1 — São imperativas, podendo ser estabelecido um re- gime mais favorável ao tomador do seguro, ao segurado ou ao beneficiário da prestação de seguro, as disposições constantes dos artigos 17.º a 26.º, 27.º, 33.º, 35.º, 37.º, 46.º, 60.º, 78.º, 79.º, 86.º, 87.º a 90.º, 91.º, 92.º, n.º 1, 93.º,
94.º, 100.º a 104.º, 107.º n.os 1, 4 e 5, 111.º, n.º 2, 112.º,
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114.º, 115.º, 118.º, 126.º, 127.º, 132.º, 133.º, 139.º, n.º 3,
146.º, 147.º, 170.º, 178.º, 185.º, 186.º, 188.º, n.º 1, 189.º,
202.º e 217.º
2 — Nos seguros de grandes riscos não são imperativas as disposições referidas no número anterior.
Artigo 14.º
Seguros proibidos
1 — Sem prejuízo das regras gerais sobre licitude do conteúdo negocial, é proibida a celebração de contrato de seguro que cubra os seguintes riscos:
a) Responsabilidade criminal, contra-ordenacional ou disciplinar;
b) Xxxxx, sequestro e outros crimes contra a liberdade pessoal;
c) Posse ou transporte de estupefacientes ou drogas cujo consumo seja interdito;
d) Morte de crianças com idade inferior a 14 anos ou daqueles que por anomalia psíquica ou outra causa se mostrem incapazes de governar a sua pessoa.
2 — A proibição referida da alínea a) do número ante- rior não é extensiva à responsabilidade civil eventualmente associada.
3 — A proibição referida nas alíneas b) e d) do n.º 1 não abrange o pagamento de prestações estritamente in- demnizatórias.
4 — Não é proibida a cobertura do risco de morte por acidente de crianças com idade inferior a 14 anos, desde que contratada por instituições escolares, desportivas ou de natureza análoga que dela não sejam beneficiárias.
Artigo 15.º
Proibição de práticas discriminatórias
1 — Na celebração, na execução e na cessação do con- trato de seguro são proibidas as práticas discriminatórias em violação do princípio da igualdade nos termos previstos no artigo 13.º da Constituição.
2 — São consideradas práticas discriminatórias, em razão da deficiência ou em risco agravado de saúde, as acções ou omissões, dolosas ou negligentes, que violem o princípio da igualdade, implicando para as pessoas naquela situação um tratamento menos favorável do que aquele que seja dado a outra pessoa em situação comparável.
3 — No caso previsto no número anterior, não são proi- bidas, para efeito de celebração, execução e cessação do contrato de seguro, as práticas e técnicas de avaliação, selecção e aceitação de riscos próprias do segurador que se- jam objectivamente fundamentadas, tendo por base dados estatísticos e actuariais rigorosos considerados relevantes nos termos dos princípios da técnica seguradora.
4 — Em caso de recusa de celebração de um contrato de seguro ou de agravamento do respectivo prémio em razão de deficiência ou em risco agravado de saúde, o segurador deve, com base nos dados obtidos nos termos do número anterior, prestar ao proponente informação sobre o rácio entre os factores de risco específicos e os factores de risco de pessoa em situação comparável mas não afectada por aquela deficiência ou risco agravado de saúde, nos termos dos n.os 3 a 6 do artigo 178.º
5 — Para dirimir eventuais divergências resultantes da decisão de recusa ou de agravamento, pode o proponente solicitar a uma comissão tripartida que emita parecer so-
bre o rácio entre os seus factores de risco específicos e os factores de risco de pessoa em situação comparável mas não afectada por aquela deficiência ou risco agravado de saúde.
6 — O referido parecer é elaborado por uma comis- são composta por um representante do Instituto Nacional para a Reabilitação, I. P., um representante do segurador e um representante do Instituto Nacional de Medicina Legal, I. P.
7 — O segurador, através do seu representante na co- missão referida nos n.os 5 e 6, tem o dever de prestar todas as informações necessárias com vista à elaboração do parecer, nomeadamente, indicando as fontes estatísticas e actuariais consideradas relevantes nos termos do n.º 3, encontrando-se a comissão vinculada ao cumprimento do dever de confidencialidade.
8 — O parecer emitido pela comissão, nos termos do n.º 6, não é vinculativo.
9 — A proibição de discriminação em função do sexo é regulada por legislação especial.
CAPÍTULO II
Formação do contrato
SECÇÃO I
Sujeitos
Artigo 16.º
Autorização legal do segurador
1 — O segurador deve estar legalmente autorizado a exercer a actividade seguradora em Portugal, no âmbito do ramo em que actua, nos termos do regime jurídico de acesso e exercício da actividade seguradora.
2 — Sem prejuízo de outras sanções aplicáveis, a vio- lação do disposto no número anterior gera nulidade do contrato, mas não exime aquele que aceitou cobrir o risco de outrem do cumprimento das obrigações que para ele decorreriam do contrato ou da lei caso o negócio fosse válido, salvo havendo má fé da contraparte.
Artigo 17.º
Representação do tomador do seguro
1 — Sendo o contrato de seguro celebrado por repre- sentante do tomador do seguro, são oponíveis a este não só os seus próprios conhecimentos mas também os do representante.
2 — Se o contrato for celebrado por representante sem poderes, o tomador do seguro ou o seu representante com poderes pode ratificá-lo mesmo depois de ocorrido o sinistro, salvo havendo dolo do tomador do seguro, do representante, do segurado ou do beneficiário, ou quando tenha já decorrido um prazo para a ratificação, não inferior a cinco dias, determinado pelo segurador antes da verifi- cação do sinistro.
3 — Quando o segurador desconheça a falta de poderes de representação, o representante fica obrigado ao paga- mento do prémio calculado pro rata temporis até ao mo- mento em que o segurador receba ou tenha conhecimento da recusa de ratificação.
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SECÇÃO II
Informações
SUBSECÇÃO I
Deveres de informação do segurador
Artigo 18.º
Regime comum
Sem prejuízo das menções obrigatórias a incluir na apólice, cabe ao segurador prestar todos os esclarecimentos exigíveis e informar o tomador do seguro das condições do contrato, nomeadamente:
a) Da sua denominação e do seu estatuto legal;
b) Do âmbito do risco que se propõe cobrir;
c) Das exclusões e limitações de cobertura;
d) Do valor total do prémio, ou, não sendo possível, do seu método de cálculo, assim como das modalidades de pagamento do prémio e das consequências da falta de pagamento;
e) Dos agravamentos ou bónus que possam ser aplicados no contrato, enunciando o respectivo regime de cálculo;
f) Do montante mínimo do capital nos seguros obri- gatórios;
g) Do montante máximo a que o segurador se obriga em cada período de vigência do contrato;
h) Da duração do contrato e do respectivo regime de renovação, de denúncia e de livre resolução;
i) Do regime de transmissão do contrato;
j) Do modo de efectuar reclamações, dos correspon- dentes mecanismos de protecção jurídica e da autoridade de supervisão;
l) Do regime relativo à lei aplicável, nos termos esta- belecidos nos artigos 5.º a 10.º, com indicação da lei que o segurador propõe que seja escolhida.
Artigo 19.º
Remissão
1 — Sendo o contrato de seguro celebrado à distância, às informações referidas no artigo anterior acrescem as previstas em regime especial.
2 — Sendo o tomador do seguro considerado consu- midor nos termos legalmente previstos, às informações indicadas no artigo anterior acrescem as previstas nou- tros diplomas, nomeadamente no regime de defesa do consumidor.
Artigo 20.º
Estabelecimento
Sem prejuízo das obrigações constantes do artigo 18.º, o segurador deve informar o tomador do seguro do local e do nome do Estado em que se situa a sede social e o respectivo endereço, bem como, se for caso disso, da sucursal através da qual o contrato é celebrado e do respectivo endereço.
Artigo 21.º
Modo de prestar informações
1 — As informações referidas nos artigos anteriores devem ser prestadas de forma clara, por escrito e em língua portuguesa, antes de o tomador do seguro se vincular.
2 — As autoridades de supervisão competentes podem fixar, por regulamento, regras quanto ao suporte das infor- mações a prestar ao tomador do seguro.
3 — No contrato de seguro à distância, o modo de prestação de informações rege-se pela legislação sobre comercialização de contratos financeiros celebrados à distância.
4 — Nas situações previstas no n.º 2 do artigo 36.º, as informações a que se refere o n.º 1 podem ser prestadas noutro idioma.
5 — A proposta de seguro deve conter uma menção comprovativa de que as informações que o segurador tem de prestar foram dadas a conhecer ao tomador do seguro antes de este se vincular.
Artigo 22.º
Dever especial de esclarecimento
1 — Na medida em que a complexidade da cobertura e o montante do prémio a pagar ou do capital seguro o justifiquem e, bem assim, o meio de contratação o per- mita, o segurador, antes da celebração do contrato, deve esclarecer o tomador do seguro acerca de que modalidades de seguro, entre as que ofereça, são convenientes para a concreta cobertura pretendida.
2 — No cumprimento do dever referido no número anterior, cabe ao segurador não só responder a todos os pedidos de esclarecimento efectuados pelo tomador do seguro, como chamar a atenção deste para o âmbito da cobertura proposta, nomeadamente exclusões, períodos de carência e regime da cessação do contrato por vontade do segurador, e ainda, nos casos de sucessão ou modificação de contratos, para os riscos de ruptura de garantia.
3 — No seguro em que haja proposta de cobertura de diferentes tipos de risco, o segurador deve prestar esclareci- mentos pormenorizados sobre a relação entre as diferentes coberturas.
4 — O dever especial de esclarecimento previsto no presente artigo não é aplicável aos contratos relativos a grandes riscos ou em cuja negociação ou celebração in- tervenha mediador de seguros, sem prejuízo dos deveres específicos que sobre este impendem nos termos do regime jurídico de acesso e de exercício da actividade de mediação de seguros.
Artigo 23.º
Incumprimento
1 — O incumprimento dos deveres de informação e de esclarecimento previstos no presente regime faz incorrer o segurador em responsabilidade civil, nos termos gerais.
2 — O incumprimento dos deveres de informação pre- vistos na presente subsecção confere ainda ao tomador do seguro o direito de resolução do contrato, salvo quando a falta do segurador não tenha razoavelmente afectado a decisão de contratar da contraparte ou haja sido accionada a cobertura por terceiro.
3 — O direito de resolução previsto no número an- terior deve ser exercido no prazo de 30 dias a contar da recepção da apólice, tendo a cessação efeito retroactivo e o tomador do seguro direito à devolução da totalidade do prémio pago.
4 — O disposto nos números anteriores é aplicável quando as condições da apólice não estejam em confor- midade com as informações prestadas antes da celebração do contrato.
Diário da República, 1.ª série — N.º 75 — 16 de Abril de 2008 2237
SUBSECÇÃO II
Deveres de informação do tomador do seguro ou do segurado
Artigo 24.º
Declaração inicial do risco
1 — O tomador do seguro ou o segurado está obrigado, an- tes da celebração do contrato, a declarar com exactidão todas as circunstâncias que conheça e razoavelmente deva ter por significativas para a apreciação do risco pelo segurador.
2 — O disposto no número anterior é igualmente apli- cável a circunstâncias cuja menção não seja solicitada em questionário eventualmente fornecido pelo segurador para o efeito.
3 — O segurador que tenha aceitado o contrato, salvo havendo dolo do tomador do seguro ou do segurado com o propósito de obter uma vantagem, não pode prevalecer-se:
a) Da omissão de resposta a pergunta do questionário;
b) De resposta imprecisa a questão formulada em termos demasiado genéricos;
c) De incoerência ou contradição evidentes nas respostas ao questionário;
d) De facto que o seu representante, aquando da ce- lebração do contrato, saiba ser inexacto ou, tendo sido omitido, conheça;
e) De circunstâncias conhecidas do segurador, em es- pecial quando são públicas e notórias.
4 — O segurador, antes da celebração do contrato, deve esclarecer o eventual tomador do seguro ou o segurado acerca do dever referido no n.º 1, bem como do regime do seu incumprimento, sob pena de incorrer em responsabi- lidade civil, nos termos gerais.
Artigo 25.º
Omissões ou inexactidões dolosas
1 — Em caso de incumprimento doloso do dever re- ferido no n.º 1 do artigo anterior, o contrato é anulável mediante declaração enviada pelo segurador ao tomador do seguro.
2 — Não tendo ocorrido sinistro, a declaração referida no número anterior deve ser enviada no prazo de três meses a contar do conhecimento daquele incumprimento.
3 — O segurador não está obrigado a cobrir o sinistro que ocorra antes de ter tido conhecimento do incumpri- mento doloso referido no n.º 1 ou no decurso do prazo previsto no número anterior, seguindo-se o regime geral da anulabilidade.
4 — O segurador tem direito ao prémio devido até ao final do prazo referido no n.º 2, salvo se tiver concorrido dolo ou negligência grosseira do segurador ou do seu re- presentante.
5 — Em caso de dolo do tomador do seguro ou do se- gurado com o propósito de obter uma vantagem, o prémio é devido até ao termo do contrato.
Artigo 26.º
Omissões ou inexactidões negligentes
1 — Em caso de incumprimento com negligência do dever referido no n.º 1 do artigo 24.º, o segurador pode, mediante declaração a enviar ao tomador do seguro, no prazo de três meses a contar do seu conhecimento:
a) Propor uma alteração do contrato, fixando um prazo, não inferior a 14 dias, para o envio da aceitação ou, caso a admita, da contraproposta;
b) Fazer cessar o contrato, demonstrando que, em caso algum, celebra contratos para a cobertura de riscos relacio- nados com o facto omitido ou declarado inexactamente.
2 — O contrato cessa os seus efeitos 30 dias após o envio da declaração de cessação ou 20 dias após a recepção pelo tomador do seguro da proposta de alteração, caso este nada responda ou a rejeite.
3 — No caso referido no número anterior, o prémio é de- volvido pro rata temporis atendendo à cobertura havida. 4 — Se, antes da cessação ou da alteração do contrato, ocorrer um sinistro cuja verificação ou consequências tenham sido influenciadas por facto relativamente ao qual
tenha havido omissões ou inexactidões negligentes:
a) O segurador cobre o sinistro na proporção da dife- rença entre o prémio pago e o prémio que seria devido, caso, aquando da celebração do contrato, tivesse conhecido o facto omitido ou declarado inexactamente;
b) O segurador, demonstrando que, em caso algum, teria celebrado o contrato se tivesse conhecido o facto omitido ou declarado inexactamente, não cobre o sinistro e fica apenas vinculado à devolução do prémio.
SECÇÃO III
Celebração do contrato
Artigo 27.º
Valor do silêncio do segurador
1 — O contrato de seguro individual em que o tomador do seguro seja uma pessoa singular tem-se por concluído nos termos propostos em caso de silêncio do segurador durante 14 dias contados da recepção de proposta do to- mador do seguro feita em impresso do próprio segurador, devidamente preenchido, acompanhado dos documentos que o segurador tenha indicado como necessários e entre- gado ou recebido no local indicado pelo segurador.
2 — O disposto no número anterior aplica-se ainda quando o segurador tenha autorizado a proposta feita de outro modo e indicado as informações e os documentos necessários à sua completude, se o tomador do seguro tiver seguido as instruções do segurador.
3 — O contrato celebrado nos termos dos números an- teriores rege-se pelas condições contratuais e pela tarifa do segurador em vigor na data da celebração.
4 — Sem prejuízo de eventual responsabilidade civil, não é aplicável o disposto nos números anteriores quando o segurador demonstre que, em caso algum, celebra contratos com as características constantes da proposta.
SECÇÃO IV
Mediação
Artigo 28.º
Regime comum
Sem prejuízo da aplicação das regras contidas no pre- sente regime, ao contrato de seguro celebrado com a inter- venção de um mediador de seguros é aplicável o regime
2238 Diário da República, 1.ª série — N.º 75 — 16 de Abril de 2008
jurídico de acesso e de exercício da actividade de mediação de seguros.
Artigo 29.º
Deveres de informação específicos
Quando o contrato de seguro seja celebrado com in- tervenção de um mediador de seguros, aos deveres de informação constantes da secção II do presente capítulo acrescem os deveres de informação específicos estabe- lecidos no regime jurídico de acesso e de exercício da actividade de mediação de seguros.
Artigo 30.º
Representação aparente
1 — O contrato de seguro que o mediador de seguros, agindo em nome do segurador, celebre sem poderes espe- cíficos para o efeito é ineficaz em relação a este, se não for por ele ratificado, sem prejuízo do disposto no n.º 3.
2 — Considera-se o contrato de seguro ratificado se o segurador, logo que tenha conhecimento da sua celebração e do conteúdo do mesmo, não manifestar ao tomador do seguro de boa fé, no prazo de cinco dias a contar daquele conhecimento, a respectiva oposição.
3 — O contrato de seguro que o mediador de seguros, agindo em nome do segurador, celebre sem poderes espe- cíficos para o efeito é eficaz em relação a este se tiverem existido razões ponderosas, objectivamente apreciadas, tendo em conta as circunstâncias do caso, que justifiquem a confiança do tomador do seguro de boa fé na legiti- midade do mediador de seguros, desde que o segurador tenha igualmente contribuído para fundar a confiança do tomador do seguro.
Artigo 31.º
Comunicações através de mediador de seguros
1 — Quando o mediador de seguros actue em nome e com poderes de representação do tomador do seguro, as comunicações, a prestação de informações e a entrega de documentos ao segurador, ou pelo segurador ao mediador, produzem efeitos como se fossem realizadas pelo toma- dor do segurado ou perante este, salvo indicação sua em contrário.
2 — Quando o mediador de seguros actue em nome e com poderes de representação do segurador, os mesmos actos realizados pelo tomador do seguro, ou a ele dirigidos pelo mediador, produzem efeitos relativamente ao segu- rador como se fossem por si ou perante si directamente realizados.
SECÇÃO V
Forma do contrato e apólice de seguro
Artigo 32.º
Forma
1 — A validade do contrato de seguro não depende da observância de forma especial.
2 — O segurador é obrigado a formalizar o contrato num instrumento escrito, que se designa por apólice de seguro, e a entregá-lo ao tomador do seguro.
3 — A apólice deve ser datada e assinada pelo segu- rador.
Artigo 33.º
Mensagens publicitárias
1 — O contrato de seguro integra as mensagens publicitárias concretas e objectivas que lhe respeitem, ficando excluídas do contrato as cláusulas que as contra- riem, salvo se mais favoráveis ao tomador do seguro ou ao beneficiário.
2 — Não se aplica o disposto no número anterior quando tenha decorrido um ano entre o fim da emissão dessas men- sagens publicitárias e a celebração do contrato, ou quando as próprias mensagens fixem um período de vigência e o contrato tenha sido celebrado fora desse período.
Artigo 34.º
Entrega da apólice
1 — A apólice deve ser entregue ao tomador do seguro aquando da celebração do contrato ou ser-lhe enviada no prazo de 14 dias nos seguros de riscos de massa, salvo se houver motivo justificado, ou no prazo que seja acordado nos seguros de grandes riscos.
2 — Quando convencionado, pode o segurador entregar a apólice ao tomador do seguro em suporte electrónico duradouro.
3 — Entregue a apólice de seguro, não são oponíveis pelo segurador cláusulas que dela não constem, sem pre- juízo do regime do erro negocial.
4 — Havendo atraso na entrega da apólice, não são oponíveis pelo segurador cláusulas que não constem de documento escrito assinado pelo tomador do seguro ou a ele anteriormente entregue.
5 — O tomador do seguro pode a qualquer momento exigir a entrega da apólice de seguro, mesmo após a ces- sação do contrato.
6 — Decorrido o prazo referido no n.º 1 e enquanto a apólice não for entregue, o tomador do seguro pode resolver o contrato, tendo a cessação efeito retroactivo e o tomador do seguro direito à devolução da totalidade do prémio pago.
Artigo 35.º
Consolidação do contrato
Decorridos 30 dias sobre a data da entrega da apólice sem que o tomador do seguro haja invocado qualquer des- conformidade entre o acordado e o conteúdo da apólice, só são invocáveis divergências que resultem de documento escrito ou de outro suporte duradouro.
Artigo 36.º
Redacção e língua da apólice
1 — A apólice de seguro é redigida de modo compre- ensível, conciso e rigoroso, e em caracteres bem legíveis, usando palavras e expressões da linguagem corrente sem- pre que não seja imprescindível o uso de termos legais ou técnicos.
2 — A apólice de seguro é redigida em língua portu- guesa, salvo no caso de o tomador do seguro solicitar que seja redigida noutro idioma, na sequência de acordo das partes anterior à emissão da apólice.
Diário da República, 1.ª série — N.º 75 — 16 de Abril de 2008 2239
3 — No caso de seguro obrigatório é entregue a versão da apólice em português, que prevalece sobre a versão redigida noutro idioma.
Artigo 37.º
Texto da apólice
1 — A apólice inclui todo o conteúdo do acordado pelas partes, nomeadamente as condições gerais, especiais e particulares aplicáveis.
2 — Da apólice devem constar, no mínimo, os seguintes elementos:
a) A designação de «apólice» e a identificação completa dos documentos que a compõem;
b) A identificação, incluindo o número de identificação fiscal, e o domicílio das partes, bem como, justificando-se, os dados do segurado, do beneficiário e do representante do segurador para efeito de sinistros;
c) A natureza do seguro;
d) Os riscos cobertos;
e) O âmbito territorial e temporal do contrato;
f) Os direitos e obrigações das partes, assim como do segurado e do beneficiário;
g) O capital seguro ou o modo da sua determinação;
h) O prémio ou a fórmula do respectivo cálculo;
i) O início de vigência do contrato, com indicação de dia e hora, e a sua duração;
j) O conteúdo da prestação do segurador em caso de sinistro ou o modo de o determinar;
l) A lei aplicável ao contrato e as condições de arbi- tragem.
3 — A apólice deve incluir, ainda, escritas em caracteres destacados e de maior dimensão do que os restantes:
a) As cláusulas que estabeleçam causas de invalidade, de prorrogação, de suspensão ou de cessação do contrato por iniciativa de qualquer das partes;
b) As cláusulas que estabeleçam o âmbito das cobertu- ras, designadamente a sua exclusão ou limitação;
c) As cláusulas que imponham ao tomador do seguro ou ao beneficiário deveres de aviso dependentes de prazo.
4 — Sem prejuízo do disposto quanto ao dever de en- tregar a apólice e da responsabilidade a que haja lugar, a violação do disposto nos números anteriores dá ao tomador do seguro o direito de resolver o contrato nos termos pre- vistos nos n.os 2 e 3 do artigo 23.º e, a qualquer momento, de exigir a correcção da apólice.
Artigo 38.º
Apólice nominativa, à ordem e ao portador
1 — A apólice de seguro pode ser nominativa, à ordem ou ao portador, sendo nominativa na falta de estipulação das partes quanto à respectiva modalidade.
2 — O endosso da apólice à ordem transfere os direitos contratuais do endossante tomador do seguro ou segurado, sem prejuízo de o contrato de seguro poder autorizar um endosso parcial.
3 — A entrega da apólice ao portador transfere os di- reitos contratuais do portador que seja tomador do seguro ou segurado, salvo convenção em contrário.
4 — A apólice nominativa deve ser entregue pelo toma- dor do seguro a quem lhe suceda em caso de cessão da po-
sição contratual, sendo que, em caso de cessão de crédito, o tomador do seguro deve entregar cópia da apólice.
CAPÍTULO III
Vigência do contrato
Artigo 39.º
Produção de efeitos
Sem prejuízo do disposto nos artigos seguintes e salvo convenção em contrário, o contrato de seguro produz efeitos a partir das 0 horas do dia seguinte ao da sua ce- lebração.
Artigo 40.º
Duração
Na falta de estipulação das partes, o contrato de seguro vigora pelo período de um ano.
Artigo 41.º
Prorrogação
1 — Salvo convenção em contrário, o contrato de se- guro celebrado pelo período inicial de um ano prorroga-se sucessivamente, no final do termo estipulado, por novos períodos de um ano.
2 — Salvo convenção em contrário, o contrato de seguro celebrado por um período inicial inferior ou superior a um ano não se prorroga no final do termo estipulado.
3 — Considera-se como único contrato aquele que seja objecto de prorrogação.
Artigo 42.º
Cobertura do risco
1 — A data de início da cobertura do seguro pode ser fixada pelas partes no contrato, sem prejuízo do disposto no artigo 59.º
2 — As partes podem convencionar que a cobertura abranja riscos anteriores à data da celebração do contrato, sem prejuízo do disposto no artigo 44.º
CAPÍTULO IV
Conteúdo do contrato
SECÇÃO I
Interesse e risco
Artigo 43.º
Interesse
1 — O segurado deve ter um interesse digno de pro- tecção legal relativamente ao risco coberto, sob pena de nulidade do contrato.
2 — No seguro de danos, o interesse respeita à con- servação ou à integridade de coisa, direito ou património seguros.
3 — No seguro de vida, a pessoa segura que não seja beneficiária tem ainda de dar o seu consentimento para a cobertura do risco, salvo quando o contrato resulta do cumprimento de disposição legal ou de instrumento de regulamentação colectiva de trabalho.
2240 Diário da República, 1.ª série — N.º 75 — 16 de Abril de 2008
Artigo 44.º
Inexistência do risco
1 — Salvo nos casos legalmente previstos, o contrato de seguro é nulo se, aquando da celebração, o segurador, o tomador do seguro ou o segurado tiver conhecimento de que o risco cessou.
2 — O segurador não cobre sinistros anteriores à data da celebração do contrato quando o tomador do seguro ou o segurado deles tivesse conhecimento nessa data.
3 — O contrato de seguro não produz efeitos relativa- mente a um risco futuro que não chegue a existir.
4 — Nos casos previstos nos números anteriores, o to- mador do seguro tem direito à devolução do prémio pago, deduzido das despesas necessárias à celebração do contrato suportadas pelo segurador de boa fé.
5 — Em caso de má fé do tomador do seguro, o segu- rador de boa fé tem direito a reter o prémio pago.
6 — Presume-se a má fé do tomador do seguro se o segurado tiver conhecimento, aquando da celebração do contrato de seguro, de que ocorreu o sinistro.
Artigo 45.º
Conteúdo
1 — As condições especiais e particulares não podem modificar a natureza dos riscos cobertos tendo em conta o tipo de contrato de seguro celebrado.
2 — O contrato de seguro pode excluir a cobertura, entre outros, dos riscos derivados de guerra, insurreição ou terrorismo.
Artigo 46.º
Actos dolosos
1 — Salvo disposição legal ou regulamentar em sentido diverso, assim como convenção em contrário não ofensiva da ordem pública quando a natureza da cobertura o per- mita, o segurador não é obrigado a efectuar a prestação convencionada em caso de sinistro causado dolosamente pelo tomador do seguro ou pelo segurado.
2 — O beneficiário que tenha causado dolosamente o dano não tem direito à prestação.
SECÇÃO II
Seguro por conta própria e de outrem
Artigo 47.º
Seguro por conta própria
1 — No seguro por conta própria, o contrato tutela o interesse próprio do tomador do seguro.
2 — Se o contrário não resultar do contrato ou do con- junto de circunstâncias atendíveis, o seguro considera-se contratado por conta própria.
3 — Se o interesse do tomador do seguro for parcial, sendo o seguro efectuado na sua totalidade por conta própria, o contrato considera-se feito por conta de todos os interessados, salvo disposição legal ou contratual em contrário.
2 — O tomador do seguro cumpre as obrigações resul- tantes do contrato, com excepção das que só possam ser cumpridas pelo segurado.
3 — Xxxxx estipulação em contrário em conformidade com o disposto no artigo 43.º, o segurado é o titular dos direitos emergentes do contrato, e o tomador do seguro, mesmo na posse da apólice, não os pode exercer sem o consentimento daquele.
4 — Salvo estipulação em contrário, o tomador do se- guro pode opor-se à prorrogação automática do contrato, denunciando-o, mesmo contra a vontade do segurado.
5 — Na falta de disposição legal ou contratual em contrá- rio, são oponíveis ao segurado os meios de defesa derivados do contrato de seguro, mas não aqueles que advenham de outras relações entre o segurador e o tomador do seguro. 6 — No seguro por conta de quem pertencer e nos casos em que o contrato tutele indiferentemente um interesse próprio ou alheio, os n.os 2 a 5 são aplicáveis quando se
conclua tratar-se de um seguro de interesse xxxxxx.
SECÇÃO III
Cláusulas específicas
Artigo 49.º
Capital seguro
1 — O capital seguro representa o valor máximo da prestação a pagar pelo segurador por sinistro ou anui- dade de seguro, consoante o que esteja estabelecido no contrato.
2 — Salvo quando seja determinado por lei, cabe ao tomador do seguro indicar ao segurador, quer no início, quer durante a vigência do contrato, o valor da coisa, di- reito ou património a que respeita o contrato, para efeito da determinação do capital seguro.
3 — As partes podem fixar franquias, escalões de in- demnização e outras previsões contratuais que condicio- nem o valor da prestação a realizar pelo segurador.
Artigo 50.º
Perícia arbitral
1 — Em caso de divergência na determinação das causas, circunstâncias e consequências do sinistro, esse apuramento pode ser cometido a peritos árbitros nomea- dos pelas partes, nos termos previstos no contrato ou em convenção posterior.
2 — Salvo convenção em contrário, a determinação pelos peritos árbitros das causas, circunstâncias e conse- quências do sinistro é vinculativa para o segurador, para o tomador do seguro e para o segurado.
SECÇÃO IV
Prémio
SUBSECÇÃO I
Disposições comuns
Artigo 48.º
Seguro por conta de outrem
1 — No seguro por conta de outrem, o tomador do seguro actua por conta do segurado, determinado ou indeterminado.
Artigo 51.º
Noção
1 — O prémio é a contrapartida da cobertura acordada e inclui tudo o que seja contratualmente devido pelo toma-
Diário da República, 1.ª série — N.º 75 — 16 de Abril de 2008 2241
dor do seguro, nomeadamente os custos da cobertura do risco, os custos de aquisição, de gestão e de cobrança e os encargos relacionados com a emissão da apólice.
2 — Ao prémio acrescem os encargos fiscais e parafis- cais a suportar pelo tomador do seguro.
Artigo 52.º
Características
1 — Salvo disposição legal em sentido contrário, o mon- tante do prémio e as regras sobre o seu cálculo e determi- nação são estipulados no contrato de seguro, ao abrigo da liberdade contratual.
2 — Na falta ou insuficiência de determinação do prémio pelas partes, atende-se a que o prémio deve ser adequado e proporcionado aos riscos a cobrir pelo segurador e calculado no respeito dos princípios da técnica seguradora, sem prejuízo de eventuais especificidades de certas categorias de seguros e de circunstâncias concretas dos riscos assumidos.
3 — O prémio corresponde ao período de duração do contrato, sendo, salvo disposição em contrário, devido por inteiro.
4 — Por acordo das partes, o pagamento do prémio pode ser fraccionado.
Artigo 53.º
Vencimento
1 — Salvo convenção em contrário, o prémio inicial, ou a primeira fracção deste, é devido na data da celebração do contrato.
2 — As fracções seguintes do prémio inicial, o prémio de anuidades subsequentes e as sucessivas fracções deste são devidos nas datas estabelecidas no contrato.
3 — A parte do prémio de montante variável relativa a acerto do valor e, quando seja o caso, a parte do prémio correspondente a alterações ao contrato são devidas nas datas indicadas nos respectivos avisos.
Artigo 54.º
Modo de efectuar o pagamento
1 — O prémio de seguro só pode ser pago em nume- rário, por cheque bancário, transferência bancária ou vale postal, cartão de crédito ou de débito ou outro meio elec- trónico de pagamento.
2 — O pagamento do prémio por cheque fica subordi- nado à condição da sua boa cobrança e, verificada esta, considera-se feito na data da recepção daquele.
3 — O pagamento por débito em conta fica subordi- nado à condição da não anulação posterior do débito por retractação do autor do pagamento no quadro de legislação especial que a permita.
4 — A falta de cobrança do cheque ou a anulação do débito equivale à falta de pagamento do prémio, sem pre- juízo do disposto no n.º 4 do artigo 57.º
5 — A dívida de prémio pode ainda ser extinta por com- pensação com crédito reconhecido, exigível e líquido até ao montante a compensar, mediante declaração de uma das partes à outra, desde que se verifiquem os demais requisitos da compensação.
6 — Nos seguros de pessoas, é lícito às partes con- vencionar outros meios e modalidades de pagamento do prémio, desde que respeitem as disposições legais e regu- lamentares em vigor.
Artigo 55.º
Pagamento por terceiro
1 — O prémio pode ser pago, nos termos previstos na lei ou no contrato, por terceiro, interessado ou não no cumprimento da obrigação, sem que o segurador possa recusar o recebimento.
2 — Do contrato de seguro pode resultar que ao terceiro interessado, titular de direitos ressalvados no contrato, seja conferido o direito de proceder ao pagamento do prémio já vencido, desde que esse pagamento seja efectuado num período não superior a 30 dias subsequentes à data de vencimento.
3 — O pagamento do prémio ao abrigo do disposto no número anterior determina a reposição em vigor do contrato, podendo dispor-se que o pagamento implique a cobertura do risco entre a data do vencimento e a data do pagamento do prémio.
4 — O segurador não cobre sinistro ocorrido entre a data do vencimento e a data do pagamento do prémio de que o beneficiário tivesse conhecimento.
Artigo 56.º
Recibo e declaração de existência do seguro
1 — Recebido o prémio, o segurador emite o corres- pondente recibo, podendo, se necessário, emitir um recibo provisório.
2 — O recibo de prémio pago por cheque ou por débito em conta, bem como a declaração ou o certificado relativo à prova da existência do contrato de seguro comprovam o efectivo pagamento do prémio, se a quantia for percebida pelo segurador.
Artigo 57.º
Mora
1 — A falta de pagamento do prémio na data do venci- mento constitui o tomador do seguro em mora.
2 — Sem prejuízo das regras gerais, os efeitos da falta de pagamento do prémio são:
a) Para a generalidade dos seguros, os que decorrem do disposto nos artigos 59.º e 61.º;
b) Para os seguros indicados no artigo 58.º, os que sejam estipulados nas condições contratuais.
3 — A cessação do contrato de seguro por efeito do não pagamento do prémio, ou de parte ou fracção deste, não exonera o tomador do seguro da obrigação de pagamento do prémio correspondente ao período em que o contrato haja vigorado, acrescido dos juros de mora devidos.
4 — Em caso de mora do segurador relativamente à percepção do prémio, considera-se o pagamento efectu- ado na data em que foi disponibilizado o meio para a sua realização.
SUBSECÇÃO II
Regime especial
Artigo 58.º
Âmbito de aplicação
O disposto nos artigos 59.º a 61.º não se aplica aos segu- ros e operações regulados no capítulo respeitante ao seguro
2242 Diário da República, 1.ª série — N.º 75 — 16 de Abril de 2008
de vida, aos seguros de colheitas e pecuário, aos seguros mútuos em que o prémio seja pago com o produto de re- ceitas e aos seguros de cobertura de grandes riscos, salvo na medida em que essa aplicação decorra de estipulação das partes e não se oponha à natureza do vínculo.
Artigo 59.º
Cobertura
A cobertura dos riscos depende do prévio pagamento do prémio.
Artigo 60.º
Aviso de pagamento
1 — Na vigência do contrato, o segurador deve avisar por escrito o tomador do seguro do montante a pagar, assim como da forma e do lugar de pagamento, com uma antecedência mínima de 30 dias em relação à data em que se vence o prémio, ou fracções deste.
2 — Do aviso devem constar, de modo legível, as con- sequências da falta de pagamento do prémio ou de sua fracção.
3 — Nos contratos de seguro em que seja convencio- nado o pagamento do prémio em fracções de periodicidade igual ou inferior a três meses e em cuja documentação con- tratual se indiquem as datas de vencimento das sucessivas fracções do prémio e os respectivos valores a pagar, bem como as consequências do seu não pagamento, o segurador pode optar por não enviar o aviso referido no n.º 1, cabendo-
-lhe, nesse caso, a prova da emissão, da aceitação e do envio ao tomador do seguro da documentação contratual referida neste número.
Artigo 61.º
Falta de pagamento
1 — A falta de pagamento do prémio inicial, ou da pri- meira fracção deste, na data do vencimento, determina a resolução automática do contrato a partir da data da sua celebração.
2 — A falta de pagamento do prémio de anuidades subsequentes, ou da primeira fracção deste, na data do vencimento, impede a prorrogação do contrato.
3 — A falta de pagamento determina a resolução auto- mática do contrato na data do vencimento de:
a) Uma fracção do prémio no decurso de uma anui- dade;
b) Um prémio de acerto ou parte de um prémio de mon- tante variável;
c) Um prémio adicional resultante de uma modificação do contrato fundada num agravamento superveniente do risco.
4 — O não pagamento, até à data do vencimento, de um prémio adicional resultante de uma modificação con- tratual determina a ineficácia da alteração, subsistindo o contrato com o âmbito e nas condições que vigoravam antes da pretendida modificação, a menos que a subsis- tência do contrato se revele impossível, caso em que se considera resolvido na data do vencimento do prémio não pago.
CAPÍTULO V
Co-seguro
SECÇÃO I
Disposições comuns
Artigo 62.º
Noção
No co-seguro verifica-se a cobertura conjunta de um risco por vários seguradores, denominados co-seguradores, de entre os quais um é o líder, sem solidariedade entre eles, através de um contrato de seguro único, com as mesmas garantias e idêntico período de duração e com um prémio global.
Artigo 63.º
Apólice única
O contrato de co-seguro é titulado por uma apólice única, emitida pelo líder na qual deve figurar a quota-parte do risco ou a parte percentual do capital assumidas por cada co-segurador.
Artigo 64.º
Âmbito da responsabilidade de cada co-segurador
No contrato de co-seguro, cada co-segurador responde apenas pela quota-parte do risco garantido ou pela parte percentual do capital seguro assumido.
Artigo 65.º
Funções do co-segurador líder
1 — Cabe ao líder do co-seguro exercer, em seu próprio nome e em nome dos restantes co-seguradores, as seguintes funções em relação à globalidade do contrato:
a) Receber do tomador do seguro a declaração do risco a segurar, bem como as declarações posteriores de agrava- mento ou de diminuição desse mesmo risco;
b) Fazer a análise do risco e estabelecer as condições do seguro e a respectiva tarifação;
c) Emitir a apólice, sem prejuízo de esta dever ser as- sinada por todos os co-seguradores;
d) Proceder à cobrança dos prémios, emitindo os res- pectivos recibos;
e) Desenvolver, se for caso disso, as acções previstas nas disposições legais aplicáveis em caso de falta de pagamento de um prémio ou de uma fracção de prémio;
f) Receber as participações de sinistros e proceder à sua regularização;
g) Aceitar e propor a cessação do contrato.
2 — Podem ainda, mediante acordo entre os co-
-seguradores, ser atribuídas ao líder outras funções para além das referidas no número anterior.
3 — Estando previsto que o líder deve proceder, em seu próprio nome e em nome dos restantes co-seguradores, à liquidação global do sinistro, em derrogação do disposto na alínea c) do n.º 1, a apólice pode ser assinada apenas pelo co-segurador líder, em nome de todos os co-seguradores, mediante acordo escrito entre todos, que deve ser men- cionado na apólice.
Diário da República, 1.ª série — N.º 75 — 16 de Abril de 2008 2243
Artigo 66.º
Acordo entre os co-seguradores
Relativamente a cada contrato de co-seguro deve ser estabelecido entre os respectivos co-seguradores um acordo expresso relativo às relações entre todos e entre cada um e o líder, do qual devem, sem prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo anterior, constar, pelo menos, os seguintes aspectos:
a) Valor da taxa de gestão, no caso de as funções exer- cidas pelo líder serem remuneradas;
b) Forma de transmissão de informações e de prestação de contas pelo líder a cada um dos co-seguradores;
c) Sistema de liquidação de sinistros.
Artigo 67.º
Responsabilidade civil do líder
O líder é civilmente responsável perante os restantes co-
-seguradores pelos danos decorrentes do não cumprimento das funções que lhe sejam atribuídas.
Artigo 68.º
Liquidação de sinistros
Os sinistros decorrentes de um contrato de co-seguro podem ser liquidados através de qualquer das seguintes modalidades, a constar expressamente da respectiva apó- lice:
a) O líder procede, em seu próprio nome e em nome dos restantes co-seguradores, à liquidação global do si- nistro;
b) Cada um dos co-seguradores procede à liquidação da parte do sinistro proporcional à quota-parte do risco que garantiu ou à parte percentual do capital que assumiu.
Artigo 69.º
Proposição de acções judiciais
1 — A acção judicial decorrente de um contrato de co-
-seguro deve ser intentada contra todos os co-seguradores, salvo se o litígio se relacionar com a liquidação de um sinistro e tiver sido adoptada, na apólice respectiva, a modalidade referida na alínea b) do artigo anterior.
2 — O contrato de co-seguro pode estipular que a ac- ção judicial seja intentada contra o líder em substituição processual dos restantes co-seguradores.
SECÇÃO II
Co-seguro comunitário
Artigo 70.º
Noção
No co-seguro comunitário verifica-se a cobertura con- junta de um risco por vários seguradores estabelecidos em diferentes Estados membros da União Europeia, denomi- nados co-seguradores, de entre os quais um é o líder, sem solidariedade entre eles, através de um contrato de seguro único, com as mesmas garantias e idêntico período de duração e com um prémio global.
Artigo 71.º
Requisito
O co-seguro comunitário apenas é admitido em rela- ção aos contratos cujo objecto se destine a cobrir grandes riscos.
CAPÍTULO VI
Resseguro
Artigo 72.º
Noção
O resseguro é o contrato mediante o qual uma das partes, o ressegurador, cobre riscos de um segurador ou de outro ressegurador.
Artigo 73.º
Regime subsidiário
A relação entre o ressegurador e o ressegurado é regu- lada pelo contrato de resseguro, aplicando-se subsidiaria- mente as normas do regime jurídico do contrato de seguro com ele compatíveis.
Artigo 74.º
Forma
Sem prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 32.º, o con- trato de resseguro é formalizado num instrumento escrito, identificando os riscos cobertos.
Artigo 75.º
Efeitos em relação a terceiros
1 — Salvo previsão legal ou estipulação no contrato de resseguro, deste contrato não decorrem quaisquer relações entre os tomadores do seguro e o ressegurador.
2 — O disposto no número anterior não obsta à eficácia da atribuição a terceiros, pelo segurador, da titularidade ou do exercício de direitos que lhe advenham do contrato de resseguro, quando permitida pela lei geral.
CAPÍTULO VII
Seguro de grupo
SECÇÃO I
Disposições comuns
Artigo 76.º
Noção
O contrato de seguro de grupo cobre riscos de um con- junto de pessoas ligadas ao tomador do seguro por um vínculo que não seja o de segurar.
Artigo 77.º
Modalidades
1 — O seguro de grupo pode ser contributivo ou não contributivo.
2244 Diário da República, 1.ª série — N.º 75 — 16 de Abril de 2008
2 — O seguro de grupo diz-se contributivo quando do contrato de seguro resulta que os segurados suportam, no todo ou em parte, o pagamento do montante correspondente ao prémio devido pelo tomador do seguro.
3 — No seguro contributivo pode ser acordado que os segurados paguem directamente ao segurador a respectiva parte do prémio.
Artigo 78.º
Dever de informar
1 — Sem prejuízo do disposto nos artigos 18.º a 21.º, que são aplicáveis com as necessárias adaptações, o to- mador do seguro deve informar os segurados sobre as coberturas contratadas e as suas exclusões, as obrigações e os direitos em caso de sinistro, bem como sobre as alte- rações ao contrato, em conformidade com um espécimen elaborado pelo segurador.
2 — No seguro de pessoas, o tomador do seguro deve ainda informar as pessoas seguras do regime de designação e alteração do beneficiário.
3 — Compete ao tomador do seguro provar que forne- ceu as informações referidas nos números anteriores.
4 — O segurador deve facultar, a pedido dos segurados, todas as informações necessárias para a efectiva compre- ensão do contrato.
5 — O contrato de seguro pode prever que o dever de informar referido nos n.os 1 e 2 seja assumido pelo segu- rador.
Artigo 79.º
Incumprimento do dever de informar
O incumprimento do dever de informar faz incorrer aquele sobre quem o dever impende em responsabilidade civil nos termos gerais.
Artigo 80.º
Pagamento do prémio
1 — Salvo quando tenha sido acordado que o segurado pague directamente o prémio ao segurador, a obrigação de pagamento do prémio impende sobre o tomador do seguro.
2 — A falta de pagamento do prémio por parte do to- mador do seguro tem as consequências previstas nos ar- tigos 59.º e 61.º
3 — No seguro contributivo em que o segurado deva pagar o prémio directamente ao segurador, o disposto nos artigos 59.º e 61.º aplica-se apenas à cobertura do segurado.
obrigatória em virtude de relação estabelecida com o to- mador do seguro.
2 — A denúncia prevista no número anterior respeita ao segurado que a invoque, não afectando a eficácia do contrato nem a cobertura dos restantes segurados.
3 — A denúncia é feita por declaração escrita enviada com uma antecedência de 30 dias ao tomador do seguro ou, quando o contrato o determine, ao segurador.
Artigo 83.º
Exclusão do segurado
1 — O segurado pode ser excluído do seguro de grupo em caso de cessação do vínculo com o tomador do se- guro ou, no seguro contributivo, quando não entregue ao tomador do seguro a quantia destinada ao pagamento do prémio.
2 — O segurado pode ainda ser excluído quando ele ou o beneficiário, com o conhecimento daquele, pratique actos fraudulentos em prejuízo do segurador ou do tomador do seguro.
3 — O contrato de seguro de grupo deve definir o pro- cedimento de exclusão do segurado e os termos em que a exclusão produz efeitos.
Artigo 84.º
Cessação do contrato
1 — O tomador do seguro pode fazer cessar o con- trato por revogação, denúncia ou resolução, nos termos gerais.
2 — O tomador do seguro deve comunicar ao segurado a extinção da cobertura decorrente da cessação do contrato de seguro.
3 — A comunicação prevista no número anterior é feita com a antecedência de 30 dias em caso de revogação ou denúncia do contrato.
4 — Não sendo respeitada a antecedência por facto a este imputável, o tomador do seguro responde pelos danos a que der origem.
Artigo 85.º
Manutenção da cobertura
Em caso de exclusão do segurado ou de cessação do contrato de seguro de grupo, o segurado tem direito à manutenção da cobertura de que beneficiava, quando e nas condições em que o contrato o preveja.
SECÇÃO II
Seguro de grupo contributivo
Artigo 81.º
Designação beneficiária
Salvo convenção em contrário, no seguro de pessoas a pessoa segura designa o beneficiário, aplicando-se no demais o regime geral da designação beneficiária.
Artigo 82.º
Denúncia pelo segurado
1 — Após a comunicação de alterações ao contrato de seguro de grupo, qualquer segurado pode denunciar o vínculo resultante da adesão, salvo nos casos de adesão
Artigo 86.º
Âmbito
Ao seguro de grupo contributivo é ainda aplicável o regime especial previsto nesta secção.
Artigo 87.º
Dever adicional de informar
1 — Adicionalmente à informação prestada nos termos do artigo 78.º, o tomador de um seguro de grupo contri- butivo, que seja simultaneamente beneficiário do mesmo,
Diário da República, 1.ª série — N.º 75 — 16 de Abril de 2008 2245
deve informar os segurados do montante das remunerações que lhe sejam atribuídas em função da sua intervenção no contrato, independentemente da forma e natureza que assumam, bem como da dimensão relativa que tais re- munerações representam em proporção do valor total do prémio do referido contrato.
2 — Na vigência de um contrato de seguro de grupo contributivo, o tomador do seguro deve fornecer aos segu- rados todas as informações a que um tomador de um seguro individual teria direito em circunstâncias análogas.
3 — O incumprimento dos deveres previstos nos nú- meros anteriores determina a obrigação de o tomador do seguro suportar a parte do prémio correspondente ao se- gurado, sem perda das respectivas garantias, até à data de renovação do contrato ou respectiva data aniversária.
Artigo 88.º
Adesão ao contrato
1 — A adesão a um seguro de grupo contributivo em que o segurado seja pessoa singular considera-se efectuada nos termos propostos se, decorridos 30 dias após a recepção da proposta de adesão pelo tomador do seguro que seja simultaneamente mediador de seguros com poderes de representação, o segurador não tiver notificado o propo- nente da recusa ou da necessidade de recolher informações essenciais à avaliação do risco.
2 — O disposto no número anterior é igualmente apli- cável no caso em que, tendo sido solicitadas informações essenciais à avaliação do risco, o segurador não notifique o proponente da recusa no prazo de 30 dias após a presta- ção dessas informações, independentemente de estas lhe serem prestadas directamente ou através do tomador do seguro que seja simultaneamente mediador de seguros com poderes de representação.
3 — Para efeitos do disposto nos números anteriores, o segurador ou o tomador do seguro de grupo contributivo deve fornecer ao proponente cópia da respectiva proposta ou dos documentos em que sejam prestadas informações essenciais à avaliação do risco, nos quais esteja averbada indicação da data em que foram recebidos.
4 — O tomador do seguro de grupo contributivo res- ponde perante o segurador pelos danos decorrentes da falta de entrega da proposta ou dos documentos em que sejam prestadas informações essenciais à avaliação do risco ou da respectiva entrega tardia.
Artigo 89.º
Condições da declaração de adesão
Da declaração de adesão a um seguro de grupo contri- butivo, sem prejuízo das condições específicas da adesão, devem constar todas as condições que, em circunstâncias análogas, deveriam constar de um seguro individual.
Artigo 90.º
Participação nos resultados
1 — No seguro de grupo contributivo, o segurado é o titular do direito à participação nos resultados contratual- mente definido na apólice.
2 — No seguro de grupo contributivo em que o segurado suporta parte do pagamento correspondente ao prémio, o direito à participação do segurado nos resultados é re-
conhecido na proporção do respectivo contributo para o pagamento do prémio.
CAPÍTULO VIII
Vicissitudes
SECÇÃO I
Alteração do risco
Artigo 91.º
Dever de informação
1 — Durante a vigência do contrato, o segurador e o tomador do seguro ou o segurado devem comunicar reci- procamente as alterações do risco respeitantes ao objecto das informações prestadas nos termos dos artigos 18.º a 21.º e 24.º
2 — O segurador deve comunicar aos terceiros, com direitos ressalvados no contrato e beneficiários do seguro com designação irrevogável, que se encontrem identifi- cados na apólice, as alterações contratuais que os possam prejudicar, se a natureza do contrato ou a modificação não se opuser.
3 — O disposto no número anterior não se aplica no caso de ter sido estipulado no contrato de seguro o dever de confidencialidade.
4 — Em caso de seguro de grupo, a comunicação a que se refere o n.º 2 pode ser prestada pelo segurador, pelo tomador do seguro ou pelo segurado, consoante o que seja estipulado.
Artigo 92.º
Diminuição do risco
1 — Ocorrendo uma diminuição inequívoca e duradoura do risco com reflexo nas condições do contrato, o segurador deve, a partir do momento em que tenha conhecimento das novas circunstâncias, reflecti-la no prémio do contrato.
2 — Na falta de acordo relativamente ao novo prémio, assiste ao tomador do seguro o direito de resolver o con- trato.
Artigo 93.º
Comunicação do agravamento do risco
1 — O tomador do seguro ou o segurado tem o dever de, durante a execução do contrato, no prazo de 14 dias a contar do conhecimento do facto, comunicar ao segurador todas as circunstâncias que agravem o risco, desde que estas, caso fossem conhecidas pelo segurador aquando da celebração do contrato, tivessem podido influir na decisão de contratar ou nas condições do contrato.
2 — No prazo de 30 dias a contar do momento em que tenha conhecimento do agravamento do risco, o segurador pode:
a) Apresentar ao tomador do seguro proposta de xxxx- ficação do contrato, que este deve aceitar ou recusar em igual prazo, findo o qual se entende aprovada a modifi- cação proposta;
b) Resolver o contrato, demonstrando que, em caso algum, celebra contratos que cubram riscos com as carac- terísticas resultantes desse agravamento do risco.
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Artigo 94.º
Sinistro e agravamento do risco
1 — Se antes da cessação ou da alteração do contrato nos termos previstos no artigo anterior ocorrer o sinistro cuja verificação ou consequência tenha sido influenciada pelo agravamento do risco, o segurador:
a) Cobre o risco, efectuando a prestação convencionada, se o agravamento tiver sido correcta e tempestivamente comunicado antes do sinistro ou antes de decorrido o prazo previsto no n.º 1 do artigo anterior;
b) Cobre parcialmente o risco, reduzindo-se a sua pres- tação na proporção entre o prémio efectivamente cobrado e aquele que seria devido em função das reais circunstân- cias do risco, se o agravamento não tiver sido correcta e tempestivamente comunicado antes do sinistro;
c) Pode recusar a cobertura em caso de comportamento doloso do tomador do segurado ou do segurado com o propósito de obter uma vantagem, mantendo direito aos prémios vencidos.
2 — Na situação prevista nas alíneas a) e b) do número anterior, sendo o agravamento do risco resultante de facto do tomador do seguro ou do segurado, o segurador não está obrigado ao pagamento da prestação se demonstrar que, em caso algum, celebra contratos que cubram riscos com as características resultantes desse agravamento do risco.
SECÇÃO II
Transmissão do seguro
Artigo 95.º
Regime comum
1 — Sem prejuízo do disposto em matéria de seguro de vida, o tomador do seguro tem a faculdade de transmitir a sua posição contratual nos termos gerais, sem necessidade de consentimento do segurado.
2 — Salvo disposição legal ou convenção em contrário, em caso de transmissão do bem seguro, sendo segurado o tomador do seguro, o contrato de seguro transmite-se para o adquirente, mas a transferência só produz efeito depois de notificada ao segurador.
3 — Salvo disposição legal ou convenção em contrário, em caso de transmissão do bem seguro por parte de segurado determinado transmite-se a posição de segurado para o adqui- rente, sem prejuízo do regime de agravamento do risco.
4 — Verificada a transmissão da posição do tomador do seguro, o adquirente e o segurador podem fazer cessar o contrato nos termos gerais.
5 — A transmissão da empresa ou do estabelecimento determina a transferência para o adquirente dos seguros associados a essa unidade económica, nos termos previstos nos n.os 2 e 3.
Artigo 96.º
Morte do tomador do seguro
1 — Do contrato pode resultar que, em caso de morte do tomador do seguro, a posição contratual se transmita para o segurado ou para terceiro interessado.
2 — O disposto no número anterior não se aplica aos contratos titulados por apólices à ordem ou ao portador, nem aos contratos concluídos em razão da pessoa do to- mador do seguro.
Artigo 97.º
Seguro em garantia
1 — Se o seguro foi constituído em garantia, o tomador do seguro pode celebrar novo contrato de seguro com outro segurador, mantendo as mesmas condições de garantia, sem consentimento do credor.
2 — Quando exista garantia real sobre o bem seguro, a transferência do seguro em resultado da transmissão do bem não depende do consentimento do credor, mas deve ser-lhe notificada pelo segurador, desde que aquele esteja devidamente identificado na apólice.
SECÇÃO III
Insolvência
Artigo 98.º
Insolvência do tomador do seguro ou do segurado
1 — Salvo convenção em contrário, o seguro subsiste após a declaração de insolvência do tomador do seguro ou do segurado.
2 — Salvo nos seguros de crédito e caução, presume-se que a declaração de insolvência constitui um factor de agravamento do risco.
CAPÍTULO IX
Sinistro
SECÇÃO I
Noção e participação
Artigo 99.º
Noção
O sinistro corresponde à verificação, total ou parcial, do evento que desencadeia o accionamento da cobertura do risco prevista no contrato.
Artigo 100.º
Participação do sinistro
1 — A verificação do sinistro deve ser comunicada ao segurador pelo tomador do seguro, pelo segurado ou pelo beneficiário, no prazo fixado no contrato ou, na falta deste, nos oito dias imediatos àquele em que tenha conheci- mento.
2 — Na participação devem ser explicitadas as circuns- tâncias da verificação do sinistro, as eventuais causas da sua ocorrência e respectivas consequências.
3 — O tomador do seguro, o segurado ou o beneficiário deve igualmente prestar ao segurador todas as informações relevantes que este solicite relativas ao sinistro e às suas consequências.
Artigo 101.º
Falta de participação do sinistro
1 — O contrato pode prever a redução da prestação do segurador atendendo ao dano que o incumprimento dos deveres fixados no artigo anterior lhe cause.
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2 — O contrato pode igualmente prever a perda da co- bertura se a falta de cumprimento ou o cumprimento incor- recto dos deveres enunciados no artigo anterior for doloso e tiver determinado dano significativo para o segurador.
3 — O disposto nos números anteriores não é aplicável quando o segurador tenha tido conhecimento do sinistro por outro meio durante o prazo previsto no n.º 1 do artigo an- terior, ou o obrigado prove que não poderia razoavelmente ter procedido à comunicação devida em momento anterior àquele em que o fez.
4 — O disposto nosn.os 1 e 2 não é oponível aos lesados em caso de seguro obrigatório de responsabilidade civil, ficando o segurador com direito de regresso contra o in- cumpridor relativamente às prestações que efectuar, com os limites referidos naqueles números.
SECÇÃO II
Pagamento
Artigo 102.º
Realização da prestação do segurador
1 — O segurador obriga-se a satisfazer a prestação contratual a quem for devida, após a confirmação da ocorrência do sinistro e das suas causas, circunstâncias e consequências.
2 — Para efeito do disposto no número anterior, de- pendendo das circunstâncias, pode ser necessária a prévia quantificação das consequências do sinistro.
3 — A prestação devida pelo segurador pode ser pecu- niária ou não pecuniária.
Artigo 103.º
Direitos de terceiros
O pagamento efectuado em prejuízo de direitos de ter- ceiros de que o segurador tenha conhecimento, designada- mente credores preferentes, não o libera do cumprimento da sua obrigação.
Artigo 104.º
Vencimento
A obrigação do segurador vence-se decorridos 30 dias sobre o apuramento dos factos a que se refere o artigo 102.º
CAPÍTULO X
Cessação do contrato
SECÇÃO I
Regime comum
Artigo 105.º
Modos de cessação
O contrato de seguro cessa nos termos gerais, nomeada- mente por caducidade, revogação, denúncia e resolução.
Artigo 106.º
Efeitos da cessação
1 — Sem prejuízo de disposições que estatuam a efi- cácia de deveres contratuais depois do termo do vínculo,
a cessação do contrato determina a extinção das obriga- ções do segurador e do tomador do seguro enunciadas no artigo 1.º
2 — A cessação do contrato não prejudica a obriga- ção do segurador de efectuar a prestação decorrente da cobertura do risco, desde que o sinistro seja anterior ou concomitante com a cessação e ainda que este tenha sido a causa da cessação do contrato.
3 — Nos seguros com provisões matemáticas, em re- lação aos quais o resgate seja permitido, a cessação do contrato que não dê lugar à realização da prestação de- termina a obrigação de o segurador prestar o montante dessa provisão, deduzindo os custos de aquisição ainda não amortizados, adicionando-se, se a ela houver lugar, o montante da participação nos resultados calculado pro rata temporis.
Artigo 107.º
Estorno do prémio por cessação antecipada
1 — Salvo disposição legal em contrário, sempre que o contrato cesse antes do período de vigência estipulado há lugar ao estorno do prémio, excepto quando tenha havido pagamento da prestação decorrente de sinistro ou nas si- tuações previstas no n.º 3 do artigo anterior.
2 — O estorno do prémio é calculado pro rata tem- poris.
3 — O disposto no número anterior pode ser afastado por estipulação das partes em sentido contrário, desde que tal acordo tenha uma razão atendível, como seja a garantia de separação técnica entre a tarifação dos seguros anuais e a dos seguros temporários.
4 — Salvo disposição legal em contrário, as partes não podem estipular sanção aplicável ao tomador do seguro sempre que este exerça um direito que determine a cessação antecipada do contrato.
5 — O disposto no presente artigo não é aplicável aos seguros de vida, às operações de capitalização e aos seguros de doença de longa duração.
Artigo 108.º
Efeitos em relação a terceiros
1 — A cessação do contrato de seguro não prejudica os direitos adquiridos por terceiros durante a vigência do contrato.
2 — Da natureza e das condições do seguro pode re- sultar que terceiros beneficiem da cobertura de sinistro reclamado depois da cessação do contrato.
3 — O segurador deve comunicar a cessação do con- trato aos terceiros com direitos ressalvados no contrato e aos beneficiários com designação irrevogável, desde que identificados na apólice.
4 — O dever de comunicação previsto no número ante- rior impende igualmente sobre o segurador em relação ao segurado que seja distinto do tomador do seguro.
SECÇÃO II
Caducidade
Artigo 109.º
Regime regra
O contrato de seguro caduca nos termos gerais, nomea- damente no termo do período de vigência estipulado.
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Artigo 110.º
Causas específicas
1 — O contrato de seguro caduca na eventualidade de superveniente perda do interesse ou de extinção do risco e sempre que se verifique o pagamento da totalidade do capital seguro para o período de vigência do contrato sem que se encontre prevista a reposição desse capital.
2 — Entende-se que há extinção do risco, nomeada- mente em caso de morte da pessoa segura, de perda total do bem seguro e de cessação da actividade objecto do seguro.
SECÇÃO III
Revogação
Artigo 111.º
Cessação por acordo
1 — O segurador e o tomador do seguro podem, por acordo, a todo o tempo, fazer cessar o contrato de se- guro.
2 — Com excepção do seguro de grupo e das especifici- dades previstas em sede de seguro de vida, não coincidindo o tomador do seguro com o segurado identificado na apó- lice, a revogação carece do consentimento deste.
SECÇÃO IV
Denúncia
Artigo 112.º
Regime comum
1 — O contrato de seguro celebrado por período determi- nado e com prorrogação automática pode ser livremente de- nunciado por qualquer das partes para obviar à sua prorrogação. 2 — O contrato de seguro celebrado sem duração deter- minada pode ser denunciado a todo o tempo, por qualquer
das partes.
3 — As partes podem estabelecer a liberdade de denún- cia do tomador do seguro em termos mais amplos do que os previstos nos números anteriores.
4 — Nos seguros de grandes riscos, a liberdade de de- núncia pode ser livremente ajustada.
Artigo 113.º
Contrato de duração inferior a cinco anos
No contrato de seguro celebrado com um período de vigência inicial inferior a cinco anos e prorrogação au- tomática, a liberdade de denúncia não é afectada pelas limitações indicadas no artigo seguinte.
Artigo 114.º
Limitações à denúncia
1 — O contrato de seguro celebrado sem duração deter- minada não pode ser denunciado sempre que a livre des- vinculação se oponha à natureza do vínculo ou à finalidade prosseguida pelo contrato e ainda quando corresponda a uma atitude abusiva.
2 — A natureza do vínculo opõe-se à liberdade de de- núncia, nomeadamente quando o contrato de seguro for
celebrado para perdurar até à verificação de determinado facto.
3 — A finalidade prosseguida pelo contrato inviabiliza a denúncia, nomeadamente nos seguros em que o decurso do tempo agrava o risco.
4 — Presume-se abusiva a denúncia feita na iminência da verificação do sinistro ou após a verificação de um facto que possa desencadear uma ou mais situações de responsabilidade do segurador.
5 — O disposto nos números anteriores observa-se igualmente em relação à denúncia para obviar à prorro- gação do contrato de seguro celebrado com um período de vigência inicial igual ou superior a cinco anos.
Artigo 115.º
Aviso prévio
1 — A denúncia deve ser feita por declaração escrita enviada ao destinatário com uma antecedência mínima de 30 dias relativamente à data da prorrogação do contrato.
2 — No contrato de seguro sem duração determinada ou com um período inicial de duração igual ou superior a cinco anos, sem prejuízo do disposto no número anterior, a denúncia deve ser feita com uma antecedência mínima de 90 dias relativamente à data de termo do contrato.
3 — No caso previsto no número anterior, salvo con- venção em contrário, o contrato cessa decorrido o prazo do aviso prévio ou, tendo havido um pagamento antecipado do prémio relativo a certo período, no termo desse período.
SECÇÃO V
Resolução
Artigo 116.º
Justa causa
O contrato de seguro pode ser resolvido por qualquer das partes a todo o tempo, havendo justa causa, nos termos gerais.
Artigo 117.º
Resolução após sinistro
1 — Pode ser acordada a possibilidade de as partes resolverem o contrato após uma sucessão de sinistros.
2 — Para efeito do número anterior, presume-se que há sucessão de sinistros quando ocorram dois sinistros num período de 12 meses ou, sendo o contrato anual, no decurso da anuidade, podendo ser estipulado regime especial que, atendendo à modalidade de seguro, permita preencher o conceito de sucessão de sinistros de modo diverso.
3 — Salvo disposição legal em contrário, a resolução após sinistro, a exercer pelo segurador, não pode ser con- vencionada nos seguros de vida, de saúde, de crédito e caução, nem nos seguros obrigatórios de responsabilidade civil.
4 — A resolução prevista no n.º 1 não tem eficácia retroactiva e deve ser exercida, por declaração escrita, no prazo de 30 dias após o pagamento ou a recusa de paga- mento do sinistro.
5 — As limitações previstas no presente artigo não se aplicam aos seguros de grandes riscos.
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Artigo 118.º
Livre resolução
1 — O tomador do seguro, sendo pessoa singular, pode resolver o contrato sem invocar justa causa nas seguintes situações:
a) Nos contratos de seguro de vida, de acidentes pessoais e de saúde com uma duração igual ou superior a seis meses, nos 30 dias imediatos à data da recepção da apólice;
b) Nos seguros qualificados como instrumentos de cap- tação de aforro estruturados, nos 30 dias imediatos à data da recepção da apólice;
c) Nos contratos de seguro celebrados à distância, não previstos nas alíneas anteriores, nos 14 dias imediatos à data da recepção da apólice.
2 — Os prazos previstos no número anterior contam-se a partir da data da celebração do contrato, desde que o to- mador do seguro, nessa data, disponha, em papel ou noutro suporte duradouro, de todas as informações relevantes sobre o seguro que tenham de constar da apólice.
3 — A livre resolução disposta na alínea a) do n.º 1 não se aplica aos segurados nos seguros de grupo.
4 — A livre resolução de contrato de seguro celebrado à distância não se aplica a seguros com prazo de duração inferior a um mês, nem aos seguros de viagem ou de ba- gagem.
5 — A resolução do contrato deve ser comunicada ao segurador por escrito, em suporte de papel ou outro meio duradouro disponível e acessível ao segurador.
6 — A resolução tem efeito retroactivo, podendo o se- gurador ter direito às seguintes prestações:
a) Ao valor do prémio calculado pro rata temporis, na medida em que tenha suportado o risco até à resolução do contrato;
b) Ao montante das despesas razoáveis que tenha efec- tuado com exames médicos sempre que esse valor seja imputado contratualmente ao tomador do seguro;
c) Aos custos de desinvestimento que comprovadamente tenha suportado.
7 — O segurador não tem direito às prestações indicadas no número anterior em caso de livre resolução de contrato de seguro celebrado à distância, excepto no caso de início de cobertura do seguro antes do termo do prazo de livre resolução do contrato a pedido do tomador do seguro.
CAPÍTULO XI
Disposições complementares
Artigo 119.º
Dever de sigilo
1 — O segurador deve guardar segredo de todas as in- formações de que tenha tomado conhecimento no âmbito da celebração ou da execução de um contrato de seguro, ainda que o contrato não se tenha celebrado, seja inválido ou tenha cessado.
2 — O dever de sigilo impende também sobre os ad- ministradores, trabalhadores, agentes e demais auxiliares do segurador, não cessando com o termo das respectivas funções.
Artigo 120.º
Comunicações
1 — As comunicações previstas no presente regime devem revestir forma escrita ou ser prestadas por outro meio de que fique registo duradouro.
2 — O segurador só está obrigado a enviar as comu- nicações previstas no presente regime se o destinatário das mesmas estiver devidamente identificado no contrato, considerando-se validamente efectuadas se remetidas para o respectivo endereço constante da apólice.
Artigo 121.º
Prescrição
1 — O direito do segurador ao prémio prescreve no prazo de dois anos a contar da data do seu vencimento.
2 — Os restantes direitos emergentes do contrato de seguro prescrevem no prazo de cinco anos a contar da data em que o titular teve conhecimento do direito, sem prejuízo da prescrição ordinária a contar do facto que lhe deu causa.
Artigo 122.º
Arbitragem
1 — Sem prejuízo do disposto no artigo 50.º sobre pe- rícia arbitral, os litígios emergentes de validade, interpre- tação, execução e incumprimento do contrato de seguro podem ser dirimidos por via arbitral, ainda que a questão respeite a seguros obrigatórios ou à aplicação de normas imperativas do presente regime.
2 — A arbitragem prevista no número anterior segue o regime geral da lei de arbitragem.
TÍTULO II
Seguro de danos
CAPÍTULO I
Parte geral
SECÇÃO I
Identificação
Artigo 123.º
Objecto
O seguro de danos pode respeitar a coisas, bens imate- riais, créditos e quaisquer outros direitos patrimoniais.
Artigo 124.º
Vícios próprios da coisa segura
1 — Salvo disposição legal ou convenção em contrário, em caso de danos causados por vício próprio da coisa segura existente ao tempo do contrato de que o tomador do seguro devesse ter conhecimento e que não tenha sido declarado ao segurador, aplica-se o regime de declaração inicial ou de agravamento do risco, previstos, respectiva-
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mente, nos artigos 24.º a 26.º e no artigo 94.º do presente regime.
2 — Se o vício próprio da coisa segura tiver agravado o dano, as limitações decorrentes do número anterior aplicam-
-se apenas à parcela do dano resultante do vício.
Artigo 125.º
Seguro de um conjunto de coisas
1 — Ocorrendo o sinistro, cabe ao segurado provar que uma coisa perecida ou danificada pertence ao conjunto de coisas objecto do seguro.
2 — No seguro de um conjunto de coisas, e salvo con- venção em contrário, o seguro estende-se às coisas das pessoas que vivam com o segurado em economia comum no momento do sinistro, bem como às dos trabalhadores do segurado, desde que por outro motivo não estejam excluídas do conjunto de coisas seguras.
3 — No caso do número anterior, tem direito à prestação o proprietário ou o titular de direitos equiparáveis sobre as coisas.
SECÇÃO II
Afastamento e mitigação do sinistro
Artigo 126.º
Salvamento
1 — Em caso de sinistro, o tomador do seguro ou o segurado deve empregar os meios ao seu alcance para prevenir ou limitar os danos.
2 — O disposto no número anterior aplica-se a quem tenha conhecimento do seguro na qualidade de beneficiário.
3 — Em caso de incumprimento do dever fixado nos números anteriores, aplica-se o disposto nos n.os 1, 2 e 4 do artigo 101.º
Artigo 127.º
Obrigação de reembolso
1 — O segurador paga ao tomador do seguro, segurado ou beneficiário as despesas efectuadas em cumprimento do dever fixado nos n.os 1 e 2 do artigo anterior, desde que razoáveis e proporcionadas, ainda que os meios emprega- dos se revelem ineficazes.
2 — As despesas indicadas no número anterior devem ser pagas pelo segurador antecipadamente à data da regu- larização do sinistro, quando o tomador do seguro, o segu- rado ou o beneficiário exija o reembolso, as circunstâncias o não impeçam e o sinistro esteja coberto pelo seguro.
3 — O valor devido pelo segurador nos termos do n.º 1 é deduzido ao montante do capital seguro disponível, salvo se corresponder a despesas efectuadas em cumprimento de determinações concretas do segurador ou a sua cobertura autónoma resultar do contrato.
4 — Em caso de seguro por valor inferior ao do interesse seguro ao tempo do sinistro, o segurador paga as despesas efectuadas em cumprimento do dever fixado nos n.os 1 e 2 do artigo anterior na proporção do interesse coberto e dos interesses em risco, excepto se as mesmas decorrerem do cumprimento de determinações concretas do segurador ou a sua cobertura autónoma resultar do contrato.
SECÇÃO III
Princípio indemnizatório
Artigo 128.º
Prestação do segurador
A prestação devida pelo segurador está limitada ao dano decorrente do sinistro até ao montante do capital seguro.
Artigo 129.º
Salvado
O objecto salvo do sinistro só pode ser abandonado a favor do segurador se o contrato assim o estabelecer.
Artigo 130.º
Seguro de coisas
1 — No seguro de coisas, o dano a atender para deter- minar a prestação devida pelo segurador é o do valor do interesse seguro ao tempo do sinistro.
2 — No seguro de coisas, o segurador apenas responde pelos lucros cessantes resultantes do sinistro se assim for convencionado.
3 — O disposto no número anterior aplica-se igualmente quanto ao valor de privação de uso do bem.
Artigo 131.º
Regime convencional
1 — Sem prejuízo do disposto no artigo 128.º e no n.º 1 do artigo anterior, podem as partes acordar no valor do interesse seguro atendível para o cálculo da indemnização, não devendo esse valor ser manifestamente infundado.
2 — As partes podem acordar, nomeadamente, na fixa- ção de um valor de reconstrução ou de substituição do bem ou em não considerar a depreciação do valor do interesse seguro em função da vetustez ou do uso do bem.
3 — Os acordos previstos nos números anteriores não prejudicam a aplicação do regime da alteração do risco previsto nos artigos 91.º a 94.º
Artigo 132.º
Sobresseguro
1 — Se o capital seguro exceder o valor do interesse seguro, é aplicável o disposto no artigo 128.º, podendo as partes pedir a redução do contrato.
2 — Estando o tomador do seguro ou o segurado de boa fé, o segurador deve proceder à restituição dos sobre- prémios que tenham sido pagos nos dois anos anteriores ao pedido de redução do contrato, deduzidos os custos de aquisição calculados proporcionalmente.
Artigo 133.º
Pluralidade de seguros
1 — Quando um mesmo risco relativo ao mesmo inte- resse e por idêntico período esteja seguro por vários segu- radores, o tomador do seguro ou o segurado deve informar dessa circunstância todos os seguradores, logo que tome conhecimento da sua verificação, bem como aquando da participação do sinistro.
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2 — A omissão fraudulenta da informação referida no número anterior exonera os seguradores das respectivas prestações.
3 — O sinistro verificado no âmbito dos contratos refe- ridos no n.º 1 é indemnizado por qualquer dos seguradores, à escolha do segurado, dentro dos limites da respectiva obrigação.
4 — Salvo convenção em contrário, os seguradores envolvidos no ressarcimento do dano coberto pelos contra- tos referidos no n.º 1 respondem entre si na proporção da quantia que cada um teria de pagar se existisse um único contrato de seguro.
5 — Em caso de insolvência de um dos seguradores, os demais respondem pela quota-parte daquele nos termos previstos no número anterior.
6 — O disposto no presente artigo é aplicável ao direito do lesado exigir o pagamento da indemnização directa- mente ao segurador nos seguros de responsabilidade civil, à excepção do previsto no n.º 2, que não pode ser invocado contra o lesado.
Artigo 134.º
Subseguro
Salvo convenção em contrário, se o capital seguro for inferior ao valor do objecto seguro, o segurador só res- ponde pelo dano na respectiva proporção.
Artigo 135.º
Actualização
1 — Salvo estipulação em contrário, no seguro de riscos relativos à habitação, o valor do imóvel seguro ou a pro- porção segura do mesmo é automaticamente actualizado de acordo com os índices publicados para o efeito pelo Instituto de Seguros de Portugal.
2 — O segurador, sem prejuízo das informações pre- vistas nos artigos 18.º a 21.º, deve informar o tomador do seguro, aquando da celebração do contrato e por altura das respectivas prorrogações, do teor do disposto no número anterior, bem como do valor seguro do imóvel, a considerar para efeito de indemnização em caso de perda total, e dos critérios da sua actualização.
3 — O incumprimento dos deveres previstos no nú- mero anterior determina a não aplicação do disposto no artigo anterior, na medida do incumprimento.
Artigo 136.º
Sub-rogação pelo segurador
1 — O segurador que tiver pago a indemnização fica sub-rogado, na medida do montante pago, nos direitos do segurado contra o terceiro responsável pelo sinistro.
2 — O tomador do seguro ou o segurado responde, até ao limite da indemnização paga pelo segurador, por acto ou omissão que prejudique os direitos previstos no número anterior.
3 — A sub-rogação parcial não prejudica o direito do segurado relativo à parcela do risco não coberto, quando concorra com o segurador contra o terceiro responsável, salvo convenção em contrário em contratos de grandes riscos.
4 — O disposto no n.º 1 não é aplicável:
a) Contra o segurado se este responde pelo terceiro responsável, nos termos da lei;
b) Contra o cônjuge, pessoa que viva em união de facto, ascendentes e descendentes do segurado que com ele vivam em economia comum, salvo se a responsabilidade destes terceiros for dolosa ou se encontrar coberta por contrato de seguro.
CAPÍTULO II
Parte especial
SECÇÃO I
Seguro de responsabilidade civil
SUBSECÇÃO I
Regime comum
Artigo 137.º
Noção
No seguro de responsabilidade civil, o segurador cobre o risco de constituição, no património do segurado, de uma obrigação de indemnizar terceiros.
Artigo 138.º
Âmbito
1 — O seguro de responsabilidade civil garante a obri- gação de indemnizar, nos termos acordados, até ao mon- tante do capital seguro por sinistro, por período de vigência do contrato ou por lesado.
2 — Salvo convenção em contrário, o dano a atender para efeito do princípio indemnizatório é o disposto na lei geral.
3 — O disposto na presente secção aplica-se ao seguro de acidentes de trabalho sempre que as disposições espe- ciais consagradas neste regime não se lhe oponham.
Artigo 139.º
Período de cobertura
1 — Salvo convenção em contrário, a garantia cobre a responsabilidade civil do segurado por factos geradores de responsabilidade civil ocorridos no período de vigên- cia do contrato, abrangendo os pedidos de indemnização apresentados após o termo do seguro.
2 — São válidas as cláusulas que delimitem o período de cobertura, tendo em conta, nomeadamente, o facto gerador do dano, a manifestação do dano ou a sua reclamação.
3 — Sendo ajustada uma cláusula de delimitação tem- poral da cobertura atendendo à data da reclamação, sem prejuízo do disposto em lei ou regulamento especial e não estando o risco coberto por um contrato de seguro posterior, o seguro de responsabilidade civil garante o pagamento de indemnizações resultantes de eventos danosos desconhe- cidos das partes e ocorridos durante o período de vigência do contrato, ainda que a reclamação seja apresentada no ano seguinte ao termo do contrato.
Artigo 140.º
Defesa jurídica
1 — O segurador de responsabilidade civil pode intervir em qualquer processo judicial ou administrativo em que
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se discuta a obrigação de indemnizar cujo risco ele tenha assumido, suportando os custos daí decorrentes.
2 — O contrato de seguro pode prever o direito de o lesado demandar directamente o segurador, isoladamente ou em conjunto com o segurado.
3 — O direito de o lesado demandar directamente o segurador verifica-se ainda quando o segurado o tenha informado da existência de um contrato de seguro com o consequente início de negociações directas entre o lesado e o segurador.
4 — Quando o segurado e o lesado tiverem contratado um seguro com o mesmo segurador ou existindo qualquer outro conflito de interesses, o segurador deve dar a conhe- cer aos interessados tal circunstância.
5 — No caso previsto no número anterior, o segurado, frustrada a resolução do litígio por acordo, pode confiar a sua defesa a quem entender, assumindo o segurador, salvo convenção em contrário, os custos daí decorrentes propor- cionais à diferença entre o valor proposto pelo segurador e aquele que o segurado obtenha.
6 — O segurado deve prestar ao segurador toda a in- formação que razoavelmente lhe seja exigida e abster-se de agravar a posição substantiva ou processual do segu- rador.
7 — São inoponíveis ao segurador que não tenha dado o seu consentimento tanto o reconhecimento, por parte do segurado, do direito do lesado como o pagamento da indemnização que a este seja efectuado.
Artigo 141.º
Dolo
Sem prejuízo do disposto no artigo 46.º, não se consi- dera dolosa a produção do dano quando o agente beneficie de uma causa de exclusão da ilicitude ou da culpa.
Artigo 142.º
Pluralidade de lesados
1 — Se o segurado responder perante vários lesados e o valor total das indemnizações ultrapassar o capital seguro, as pretensões destes são proporcionalmente reduzidas até à concorrência desse capital.
2 — O segurador que, de boa fé e por desconhecimento de outras pretensões, efectuar o pagamento de indemni- zações de valor superior ao que resultar do disposto no número anterior, fica liberado para com os outros lesados pelo que exceder o capital seguro.
Artigo 143.º
Bónus
Para efeito de aplicação do regime de bónus ou de agra- vamento, só é considerado o sinistro que tenha dado lugar ao pagamento de indemnização ou à constituição de uma provisão e, neste último caso, desde que o segurador tenha assumido a correspondente responsabilidade.
Artigo 144.º
Direito de regresso do segurador
1 — Sem prejuízo de regime diverso previsto em legis- lação especial, satisfeita a indemnização, o segurador tem
direito de regresso, relativamente à quantia despendida, contra o tomador do seguro ou o segurado que tenha cau- sado dolosamente o dano ou tenha de outra forma lesado dolosamente o segurador após o sinistro.
2 — Sem prejuízo do disposto em legislação especial ou convenção das partes, não tendo havido dolo do toma- dor do seguro ou do segurado, a obrigação de regresso só existe na medida em que o sinistro tenha sido causado ou agravado pelo facto que é invocado para exercer o direito de regresso.
Artigo 145.º
Prescrição
Aos direitos do lesado contra o segurador aplicam-se os prazos de prescrição regulados no Código Civil.
SUBSECÇÃO II
Disposições especiais de seguro obrigatório
Artigo 146.º
Direito do lesado
1 — O lesado tem o direito de exigir o pagamento da indemnização directamente ao segurador.
2 — A indemnização é paga com exclusão dos demais credores do segurado.
3 — Salvo disposição legal ou regulamentar em sentido diverso, não pode ser convencionada solução diversa da prevista no n.º 2 do artigo 138.º
4 — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5 — Enquanto um seguro obrigatório não seja objecto de regulamentação, podem as partes convencionar o âmbito da cobertura, desde que o contrato de seguro cumpra a obri- gação legal e não contenha exclusões contrárias à natureza dessa obrigação, o que não impede a cobertura, ainda que parcelar, dos mesmos riscos com carácter facultativo.
6 — Sendo celebrado um contrato de seguro com ca- rácter facultativo, que não cumpra a obrigação legal ou contenha exclusões contrárias à natureza do seguro obri- gatório, não se considera cumprido o dever de cobrir os riscos por via de um seguro obrigatório.
Artigo 147.º
Meios de defesa
1 — O segurador apenas pode opor ao lesado os meios de defesa derivados do contrato de seguro ou de facto do tomador do seguro ou do segurado ocorrido anteriormente ao sinistro.
2 — Para efeito do número anterior, são nomeadamente oponíveis ao lesado, como meios de defesa do segurador, a invalidade do contrato, as condições contratuais e a ces- sação do contrato.
Artigo 148.º
Dolo
1 — No seguro obrigatório de responsabilidade civil, a cobertura de actos ou omissões dolosos depende do regime estabelecido em lei ou regulamento.
2 — Caso a lei e o regulamento sejam omissos na defini- ção do regime, há cobertura de actos ou omissões dolosos do segurado.
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SECÇÃO II
Seguro de incêndio
Artigo 149.º
Noção
O seguro de incêndio tem por objecto a cobertura dos danos causados pela ocorrência de incêndio no bem identificado no contrato.
Artigo 150.º
Âmbito
1 — A cobertura do risco de incêndio compreende os danos causados por acção do incêndio, ainda que tenha havido negli- gência do segurado ou de pessoa por quem este seja responsável. 2 — O seguro de incêndio garante igualmente os danos causados no bem seguro em consequência dos meios em- pregados para combater o incêndio, assim como os danos derivados de calor, fumo, vapor ou explosão em conse- quência do incêndio e ainda remoções ou destruições exe- cutadas por ordem da autoridade competente ou praticadas com o fim de salvamento, se o forem em razão do incêndio
ou de qualquer dos factos anteriormente previstos.
3 — Salvo convenção em contrário, o seguro de incên- dio compreende ainda os danos causados por acção de raio, explosão ou outro acidente semelhante, mesmo que não seja acompanhado de incêndio.
Artigo 151.º
Apólice
Além do disposto no artigo 37.º, a apólice de seguro de incêndio deve precisar:
a) O tipo de bem, o material de construção e o estado em que se encontra, assim como a localização do prédio e o respectivo nome ou a numeração identificativa;
b) O destino e o uso do bem;
c) A natureza e o uso dos edifícios adjacentes, sempre que estas circunstâncias puderem influir no risco;
d) O lugar em que os objectos mobiliários segurados contra o incêndio se acharem colocados ou armazena- dos.
SECÇÃO III
Seguros de colheitas e pecuário
Artigo 152.º
Seguro de colheitas
1 — O seguro de colheitas garante uma indemnização calculada sobre o montante de danos verificados em culturas. 2 — A indemnização prevista no número anterior é determinada em função do valor que os frutos de uma produção regular teriam ao tempo em que deviam ser colhidos se não tivesse sucedido o sinistro, deduzido dos custos em que não haja incorrido e demais poupanças e
vantagens do segurado em razão do sinistro.
Artigo 153.º
Seguro pecuário
1 — O seguro pecuário garante uma indemnização cal- culada sobre o montante de danos verificados em determi- nado tipo de animais.
2 — Salvo convenção em contrário, se o seguro pecuá- rio cobrir o risco de doença ou morte das crias de certo tipo de animais, a indemnização prevista no número anterior é determinada em função do valor que os animais teriam ao tempo em que, presumivelmente, seriam vendidos ou abatidos se não tivesse sucedido o sinistro, deduzido dos custos em que não haja incorrido e das demais poupanças e vantagens do segurado em razão do sinistro.
Artigo 154.º
Apólice
1 — Além do disposto no artigo 37.º, a apólice de seguro de colheitas deve precisar:
a) A situação, a extensão e a identificação do prédio cujo produto se segura;
b) A natureza do produto e a época normal da co- lheita;
c) A identificação da sementeira ou da plantação, na eventualidade de já existir à data da celebração do con- trato;
d) O local do depósito ou armazenamento, no caso de o seguro abranger produtos já colhidos;
e) O valor médio da colheita segura.
2 — Além do disposto no artigo 37.º, a apólice de seguro pecuário deve precisar:
a) A identificação do prédio onde se encontra a explo- ração pecuária ou do prédio onde normalmente os animais se encontram ou pernoitam;
b) O tipo de animal, eventualmente a respectiva raça, o número de animais seguros e o destino da exploração;
c) O valor dos animais seguros.
SECÇÃO IV
Seguro de transporte de coisas
Artigo 155.º
Âmbito do seguro
1 — O seguro de transporte cobre riscos relativos ao transporte de coisas por via terrestre, fluvial, lacustre ou aérea, nos termos previstos no contrato.
2 — O seguro de transporte marítimo e o seguro de envios postais são regulados por lei especial e pelas dis- posições constantes do presente regime não incompatíveis com a sua natureza.
Artigo 156.º
Legitimidade
1 — Sendo o seguro de transporte celebrado pelo to- mador do seguro por conta do segurado, observa-se o disposto no artigo 48.º
2 — No caso previsto no número anterior, o contrato discrimina a qualidade em que o tomador do seguro faz segurar a coisa.
Artigo 157.º
Período da cobertura
1 — Salvo convenção em contrário, o segurador assume o risco desde o recebimento das mercadorias pelo transpor- tador até à respectiva entrega no termo do transporte.
2254 Diário da República, 1.ª série — N.º 75 — 16 de Abril de 2008
2 — O contrato pode, nomeadamente, fixar o início da cobertura dos riscos de transporte na saída das mer- cadorias do armazém ou do domicílio do carregador e o respectivo termo na entrega no armazém ou no domicílio do destinatário.
Artigo 158.º
Apólice
Além do disposto no artigo 37.º, a apólice do seguro de transporte deve precisar:
a) O modo de transporte utilizado e a sua natureza pública ou particular;
b) A modalidade de seguro contratado, nomeadamente se corresponde a uma apólice «avulso», a uma apólice
«aberta» ou «flutuante» ou a uma apólice «a viagem» ou
«a tempo»;
c) A data da recepção da coisa e a data esperada da sua entrega;
d) Sendo caso disso, a identificação do transportador ou transportadores ou, em alternativa, a entidade a quem caiba a sua determinação;
e) Os locais onde devam ser recebidas e entregues as coisas seguras.
Artigo 159.º
Capital seguro
1 — Na falta de acordo, o seguro compreende o valor da coisa transportada no lugar e na data do carregamento acrescido do custo do transporte até ao local do destino.
2 — Quando avaliado separadamente no contrato, o seguro cobre ainda o lucro cessante.
Artigo 160.º
Pluralidade de meios de transporte
Salvo convenção em contrário, o disposto na presente secção aplica-se ainda que as coisas sejam transportadas predominantemente por meio marítimo.
SECÇÃO V
Seguro financeiro
Artigo 161.º
Seguro de crédito
1 — Por efeito do seguro de crédito, o segurador obriga-
-se a indemnizar o segurado, nas condições e com os limites constantes da lei e do contrato de seguro, em caso de perdas causadas nomeadamente por:
a) Falta ou atraso no pagamento de obrigações pecu- niárias;
b) Riscos políticos, naturais ou contratuais, que obstem ao cumprimento de tais obrigações;
c) Não amortização de despesas suportadas com vista à constituição desses créditos;
d) Variações de taxa de câmbio de moedas de referência no pagamento;
e) Alteração anormal e imprevisível dos custos de pro- dução;
f) Suspensão ou revogação da encomenda ou resolu- ção arbitrária do contrato pelo devedor na fase anterior à constituição do crédito.
2 — O seguro de crédito pode cobrir riscos de crédito inerentes a contratos destinados a produzir os seus efeitos em Portugal ou no estrangeiro, podendo abranger a fase de fabrico e a fase de crédito e, nos termos indicados na lei ou no contrato, a fase anterior à tomada firme.
Artigo 162.º
Seguro-caução
Por efeito do seguro-caução, o segurador obriga-se a indemnizar o segurado pelos danos patrimoniais sofridos, em caso de falta de cumprimento ou de mora do tomador do seguro, em obrigações cujo cumprimento possa ser assegurado por garantia pessoal.
Artigo 163.º
Cobrança
No seguro financeiro podem ser conferidos ao segurador poderes para reclamar créditos do tomador do seguro ou do segurado em valor superior ao do montante do capital seguro, devendo todavia aquele, salvo convenção em con- trário, entregar as somas recuperadas ao tomador do seguro ou ao segurado na proporção dos respectivos créditos.
Artigo 164.º
Comunicação ao segurado
1 — Sem prejuízo do disposto no n.º 2 do artigo 91.º e nos n.os 3 e 4 do artigo 108.º, no seguro-caução, não ha- vendo cláusula de inoponibilidade, o segurador deve co- municar ao segurado a falta de pagamento do prémio ou da fracção devido pelo tomador do seguro para, querendo evitar a resolução do contrato, pagar a quantia em dívida num prazo não superior a 30 dias relativamente à data de vencimento.
2 — Entende-se por cláusula de inoponibilidade a cláu- sula contratual que impede o segurador, durante determi- nado prazo, de opor ao segurado, beneficiário do contrato, a invalidade ou a resolução do contrato de seguro.
Artigo 165.º
Reembolso
1 — No seguro de crédito, o segurador fica sub-rogado na medida do montante pago nos termos previstos no ar- tigo 136.º, mas, em caso de sub-rogação parcial, o segura- dor e o segurado concorrem no exercício dos respectivos direitos na proporção que a cada um for devida.
2 — No seguro-caução, além da sub-rogação nos termos do número anterior, o contrato pode prever o direito de regresso do segurador contra o tomador do seguro, não podendo, na conjugação das duas pretensões, o segurador exigir mais do que o valor total despendido.
Artigo 166.º
Remissão
Os seguros de crédito e caução são regulados por lei especial e pelas disposições constantes da parte geral que não sejam incompatíveis com a sua natureza.
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SECÇÃO VI
Seguro de protecção jurídica
Artigo 167.º
Noção
O seguro de protecção jurídica cobre os custos de pres- tação de serviços jurídicos, nomeadamente de defesa e representação dos interesses do segurado, assim como as despesas decorrentes de um processo judicial ou admi- nistrativo.
Artigo 168.º
Âmbito
O seguro de protecção jurídica pode ser ajustado num dos seguintes sistemas alternativos:
a) Gestão de sinistros por pessoal distinto;
b) Gestão de sinistros por empresa juridicamente dis- tinta;
c) Livre escolha de advogado.
Artigo 169.º
Contrato
A garantia de protecção jurídica deve constar de um contrato distinto do estabelecido para os outros ramos ou modalidades ou de um capítulo autónomo de uma única apólice, com a indicação do conteúdo da garantia de pro- tecção jurídica.
Artigo 170.º
Menções especiais
1 — O contrato de seguro de protecção jurídica deve mencionar expressamente que o segurado tem direito a:
a) Escolher livremente um advogado ou, se preferir, outra pessoa com a necessária habilitação legal para de- fender, representar ou servir os seus interesses em processo judicial ou administrativo e em qualquer outro caso de conflito de interesses;
b) Recorrer ao processo de arbitragem estabelecido no artigo seguinte em caso de diferendo entre o segurado e o seu segurador, sem prejuízo de aquele intentar acção ou interpor recurso, desaconselhado pelo segurador, a expen- sas suas, sendo reembolsado das despesas efectuadas na medida em que a decisão arbitral ou a sentença lhe seja mais favorável do que a proposta de solução apresentada pelo segurador;
c) Ser informado atempadamente pelo segurador, sem- pre que surja um conflito de interesses ou que exista desa- cordo quanto à resolução do litígio, dos direitos referidos nas alíneas anteriores.
2 — O contrato de seguro de protecção jurídica pode não incluir a menção referida na alínea a) do número ante- rior se estiverem preenchidas cumulativamente as seguintes condições:
a) O seguro for limitado a processos resultantes da uti- lização de veículos rodoviários no território nacional;
b) O seguro for associado a um contrato de assistência a fornecer em caso de acidente ou avaria que implique um veículo rodoviário;
c) Nem o segurador de protecção jurídica, nem o segu- rador de assistência cobrirem ramos de responsabilidade civil;
d) Das cláusulas do contrato resultar que a assessoria jurídica e a representação de cada uma das partes de um litígio vão ser exercidas por advogado que não tenha repre- sentado nenhum dos interessados no último ano, quando as referidas partes estiverem seguradas em protecção ju- rídica junto do mesmo segurador ou em seguradores que se encontrem entre si em relação de grupo.
Artigo 171.º
Arbitragem
Sem prejuízo do direito de acção ou recurso, o contrato de seguro de protecção jurídica deve conter uma cláusula que preveja o recurso ao processo de arbitragem, sujeito às regras da legislação em vigor e que permita determinar o regime de arbitragem a adoptar em caso de diferendo entre o segurador e o segurado.
Artigo 172.º
Limitação
O disposto nos artigos anteriores não se aplica:
a) Ao seguro de protecção jurídica, sempre que diga respeito a litígios ou riscos resultantes da utilização de embarcações marítimas ou relacionados com essa utili- zação;
b) À actividade exercida pelo segurador de responsabi- lidade civil na defesa ou na representação do seu segurado em qualquer processo judicial ou administrativo, na medida em que essa actividade se exerça em simultâneo e no seu interesse ao abrigo dessa cobertura;
c) À actividade de protecção jurídica desenvolvida pelo segurador de assistência, quando essa actividade seja exer- cida fora do Estado da residência habitual do segurado e faça parte de um contrato que apenas vise a assistência prestada às pessoas em dificuldades durante deslocações ou ausências do seu domicílio ou local de residência per- manente, e desde que constem expressamente do contrato tanto essas circunstâncias como a de que a cobertura de protecção jurídica é acessória da cobertura de assistên- cia.
SECÇÃO VII
Seguro de assistência
Artigo 173.º
Noção
No seguro de assistência o segurador compromete-se, nos termos estipulados, a prestar ou proporcionar auxílio ao segurado no caso de este se encontrar em dificuldades em consequência de um evento aleatório.
Artigo 174.º
Exclusões
Não se entendem compreendidas no seguro de assistên- cia a actividade de prestação de serviços de manutenção ou de conservação, nem os serviços de pós-venda e a mera
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indicação ou disponibilização, na qualidade de intermediá- rio, de meios de auxílio.
TÍTULO III
Seguro de pessoas
CAPÍTULO I
Disposições comuns
Artigo 175.º
Objecto
1 — O contrato de seguro de pessoas compreende a cobertura de riscos relativos à vida, à saúde e à integri- dade física de uma pessoa ou de um grupo de pessoas nele identificadas.
2 — O contrato de seguro de pessoas pode garantir prestações de valor predeterminado não dependente do efectivo montante do dano e prestações de natureza in- demnizatória.
Artigo 176.º
Seguro de várias pessoas
1 — O seguro de pessoas pode ser contratado como seguro individual ou seguro de grupo.
2 — O seguro que respeite a um agregado familiar ou a um conjunto de pessoas vivendo em economia comum é havido como seguro individual.
Artigo 177.º
Declaração e exames médicos
1 — Sem prejuízo dos deveres de informação a cumprir pelo segurado, a celebração do contrato pode depender de declaração sobre o estado de saúde e de exames médicos a realizar à pessoa segura que tenham em vista a avaliação do risco.
2 — A realização de testes genéticos ou a utilização de informação genética é regulada em legislação especial.
Artigo 178.º
Informação sobre exames médicos
1 — Quando haja lugar à realização de exames médicos, o segurador deve entregar ao candidato, antes da realização dos referidos exames:
a) Discriminação exaustiva dos exames, testes e análises a realizar;
b) Informação sobre entidades junto das quais os refe- ridos actos podem ser realizados;
c) Informação sobre o regime de custeamento das des- pesas com a realização dos exames e, se for o caso, sobre a forma como o respectivo custo vai ser reembolsado a quem o financie;
d) Identificação da pessoa, ou entidade, à qual devam ser enviados os resultados dos exames ou relatórios dos actos realizados.
2 — Cabe ao segurador a prova do cumprimento do disposto no número anterior.
3 — O resultado dos exames médicos deve ser comu- nicado, quando solicitado, à pessoa segura ou a quem esta expressamente indique.
4 — A comunicação a que se refere o número anterior deve ser feita por um médico, salvo se as circunstâncias forem já do conhecimento da pessoa segura ou se puder supor, à luz da experiência comum, que já as conhecia.
5 — O disposto no n.º 3 aplica-se igualmente à comuni- cação ao tomador do seguro ou segurado quanto ao efeito do resultado dos exames médicos na decisão do segurador, designadamente no que respeite à não aceitação do seguro ou à sua aceitação em condições especiais.
6 — O segurador não pode recusar-se a fornecer à pes- soa segura todas as informações de que disponha sobre a sua saúde, devendo, quando instado, disponibilizar tal informação por meios adequados do ponto de vista ético e humano.
Artigo 179.º
Apólice
Nos contratos de seguro de acidentes pessoais e de saúde de longa duração, além das menções obrigatórias e das menções em caracteres destacados a que se refere o artigo 37.º, a apólice deve, em especial, quando seja o caso, precisar, em caracteres destacados:
a) A extinção do direito às garantias;
b) A eventual extensão da garantia para além do termo do contrato;
c) O regime de evolução e adaptação dos prémios na vigência do contrato.
Artigo 180.º
Pluralidade de seguros
1 — Salvo convenção em contrário, as prestações de valor predeterminado são cumuláveis com outras da mesma natureza ou com prestações de natureza indem- nizatória, ainda que dependentes da verificação de um mesmo evento.
2 — Ao seguro de pessoas, na medida em que garanta prestações indemnizatórias relativas ao mesmo risco, aplicam-se as regras comuns do seguro de danos prescri- tas no artigo 133.º
3 — O tomador do seguro ou o segurado deve informar o segurador da existência ou da contratação de seguros relativos ao mesmo risco, ainda que garantindo apenas prestações de valor predeterminado.
Artigo 181.º
Sub-rogação
Salvo convenção em contrário, o segurador que realize prestações de valor predeterminado no contrato não fica, após a satisfação destas, sub-rogado nos direitos do toma- dor do seguro ou do beneficiário contra um terceiro que dê causa ao sinistro.
Artigo 182.º
Apólice nominativa
A apólice no seguro de pessoas não pode ser emitida à ordem nem ao portador.
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CAPÍTULO II
Seguro de vida
SECÇÃO I
Regime comum
SUBSECÇÃO I
Disposições preliminares
Artigo 183.º
Noção
No seguro de vida, o segurador cobre um risco relacio- nado com a morte ou a sobrevivência da pessoa segura.
Artigo 184.º
Âmbito
1 — O disposto relativamente ao seguro de vida aplica-
-se aos seguintes contratos:
a) Seguros complementares dos seguros de vida re- lativos a danos corporais, incluindo, nomeadamente, a incapacidade para o trabalho e a morte por acidente ou invalidez em consequência de acidente ou doença;
b) Seguros de renda;
c) Seguro de nupcialidade;
d) Seguro de natalidade.
2 — O disposto nesta secção aplica-se ainda aos segu- ros ligados a fundos de investimento, com excepção dos artigos 185.º e 186.º
Artigo 185.º
Informações pré-contratuais
1 — No seguro de vida, às informações previstas nos artigos 18.º a 21.º acrescem, quando seja o caso, ainda as seguintes:
a) A forma de cálculo e atribuição da participação nos resultados;
b) A definição de cada cobertura e opção;
c) A indicação dos valores de resgate e de redução, assim como a natureza das respectivas coberturas e pe- nalizações em caso de resgate, redução ou transferência do contrato;
d) A indicação dos prémios relativos a cada cobertura, principal ou complementar;
e) O rendimento mínimo garantido, incluindo informa- ção relativa à taxa de juro mínima garantida e à duração desta cobertura;
f) A indicação dos valores de referência utilizados nos contratos de capital variável, bem como do número das unidades de participação;
g) A indicação da natureza dos activos representativos dos contratos de capital variável;
h) A indicação relativa ao regime fiscal;
i) Nos contratos com componente de capitalização, a quantificação dos encargos, sua forma de incidência e momento em que são cobrados;
j) A possibilidade de a pessoa segura aceder aos dados médicos de exames realizados.
2 — As informações adicionais constantes do número anterior são também exigíveis nas operações de gestão de fundos colectivos de reforma.
3 — Aos deveres de informação previstos no n.º 1 po- dem acrescer, caso se revelem necessários para a com- preensão efectiva pelo tomador do seguro dos elementos essenciais do contrato, deveres de informação e de publi- cidade ajustados às características específicas do seguro, nos termos a regulamentar pela autoridade de supervisão competente.
4 — Se as características específicas do seguro o jus- tificarem, pode ser exigido que a informação seja dis- ponibilizada através de um prospecto informativo, cujos conteúdo e suporte são regulamentados pela autoridade de supervisão competente.
Artigo 186.º
Informações na vigência do contrato
1 — O segurador, na vigência do contrato, deve infor- mar o tomador do seguro de alterações relativamente a informações prestadas aquando da celebração do contrato, que possam ter influência na sua execução.
2 — Aquando do termo de vigência do contrato, o se- gurador deve informar o tomador do seguro acerca das quantias a que este tenha direito com a cessação do con- trato, bem como das diligências ou documentos necessários para o seu recebimento.
Artigo 187.º
Apólice
1 — Além do disposto no artigo 37.º, a apólice de se- guro de vida, quando seja o caso, deve indicar as seguintes informações:
a) As condições, o prazo e a periodicidade do pagamento dos prémios;
b) A cláusula de incontestabilidade;
c) As informações prestadas nos termos do ar- tigo 185.º;
d) O período máximo em que o tomador do seguro pode exercer a faculdade de repor em vigor o contrato de seguro após a respectiva resolução ou redução;
e) As condições de manutenção do contrato pelos bene- ficiários em caso de morte, ou pelos herdeiros;
f) Se o contrato dá ou não lugar a participação nos re- sultados e, no primeiro caso, qual a forma de cálculo e de distribuição desses resultados;
g) Se o contrato dá ou não lugar a investimento autó- nomo dos activos representativos das provisões matemáti- cas e, no primeiro caso, indicação da natureza e regras para a formação da carteira de investimento desses activos.
2 — Das condições gerais e ou especiais dos contratos de seguro de grupo devem constar, além dos elementos referidos no número anterior, os seguintes:
a) As obrigações e os direitos das pessoas seguras;
b) A transferência do eventual direito ao valor de resgate para a pessoa segura, no mínimo na parte correspondente à sua contribuição para o prémio, caso se trate de um seguro contributivo;
c) A entrada em vigor das coberturas para cada pessoa segura;
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d) As condições de elegibilidade, enunciando os requi- sitos para que o candidato a pessoa segura possa integrar o grupo.
SUBSECÇÃO II
Risco
Artigo 188.º
Incontestabilidade
1 — O segurador não se pode prevalecer de omissões ou inexactidões negligentes na declaração inicial do risco decorridos dois anos sobre a celebração do contrato, salvo convenção de prazo mais curto.
2 — O disposto no número anterior não é aplicável às coberturas de acidente e de invalidez complementa- res de um seguro de vida, salvo previsão contratual em contrário.
Artigo 189.º
Erro sobre a idade da pessoa segura
1 — O erro sobre a idade da pessoa segura é causa de anulabilidade do contrato se a idade verdadeira divergir dos limites mínimo e máximo estabelecidos pelo segurador para a celebração deste tipo de contrato de seguro.
2 — Não sendo causa de anulabilidade, em caso de divergência, para mais ou para menos, entre a idade de- clarada e a verdadeira, a prestação do segurador reduz-se na proporção do prémio pago ou o segurador devolve o prémio em excesso, consoante o caso.
Artigo 190.º
Agravamento do risco
O regime do agravamento do risco previsto nos arti- gos 93.º e 94.º não é aplicável aos seguros de vida, nem, resultando o agravamento do estado de saúde da pessoa se- gura, às coberturas de acidente e de invalidez por acidente ou doença complementares de um seguro de vida.
Artigo 191.º
Exclusão do suicídio
1 — Está excluída a cobertura da morte em caso de suicídio ocorrido até um ano após a celebração do contrato, salvo convenção em contrário.
2 — O disposto no número anterior aplica-se em caso de aumento do capital seguro por morte, bem como na eventualidade de o contrato ser reposto em vigor, mas, em qualquer caso, a exclusão respeita somente ao acréscimo de cobertura relacionado com essas circunstâncias.
Artigo 192.º
Homicídio
O autor, cúmplice, instigador ou encobridor do homi- cídio doloso da pessoa segura, ainda que não consumado, perde o direito à prestação, aplicando-se, salvo convenção em contrário, o regime da designação beneficiária.
Artigo 193.º
Danos corporais provocados
Sem prejuízo do disposto no artigo 46.º e nos artigos da presente subsecção, se o dano corporal na pessoa segura
foi provocado dolosamente pelo beneficiário, a prestação reverte para a pessoa segura.
SUBSECÇÃO III
Direitos e deveres das partes
Artigo 194.º
Redução e resgate
1 — O contrato deve regular os eventuais direitos de redução e de resgate de modo a que o respectivo titular se encontre apto, a todo o momento, a conhecer o respectivo valor.
2 — No seguro de grupo contributivo, o contrato deve igualmente regular a titularidade do resgate tendo em conta a contribuição do segurado.
3 — O segurador deve anexar à apólice uma tabela de valores de resgate e de redução calculados com referência às datas de renovação do contrato, sempre que existam valores mínimos garantidos.
4 — Caso a tabela seja anexada à apólice, o segurador deve referi-lo expressamente no clausulado.
5 — No caso de designação irrevogável de beneficiá- rio, o contrato fixa as condições de exercício do direito de resgate.
Artigo 195.º
Adiantamentos
O segurador pode, nos termos do contrato, conceder adiantamentos sobre o capital seguro, nos limites da pro- visão matemática.
Artigo 196.º
Cessão ou oneração de direitos
O direito de resgate ou qualquer outro direito de que goze o tomador do segurado, o segurado ou o beneficiário pode ser cedido ou onerado, nos termos gerais, devendo tal facto ser comunicado ao segurador.
Artigo 197.º
Cessão da posição contratual
1 — Salvo convenção em contrário, o tomador do se- guro, não sendo pessoa segura, pode transmitir a sua po- sição contratual a um terceiro, que assim fica investido em todos os direitos e deveres que correspondiam àquele perante o segurador.
2 — A cessão da posição contratual depende do con- sentimento do segurador, nos termos gerais, devendo ser comunicada à pessoa segura e constar de acta adicional à apólice.
Artigo 198.º
Designação beneficiária
1 — Salvo o disposto no artigo 81.º, o tomador do se- guro, ou quem este indique, designa o beneficiário, podendo a designação ser feita na apólice, em declaração escrita posterior recebida pelo segurador ou em testamento.
2 — Salvo estipulação em contrário, por falecimento da pessoa segura, o capital seguro é prestado:
a) Na falta de designação do beneficiário, aos herdeiros da pessoa segura;
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b) Em caso de premoriência do beneficiário relativa- mente à pessoa segura, aos herdeiros desta;
c) Em caso de premoriência do beneficiário relativa- mente à pessoa segura, tendo havido renúncia à revogação da designação beneficiária, aos herdeiros daquele;
d) Em caso de comoriência da pessoa segura e do be- neficiário, aos herdeiros deste.
3 — Salvo estipulação em contrário, no seguro de so- brevivência, o capital seguro é prestado à pessoa segura, tanto na falta de designação do beneficiário como no caso de premoriência do beneficiário relativamente à pessoa segura.
Artigo 199.º
Alteração e revogação da cláusula beneficiária
1 — A pessoa que designa o beneficiário pode a qual- quer momento revogar ou alterar a designação, excepto quando tenha expressamente renunciado a esse direito ou, no seguro de sobrevivência, tenha havido adesão do beneficiário.
2 — Em caso de renúncia à faculdade de revogação ou, no seguro de sobrevivência, tendo havido adesão do beneficiário, o tomador do seguro, salvo convenção em contrário, não tem os direitos de resgate, de adiantamento e de redução.
3 — O poder de alterar a designação beneficiária cessa no momento em que o beneficiário adquira o direito ao pagamento das importâncias seguras.
4 — No caso de a pessoa segura ter assinado, junta- mente com o tomador do seguro, a proposta de seguro de que conste a designação beneficiária ou tendo a pessoa segura designado o beneficiário, a alteração da designação beneficiária pelo tomador do seguro carece do acordo da pessoa segura, sem prejuízo do disposto quanto ao seguro de grupo.
5 — A alteração da designação beneficiária feita por pessoa diversa da pessoa segura ou sem o acordo desta deve ser comunicada pelo segurador à pessoa segura, sem prejuízo do disposto quanto ao seguro de grupo.
Artigo 200.º
Pessoas estranhas ao benefício
As relações do tomador do seguro com pessoas estranhas ao benefício não afectam a designação beneficiária, sendo aplicáveis as disposições relativas à colação, à imputação e à redução de liberalidades, assim como à impugnação pauliana, só no que corresponde às quantias prestadas pelo tomador do seguro ao segurador.
Artigo 201.º
Interpretação da cláusula beneficiária
1 — A designação genérica dos filhos de determinada pessoa como beneficiários, em caso de dúvida, entende-se referida a todos os filhos que lhe sobreviverem, assim como aos descendentes dos filhos em representação daqueles.
2 — Quando a designação genérica se refira aos her- deiros ou ao cônjuge, em caso de dúvida, considera-se como tais os herdeiros legais que o sejam à data do fale- cimento.
3 — Sendo a designação feita a favor de vários benefi- ciários, o segurador realiza a prestação em partes iguais, excepto:
a) No caso de os beneficiários serem todos os herdei- ros da pessoa segura, em que se observam os princípios prescritos para a sucessão legítima;
b) No caso de premoriência de um dos beneficiários, em que a sua parte cabe aos respectivos descendentes.
4 — O disposto no número anterior não se aplica quando haja estipulação em contrário.
Artigo 202.º
Pagamento do prémio
1 — O tomador do seguro deve pagar o prémio nas datas e condições estipuladas no contrato.
2 — O segurador deve avisar o tomador do seguro com uma antecedência mínima de 30 dias da data em que se vence o prémio, ou fracção deste, do montante a pagar assim como da forma e do lugar de pagamento.
Artigo 203.º
Falta de pagamento do prémio
1 — A falta de pagamento do prémio na data de ven- cimento confere ao segurador, consoante a situação e o convencionado, o direito à resolução do contrato, com o consequente resgate obrigatório, o direito à redução do contrato ou o direito à transformação do seguro num contrato sem prémio.
2 — O período máximo em que o tomador do seguro pode exercer a faculdade de repor em vigor, nas condi- ções originais e sem novo exame médico, o contrato de seguro reduzido ou resolvido deve constar das condições da apólice e ser fixado a contar da data de redução ou de resolução.
Artigo 204.º
Estipulação beneficiária irrevogável
1 — Em caso de não pagamento do prémio na data de vencimento, se o contrato estabelecer um benefício irrevo- gável a favor de terceiro, deve o segurador interpelá-lo, no prazo de 30 dias, para, querendo, substituir-se ao tomador do seguro no referido pagamento.
2 — O segurador, que não tenha interpelado o beneficiá- rio nos termos do número anterior, não lhe pode opor as consequências convencionadas para a falta de pagamento do prémio.
Artigo 205.º
Participação nos resultados
1 — A participação nos resultados corresponde ao di- reito, contratualmente definido, de o tomador do seguro, de o segurado ou de o beneficiário auferir parte dos resultados técnicos, financeiros ou ambos gerados pelo contrato de seguro ou pelo conjunto de contratos em que aquele se insere.
2 — Durante a vigência do contrato, o segurador deve informar o tomador do seguro, anualmente, sobre o mon- tante da participação nos resultados distribuídos.
3 — No caso de cessação do contrato, o tomador do seguro, o segurado ou o beneficiário, consoante a situação,
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mantém o direito à participação nos resultados, atribuída mas ainda não distribuída, bem como, quando ainda não atribuída, o direito à participação nos resultados calculado pro rata temporis desde a data da última atribuição até à cessação do contrato.
Artigo 206.º
Instrumentos de captação de aforro estruturados
1 — Os instrumentos de captação de aforro estruturados correspondem a instrumentos financeiros que, embora assumam a forma jurídica de um instrumento original já existente, têm características que não são directamente identificáveis com as do instrumento original, em virtude de terem associados outros instrumentos de cuja evolução depende, total ou parcialmente, a sua rendibilidade, sendo o risco do investimento assumido, ainda que só em parte, pelo tomador do seguro.
2 — São qualificados como instrumentos de captação de aforro estruturados os seguros ligados a fundos de investi- mento, podendo, por norma regulamentar da autoridade de supervisão competente, ser qualificados como instrumentos de captação de aforro estruturados outros contratos ou operações que reúnam as características identificadas no número anterior.
3 — Sem prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 187.º, a apólice de seguros ligados a fundos de investimento deve estabelecer:
a) A constituição de um valor de referência;
b) Os direitos do tomador do seguro, quando da eventual liquidação de um fundo de investimento ou da eliminação de uma unidade de conta, antes do termo do contrato;
c) A forma de informação sobre a evolução do valor de referência, bem como a regularidade da mesma;
d) As condições de liquidação do valor de resgate e das importâncias seguras, quer seja efectuada em nume- rário quer nos títulos que resultam do funcionamento do contrato;
e) A periodicidade da informação a prestar ao tomador do seguro sobre a composição da carteira de investimen- tos.
SECÇÃO II
Operações de capitalização
Artigo 207.º
Extensão
O regime comum do contrato de seguro e o regime es- pecial do seguro de vida são aplicáveis subsidiariamente às operações de capitalização, desde que compatíveis com a respectiva natureza.
Artigo 208.º
Documento escrito
1 — Das condições gerais e especiais das operações de capitalização devem constar os seguintes elementos:
a) A identificação das partes;
b) O capital garantido e os respectivos valores de resgate nas datas aniversárias do contrato;
c) As prestações a satisfazer pelo subscritor ou portador do título;
d) Os encargos, sua forma de incidência e o momento em que são cobrados;
e) A indicação de que o contrato confere ou não con- fere o direito à participação nos resultados e, no primeiro caso, de qual a forma de cálculo e de distribuição desses resultados;
f) A indicação de que o subscritor ou portador do título pode requerer, a qualquer momento, as seguintes infor- mações:
i) Em contratos de prestação única com participação nos resultados, o valor da participação nos resultados distribuída até ao momento referido no pedido de infor- mação;
ii) Em contratos de prestações periódicas, a situação relativa ao pagamento das prestações e, caso se tenha verifi- cado falta de pagamento, o valor de resgate contratualmente garantido, se a ele houver lugar, bem como a participação nos resultados distribuídos, se for caso disso;
g) O início e a duração do contrato;
h) As condições de resgate;
i) A forma de transmissão do título;
j) A indicação do regime aplicável em caso de destrui- ção, perda ou extravio do título;
l) As condições de cessação do contrato por iniciativa de uma das partes;
m) A lei aplicável ao contrato e as condições de arbi- tragem.
2 — Sem prejuízo do disposto no número anterior, os contratos de capitalização expressos em unidades de conta devem incluir as cláusulas estabelecidas no n.º 3 do ar- tigo 206.º
3 — Tratando-se de títulos ao portador, as condições gerais e ou especiais do contrato devem prever a obriga- toriedade de o seu legítimo detentor, em caso de extravio, avisar imediatamente o segurador.
4 — Nas condições particulares, os títulos devem re- ferir:
a) O número respectivo;
b) O capital contratado;
c) As datas de início e de termo do contrato;
d) O montante das prestações e as datas da sua exigibi- lidade, quando periódicas;
e) A taxa técnica de juro garantido;
f) A participação nos resultados, se for caso disso;
g) O subscritor ou o detentor, no caso de títulos nomi- nativos.
5 — As condições gerais e especiais dos contratos de capitalização devem ser identificadas no título emitido no momento da celebração de cada contrato.
6 — O título a que se refere o número anterior pode revestir a forma escritural, nos termos regulamentados pelas autoridades de supervisão competentes.
Artigo 209.º
Manutenção do contrato
A posição do subscritor no contrato transmite-se, em caso de morte, para os sucessores, mantendo-se o contrato até ao prazo do vencimento.
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CAPÍTULO III
Seguros de acidente e de saúde
SECÇÃO I
Seguro de acidentes pessoais
Artigo 210.º
Noção
No seguro de acidentes pessoais o segurador cobre o risco da verificação de lesão corporal, invalidez, temporá- ria ou permanente, ou morte da pessoa segura, por causa súbita, externa e imprevisível.
Artigo 211.º
Remissão
1 — As regras constantes dos artigos 192.º, 193.º, 198.º, 199.º, n.os 1 a 3, 200.º e 201.º são aplicáveis, com as neces- sárias adaptações, aos seguros de acidentes pessoais.
2 — O disposto sobre salvamento e mitigação do si- nistro nos artigos 126.º e 127.º aplica-se aos seguros de acidentes pessoais com as necessárias adaptações.
Artigo 212.º
Regra especial
1 — Se o contrato respeitar a terceiro, em caso de dú- vida, é este o beneficiário do seguro.
2 — Se o tomador do seguro for designado como benefi- ciário e não sendo aquele a pessoa segura, para a celebração do contrato é necessário o consentimento desta, desde que a pessoa segura seja identificada individualmente no contrato.
b) A obrigação de informação da pluralidade de seguros, prevista nos n.os 2 e 3 do artigo 180.º
Artigo 216.º
Doenças preexistentes
1 — As doenças preexistentes, conhecidas da pessoa segura à data da realização do contrato, consideram-se abrangidas na cobertura convencionada pelo segurador, podendo ser excluídas por acordo em contrário, de modo genérico ou especificadamente.
2 — O contrato pode ainda prever um período de ca- rência não superior a um ano para a cobertura de doenças preexistentes.
Artigo 217.º
Cessação do contrato
1 — Em caso de não renovação do contrato ou da co- bertura e não estando o risco coberto por um contrato de seguro posterior, o segurador não pode, nos dois anos subsequentes e até que se mostre esgotado o capital se- guro no último período de vigência do contrato, recusar as prestações resultantes de doença manifestada ou outro facto ocorrido na vigência do contrato, desde que cobertos pelo seguro.
2 — Para efeito do disposto no número anterior, o segu- rador deve ser informado da doença nos 30 dias imediatos ao termo do contrato, salvo justo impedimento.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
Decreto-Lei n.º 73/2008
de 16 de Abril
SECÇÃO II
Seguro de saúde
Artigo 213.º
Noção
No seguro de saúde, o segurador cobre riscos relacio- nados com a prestação de cuidados de saúde.
Artigo 214.º
Cláusulas contratuais
Do contrato de seguro de saúde anual renovável deve constar de forma bem visível e destacada que:
a) O segurador apenas cobre o pagamento das prestações convencionadas ou das despesas efectuadas em cada ano de vigência do contrato;
b) As condições de indemnização em caso de não re- novação do contrato ou da cobertura da pessoa segura respeitam ao risco coberto no contrato, de acordo com o disposto no artigo 217.º
Artigo 215.º
Regime aplicável
Não é aplicável ao seguro de saúde:
a) O regime do agravamento do risco, previsto nos artigos 93.º e 94.º, relativamente às alterações do estado de saúde da pessoa segura;
O presente decreto-lei visa permitir a criação de um registo comercial bilingue, utilizando a língua inglesa para este efeito, e de um regime especial de criação imediata de representações permanentes em Portugal de entidades estrangeiras, a «Sucursal na Hora», assim contribuindo para a concretização do programa SIMPLEX e do Plano Tecnológico.
O Programa do XVII Governo Constitucional na área da justiça estabelece que «os cidadãos e as empresas não podem ser onerados com imposições burocráticas que nada acrescentem à qualidade do serviço» e que «no interesse conjunto dos cidadãos e das empresas, serão simplificados os controlos de natureza administrativa, eliminando-se actos e práticas registrais e notariais que não importem um valor acrescentado e dificultem a vida do cidadão e da empresa».
Com efeito, o presente decreto-lei procura concretizar o Programa do XVII Governo Constitucional colocando a justiça ao serviço dos cidadãos e das empresas, do de- senvolvimento económico e da promoção do investimento em Portugal.
Estas medidas não são medidas isoladas. Surgem na sequência de outras medidas que têm sido tomadas pelo XVII Governo Constitucional e que contemplam a criação de balcões únicos, a eliminação de formalidades e simpli- ficação de procedimentos e a disponibilização de novos serviços através da Internet.
Assim, estão já em funcionamento diversos balcões de atendimento único que permitem prestar um serviço